EUA
Analistas
qualificados dos EUA confirmaram o que sabemos: havia pouca diferença entre os
dois candidatos à presidência.
2.
Mais de 90 milhões de eleitores não compareceram, e parcela importante dos que
votaram preferiu Romney, mais radical que Obama, em militarismo e desprezo
pelos direitos sociais dos estadunidenses e pelos direitos humanos dos povos
massacrados pela política imperial.
3.
Ambos estão a serviço da oligarquia financeira, que inclui o complexo
industrial militar e as mega-empresas de energia (entre outras)
concentradoras de ganhos absurdos e destruidoras do meio-ambiente.
4.
Como assinala Paul Craig Roberts, Obama e Romney posicionam-se a favor do
prosseguimento da política intervencionista dos EUA, notadamente no Oriente
Médio, e da confrontação militar contra a Rússia e a China.
5.
Nem o “democrata” nem o “republicano” questionam as leis e medidas, instituídas
por Bush e pelo próprio Obama, que significaram rasgar a Constituição dos
EUA, ao suprimir as garantias do Estado de direito aos alvos da repressão
política, estrangeiros e nacionais, inclusive as dezenas de milhões de
estadunidenses vítimas da depressão econômica.
6.
Essa é a “democracia” do país que emprega a força militar, bem como a
corrupção, sob a direção dos serviços secretos, para intervir em todo o mundo a
serviço da oligarquia predadora, acusando os países visados de não
ter regime democrático e de desrespeitar os direitos humanos ou o
meio-ambiente.
7.
De modo semelhante, embora mais discreto, agem o Reino Unido, outro líder
do sistema imperial, e os coadjuvantes, membros da OTAN. Em todos, os bancos e
as corporações transnacionais controlam o Estado.
8.
Onze anos de guerras imperiais e políticas econômicas que tudo permitem aos
grandes bancos e transferem para eles dezenas de trilhões de dólares, oneraram
os EUA com fabulosos déficits orçamentários. Esses – lembra Roberts – resultam
em hiperinflação e na perda de posição do dólar como divisa mundial.
9.
Esse privilégio é altamente prejudicial para o Mundo, e todos se beneficiariam
com o fim dele. Os próprios EUA, privados do parasitismo, passariam a cuidar de
sua infra-estrutura deteriorada e a investir mais produtivamente, em vez de
exercerem pressões militares para coagir os países exportadores de petróleo a
vendê-lo por dólares e fazer guerras destruidoras contra os que resistem a essa
imposição.
Brasil
10.
Tivemos eleições municipais, nas quais as qualidades de um candidato a
prefeito e a nulidade ou perversidade de outro podem fazer diferença. Nas
eleições à presidência da República, a probabilidade disso é praticamente
inexistente, porque a importância da política federal leva o sistema de poder a
afastar candidatos propensos a mudar as coisas.
11.
Dilma é um pouco menos alinhada com o império que os políticos do PSDB.
Entretanto, a continuação dela também implica que a situação do Brasil prossiga
deteriorando-se.
12.
O mesmo não se dá na Argentina, Equador e Venezuela, países nos quais os atuais
mandatários têm dado passos na direção da autonomia nacional, enquanto as
oposições são totalmente caudatárias do império.
13.
O Brasil apresenta um dos maiores descompassos do mundo, entre o potencial e o
que realiza, porquanto a política econômica é ditada por transnacionais
estrangeiras e bancos. Não, pelos interesses nacionais.
14.
O extraordinário potencial do País, notadamente a dotação de recursos naturais,
fez com que as potências imperiais atuassem intensamente para inviabilizar o
desenvolvimento econômico e social, além de promover a destruição da cultura e
da educação.
15.
Nos raros períodos em que o Brasil caminhou para o
desenvolvimento, as potências imperiais, EUA à frente, desestabilizaram e
derrubaram os governos, como os de Getúlio Vargas em 1945 e em 1954.
16.
Vargas foi extremamente clarividente nas medidas econômicas e chamou
gente competentíssima para assessorá-lo. O prosseguimento de suas políticas
teria levado o País ao progresso econômico e social. Além disso, conquistou
grande apoio popular.
17.
Entretanto, faltou-lhe força de vontade ou de percepção política, ao dar
espaço aos agentes de sua desestabilização, promovida pelas potências hegemônicas.
18.
Ele se havia composto com os EUA no contexto da Segunda Guerra Mundial. Não
havia como não autorizar as bases norte-americanas no Nordeste, que, do
contrário, seria invadido, pois o País carecia de poderio militar, sequer de
longe, comparável ao das potências.
19.
Vargas cometeu o erro desnecessário de enviar tropas para combaterem na Itália,
fazendo improvisar a Força Expedicionária, que lutou bravamente, mas
subordinada a uma divisão dos EUA.
20.
Envolvidos pela interessada “amizade” dos estadunidenses, oficiais
brasileiros adotaram a ideologia prevalecente nos EUA. Esses lideraram a facção
militar atuante nos golpes de 1945, 1954 e 1964.
21.
Acusado de ditador, Vargas tolerou, mais que devia, os abusos, inclusive
ilegais, de opositores, ávidos de poder a qualquer custo, como Carlos Lacerda,
grandemente difundidos pela mídia comprada por dinheiro externo.
22.
Além disso, consciente da influência política e econômica dos interesses
estrangeiros, pôs no governo, na tentativa de aplacá-los, gente que, como João
Neves da Fontoura, contribuiu para desestabilizar o presidente. Permitiu,
ademais, que militares nacionalistas fossem alijados, em vez de neutralizar os
partidários dos EUA.
23.
As conquistas da Era Vargas começaram a ser destruídas, de 1946 a 1950, com Dutra na
presidência. De novo, desde agosto de 1954, teve andamento, não mais
interrompido, o favorecimento às empresas transnacionais.
25.
Antes, em 1985, Sarney, o primeiro presidente civil desde 1964, encontrou
enormes dívidas externa e interna, cujos montantes haviam crescido absurdamente
com a submissão do País às imposições dos banqueiros mundiais.
26.
Além disso, quase todas as indústrias importantes já estavam sob controle das
transnacionais, a nova classe dominante, graças às doações e aos demais
subsídios da política econômica.
27.
Isso explica que o poder econômico tenha tido êxito ao sabotar as medidas
de Sarney favoráveis à população e que ele se rendesse, entregando o
ministério da Fazenda a um elemento da Federação dos Bancos.
28.
Daí, favorecida por uma fraude no texto da Constituição de 1988, a sangria do serviço
das dívidas aumentou assustadoramente. Em cima dela e da inflação, o descalabro
acentuou-se sob Collor. Sobreveio o interregno inconclusivo de Itamar e a ruína
cavada por FHC. Seguiram-se os petistas, conservadores do essencial das
políticas desastrosas.
29.
Ainda assim, a mídia entreguista quer a volta do PSDB, por ser mais radical. A
mesma mídia que trabalhou para derrubar Getúlio Vargas, reforçada, desde 1968,
pela VEJA.
Adriano Benayon é Doutor em Economia pela Universidade de Hamburgo
e Advogado, OAB-DF nº 10.613, formado pela Universidade Federal do Rio de
Janeiro. Foi Professor da Universidade de Brasília e do Instituto Rio Branco,
do Ministério das Relações Exteriores. Autor de “Globalização versus
Desenvolvimento”.
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