terça-feira, 17 de março de 2009

Muié também faz Cordel...E bem.

O Blog do Said Dib recebeu a visita ilustre de Salete Maria, do Blog Cordelirando. Salete é advogada, de Juazeiro do Norte, Ceará. Professora universitária, ativista pelos Direitos Humanos, realiza estudos sobre Gênero e Direito e tem inúmeros cordéis publicados, sendo a maioria sobre direitos das mulheres, homossexuais e "temas ligados às questões marginais e periféricas". É membro da "Sociedade dos Cordelistas Mauditos" e tem cordéis premiados pela Fundação Cultural do Estado da Bahia. Usa a literatura de cordel para dialogar sobre gênero e cidadania. Embora eu não concorde com as posições político-ideológicas dela, faço questão de publicar seus cordéis, pela valorização da linguagem popular, pela beleza formal do poema e pelo fato de ser, realmente, muito raro uma mulher - principalmente tão jovem – escolher este estilo poético. Parabéns Salete!!!

Confiram a composição e logo depois vejam o vídeo da grande artista paraibana Socorro Lira interpretando o cordel “A Beata Maria de Araújo” da Salete.

MULHER TAMBÉM FAZ CORDEL

O folheto de cordel
Que o povo tanto aprecia
Do singelo menestrel
À mais nobre academia
Do macho foi monopólio
Do europeu foi espólio
Do nordestino alforria


Desde que chegou da França
Espanha e Portugal (Recebido como herança)
Da caravela ou nau
O homem o escrevia
Fazia, vendia e lia
Em feira, porto e quintal
Só agora a gente vê


Mulher costurando rima
É necessário dizer
Que de limão se faz lima
Hoje o que é limonada
Foi águas podre, parada
Salobra com lama em cima
A mulher não se atrevia


Nesse campo transitar
Por isso não produzia
Vivia para seu lar
Era o homem maioral
Vivia ele, afinal
Para o mundo desbravar
Tempo de patriarcado


Também de ortodoxia
À mulher não era dado
Sair pela cercania
Exibindo algum talento
Pois iria a julgamento
Quem não a condenaria?
Era um tempo obscuro


Para o sexo feminino
O castigo era seguro
Para qualquer desatino
Como não sabia ler
Como podia escrever
E mudar o seu destino?
Sem ter cidadania


Vivendo vida privada
Pouco ou nada entendia
Na era emancipada
Só na cultura oral
Na forma original
Se via ela entrosada
Nas cantigas de ninar


Na contação de história
Tava a negra a rezar
A velha sua memória
Porém disso não passava
Nada ela registrava
Para sua fama e glória
Muitas vezes era tida


Como musa inspiradora
Aquela de cuja vida
Tinha que ser sofredora
Era mãe zelosa e pura
Qual sublime criatura
Porém não era escritora
Sempre a versão do homem


Impressa nalgum papel
Espero que não me tomem
Por feminista cruel
Mas o fato é que a mulher
Disto temos que dar fé
Tinha na vista um véu
O homem que a desejava


Queria-a qual princesa
Sempre que a venerava
Era por sua beleza
Só isto tinha virtude
Para macho bravo e rude
Mulher com delicadeza

Um comentário:

  1. Caro Said, obrigada pela consideração e respeito em publicar em seu blog nosso singelo trabalho. Tendo tempo, visite nosso blog tambem, www.cordelirando.blogpost.com
    Sucesso!
    Salete Maria
    p.s: ah, e parabéns pela qualidade de sua página!

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