sábado, 31 de outubro de 2009

Conto

A Verdade e o Palácio


Adaptação de Said Barbosa Dib
Allahur Akbar! Allahur Akbar! (Deus é grande! Deus é Grande!)

Quando Deus criou a mulher criou também a Fantasia... Quando o Homem criou o poder criou também a Fábula.

Um dia a Verdade, preocupada com os lamentos e as desesperanças do povo de Allah e seduzida pelos encantos do Poder, resolveu visitar o grande palácio que a ninguém do povo era permitido adentrar. E havia de ser o próprio palácio em que morava o sultão Harun Al-Tucanlain Fernachid, homem de grande cultura, orgulhoso, viajado, soberbo e que se dignava somente com as grandes questões.
O sultão, diziam os ordeiros súditos, pela sua grandeza augusta, não tinha tempo para se preocupar com questões de somenos, não podia se ater apenas aos seus, pois era figura ímpar que havia nascido não para a sua Bagdá, mas para resolver as questões maiores das gentes de todo o mundo. Porém, era muito estimado pelo povo, pelos títulos e honrarias que recebera por aí afora, muito embora fossem poucos os que o haviam conhecido em pessoa. Muitos, aliás, desconfiavam da sua existência, tamanhas eram suas virtudes e ausências.
Envoltas as suas lindas formas num véu claro e transparente, foi a Verdade bater à porta do rico palácio em que vivia o glorioso senhor das terras muçulmanas. Ao ver aquela formosa mulher, quase nua, o chefe da guarda, o fiel Quintão Globeid Midiadin Charif, perguntou-lhe:
- “Quem és? Quem bate à porta do senhor dos muçulmanos?”
- “Sou a Verdade!” – respondeu ela, com voz firme. E insistiu com doçura, mas convicta: - “Quero falar ao vosso amo e senhor, o sultão Harun Al-Tucanlain Fernachid, o Cheique do Islã!”.
O chefe dos guardas, zeloso da segurança do palácio, apressou-se em levar a nova ao grão-vizir, o douto Malan Suleimam, “o Estrangeiro”:
- “Senhor,” - disse, inclinando-se humilde, - “uma mulher desconhecida e bela, quase nua, quer falar ao nosso soberano, o sultão Harun Al-Tucanlain Fernachid, Príncipe dos Crentes.”
- “Como se chama?”, indagou o grão-vizir.
- “Chama-se a Verdade!”, respondeu o chefe da guarda.
- “A Verdade?!” – exclamou o grão-vizir, subitamente assaltado de grande espanto e, com as mãos nervosas esfregando a espessa barba, completou - “A Verdade quer penetrar neste palácio! Não! Nunca! Que seria de mim, que seria de todos nós, se a Verdade aqui entrasse? A perdição, a nossa desgraça! Dize-lhe que uma mulher nua, despudorada, não entra nesta nobre morada! Que isso seria o caos, a ruína total”.
Voltou determinado o chefe da quarda com o recado do grão-vizir e disse à Verdade:
- “Não podes entrar, minha filha. A tua nudez iria ofender o nosso Califa. Com esses ares impudicos e vulgares não poderás ir à presença do Príncipe dos Crentes, o nosso glorioso sultão Harun Al-Tucanlain Fernachid. Volta, pois, pelos caminhos de Allah!”.
Vendo que não conseguiria realizar o seu intento, ficou muito triste e desolada a Verdade, e afastou-se lentamente do grande palácio do magnânimo sultão Harun Al-Tucanlain Fernachid, cujas portas se lhe fecharam à diáfana formosura!
Mas...


Allahur Akbar!! Allahur Akbar!!

Quando Deus criou a mulher, criou também a Obstinação.

E a Verdade continuou a alimentar o propósito de visitar um grande palácio. E havia de ser o próprio palácio em que morava o sultão Harum Al-Tucanlain Fernachid...
Cobriu então a Verdade as suas belas e claras formas com um couro grosseiro como os que usam os pastores e foi novamente bater à porta do suntuoso palácio em que vivia o glorioso senhor das terras muçulmanas.
Ao ver aquela formosa mulher grosseiramente vestida com peles sujas e vulgares, o chefe dos guardas perguntou-lhe:
- “Quem és?”
- “Sou a Acusação!” – respondeu ela, em tom severo. – “Quero falar ao vosso amo e senhor, o sultão Harun Al-Tucanlain Fernachid, Comendador dos Crentes”.
O chefe dos guardas, zeloso da segurança do palácio, ciente de suas prerrogativas, correu a entender-se com o grão-vizir Malan Suleimam, “o Mestre de Terras Longínquas”.
- “Senhor” – disse, inclinando-se humilde, - “uma mulher desconhecida, com o corpo envolto em grosseiras peles, deseja falar ao nosso soberano, o sultão Harum Al-Tucanlain Fernachid.”
- “Como se chama a impertinente?”, quis saber o sábio e misterioso grão-vizir.
- “Disse chamar-se Acusação!”
- “A Acusação?” – bradou o grão-vizir, já aterrorizado. E continuou em tom desesperado: - “A Acusação quer entrar neste palácio? Não! Nunca! Que seria de mim, que seria de todos nós, se a Acusação aqui entrasse??!! A perdição, a desgraça nossa! A ruína de Bagdá! Dize-lhe que não, não pode entrar! Dize-lhe que uma mulher, sob as vestes grosseiras de um zagal, não pode falar ao Califa, nosso amo e senhor! Seria um desrespeito muito grande a sua nobreza e inteligência!”
Voltou novamente o chefe dos guardas com a proibição do grão-vizir e disse à Verdade:
- “Não podes entrar, minha filha. Com essas vestes grosseiras, próprias de um beduíno rude e pobre, não poderás falar ao nosso amo e senhor, o sultão Harun Al-Tucanlain Fernachid. Volta, pois, em paz, pelos caminhos de Allah!.”
Vendo que não conseguiria realizar o seu intento, ficou ainda mais triste e decepcionada a Verdade e afastou-se vagarosamente do grande palácio do poderoso Harun Al-Tucanlain Fernachid, cuja cúpula cintilava aos últimos clarões do sol poente.
Mas...


Allahur Akbar!! Allahur Akbar!!

Quando Deus criou a mulher, criou também o Capricho.

E a Verdade entregou-se com afinco ao vivo desejo de visitar um grande palácio. E havia de ser o próprio palácio em que morava o sultão Harun Al-Tucanlain Fernachid. Com idéia fixa e ansiosa, esqueceu-se do porquê tinha se concentrado naquela missão. Vestiu-se, desta feita, com riquíssimos trajos, cobriu-se com jóias e adornos, envolveu o rosto em um manto diáfano de seda e foi bater à porta do palácio em que vivia o glorioso senhor dos árabes.
Ao ver aquela encantadora mulher, linda como a Quarta Lua do mês de Ramadã, falando manso e macio como a brisa da tarde no deserto, o chefe dos guardas perguntou-lhe:
- “Quem és?”
- “Sou a Fábula” – respondeu ela, em tom meigo e mavioso.
E completou: - “Quero falar ao vosso amo e senhor, o generoso Harun Al-Tucanlain Fernachid, Emir dos Árabes!”
O chefe dos guardas, zeloso da segurança do palácio, correu a falar com o grão-vizir Malan Suleiman, “o Astucioso”:
- “Senhor,” – disse, inclinando-se, humilde – “uma linda e encantadora mulher, vestida como uma princesa, solicita audiência de nosso amo e senhor, o sultão Harun Al-Tucanlain Fernachid, Emir dos Fiéis.”
- “Como se chama?”, perguntou, nervoso, o eminente e desconfiado grão-vizir.
- “Chama-se a Fábula!”, respondeu o fiel chefe da guarda.
- “A Fábula!” – exclamou o grão-vizir, cheio de alegria. – “A Fábula quer entrar neste palácio?! Allah seja louvado! Que entre! Bem-vinda seja a encantadora Fábula. Cem formosas escravas irão recebê-la com flores e perfumes. Músicos encantarão seus ouvidos. Quero que a Fábula tenha, neste palácio, o acolhimento digno de uma verdadeira rainha! Afinal, aqui é também a sua casa! Somos seus admiradores! Chamem nossos amigos de todos os cantos da terra! Allah nos é misericordioso!!!”
E abertas de par em par as portas do grande palácio de Bagdá, a formosa peregrina finalmente entrou.
E foi assim, sob o aspecto de Fábula, inofensiva, suave e ordeira, que a Verdade conseguiu aparecer ao poderoso califa de Bagdá, o sultão Harun Al-Tucanlain Fernachid, Vigário de Allah e senhor do grande império muçulmano!
Até hoje, saudosos e tristes, os súditos de Bagdá se perguntam se ela ainda vive, pois nunca mais a viram depois deste dia, como jamais tinham visto o magnânimo sultão de Bagdá.
Mas, Allah é misericordioso!, pois uma velha e carismática senhora, fraternal e compreensiva, sempre presente em momentos difíceis, anda rondando as cercanias de Bagdá, contando histórias, falando ao povo e amenizando a alma dos que sofrem. Chama-se Dona Esperança...

Allahur Akbar! Allahur Akbar!

· Conto antropológico-político baseado na lenda árabe “Uma fábula sobre uma fábula”, narrada pelo inesquecível e insuperável Malba Tahan. Dedicado aos "governos" FHC e Lula e aos que acreditaram na Verdade.

Adriano Benayon

Os tentáculos da Corrupção


Política econômica corrupta e corruptora

Falar de economia brasileira é descrever a luta desigual entre os brasileiros, que se esforçam por produzir, e as políticas, implacáveis em arrastá-los para a miséria. A política econômica mais absurda do Mundo tem sido adotada pelo Executivo e aprovada no Poder Legislativo, enquanto arruína o tecido social do País de forma manifesta. Se houvesse respeito pela verdade e pela lógica, todos veriam aí uma contradição flagrante. Não estaria aí uma pista para o fato de grande parte dos votos de aprovação a essa política ser obtida por meio de estipêndios mensais e outras modalidades de suborno?

Juros

O Banco Central determina juros absurdamente altos, para exclusivo benefício dos concentradores financeiros, e a capitalização de parte desses juros elevou o estoque da dívida pública e seu serviço a níveis insuportáveis. As “autoridades monetárias” asseguram mercado para os capitais especulativos, não só lançando títulos de dívida, mas oferecendo as taxas de juros mais altas do Mundo. Assim, tais “autoridades” convidam capitais estrangeiros a auferir ganhos com que nem sonham em outras partes do Mundo. A taxa SELIC beira 20% aa. Com 15% aa. em termos reais, ela é um múltiplo indecoroso das taxas de títulos públicos dos outros países.

Apreciação cambial

O dano causado por esses juros não se limita ao efeito direto no “serviço da dívida pública”. Um efeito colateral, também muito grave, é a apreciação da taxa de câmbio do real, tal como nos primeiros anos de outra fraude denominada plano real. Nos últimos dez meses, a moeda nacional apreciou-se em nada menos que 35%, em função dos juros exorbitantes e dos saldos positivos no balanço de transações correntes com o exterior. Essa valorização do real implica sentença de morte para dezenas de milhares de empresas que dependem de preços competitivos para produzir e exportar, e o desaparecimento de milhões de empregos.

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    Propagação da miséria

    Os saldos externos, por sua vez, decorrem da repressão à demanda interna, causada pelas próprias taxas de juros proibitivas para o investimento e para a produção. A essas taxas está ligado o crescimento da carga tributária, bem como o aperto fiscal, i.e., o corte de gastos que não sejam “serviço da dívida”. Em outros termos, as políticas monetária e fiscal são os agentes patológicos transmissores da penúria que obriga os produtores a se voltar para as exportações. Tão radical é a política de expansão da miséria que, mesmo com a taxa de câmbio supervalorizada, a falta de demanda interna viabiliza o incremento das vendas externas e limita o crescimento das importações.

    Economia periférica de exportação

    Mas as exportações que crescem muito são as intensivas de recursos naturais, à custa da dilapidação destes: há a perda dos recursos não renováveis, como os minérios, e o desgaste dos solos, o desperdício e a poluição dos recursos hídricos, em função do negócio agropecuário. Isso sem falar no desfrute de mão de obra mal paga e pouco qualificada. Para ilustrar como esse modelo inviabiliza o desenvolvimento econômico e tecnológico, compare-se as patentes brasileiras e as da Coréia do Sul registradas no escritório dos EUA, o mais ativo do mundo. Enquanto as nossas patentes aumentaram de 53, em 1980, para 130, em 2003, as sul-coreanas saltaram de 33 para 3.944. O Brasil tinha, em 2003, 34 mil doutores em atividade. Isso é muito pouco para um país com as nossas dimensões e que pretende desenvolver-se. Ao mesmo tempo, como aqui se adotou o modelo dependente, trata-se de um desperdício. Com efeito, a demanda por tecnologia é ínfima, em conseqüência de a indústria estar sob controle de empresas transnacionais, e estas empregarem tecnologias desenvolvidas na matriz. Por cúmulo, fazem-nos gastar bilhões de dólares em royalties por um uso dessas tecnologias que só aproveita às próprias transnacionais. A exploração desbragada dos recursos naturais explica o paradoxo de haver saldos de comércio exterior, mesmo com a continuação da tradicional prática de importar caro e exportar barato, a clássica “transfer pricing”, ou seja, os preços de transferência praticados principalmente pelas empresas transnacionais.

    Paraíso da agiotagem

    Combinada com os juros, a valorização do real proporcionou aos especuladores que aplicam em títulos públicos um retorno superior a 50%, sem paralelo no Planeta. Essa marca só não é recorde de todos os tempos, porque aqui mesmo no Brasil houve taxas de retorno mais altas, especialmente durante o tucanato. As equipes econômicas do Tesouro e do Banco Central asseguraram, em 2002, rendimentos de mais de 80% aa. aos banqueiros e especuladores, quando os títulos indexados em dólar chegaram a constituir 40% do total da dívida interna, e o real sofreu desvalorização acima de 50%.

    Controle de capitais e de câmbio

    Os economistas orgânicos ou fisiológicos consideram tudo isso natural, mas, ao contrário do que proclama o pensamento movido a dinheiro, não é possível haver desenvolvimento econômico nem social, enquanto o País, colonizadamente, se render aos ditames da globalização e mantiver livre o fluxo internacional de capitais e o câmbio flutuante. Sem controle de capitais e cambial, não há como sobreviverem as empresas nacionais nem os empregos dos brasileiros.

    Radicalização colonial

    Tenho más notícias para quem imagina ver alguma chance de preservação do País sob o atual sistema político. Por meio desta expressão, não me refiro apenas ao atual governo, mas a todo o sistema, que inclui as forças econômicas por trás dele e todo o conjunto dos partidos grandes e médios (em tamanho), sejam eles de oposição ao governo ou dele aliados, sem falar nos que nunca saíram da situação. Que está acontecendo? O mesmo de sempre, só que se aprofundando. O controle da economia está cada vez mais concentrado sob comando estrangeiro. Desse modo, os bancos e empresas transnacionais pouco precisam gastar em propinas para prosseguir com a predação sobre a economia nacional e levá-la a extremos inconcebíveis. Basta-lhes pressionar os “eleitos” e demais detentores de poder político local, brandindo ameaças econômicas, políticas e financeiras, bem como permitir que esses detentores se locupletem com os recursos dos contribuintes. Isso, como está evidenciado, se faz arrumando as licitações em favor de empresas que sobrefaturam fornecimentos e serviços, as quais repassam aos administradores públicos uma parcela da diferença entre os preços e os custos. Tais administradores transferem uma parte dessa parcela a parlamentares.

    Fraudes nas licitações, mensalões, etc.

    Por que se desencadeou a atual onda de escândalos e investigações, se estava tudo funcionando às mil maravilhas para, entre outros donos do sistema, os beneficiários dos R$ 260 bilhões de juros extorquidos por ano no País, a saber, juros em excesso aos que resultariam de taxas toleráveis? Há indicações de reações nos EUA diante do fato de uns poucos setores da atual administração no Brasil procurarem resistir aos draconianos abusos do escritório de patentes dos EUA, em matéria de propriedade industrial. Há, ademais, posições de política externa mal vistas pelos radical-imperialistas em Washington. Nos oito fatídicos anos da administração de FH, praticamente não houve bolsões de resistência, e foi grandemente acelerada a destruição das estruturas do Poder Nacional brasileiro. Isso quer dizer que um retorno à monolítica linha tucana de submissão colonial constitui uma perspectiva agradável para a política imperial. Ademais, o presente governo se mostra, em geral, inepto e desastrado, o que oferece oportunidade de enfraquecê-lo e, assim, desmontar as últimas resistências localizadas. Nada disso significa, porém, que o PT mereça ser defendido. Porém, não menos danoso que continuar sob o reinado petista é beneficiar seus principais competidores e até mesmo seus aliados, agora mais aquinhoados na administração, graças à implosão do PT. Dessa implosão os propulsores da arremetida antipetista só estão querendo poupar o ocupante do Palácio do Planalto, que percebem ser mais maleável que o vice-presidente às imposições do sistema.

    A meta colonial: destroçar o País

    Parece clara, acima de tudo, a diretriz da política imperial de pôr o Brasil definitivamente na condição de colonizado. Diante do estupendo potencial de nosso País, isso faz muito sentido para potências empenhadas em acentuar sua hegemonia. Para a execução dessa diretriz não há instrumentos melhores do que os ministérios da área econômica e o Banco Central, atuando do modo que têm feito até aqui, sem falar no assalto à Petrobrás e na ruinosa política oficial nas áreas da energia e do meio-ambiente. Como a aplicação de tais instrumentos tem dado resultados ótimos para a meta de destroçar e de desagregar o País, os controladores do sistema de poder julgam que essa aplicação deve ser intensificada. É nesse quadro que, enquanto um tsunami ou tsulama devasta tantos dirigentes do PT, alguns deles são glorificados pela mídia e pelos que a movem. Exatamente o ministro da fazenda e a atual chefe da Casa Civil, substituta do indigitado José Dirceu, credenciada por ser fiel continuadora na área da energia do desastre produzido pelo PSDB.

    O conto do déficit zero para baixar juros

    Entra nesse contexto, a nova suposta panacéia dos que buscam saídas dentro de um modelo político-econômico que não comporta qualquer alternativa para o Brasil que não a sua destruição. É a estória do déficit orçamentário zero, na versão Delfim Neto, meta que só poderá acelerar o descalabro, sendo buscada sem antes reduzir-se substancialmente o serviço da dívida pública (juros e amortizações). De resto, mesmo que se cortasse pela metade o kafkiano serviço dessa mais que questionável dívida, a política de déficit zero ainda seria deletéria para a economia do País. Ela o é para qualquer Estado cujos dirigentes assumam a função de promover o desenvolvimento econômico e social.

    *Adriano Benyon é Doutor em Economia e autor de "Globalização versus Desenvolvimento".

    Editora Escrituras: http://www.escrituras.com.br/

Argemiro Ferreira

Juanita e o passado sinistro do Itamaraty

Castros Sister

Há uma particularidade insólita sobre nosso ministério das Relações Exteriores, o velho Itamaraty. Sempre desfrutou de boa imagem, menos por merecê-la do que pela prática nefasta, talvez de muitos anos, de varrer sujeiras para debaixo do tapete. Atravessou, por exemplo, todo o período da ditadura militar como se vivéssemos no melhor dos mundos, enquanto perseguia diplomatas – intelectuais como Antonio Houaiss, Vinícius de Morais, João Cabral de Melo Neto entre eles. E prestou-se a papéis indignos mesmo antes do golpe de 1964.

Castro_Juanita_MisHermanos_

Vale a pena lembrar tais coisas embora neste momento o Itamaraty, com o ministro Celso Amorim à frente, conduza com sucesso uma política externa exemplar. O que sugere revisitar a questão é a iniciativa de uma cubana de Miami, 76 anos de idade, notória pelo detalhe de ser irmã de Fidel e Raul Castro, de revelar num prolixo livro de memórias (Fidel y Raúl, Mis Hermanos – La Historia Secreta, 432 páginas – capa ao lado), ter sido agente da CIA, central de espionagem dos EUA, graças à diplomacia brasileira.

Juanita Castro (foto acima) não fez a revelação nesses termos, mas o que escreveu (ou o que escreveu para ela a co-autora mexicana Maria Antonieta Collins, especialista em livros de auto-ajuda que ensinam dietas, receitas, como lidar com ex-maridos, livrar-se do vício do cartão de crédito, etc) permite chegar a tal conclusão (saiba mais AQUI e AQUI). Sem atribuir explicitiamente a carreira de espiã à nossa diplomacia, ela diz ter sido recrutada para a atividade pouco nobre através da mulher do embaixador Vasco Leitão da Cunha, que então servia em Havana.

O péssimo exemplo da embaixatriz

É conveniente esclarecer que, entre outras coisas, agora Juanita se diz traída duas vezes – uma pelo irmão Fidel, a outra pela CIA e os EUA. No primeiro caso, a gente entende: como governante Fidel optou por cuidar dos problemas do país, não dos interesses da família. Quanto ao país que a recebeu, queixou-se de que a CIA no governo do presidente Nixon, eleito em 1968, pediu a ela para mudar o discurso e sustar os ataques a Cuba e Fidel – ou seja, dizer o contrário do que dizia até então.

vasco_leitao_da_cunhaMas voltemos à diplomacia. Como chefe da missão do Brasil, o embaixador Leitão da Cunha (foto à esquerda) recebera Juanita como asilada em 1958, ainda no governo JK. Ela alegara correr risco por ser irmã de Fidel, então líder dos guerrilheiros que lutavam contra o ditador Fulgencio Batista. Vitoriosa a revolução no primeiro dia de 1959, ela deixou a embaixada. E em 1961, depois do fracasso (em abril) da invasão da CIA (na baía dos Porcos) a embaixatriz Virginia Leitão, ciente da atividade dela contra o governo revolucionário do irmão, chamou-a para uma conversa. E sugeriu que passasse a colaborar “com uns amigos que conhecem seu trabalho (contra o governo) e querem ajudá-la”.

De acordo com a versão, Virginia encarregou-se de promover o encontro de Juanita com um dos “amigos”, Tony Sforza, então usando o codinome “Enrique”, depois de ter atuado um tempo sob o disfarce de jogador e frequentador de cassinos, com o codinome “Frank Stevens”. Logo depois Juanita passava a operar como agente da CIA em território cubano, com o codinome “Donna”. A se acreditar no livro, durante quase três anos (até 1964, quando foi para os EUA), ela “protegia”, inclusive escondendo em sua casa, críticos e opositores da revolução.

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Os EUA como Estado falido

LITRO DE GASOLINA PARA EXÉRCITO AMERICANO CHEGA AO AFEGANISTÃO CUSTANDO 100 DÓLARES

Os super-ricos riem ao dizer "Que comam bolos"

Por Paul Craig Roberts [*], no Counterpunch


Os EUA têm todas as características de um Estado falido. O presente orçamento do governo dos EUA depende de financiamento estrangeiro e da emissão de moeda. Como país demasiado fraco politicamente para defender os seus interesses através da diplomacia, os EUA têm de confiar no terrorismo e na agressão militar. Os custos estão fora de controle e as prioridades são distorcidas no interesse de ricos grupos de interesse organizados às custas da vasta maioria dos cidadãos. Por exemplo, a guerra a todo custo, que enriquece a indústria de armamento, os corpos de oficiais e as firmas financeiras que manuseiam o financiamento da guerra, ganha precedência sobre as necessidades dos cidadãos americanos. Não há dinheiro para fornecer cuidados de saúde aos não segurados, mas oficiais do Pentágono disseram no subcomitê de Orçamento de Defesa da Câmara dos Deputados que todo galão [3,785 litros] de gasolina entregue às tropas dos EUA no Afeganistão custa aos contribuintes americanos US$400. "É um número de que não estávamos conscientes e que é preocupante", disse o republicano John Murtha, presidente do subcomité. Segundo relatórios, os Fuzileiros Navais no Afeganistão gastam 800 mil galões de gasolina por dia. A US$400 por galão, isso dá uma conta de combustível diária de US$320 milhões só para os Fuzileiros Navais. Só um país totalmente descontrolado dissiparia recursos deste modo. Enquanto o governo dos EUA desperdiça US$400 por galão de gasolina a fim de matar mulheres e crianças no Afeganistão, muitos milhões de americanos perderam os seus empregos e as suas casas experimentam a espécie de miséria que é a vida diária dos povos pobres do terceiro mundo. Americanos estão vivendo em seus carros e em parques públicos. As cidades e estados da América sofrem os custos das deslocações econômicas [exportação de empregos, por exemplo] e da redução do recolhimento de impostos devidos ao declínio da economia. Contudo, Obama enviou mais tropas para o Afeganistão, um país do outro lado do mundo que não é uma ameaça para a América [é como os estadunidenses chamam os Estados Unidos]. Custa US$750 mil por ano cada soldado que temos no Afeganistão. Aos soldados, que colocam a vida e as pernas em risco, é paga uma ninharia. Mas os serviços privatizados controlados por militares nadam em lucros. Uma das maiores fraudes perpetradas contra o povo americano foi a privatização de serviços que os militares americanos tradicionalmente efetuavam por si próprios. Os "nossos" líderes eleitos não podiam resistir a qualquer oportunidade para criar riqueza privada às custas dos contribuintes, riqueza que pode ser reciclada para políticos em contribuições de campanhas eleitorais.

(...)

Leia o artigo completo no “Viomundo”...

sexta-feira, 30 de outubro de 2009

Opinião, Notícia e Humor

MANCHETES DOS JORNALÕES

O GLOBO
MP INVESTIGA IMPROBIDADE EM GESTÃO DE ÓRGÃO FEDERAL

Ministro Tarso Genro manda apurar, mas diz que demora é “inaceitável”. O Ministério Público Federal abriu ontem dois procedimentos para investigar se foram praticados crimes ou atos de improbidade na aquisição e no abandono de equipamentos para detecção de armas e drogas, num galpão da Polícia Rodoviária Federal (PRF), no Rio. Como O GLOBO noticiou ontem, 55 esteiras de raios X e quatro portais com scanners gigantes estão se deteriorando no depósito, que alaga quando chove. O ministro da Justiça, Tarso Genro, disse que já mandou apurar se houve descaso. Ele se mostrou indignado, querendo saber por que os equipamentos estão praticamente dentro da água. Mas revelou tolerância com o fato de o equipamento ainda estar encaixotado: "É até aceitável a demora na transferência do material para os órgãos, devido à burocracia de trâmite da documentação. O que é inaceitável é a condição em que o material está armazenado", disse Tarso. (págs. 1, 15 e 16)

FOLHA DE S. PAULO
ELÉTRICAS ADMITEM DEVOLVER DINHEIRO

Empresas afirmam que ressarcirão consumidores; desde 2002, pelo menos R$ 7 bi foram cobrados a mais As grandes distribuidoras do país admitiram na CPI das Tarifas de Energia Elétrica que devolverão o dinheiro cobrado a mais dos consumidores por erro no cálculo dos reajustes tarifários. O problema foi revelado em reportagem da Folha publicada no último dia 18. Além disso, as empresas assumiram o compromisso de discutir com a Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica) os ajustes na legislação do setor elétrico para eliminar a distorção já nos próximos reajustes. O tamanho da conta ainda não é conhecido. O TCU (Tribunal de Contas da União) estimou o prejuízo dos consumidores em R$ 1 bilhão por ano, desde 2002. Para especialistas, pode superar os R$ 10 bilhões.A nova posição das distribuidoras representa um recuo, já que a Associação Brasileira de Distribuidores de Energia Elétrica chegou a publicar nota nos jornais em que afirmava não ter havido nenhuma cobrança adicional. A entidade não se manifestou a respeito da nova posição das empresas. A expectativa dos órgãos de defesa do consumidor é que a devolução seja feita por meio de descontos nos índices de reajuste. (págs. 1 e B1)

Pressão de Lula e de empresários quebra resistência a Chávez. O ingresso da Venezuela no Mercosul foi aprovado ontem, na Comissão de Relações Exteriores do Senado, por 12 votos favoráveis e cinco contrários. A decisão resultou de pressão do presidente Lula e de empresários que têm interesses na Venezuela. O tema irá agora ao plenário, e o governo não deverá ter dificuldade para obter a aprovação. A questão era controversa por causa das acusações de que o governo de Hugo Chávez atenta contra a democracia e adota modelo econômico contrário aos interesses do Mercosul. Os senadores da base governista que eram contrários à aprovação transformaram suas críticas em "ressalvas". (págs. 1, A4 e A6)

JORNAL DO BRASIL
ECONOMIA AMERICANA SUPERA A DEPRESSÃO

Crescimento de 3,5% no trimestre quebra a sequência de quedas. A economia dos EUA registrou crescimento de 3,5% no terceiro trimestre de 2009. O resultado quebra uma série de quatro trimestres de queda, iniciada ano passado - quando a contração foi de 2,7%. Para o presidente Barack Obama, os números confirmam que a recessão diminuiu. A preocupação agora é com a estabilidade da retomada, já que a taxa de desemprego, a mais alta em 26 anos, deve superar 10%. No Brasil, a indústria cresceu 0,9% em setembro relativamente a agosto, em todos os setores - menos a produção de carros. (págs. 1 e Economia A19)

CORREIO BRAZILIENSE
FAB CAPTURA AVIÃO DO TRÁFICO NO ENTORNO

Repórter Edson Luiz relata a ação da Força Aérea Brasileira para interceptar uma aeronave com 150 quilos de cocaína. Piloto clandestino faz pouso forçado em Cristalina (GO) após rajada de tiros desferida por um Tucano. A operação confirma investigações da PF sobre inclusão de Goiás na rota internacional das drogas. (págs. 1 e 12)


VALOR ECONÔMICO
EMPREITEIRAS AUMENTAM PRESENÇA NO SETOR ELÉTRICO

O forte movimento de investimentos das grandes empreiteiras na área de energia elétrica deve culminar com a compra, pelo grupo Odebrecht, de uma companhia do setor. Atrasada em relação a suas principais concorrentes - Camargo Corrêa e Andrade Gutierrez -, que já fincaram raízes no setor, a Odebrecht está estruturando propostas ousadas para vários grupos. Sem sucesso em algumas investidas, a empresa tenta agora negociar com a direção do grupo americano Duke Energy a aquisição de sua subsidiária internacional de geração, com ativos em toda a América do Sul, conforme apurou o Valor. Se essa operação for confirmada, as empreiteiras passarão a ser responsáveis por cerca de 12% da geração de energia no país. O presidente da Odebrecht Investimentos em Infraestrutura, Felipe Jens, confirma a disposição em investir. Diz que, para crescer rapidamente, é preciso comprar empresas já prontas, mas informa que nenhum ativo está em estudo com profundidade no momento. Fontes próximas à empresa dizem, entretanto, que o que falta são ativos à venda. (págs. 1 e B1)O QUE QUISER

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