Finança mundial
Novos dados informam que somente cinco bancos têm
ativos de 8,5 trilhões de dólares, o equivalente a 56% do PIB dos Estados
Unidos: JP Morgan Chase, Goldman Sachs Group, Citigroup,
Bank of America e Wells Fargo.
02. Os dez maiores bancos do mundo teriam US$ 6,4
trilhões dos mais de US$ 30 trilhões aplicados nos paraísos fiscais
(offshore). Somente 92 mil pessoas (0,001% da população mundial) possuem
US$ 10 trilhões nessas localidades. Nos EUA só 400 indivíduos teriam riqueza
igual à de 50% da população do país.
03. Aí estão ilustrações do que tenho exposto: os
concentradores aumentam seu poder durante a depressão econômica e não têm
interesse em que ela acabe.
04. Durante as fases de crescimento real da
economia, após certo tempo, a finança começa a crescer mais que a produção de
bens e serviços, inclusive porque os lucros crescem mais rápido que os
salários.
05. Além disso, no setor produtivo as fusões e
aquisições de empresas levam a aumento da concentração. Após um tempo, os
salários, exceto o de muito poucas categorias, começam a decrescer em termos
reais, perdendo para a inflação dos preços.
06. Paralelamente, como é natural, a demanda por
bens e serviços só aumenta através do crédito, formando-se as bolhas, como foi
o caso da imobiliária nos EUA, apontada como desencadeadora do colapso
financeiro iniciado em 2007/2008.
07. Entretanto, essa não é a única nem a principal
bolha. As principais decorrem de manipulações nos mercados financeiros, como
foi a das ações de empresas de informática (1997/2001) e a imensa que a ela se
seguiu, a dos derivativos.
08. Nesta foram gerados mais de 600 trilhões
de dólares, nos computadores do sistema financeiro: títulos montados em cima de
outros títulos e de coisas irreais, como: apostas em inadimplência de títulos
(credit default swaps) e em índices de taxas de juro, de taxas de câmbio;
operações de hedge, ou seja, jogando, ao mesmo tempo, na alta e na baixa dos
mesmos títulos. Até emprestando a um país e apostando na elevação dos juros
dessa dívida, como fez o Goldman Sachs com a Grécia, entre outros.
09. Assim, a par da concentração e maior
oligopolização dos setores produtivos, a financeirização da economia foi
assumindo dimensões gigantescas. Ela se pode definir como a formação de ativos
financeiros em proporção exponencialmente maior que a dos ativos reais e
produtivos.
10. Após anos nessa escalada, é natural que os
preços desses ativos também aumentem exponencialmente e que, em determinado
ponto, se verifique sua irrealidade, o que dá início ao estouro das bolhas.
11. Esse ponto foi atingido em 2007/2008, e a
partir daí os preços dos ativos começam a cair. Os devedores viram-se presos
numa armadilha, pois continuaram tendo que pagar as dívidas, e muitos deles não
mais o puderam fazer, tendo suas casas sido tomadas pelos bancos.
12. Hoje nos EUA as dívidas dos estudantes
ultrapassaram US$ 1 trilhão, e os saldos devedores dos cartões de crédito
chegam a U$ 800 bilhões.
13. Em 2007/2008, as empresas de muitos
manipuladores financeiros entraram em dificuldades, embora não os seus donos e
executivos, que haviam transferido, para si mesmos em outras destinações. a
maior parte dos lucros com a especulação, movida através de alta alavancagem
(uso de margem mínima de capital próprio nas operações financeiras).
14. Os grandes bancos ficaram praticamente falidos
quando a bolha levou a perceber que o valor real dos derivativos não
correspondia senão a pequena fração, próxima a zero, do valor nominal desses
títulos.
15. Então, por que não foram liquidados, o que
teria permitido aos Tesouros nacionais dos EUA, e de vários países europeus,
por exemplo, sanear as finanças e a economia?
16. Porque os Tesouros e os bancos centrais os
salvaram, com dezenas de trilhões de dólares e de euros dos contribuintes
e principalmente com emissões de dinheiro (especialmente nos EUA) e de
títulos públicos, inclusive adquirindo pelo valor nominal os títulos
podres dos bancos e empresas financeiras.
17. Os pseudo-governos desses países têm o
desplante de dizer que são democráticos. Os grandes bancos os controlam, como
controlam "mercados financeiros".
18. Tal é a manipulação nesses mercados, que,
apesar das dezenas de trilhões de dólares criados do nada , o preço do ouro
permanece no patamar em que terminou o ano de 2011 (US$ 1.650 por onça), depois
de haver atingido naquele ano o pico de quase US$ 2.000.
19. O jornalista financeiro
Evans-Pritchard publicou artigo no The Telegraph, de Londres (13.01.2013), em
que diz estar o mundo caminhando para um padrão-ouro de fato, no qual o
metal teria peso comparável ao do dólar e do euro. Não cogita da moeda chinesa
e de outras com potencial de solidez.
20. Ele se baseia no relatório “GFMS Gold
Survey for 2012” ,
segundo o qual os bancos centrais compraram mais ouro em 2012 do que em
qualquer tempo, por quase meio século, aumentando suas reservas em 536 toneladas.
21. Como ele recorda, os bancos centrais de países
da órbita anglo-americana (Reino Unido, Espanha, Holanda, Suíça e outros)
firmaram, há anos, o acordo de Wahington, comprometendo-se a
regularmente fazer vendas de ouro, sustentando as moedas inflacionadas
(dólares principalmente).
22. Nessas operações – especialmente o Banco da
Inglaterra - tiveram enorme prejuízo, pois o preço do ouro aumentou de US$ 300
em 2003 para o atual nível, superior a US$ 1.600.
23. Outro sinal foi a decisão do parlamento da
Alemanha de trazer ao país seus estoques de ouro guardados nos EUA e na
França, havendo dúvidas sobre se os EUA ainda têm o que oficialmente consta.
24. Há enorme potencial para as compras
principalmente pela China, que teria o projeto de elevar suas reservas de
ouro para 2% de suas reservas totais.
25. Isso ainda é muito pouco já que o dólar e
o euro não têm condições de justificar o otimismo, do ponto de vista do cartel
dos bancos, de que essas duas moedas permaneçam como as principais
divisas mundiais.
28. Próximo artigo: a situação do Estado no Brasil
e na Argentina.
Adriano Benayon é Doutor em Economia pela Universidade de Hamburgo e Advogado, OAB-DF nº 10.613, formado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro. Foi Professor da Universidade de Brasília e do Instituto Rio Branco, do Ministério das Relações Exteriores. Autor de “Globalização versus
Desenvolvimento”.
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