quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013

Ministra Carmen Lúcia determina celeridade na tramitação da ação que pede anulação da Reforma da Previdência

Relatora pede informações ao Congresso Nacional, à Procuradoria Geral da República e à Advocacia Geral da União para elaborar seu voto e, em seguida, incluir a Ação no plenário do Supremo. Legislativo terá dez dias para responder solicitação da ministra.


A ministra do Supremo Tribunal Federal (SFT), Carmen Lúcia, publicou nesta terça-feira, 19 de fevereiro, um despacho em que determina mais celeridade na tramitação da ADI (Ação Direta de Inconstitucionalidade) nº 4.889, de autoria do PSOL (Partido Socialismo e Liberdade) e protocolada em 11 de dezembro de 2012, que pede a anulação da Reforma da Previdência, prevista na Emenda Constitucional nº 41 de 2003. No despacho, a ministra, que é relatora da Ação, pede informações ao Congresso Nacional, à Advocacia Geral da União (AGU) e ao Ministério Público da União para elaborar seu voto e, em seguida, colocar a ADI na pauta de votação do plenário do Supremo. Na ação, o PSOL cita os nomes de Roberto Jefferson Monteiro Francisco (PTB/RJ), Romeu Ferreira de Queiroz (PTB/MG), José Rodrigues Borba (PMDB/PR), Valdemar Costa Neto (PL/SP), Carlos Alberto Rodrigues Pinto (PL/RJ), Pedro da Silva Corrêa de Oliveira Andrade Neto (PP/PE) e Pedro Henry Neto (PP/MT) e argumenta que “houve um esquema criminoso de compra de apoio político para o Governo no Congresso, tendo sido comprovado o recebimento pelos deputados federais (à época) de valores para que pudessem votar de acordo com a orientação do governo”. “Ficou provado que esse esquema de compra de apoio político para o Governo no Congresso ocorreu na mesma época da votação da PEC 40/2003 de autoria do Poder Executivo, que foi transformada na Emenda Constitucional 41/2003”, pontua. A ADI considera, ainda, que “ao condenar os deputados federais pelo crime tipificado no art 317 do Código Penal, essa Suprema Corte reconheceu que os votos dos referidos deputados estavam maculados e efetivamente não representavam naquele momento a vontade popular, mas sim a sua própria vontade num claro abuso de poder por desvio de finalidade”. Pelo despacho, a ministra Carmen Lúcia determina que sejam requisitadas, “com urgência e prioridade, informações do Congresso Nacional, para que as preste no prazo máximo e improrrogável de dez dias”. A AGU e a Procuradoria Geral da Republica, sucessivamente, também deverão se manifestar no prazo máximo de cinco dias cada.
Para o presidente do PSOL, deputado Ivan Valente (SP), a iniciativa da relatora, ministra Carmen Lúcia, é bastante animadora, uma vez que a ADI está cada vez mais próxima de ser julgada. “Devemos ter, em breve, o julgamento, pelo Supremo, sobre a legalidade da Reforma. Não temos dúvida que a votação está contaminada e isso precisa ser levado em consideração pelos ministros do STF. Os direitos dos trabalhadores foram violados e se o STF for coerente com sua posição de condenação, nós vamos conseguir anular essa Reforma. Se houve compra de votos, essa ação é mais do que justificada”, ressalta Ivan Valente. Ele explica que várias entidades dos servidores públicos federais apoiam a campanha pela revogação da Emenda Constitucional nº 41. Para o 1º vice-presidente do Andes-SN (Sindicato Nacional dos Docentes do Ensino Superior), Luiz Henrique Schuch, durante o julgamento da Ação Penal n° 470, tanto na denúncia do Procurador Geral da República, como no voto do ministro relator aprovado pela maioria dos membros do Supremo, “ficou comprovada a conexão lógica, temporal e factual, das votações de matérias no Congresso Nacional, entre elas a Reforma da Previdência, com os pagamentos de propina aos parlamentares”. Ele afirma que o Andes-SN e outras entidades nacionais estão integradas à campanha para que seja considerada nula a Reforma da Previdência de 2003/2004. “Agora estamos cobrando coerência dos ministros do Supremo, em primeiro lugar publicando imediatamente o acórdão que finaliza o julgamento do mensalão. Seria inimaginável as consequências para o ‘estado de direito’ se o Tribunal Constitucional brasileiro vier a falhar justamente num assunto que diz respeito à credibilidade da Lei maior”, afirma o dirigente do Andes-SN. As entidades sindicais dos servidores públicos federais também estão divulgando, em conjunto com a campanha da Auditoria Cidadã da Dívida, uma petição pública no mesmo sentido, pedindo a anulação da Reforma da Previdência.

terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

Adriano Benayon


Estado: Argentina e Brasil

01. A Argentina, sob Nestor Kirchner e, agora, Cristina Fernández, renacionaliza empresas de setores estratégicos: petróleo e gás, água e esgotos, transportes aéreos, correios.

02. Refunda-se o Estado, praticamente liquidado após várias rodadas de devastação ao longo de 50 anos. A mais brutal delas foi com Menem, 1989/1999.

03. Para mudar de curso, foi preciso o povo sair às ruas, em dezembro de 2001, exigindo a queda de De la Rua e do ministro Cavallo. Este comandava a economia desde Menem, e, em 1991, introduzira o Plano Austral, com conversibilidade e paridade (1 peso = 1 dólar), precursor do Plano Real (1994).

04.  Com o Austral, a dívida  pública causada pelo modelo dependente crescera ainda mais, com grande parte em moratória desde 2001. Ao  assumir Kirchner, em 2003, ela equivalia a 140% do PIB e a 428% das exportações de bens e serviços (no Brasil 79% e 284%).

05. Diferentemente do Brasil,  a Argentina  negociou com soberania e  obteve, em março de 2005, descontos médios de 70% do valor nominal dos títulos.  A dívida externa total foi reduzida de US$ 192 bilhões para US$ 126 bilhões.

06. O Brasil, até hoje, não realizou  sequer a auditoria da dívida, inflada por fraudes e pela capitalização de  taxas de juros, tarifas e comissões descabidas, inclusive nas rolagens e “reestruturações.” Seu serviço prossegue fazendo gastar quase 50% do orçamento federal.

07. Na Argentina, a partir de 2003,  deu-se notável reversão da queda livre  do PIB, havida de 1998 a 2002,  do índice 100 para 77.   Em 2012,  recuperou-se para 151, e,  computando a base 2002 = 100, subiu a 206 (mais que dobrou).  O do Brasil chegou a só 142.

08. A economia argentina ainda está grandemente desnacionalizada, mas menos que a do Brasil, e  as transnacionais têm menos privilégios, subsídios e isenções que aqui. Além disso, as pequenas e médias empresas argentinas têm peso razoável.

09. Assim,  os déficits nas transações correntes são inexpressivos. No Brasil, ao contrário, vêm-se avolumando.  De 2008 a 2012, somaram US$ 204,1 bilhões, sendo US$ 54,2 bilhões em 2012.

10. Esses déficits fazem acelerar ainda mais a desnacionalização e o endividamentocom risco de as contas externas desencadearem grave crise.  Assinala Carlos Lopes (HP 24.01.2013) que, de 2004 a 2011, foram desnacionalizadas 1.296 empresas brasileiras, e as remessas oficiais de lucros ao exterior montaram a US$ 405 bilhões.  Ora, as remessas disfarçadas em outras contas são um múltiplo disso.

11. A restauração do Estado na Argentina faz-se acompanhar de excelentes resultados. Ademais, como escreveu o jornalista Beto Almeida, o presidenteKirchner, enfrentou o oligopólio da mídia, fortaleceu e expandiu a TV Pública Argentina, firmando as bases para aprovar-se a Lei de Meios de Comunicação  no governo de Cristina Kirchner.

12. Criou, ademais, um canal cultural de alto nível, eliminou a reserva de mercado de emissoras privadas sobre o futebol, agora também transmitido por canais públicos. Determinou a divisão do espaço eletromagnético nos  segmentos  estatal,  privado e  público, no qual a CGT e a Universidade Nacional, por exemplo, podem ter seus canais. Foi, ainda, instituído operador nacional de TV a cabo e outro, estatal, para  TV digital”.

13. Os carteis da mídia recorrem a quaisquer meios  para combater governos que defendam o interesse nacional. Por isso, a grande mídia argentina é monolítica em sua hostilidade aos Kirchner.

14. No Brasil a ojeriza ao governo é matizada, porque: 1º embora não tão querido pelos carteis como a oposição, ele segue o esquema econômico  das  transnacionais; 2º porque financia “generosamente” os carteis com verbas públicas.

15. O governo argentino, alvo de serviços secretos estrangeiros para desestabilizá-lo, promovendo e financiando greves e incidentes, necessita, pois, elevar sempre  o grau de fidelidade e a qualidade de seus quadros de inteligência e segurança.

16. No Brasil, há que reverter o processo intensificado sob FHC, de eliminar estatais e perverter o serviço público, pois: 1) criaram-se agências “independentes” – mas  não dos carteis mundiais -  “responsáveis” por serviços públicos privatizados; 2) transformaram a administração em mera repassadora de verbas e outorgadora de concessões; 3) os investimentos são tolhidos pela  fiscalização legalista (sob leis inadequadas) e até ideológica dos Ministérios Públicos e Tribunais de Contas, IBAMA, FUNAI etc.

17. Em suma, um serviço  público, que: 1) se preocupa antes em não se comprometer que em realizar  e, cada vez menos, presta serviços sequer de educação e de saúde; 2) fica   indiferente ao desperdício e à corrupção, se combatê-los prejudicar a carreira.

18. Enquanto isso, o governo: 1)  subsidia banqueiros, concentradores e transnacionais; 2) dá-lhes tratamento fiscal favorecido; 3) financia-os através do BNDES e outros bancos públicos; 4) entra nas PPPs com o grosso do capital e garante o risco dos sócios privados; 5) não consegue aplicar no PAC o grosso das verbas alocadas e as investe mal, através das empreiteiras e outros concessionários. O pouco investido na infra-estrutura é mal escolhido e custa caro.

19. Se a sociedade não tem o Estado a seu serviço, é fatal que ela sucumba. Por isso, os que querem a ruína de um País, desorganizam, desmoralizam e liquidam o Estado. Collor e FHC radicalizaram essa tendência, e os sucessores não  sabem ou não querem revertê-la.

Ideologia e Estado

20. Uma das características dos sistemas de dominação é fazer das ideias que favorecem seus interesses a opinião prevalecente. Nesse contexto, é importante a conexão entre a destruição dos valores éticos da civilização e o marketing do encolhimento do Estado e de sua colocação a serviço de interesses privados concentradores.

21. Os propugnadores do Estado-mínimo argumentam deste modo: como  as pessoas se orientam pelo hedonismo e são desonestas,  quem estiver em posição de se locupletar na função pública, o fará, e, portanto, o Estado deve ser descartado. Por isso, o império trabalha para que assim seja.

22. Não por acaso, fomenta-se a falta de caráter, elimina-se a decência, a dignidade e o respeito aos seres humanos, através de:  relativização dos valores;  implantação da antimúsica com ruídos desestabilizadores do equilíbrio orgânico e psíquico; difusão das drogas.

23. Isso e o consumismo são reforçados pelas técnicas de publicidade, inclusive o merchandising na indústria do entretenimento (rádio, cinema,  TV, videogames, I-Pads etc).

24. O objetivo é que ninguém lute, no Estado ou fora dele, pelo bem comum. Vantagens atraem gente para servir os concentradores, e os meios de apassivar as pessoas são os acima resumidos, planejados em institutos de psicologia aplicada.

25.  Criam-se, aos milhões, alienados de todo tipo, incapazes de absorver informação,  e  a grande mídia encarrega-se de ocultar dos demais tudo que contenha verdade sobre questões econômicas e políticas.

26. Os pensadores orgânicos difundem teorias como a do Estado mínimo, contaminadas por contradições insanáveis, raro desmascaradas, por falta de espaço na mídia e nas universidades.

27. Segundo Adam Smith, a busca da utilidade egoísta pelos indivíduos ou empresas só funciona em favor do bem-comum, se não tiverem poder sobre o mercado. Claro, pois, na lógica do sistema, que os dirigentes dos  poderosos carteis usam a “liberdade” para aumentar a concentração e a tirania.

28. A experiência dos países que prosperaram, comprova que o desenvolvimento se deveu a estadistas e a funcionários capazes e honestos. Inviabilizar esse tipo de gente entre nós é condenar o País à exploração irreversível por parte dos impérios.

29. Formaram-se aqui bons quadros e carreiras  no serviço público, restando ainda técnicos e funcionários competentes, hoje, na maioria, desaproveitados, por causa da corrosão do Estado.

Adriano Benayon é Doutor em Economia pela Universidade de Hamburgo e Advogado, OAB-DF nº 10.613, formado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro. Foi Professor da Universidade de Brasília e do Instituto Rio Branco, do Ministério das Relações Exteriores. Autor de Globalização versus Desenvolvimento”.


Mauro Santayana


Os limites da Pátria

É difícil saber se a Sra. Marina Silva é uma pessoa ingênua e de boas intenções, ou se optou, conscientemente, por defender os interesses das grandes potências que, sob o comando de Washington, exercem o solerte condomínio econômico do mundo e pretendem o absoluto império político. Há uma terceira hipótese que, com delicadeza, devemos descartar: desmesurada ambição de poder, sem as condições concretas para obtê-lo e exercê-lo. Os admiradores lembram sempre sua origem modesta, o que não quer dizer tudo, mas não podem, com a mesma convicção, dizer que ela tenha mantido, ao longo da carreira, o que os marxistas chamam “consciência de classe”. Suas alianças são estranhas a esse sentimento. Ela se tornou uma figura homenageada pelos grandes do mundo, mas, sobretudo, do eixo Washington-Londres. Se ela mantivesse a consciência de classe, desconfiaria desses mimos. Para dizer a verdade, nem mesmo seria necessária a consciência de classe: bastaria a consciência de pátria. A Sra. Silva, como alguns outros brasileiros que se pretendem na esquerda, é uma internacionalista. O meio ambiente, que querem preservar tais verdes e assimilados, não é o do Brasil para os brasileiros, mas é o do Brasil para o mundo. Quando a Família Real Inglesa e os círculos oficiais e financeiros norte-americanos cercam a menina pobre dos seringais de homenagens, usam de uma astúcia velha dos colonialistas, e fazem lembrar os franceses na aliança com a Confederação dos Tamoios, e os holandeses em suas relações com Calabar. Os tempos mudam, os interesses de conquista e domínio permanecem, com sua própria dinâmica e solércia. Os limites intransponíveis da razão política são os da pátria. Todos os devaneios são admissíveis, menos os que comprometam a soberania nacional. Não são apenas os estrangeiros que adoçam os sonhos da defensora da natureza. São também brasileiros ricos e conservadores que, é claro, procuram dividir a cidadania, para que fiéis servidores políticos mantenham sua posição no Parlamento e nos outros poderes. Há informações de que grande acionista de banco poderoso se encarregou das despesas do espetáculo de lançamento do partido de dona Marina, que não quer ser chamado de partido. E não se esqueça de que quem sempre a financiou é um industrial enriquecido com a biodiversidade amazônica. Não há coincidências em política. Os mentores da Sra. Silva querem que seu movimento, como ela anunciou, não seja de direita, nem de esquerda, e muito menos de centro – que é o equilíbrio pragmático entre as duas pontas do espectro. É interessante a ilogicidade da proposta. Como é possível dissociar a ideologia da política e, ainda mais, a ideologia do viver cotidiano? Esquerda e Direita existem na vida dos homens desde as primeiras tribos nômades, e são facilmente identificáveis na postura solidária de alguns e no egoísmo de outros. Sempre que pensamos em igualdade, somos, menos ou mais, de esquerda; sempre que pensamos na superioridade, de qualquer natureza, de uns sobre os outros, estamos na direita. Mais ainda: idéia é a imagem que construímos previamente na consciência, seja a de um objeto, seja a de uma conduta social e política. Não é possível viver sem um lado. A doutrina da mal chamada Rede (apropriação apressada e ingênua do mundo da internet, que é um meio neutro) oferece essa aporia: é um partido sem partido, uma realidade sem geometria, uma idéia sem idéia.

Mauro Santayana é um jornalista autodidata brasileiro. Prêmio Esso de Reportagem de 1971. Trabalhou, no Brasil e no exterior, para jornais e publicações como Diário de Minas, Binômio, Última Hora, Manchete, Folha de S. Paulo, Correio Brasiliense, Gazeta Mercantil e Jornal do Brasil, onde mantém uma coluna de comentários políticos.

Collor cobra que Senado processe e julgue procurador-geral da República


O senador Fernando Collor (PTB-AL) voltou a defender, nesta segunda-feira (18), que o Senado tome providências contra o procurador-geral da República, Roberto Gurgel. Collor citou a Constituição, que estabelece como competência privativa do Senado processar e julgar o procurador-geral da República nos crimes de responsabilidade. Collor lembrou que suas denúncias contra Gurgel vêm sendo feitas há 9 meses e resultaram em 11 representações, nas esferas cível, penal e administrativa. Entre as acusações feitas pelo senador estão crime de prevaricação, improbidade administrativa, inércia ou excesso de prazo e irregularidades em processo licitatório. Três dessas representações, por crime de responsabilidade, foram protocoladas no Senado.
- Ora, se de fato existem indícios, constatações e provas desabonadoras e até criminosas da conduta do Sr. Roberto Gurgel à frente da Procuradoria-Geral da República, nada mais natural e saudável para a democracia que o Senado Federal exerça as suas atribuições e, mais do que isso, os seus deveres constitucionais para esclarecer os fatos e julgar adequadamente – afirmou.

Histórico

As denúncias do senador contra Gurgel tiveram início com a CPI do Cachoeira, em 2012. À época, parlamentares questionaram o sobrestamento da Operação Vegas, que investigou Cachoeira em 2009. Para Collor, a opção de Gurgel por paralisar as investigações permitiu à organização criminosa investigada agir livremente até o início de 2012, quando Cachoeira foi preso em outra ação da Polícia Federal, a Monte Carlo.
- Sem dúvida, os prejuízos à Nação foram enormes pela inação, pela inércia do Sr. Roberto Gurgel – afirmou o senador, que também acusa o procurador de vazar, conforme sua conveniência, documentos de inquéritos sob segredo de justiça.
Mais recentemente, no início deste mês, Collor fez novas denúncias contra Gurgel, desta vez por supostas irregularidades em processo licitatório para aquisição de tablets pela Procuradoria-Geral da República. A suspeita resultou em representação do senador no Tribunal de Contas da União (TCU) e em pedido de providências ao Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP).

Ameaça

Collor também acusou Gurgel de utilizar o cargo como instrumento de chantagem e ameaça. O senador criticou o fato de o procurador ter denunciado o atual presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), uma semana antes da eleição para a presidência da Casa, após dois anos com o inquérito em suas mãos. Na denúncia, Gurgel acusa Renan de peculato, falsidade ideológica e uso de documento falso.
- É mais um exemplo típico da costumeira prática de exceder no tempo propositalmente. Assim ele age: escamoteia-se sorrateiramente como um selvagem, para esperar o melhor momento de dar o bote.
O senador fez um apelo aos colegas para que analisem as representações e para que não se sintam ameaçados pelo que chamou de “chantagens” de Gurgel.

Agência Senado

Leia o pronunciamento completo aqui.

Confira o vídeo da TV Senado a seguir.


As 40 perguntas que Yoani Sánchez não responderá

Famosa opositora cubana fará seu giro global por mais de uma dezena de países do mundo



Grande mídia brasileira não fará nenhum questionamento a Yoani Sánchez que esteja fora dos padrões de conveniências (Foto: aBr)

1. Quem organiza e financia sua turnê mundial?

2. Em agosto de 2002, depois de se casar com o cidadão alemão chamado Karl G., abandonou Cuba, “uma imensa prisão com muros ideológicos”, para imigrar para a Suíça, uma das nações mais ricas do mundo. Contrariamente a qualquer expectativa, em 2004, decidiu voltar a Cuba, “barco furado prestes a afundar”, onde “seres das sombras, que como vampiros se alimentam de nossa alegria humana, nos introduzem o medo através do golpe, da ameaça, da chantagem”, onde “os bolsos se esvaziavam, a frustração crescia e o medo se estabelecia”. Que razões motivaram esta escolha?

3. Segundo os arquivos dos serviços diplomáticos cubanos de Berna, Suíça, e de serviços migratórios da ilha, você pediu para voltar a Cuba por dificuldades econômicas com as quais se deparou na Suíça. É verdade?

4. Como pôde se casar com Karl G. se já estava casada com seu atual marido Reinaldo Escobar?

5. Ainda é seu objetivo estabelecer um “capitalismo sui generis” em Cuba?

6. Você criou seu blog Geração y (Generación Y) em 2007. Em 4 de abril de 2008 conseguiu o Prêmio de Jornalismo Ortega e Gasset, de 15 mil euros, outorgado pelo jornal espanhol El País. Geralmente, este prêmio é dado a jornalistas prestigiados ou a escritores de grande carreira literária. É a primeira vez que uma pessoa com seu perfil o recebe. Você foi selecionada entre cem pessoas mais influentes do mundo pela revista Time (2008). Seu blog foi incluído na lista dos 25 melhores blogs do mundo pela cadeia CNN e pela revista Time (2008), e também conquistou o prêmio espanhol Bitacoras.com, assim como The Bob’s (2008). El País lhe incluiu em sua lista das cem personalidades hispano-americanas mais influentes do ano 2008. A revista Foreign Policy ainda a incluiu entre os dez intelectuais mais importantes do ano em dezembro de 2008. A revista mexicana Gato Pardo fez o mesmo em 2008. A prestigiosa universidade norte-americana de Columbia lhe concedeu o prêmio María Moors Cabot. Como você explica esta avalanche de prêmios, acompanhados de importantes quantias financeiras, em apenas um ano de existência?

7. Em que emprega os 250 mil euros conseguidos graças a estas recompensas, um valor equivalente a mais de 20 anos de salário mínimo em um país como França, quinta potencia mundial, e a 1.488 anos de salário mínimo em Cuba?

8. A Sociedade Interamericana de Imprensa, que agrupa os grandes conglomerados midiáticos privados do continente, decidiu nomeá-la vice-presidente regional por Cuba de sua Comissão de Liberdade de Imprensa e Informação. Qual é seu salário mensal por este cargo?

9. Você também é correspondente do jornal espanhol El País. Qual é sua remuneração mensal?

10. Quantas entradas de cinema, de teatro, quantos livros, meses de aluguel ou pizzas pode pagar em Cuba com sua renda mensal?

11. Como pode pretender representar os cubanos enquanto possui um nível de vida que nenhuma pessoa na ilha pode se permitir levar?

12. O que faz para se conectar à Internet se afirma que os cubanos não têm acesso e ela?

13. Como é possível que seu blog possa usar Paypal, sistema de pagamento online que nenhum cubano que vive em Cuba pode utilizar por conta das sanções econômicas que proíbem, entre outros, o comércio eletrônico?

14. Como pôde dispor de um Copyright para seu blog “© 2009 Generación Y – All Rights Reserved”, enquanto nenhum outro blogueiro cubano pode fazer o mesmo por causa das leis do embargo?

15. Quem se esconde atrás de seu site desdecuba.net, cujo servidor está hospedado na Alemanha pela empresa Cronos AG Regensburg, registrado sob o nome de Josef Biechele, que hospeda também sites de extrema direita?

16.  Como pôde fazer seu registro de domínio por meio da empresa norte-americana GoDady, já que isto está formalmente proibido pela legislação sobre as sanções econômicas?

17. Seu blog está disponível em pelo menos 18 idiomas (inglês, francês, espanhol, italiano, alemão, português, russo, esloveno, polaco, chinês, japonês, lituano, checo, búlgaro, holandês, finlandês, húngaro, coreano e grego). Nenhum outro site do mundo, inclusive das mais importantes instituições internacionais, como por exemplo as Nações Unidas, o Banco Mundial, o Fundo Monetário Internacional, a OCDE ou a União Europeia, dispõem de tantas versões linguísticas. Nem o site do Departamento de Estado dos Estados Unidos, nem o da CIA dispõem de igual variedade. Quem financia as traduções?

18. Como é possível que o site que hospeda seu blog disponha de uma banda com capacidade 60 vezes superior àquela que Cuba dispõe para todos os usuários de Internet?

19. Quem paga a gestão do fluxo de mais de 14 milhões de visitas mensais?

20. Você possui mais de 400 mil seguidores em sua conta no Twitter. Apenas uma centena deles reside em Cuba. Você segue mais de 80 mil pessoas. Você afirma “Twitto por sms sem acesso à web”. Como pode seguir mais de 80 mil pessoas sem ter acesso à internet?

21. O site www.followerwonk.com permite analisar o perfil dos seguidores de qualquer membro da rede social Twitter. Revela a partir de 2010 uma impressionante atividade de sua conta. A partir de junho de 2010, você se inscreveu em mais de 200 contas diferentes do Twitter a cada dia, com picos que podiam alcançar 700 contas em 24 horas. Como pôde realizar tal proeza?



22.  Por que cerca de seus 50 mil seguidores são na verdade contas fantasmas ou inativas? (ver aqui) De fato, dos mais de 400 mil perfis da conta @yoanisanchez, 27.012 são ovos (sem foto) e 20 mil têm características de contas fantasmas com uma atividade inexistente na rede (de zero a três mensagens mandadas desde a criação da conta).

23. Como é possível que muitas contas do Twitter não tenham nenhum seguidor, apenas seguem você e tenham emitido mais de duas mil mensagens? Por acaso seria para criar uma popularidade fictícia? Quem financiou a criação de contas fictícias?

24. Em 2011, você publicou 400 mensagens por mês. O preço de uma mensagem em Cuba é de 1,25 dólares. Você gastou seis mil dólares por ano com o uso do Twitter. Quem paga por isso?

25. Como é possível que o presidente Obama tenha lhe concedido uma entrevista, enquanto recebe centenas de pedidos dos mais importantes meios de comunicação do mundo?

26. Você afirmou publicamente que enviou ao presidente Raúl Castro um pedido de entrevista depois das respostas de Barack Obama. No entanto, um documento oficial do chefe da diplomacia norte-americana em Cuba, Jonathan D. Farrar, afirma que você nunca escreveu a Raúl Castro: “Ela não esperava uma resposta dele, pois confessou nunca tê-las enviado [as perguntas] ao presidente cubano. Por que mentiu?

27. Por que você, tão expressiva em seu blog, oculta seus encontros com diplomáticos norte-americanos em Havana?

28. Entre 16 e 22 de setembro de 2010, você se reuniu secretamente em seu apartamento com a subsecretaria de Estado norte-americana Bisa Williams durante sua visita a Cuba, como revelam os documentos do Wikileaks. Por que manteve um manto de silêncio sobre este encontro? De que falaram?

29. Michael Parmly, antigo chefe da diplomacia norte-americana em Havana afirma que se reunia regularmente com você em sua casa, como indicam documentos confidenciais da SINA. Em uma entrevista, ele compartilhou sua preocupação em relação à publicação dos cabos diplomáticos norte-americanos pelo Wikileaks: “Eu me incomodaria muito se as numerosas conversas que tive com Yoani Sánchez forem publicadas. Ela poderia sofrer as consequências por toda a vida”. A pergunta que imediatamente vem à mente é a seguinte: quais são as razões por que você teria problemas com a justiça cubana se sua atuação, conforme afirma, respeita o marco da legalidade?

30. Continua pensando que “muitos escritores latino-americanos mereciam o Prêmio Nobel de Literatura mais que Gabriel García Márquez”?

31. Continua pensando que “havia uma liberdade de imprensa plural e aberta, programas de rádio de toda tendência política” sob a ditadura de Fulgencio Batista entre 1952 e 1958?

32. Você declarou em 2010: “o bloqueio tem sido o argumento perfeito do governo cubano para manter a intolerância, o controle e a repressão interna. Se amanhã as suspenderem as sanções, duvido muito que sejam vistos os efeito”. Continua convencida de que as sanções econômicas não têm nenhum efeito na população cubana?

33. Condena a imposição de sanções econômicas dos Estados Unidos contra Cuba?

34. Condena a política dos Estados Unidos que busca uma mudança de regime em Cuba em nome da democracia, enquanto apoio as piores ditaduras do Oriente Médio?

35. Está a favor da extradição de Luis Posada Carriles, exilado cubano e ex-agente da CIA, responsável por mais de uma centena de assassinatos, que reconheceu publicamente seus crimes e que vive livremente em Miami graças à proteção de Washington?

36. Está a favor da devolução da base naval de Guantánamo que os Estados Unidos ocupam?

37. Você é favorável à libertação dos cinco presos políticos cubanos presos nos Estados Unidos desde 1998 por se infiltrarem em organizações terroristas do exílio cubano na Florida?

38. Em sua opinião, é normal que os Estados Unidos financiem uma oposição interna em  Cuba para conseguir “uma mudança de regime”?

39. Em sua avaliação, quais são as conquistas da Revolução Cubana?

40. Quais interesses se escondem atrás de sua pessoa?

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

José Sarney

Eu te conheço Carnaval

Eu tinha um tio Ferdinand, funcionário do Banco do Brasil, que era completamente louco pelo Carnaval. Para ele, o reinado de Momo começava no dia 31 de dezembro, quando nos costumes do velho Maranhão, abriam os bailes populares, de dominó, em que as mulheres reprimidas pela discriminação tinham uma oportunidade de, sob o anonimato, ”rodar a baiana”, e outros, homossexuais banidos e martirizados pela segregação, vestidos de mulher, soltar “a franga”. O baile de máscara acabou e foi até uma marchinha do tempo do Cafeteira (Cafeteira não quer/ máscara neste Carnaval!) e começou a modernidade menos carnavalesca e mais luxuosa das escolas de samba. Dos bailes populares o mais célebre era do Moisés, uma figura simpática e alegre que conhecia todos os segredos e desejos que nascem e morrem no Carnaval. O Moisés todo ano abria o seu baile, sempre num sobradão desalugado, com grande pompa. Não só meu tio, meu pai e eu também, éramos seus fregueses. Eu menos do que eles, porque sempre fui retraído para a folia. Outro dia, escrevi aqui sobre os folguedos populares e sobre a identidade brasileira e afirmei que o forte do Brasil era a música e incluí o Carnaval entre as referências maiores. O Carnaval é a mais alta manifestação da cultura da alegria do brasileiro, momento para a picardia e o riso, além de outras coisas boas que ele desperta. Com algum exagero, hoje, tendem alguns radicais religiosos e o Ministério da Saúde a julgá-lo um bacanal. Veja-se os anúncios que o Ministério divulga nas campanhas dos preservativos: “Tenha um Carnaval seguro, use a camisinha”. É até uma negação do significado de Carnaval, que todos afirmam vir do latim CARNE VALE, adeus a carne, porque anunciava um período que precedia a quaresma, tempo de jejum, inclusive do corpo. Não sei por que me lembrei associar este Carnaval ao meu tio Ferdinand. Ele me traz à memória o seu bloco “O Bando da Lua”, sua participação no Corso lendário de domingo gordo, quando desfilava no carro da Chicó, entre aquelas mulheres de saias grandes colocadas para fora das carrocerias dos carros enfeitados. Seu espírito boêmio incorpora uma estória que fazia parte da história da nossa família. Um tio-avô nosso morreu no sábado de Carnaval, em São Bento. Ele recebeu um telegrama com a triste notícia. Leu e disse à esposa: “Guarde este telegrama e não diga nada a ninguém. Na quarta-feira de cinzas abra e comunique os amigos. Feche a metade da porta – como era costume – e vamos começar o luto”. E esbaldou-se na farra durante o Carnaval. Algum abelhudo descobriu a morte do velho e cobrou dele, que pulava e não cantava no Bloco: “Canta Ferdinand!”, e ele respondia: “Não posso, estou de luto”.
Todos à folia.

José Sarney foi governador, deputado e senador pelo Maranhão, presidente da República, senador do Amapá por três mandatos consecutivos, presidente do Senado Federal por três vezes. Tudo isso, sempre eleito. São 55 anos de vida pública. É também acadêmico da Academia Brasileira de Letras (desde 1981) e da Academia das Ciências de Lisboa.
jose-sarney@uol.com.br 

Adriano Benayon

Finança mundial

Novos dados informam que somente cinco bancos têm ativos de  8,5 trilhões de dólares, o equivalente a 56% do PIB dos Estados Unidos: JP Morgan Chase, Goldman Sachs Group, Citigroup, Bank of America e Wells Fargo.

02. Os dez maiores bancos do mundo teriam US$ 6,4 trilhões dos mais de US$ 30 trilhões aplicados nos paraísos fiscais  (offshore).  Somente 92 mil pessoas (0,001% da população mundial) possuem US$ 10 trilhões nessas localidades. Nos EUA só 400 indivíduos teriam riqueza igual à de 50% da população do país.

03. Aí estão ilustrações do que tenho exposto: os concentradores aumentam seu poder durante a depressão econômica e não têm interesse em que ela acabe.

04. Durante as fases de crescimento real da economia, após certo tempo, a finança começa a crescer mais que a produção de bens e serviços, inclusive porque os lucros crescem mais rápido que os salários.

05. Além disso, no setor produtivo as fusões e aquisições de empresas levam a aumento da concentração. Após um tempo, os salários, exceto o de muito poucas categorias, começam a decrescer em termos reais, perdendo para a inflação dos preços.

06. Paralelamente, como é natural, a demanda por bens e serviços só aumenta através do crédito, formando-se as bolhas, como foi o caso da imobiliária nos EUA, apontada como desencadeadora do colapso financeiro iniciado em 2007/2008.

07. Entretanto, essa não é a única nem a principal bolha. As principais decorrem de manipulações nos mercados financeiros, como foi a das ações de empresas de informática (1997/2001) e a imensa que a ela se seguiu, a dos derivativos. 

08. Nesta foram  gerados mais de 600 trilhões de dólares, nos computadores do sistema financeiro: títulos montados em cima de outros títulos e de coisas irreais, como: apostas em inadimplência de títulos (credit default swaps) e em índices de taxas de juro, de taxas de câmbio; operações de hedge, ou seja, jogando, ao mesmo tempo, na alta e na baixa dos mesmos títulos. Até emprestando a um país e apostando na elevação dos juros dessa dívida,  como fez o Goldman Sachs com a Grécia, entre outros. 

09. Assim, a par da concentração e maior oligopolização dos setores produtivos, a financeirização da economia foi assumindo dimensões gigantescas. Ela se pode definir como a formação de ativos financeiros em proporção exponencialmente maior que a dos ativos reais e produtivos.

10. Após anos nessa escalada, é natural que os preços desses ativos também aumentem exponencialmente e que, em determinado ponto, se verifique sua irrealidade, o que dá início ao estouro das bolhas.

11. Esse ponto foi atingido em 2007/2008, e a partir daí os preços dos ativos começam a cair. Os devedores viram-se presos numa armadilha, pois continuaram tendo que pagar as dívidas, e muitos deles não mais o puderam fazer, tendo suas casas sido tomadas pelos bancos.

12. Hoje  nos EUA as dívidas dos estudantes ultrapassaram  US$ 1 trilhão, e os saldos devedores dos cartões de crédito chegam a U$ 800 bilhões.

13. Em 2007/2008, as empresas de muitos manipuladores financeiros entraram em dificuldades, embora não os seus donos e executivos, que haviam transferido, para si mesmos em outras destinações. a maior parte dos lucros com a especulação, movida através de alta alavancagem (uso de margem mínima de capital próprio nas operações financeiras). 

14. Os grandes bancos ficaram praticamente falidos quando a bolha levou a perceber que o valor real dos derivativos não correspondia senão a pequena fração, próxima a zero, do valor nominal desses títulos.

15. Então, por que não foram liquidados, o que teria permitido aos Tesouros nacionais dos EUA, e de vários países europeus, por exemplo, sanear as finanças e a economia?

16. Porque os Tesouros e os bancos centrais os salvaram, com dezenas de trilhões de dólares e de euros  dos contribuintes e principalmente com emissões de dinheiro (especialmente nos EUA)  e de títulos públicos, inclusive adquirindo pelo valor nominal os títulos podres  dos bancos e empresas financeiras.

17. Os pseudo-governos desses países têm o desplante de dizer que são democráticos. Os grandes bancos os controlam, como controlam  "mercados financeiros".

18. Tal é a manipulação nesses mercados, que, apesar das dezenas de trilhões de dólares criados do nada , o preço do ouro permanece no patamar em que terminou o ano de 2011 (US$ 1.650 por onça), depois de haver atingido naquele ano o pico de quase US$ 2.000.

19.  O  jornalista financeiro Evans-Pritchard publicou artigo no The Telegraph, de Londres (13.01.2013), em que diz estar o  mundo caminhando para um padrão-ouro de fato, no qual o metal teria peso comparável ao do dólar e do euro. Não cogita da moeda chinesa e de outras com potencial de solidez.

20. Ele se baseia  no relatório “GFMS Gold Survey for 2012”, segundo o qual os bancos centrais compraram mais ouro em 2012 do que em qualquer tempo, por quase meio século, aumentando suas reservas em 536 toneladas.

21. Como ele recorda, os bancos centrais de países da órbita anglo-americana (Reino Unido, Espanha, Holanda, Suíça e outros) firmaram,  há anos, o acordo de Wahington, comprometendo-se  a regularmente fazer vendas de  ouro, sustentando as moedas inflacionadas (dólares principalmente).

22. Nessas operações – especialmente o Banco da Inglaterra - tiveram enorme prejuízo, pois o preço do ouro aumentou de US$ 300 em 2003 para o atual nível, superior a US$ 1.600.

23. Outro sinal foi a decisão do parlamento da Alemanha  de trazer ao país seus estoques de ouro guardados nos EUA e na França, havendo dúvidas sobre se os EUA ainda têm o que oficialmente consta.


24. Há enorme potencial para as compras principalmente pela  China, que teria o projeto de elevar suas reservas de ouro para 2% de suas reservas totais. 

25. Isso ainda é muito pouco  já que o dólar e o euro não têm condições de justificar o otimismo, do ponto de vista do cartel dos bancos,  de que essas duas moedas permaneçam como as principais divisas mundiais.

26. A dívida pública e o déficit federal dos EUA, depois de ultrapassarem o PIB desse país, com montantes acima de US$ 16 trilhões, continuarão sendo financiados com emissões de moeda e de títulos públicos, os quais estão perdendo adquirentes, salvo o  Federal Reserve.

27. A China detém algo próximo a 1,2 trilhões desses títulos, mas, há  um ano, esse montante era maior, e ele só representa um terço das reservas totais, enquanto o Japão chegou a quase aquele valor,  que, no caso dele, representa mais de 90% de suas reservas. A meta da Rússia é aumentar a reserva de ouro para  10% das totais, hoje  da ordem de US$ 560 bilhões.

28. Próximo artigo: a situação do Estado no Brasil e na Argentina.


Adriano Benayon é Doutor em Economia pela Universidade de Hamburgo e Advogado, OAB-DF nº 10.613, formado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro. Foi Professor da Universidade de Brasília e do Instituto Rio Branco, do Ministério das Relações Exteriores. Autor de Globalização versus Desenvolvimento”.


domingo, 10 de fevereiro de 2013

Deu no “Conversa Afiada”, do Paulo Henrique Amorim


APPLE: COLLOR VAI AO TCU X GURGEL

E a bancada do PT no Senado, Suplicy?

Conversa Afiada recebeu as seguintes informações :

O Senador Fernando Collor protocolou uma representação e uma denúncia junto ao Tribunal de Contas da União. Além disso o Senador apresentou requerimento ao Plenário do Senado Federal para que a Casa solicite institucionalmente diligências ou auditoria por parte do TCU junto à Procuradoria Geral da República no tocante ao processo licitatório dos tablets. O TCU como órgão auxiliar do Legislativo Federal dá prioridade no trâmite das demandas do Congresso.

Clique aqui para votar no “Não e Sim com Paulo Henrique Amorim”.

aqui para ler a denúncia de Collor contra Gurgel.

Clique nas imagens a seguir para ampliá-las:




As bases americanas na Alemanha e a base ouro


Por Antal E. Fekete [*]

A Alemanha não é nem independente nem soberana, apesar das pretensões habituais. Ela tem tropas americanas no seu solo por razões inexplicadas e inexplicáveis após a retirada de todas as tropas soviéticas há quase 25 anos atrás. Igualmente significativo é o facto de que a fatia do leão da reserva ouro alemã esteja sob a custódia americana. Se o Bundesbank pediu a repatriação de uma parte simbólica daquele ouro durante um longo período de tempo, podemos considerar como garantido que isto foi feito sob instruções americanas. Mas por que os americanos pediriam ao Bundesbank para requerer o retorno de uma parte do ouro alemão armazenados na "segurança" dos porões do Federal Reserve Bank of New York na parte baixa de Manhattan? Certamente não porque os porões estejam cheios de ouro americano e eles tenham de arranjar espaço para mais. É tudo grande teatro. Há uma agenda oculta que tem de ser camuflada. O melhor meio de fazer isso é montar um show. O público fica fascinado por imagens com tramas de ouro de bancos centrais.  Uma razão, talvez a principal para este exercício, é que os administradores do sistema de moeda fiduciária (fiat money) global estão a preparar-se para a próxima confrontação decisiva, a cortina final sobre o que há alguns anos atrás chamei de The Last Contango in Washington. Por outras palavras, os decisores políticos estão a preparar-se para (ou a tentar defender-se da) a permanente escassez backwardation ) nos mercados futuros de ouro de todo o mundo que está a ameaçar rasgar em pedaços o actual e desgastado sistema de pagamentos mundial que repousa na fé (make-belief). A multa por atraso contango ) é a condição normal dos mercados futuros de outro quando o preço spot do ouro está com um desconto em relação ao preço de contratos futuros. O contango demonstra que está disponível muito ouro para satisfazer a procura actual. As pessoas estão confiantes em que promessas de entrega de ouro serão honradas. A condição oposta à situação de contango é chamada de escassez (backwardation) que se verifica quando os preços futuros perdem o seu prémio em relação ao preço spot e ficam menores. No mercado de ouro esta condição é altamente anómala porque, face a isto, permite aos comerciantes ganharem lucros sem risco. Eles vendem ouro spot com um prémio e compram-no de volta com um desconto para entrega futura. Contudo, lucros sem risco são efémeros uma vez que a própria acção de comerciantes os eliminará instantaneamente. O que isto sugere é que escassez permanente de ouro nunca poderia acontecer pela própria natureza do caso. Mas sem o conhecimento do público geral um perigo muito grande está a surgir, perigo semelhante a um que não ameaçava o mundo desde o colapso da parte ocidental do Império Romano há mais de 1500 anos atrás. Este perigo, se se materializar, marcaria o fim da nossa civilização e princípio de uma nova Idade Média (Dark Age).Estou a falar acerca da ameaça do súbito e completo colapso do comércio mundial. Isto seria anunciado pela escassez permanente de ouro, algo que alegadamente nunca poderia acontecer. Directamente nos seus calcanhares seguir-se-ia o colapso do sistema de pagamentos em dólar. O comércio por trocas (barter),naturalmente, começaria entre países vizinhos, mas o comércio mundial tal como o conhecemos desapareceria junto. O indicador pelo qual a viragem do contango para a escassez (backwardation) poderia ser medido é chamado a base ouro. É o prémio sobre o preço do ouro para entrega futura de acordo com o contrato que o acompanha relativo ao preço spot. Portanto a base ouro negativa é equivalente a escassez. Mal se passaram uns 40 anos de história de orientação pela base ouro, porque não havia comércio organizado de futuro de ouro antes de a América incumprir suas obrigações internacionais de ouro em 15 de Agosto de 1971. O comércio de futuros começou com uma base ouro robusta. O contango estava no seu pico. A base ouro não pode ser mais elevada do que o pleno encargo de armazenagem (carrying charge) (também conhecido como o custo de oportunidade de possuir ouro, cujo principal componente é o juro). Mas bastante cedo a base ouro começou a erodir-se e a erosão continuou até hoje. Isto foi um processo agourento e que foi ignorado por todos os políticos, economistas e jornalistas financeiros. O desvanecimento da base ouro é ainda mais curioso uma vez que tem estado a acontecer contra o pano de fundo de um avanço constante no preço do ouro. Os manuais de teoria económica ensinam que um avanço no preço sempre e em toda a parte chama novas oferta. Contudo, os manuais de teoria económica são impotentes quando se trata de ouro. Para o ouro, o verdadeiro é exactamente o oposto: um avanço no preço faz a ofertar contrair; e um avanço muito grande pode fazer a oferta desaparecer totalmente. A razão para este paradoxo é que o ouro é um metal monetário. Toda a difamação do ouro por economistas pagos por governo não alterará este facto. Nesta altura o declínio foi tão longe que a base ouro é praticamente zero, com ocasionais afundamentos em território negativo. A academia evita ostensivamente investigar a base ouro, pretendendo que ela tem tanta relação com a economia mundial quanto a base para carcaças de porcos congelados. O público é mantido na ignorância total. Mas só se pode ignorar a base ouro correndo perigo. Trata-se do único indicador disponível que mostra a deterioração progressiva do sistema de moeda fiduciária. Como é bem sabido, em toda a história nunca houve um experimento com êxito de moeda fiduciária. E nem foi por falta de tentativas. Todos estes experimentos ou foram abandonados quando governos esclarecidos decidiram retornar a divisa a uma base metálica, ou acabaram em fracasso absoluto provocando tremendo sofrimento económico para o povo quando a moeda fiduciária estava a perder rapidamente todo o seu poder de compra. A implacável contracção da base ouro significa que o ouro disponível para entrega futura está a desaparecer rapidamente. O ouro está constantemente a mover-se para mãos fortes que o agarram e não o abandonarão mesmo em face de altas de preços abruptas. Finalmente a oferta de ouro secará e a escassez esporádica dará lugar à escassez permanente. As minas de ouro recusam-se a receber papel-moeda pelo seu produto. Se quiser ter ouro, terá de recorrer ao barter. Escassez permanente significa que a confiança na divisa fiduciária em papel e nas promessas do governo de pagar evaporaram-se. Afinal de contas, considerando a sua origem, notas de banco irresgatáveis são nada mais do que promessas desonradas de pagar ouro. Uma vez estilhaçada a confiança, todos os cavalos do rei e todos os homens do rei não podem juntar Humpty Dumpty outra vez. A escassez permanente é como um buraco negro. Não há caminho para dele sair. Nem mesmo um raio de luz pode escapar das suas garras. Eis como os buracos negros ganharam sua fama. "Escassez permanente" não é um nome tão sugestivo como "buraco negro", mas mesmo assim pode devorar a economia mundial. A base ouro é afim à eficiência do dinheiro de suborno. A princípio o suborno é aceite sem se fazerem perguntas. Mas quando se torna uma característica regular do comércio de ouro, a sua efectividade é perdida. No fim o suborno é recusado quando se percebe que o objectivo é trapacear o proprietário e retirar-lhe a sua posse de ouro. Um sistema de comércio construído sobre o suborno é um castelo de cartas. Ele é desonesto. Depende do engano e de tramas falsas. Isto traz-me de volta à reserva ouro alemã. Como a escassez esporádica em ouro torna-se cada vez mais frequente, os cavalheiros responsáveis pelo andamento do sistema mundial de moeda fiduciária ficam alarmados. O único meio de pacificar o mercado é libertar cada vez mais ouro de bancos centrais. Ouro físico. A besta deve ser alimentadas. O ouro de papel não o fará (mas, naturalmente, estes cavalheiros continuarão a tentar inundar o mercado com ele). Libertar ouro americano directamente do Fed para os mercados de futuros está fora de causa. Isso confirmaria a suspeita, já desenfreada, de que o dólar é um colosso com pés de barro sustendo-se com água até os joelhos. Assim, deixem os estados clientes da América fazerem a libertação. Os alemães têm a reputação de favoráveis à divisa forte. Eles estão relutantes em aderir à "corrida para a base" das divisas. A Alemanha é a escolha natural para alimentar mercados futuros de ouro num esforço para proteger o dólar contra o último assalto que está a perfilar-se. Durante muito tempo a América tem estado a torcer o braço de outros países, incluindo o Reino Unido e a Suíça, fazendo-os vender centenas de toneladas de ouro do banco central, ao passo que a América não estava a vender nem uma onça. "Faça como eu digo, não como eu faço!" Durante todo este tempo a Alemanha tão pouco estava a vender. Era mantida a aparência de que esta decisão foi tomada na Alemanha. Não foi; ela tem, ao invés, a marca "made in USA". O ouro alemão é a última defesa do dólar. Por esta altura praticamente todos os bancos centrais ignoram o canto de sereia da América. De vendedores eles se tornaram compradores de ouro. De acordo com o plano mestre americano a Alemanha é a última fortaleza [a impedir] a desintegração do sistema global de moeda fiduciária. A Alemanha não falhará: é para isso que se mantêm tropas americanas no solo alemão. A Alemanha cumprirá obedientemente a tarefa de alimentar com ouro os mercados de futuros num esforço para defender-se da escassez permanente. A repatriação de uma parte a reserva de ouro alemã é um balão de ensaio. Se os mercados ficarem com medo e verificar-se pânico de vendas antes de o Bundesbank começar a vender, então muito melhor. Mas se a trama falsa fracassar e a marcha do mercado mundial de ouro rumo ao entesouramento privado continuar constante, então deixem o Bundesbank, não o Fed, sangrar ouro. O ouro da América deve ser poupado apesar de todos os riscos. 

Sobre tais truques e enganos está fundamentado o sistema monetário internacional. 

Qual é, portanto, a solução? Como pode ser impedida a morte súbita do comércio mundial? Felizmente, ainda há políticos erectos. Godfrey Bloom do Parlamento Europeu, deputado pelos círculos de Yorkshire e North Lincolnshire no Reino Unido, sugere que a Alemanha deveria repatriar TODO o seu ouro e reinstaurar um marco alemão ouro. 

A causa subjacente da crise financeira mundial é dívida desenfreada. O ouro é o único extintor final de vida. A partir da sua expulsão do sistema monetário internacional a dívida total no mundo só pode crescer, nunca contrair. Para travar o crescimento canceroso da dívida o ouro deve ser reinstaurado na sua antiga posição como o guardião da qualidade de dívida. 

Se, em desafio dos desejos americanos, a Alemanha tomar a iniciativa de criar um marco ouro e abrir a Cunhagem Alemã ao ouro em que todos os que se apresentarem possam converter seus lingotes de ouro em moeda de ouro, o curso da história mundial será mudado. Seria o mais admirável momento da Alemanha. A civilização terá sido salva e o arranque da nova Idade Média impedido. O marco-ouro poderia circular lado a lado com o euro e dólar irresgatáveis. Deixem as pessoas decidirem se querem ser pagas em divisas fiduciárias tendentes à crise ou, talvez, se preferem a estabilidade da moeda de ouro respeitada pela sua antiguidade. Não há dúvida do que seria a escolha das pessoas. 

A iniciativa alemã porá em funcionamento uma reacção em cadeia de actos virtuosos semelhantes por parte dos principais bancos centrais do mundo, a fim de impedir a depreciação fatal das suas divisas contra o marco-ouro. Este tornar-se-á a divisa mais cobiçada do mundo para comércio internacional. O sistema financeiro será salvo do suplício das desvalorizações competitivas de divisas e do efeito corrosivo de défices governamentais sempre em expansão. Governos serão forçados a enfrentar a realidade e viver responsavelmente dentro dos seus meios como toda a gente. Agricultores já não serão pagos para não cultivar a terra e trabalhadores fisicamente aptos para não trabalhar. O desemprego juvenil, em particular, será coisa do passado.

Há um precedente. Em 1948 a Alemanha desafiou a força ocupante quando criou o Deutsche Mark sem se aborrecer a pedir permissão em Washington. 

Mas não será o padrão tendente à deflação? Na década de 1930 o padrão ouro internacional entrou em colapso por causa disto mesmo, não foi?

Como disse o pai do Deutsche Mark, Wilhelm Röpke (1899-1966): não foi o padrão ouro que fracassou, mas aqueles a cujos cuidados estava confiado. 
28/Janeiro/2013

Ver também: 

  Histeria no mercado de ouro , Michel Chossudovsky
  O ouro e o "fim do mundo" , Valentin Katasonov

[*] Nasceu em Budapeste, Hungria, em 1932. Matemático e cientista monetário. Em 1958 foi nomeado professor assistente de Matemática e Estatística na Memorial University de Newfoundland, Canadá e em 1993 reformou-se como Professor Titular. Em 1974 fez uma palestra sobre ouro no seminário de Paul Volcker na Universidade de Princeton. Posteriormente, foi investigador visitante (Visiting Fellow) no American Institute for Economic Research e editor sénior da American Economic Foundation. Em 1996 o seu ensaio, Para que o ouro? (Whither Gold?), que se encontra emhttp://www.fame.org/htm/Fekete_Anatal_Whither_Gold_AF-001-B.HTM , ganhou o primeiro prémio no concurso internacional sobre divisas patrocinado pelo Bank Lips, da Suíça. Durante muitos anos foi perito em vendas e hedging de barras de ouro de bancos centrais, e os seus efeitos sobre o preço do ouro e da própria indústria da sua mineração. Dedica-se agora a escrever e fazer palestras sobre reforma fiscal e monetária, com ênfase especial no papel do ouro e da prata no sistema monetário.
No sítio web do jornalista Lars Schall consta também esta entrevista do prof. Fekete: " Gold: Permanent Backwardation Ahead! " 

O original encontra-se em www.larsschall.com/2013/01/28/american-bases-in-germany-and-the-gold-basis/

Este ensaio, traduzido com português de Portugal, encontra-se em http://resistir.info/.