quarta-feira, 30 de março de 2011

Caetano Veloso



"Também tenho fígado"


Não concebo por que o cara que aparece no YouTube ameaçando explodir o Ministério da Cultura com dinamite não é punido. O que há afinal? Será que consideram a corja que se "expressa" na internet uma tribo indígena? Inimputável? E cadê a Abin, a PF, o MP? O MinC não é protegido contra ameaças? Podem dizer que espero punição porque o idiota xinga minha irmã. Pode ser. Mas o que me move é da natureza do que me fez reagir à ridícula campanha contra Chico ter ganho o prêmio de Livro do Ano. Aliás, a "Veja" (não, Reinaldo, não danço com você nem morta!) aderiu ao linchamento de Bethânia com a mesma gana. E olha que o André Petry, quando tentou me convencer a dar uma entrevista às páginas amarelas da revista marrom, me assegurou que os então novos diretores da publicação tinham decidido que esta não faria mais "jornalismo com o fígado" (era essa a autoimagem de seus colegas lá dentro). Exigi responder por escrito e com direito a rever o texto final. Petry aceitou (e me disse que seus novos chefes tinham aceito). Terminei não dando entrevista nenhuma, pois a revista (achando um modo de me dizer um "não" que Petry não me dissera - e mostrando que queria continuar a "fazer jornalismo com o fígado") logo publicou ofensa contra Zé Miguel, usando palavras minhas.


Bethânia e Chico não foram alvejados por sua inépcia, mas por sua capacidade criativa


A histeria contra Chico me levou a ler o romance de Edney Silvestre (que teria sido injustiçado pela premiação de "Leite derramado"). Silvestre é simpático, mas, sinceramente, o livro não tem condições sequer de se comparar a qualquer dos romances de Chico: vi o quão suspeita era a gritaria, até nesse pormenor. Igualmente suspeito é o modo como "Folha", "Veja" e uma horda de internautas fingem ver o caso do blog de Bethânia. O que me vem à mente, em ambas as situações, é a desaforada frase obra-prima de Nietzsche: "É preciso defender os fortes contra os fracos." Bethânia e Chico não foram alvejados por sua inépcia, mas por sua capacidade criativa. A "Folha" disparou, maliciosamente, o caso. E o tratou com mais malícia do que se esperaria de um jornal que - embora seu dono e editor tenha dito à revista "Imprensa", faz décadas, que seu modelo era a "Veja" - se vende como isento e aberto ao debate em nome do esclarecimento geral. A "Veja" logo pôs que Bethânia tinha ganho R$ 1,3 milhão quando sabe-se que a equipe que a aconselhou a estender à internet o trabalho que vem fazendo apenas conseguiu aprovação do MinC para tentar captar, tendo esse valor como teto. Os editores da revista e do jornal sabem que estão enganando os leitores. E estimulando os internautas a darem vazão à mescla de rancor, ignorância e vontade de aparecer que domina grande parte dos que vivem grudados à rede. Rede, aliás, que Bethânia mal conhece, não tendo o hábito de navegar na web, nem sequer sentindo-se atraída por ela.


Pensam o quê? Que eu vou ser discreto e sóbrio? Não. Comigo não, violão


Os planos de Bethânia incluíam chegar a escolas públicas e dizer poemas em favelas e periferias das cidades brasileiras. Aceitou o convite feito por Hermano como uma ampliação desse trabalho. De repente vemos o Ricardo Noblat correr em auxílio de Mônica Bergamo, sua íntima parceira extracurricular de longa data. Também tenho fígado. Certos jornalistas precisam sentir na pele os danos que causam com suas leviandades. Toda a grita veio com o corinho que repete o epíteto "máfia do dendê", expressão cunhada por um tal Tognolli, que escreveu o livro de Lobão, pois este é incapaz de redigir (não é todo cantor de rádio que escreve um "Verdade tropical"). Pensam o quê? Que eu vou ser discreto e sóbrio? Não. Comigo não, violão.


Se pensavam que eu ia calar sobre isso, se enganaram redondamente. Nunca pedi nada a ninguém. Como disse Dona Ivone Lara (em canção feita para Bethânia e seus irmãos baianos): "Foram me chamar, eu estou aqui, o que é que há?


O projeto que envolve o nome de Bethânia (que consistiria numa série de 365 filmes curtos com ela declamando muito do que há de bom na poesia de língua portuguesa, dirigidos por Andrucha Waddington), recebeu permissão para captar menos do que os futuros projetos de Marisa Monte, Zizi Possi, Erasmo Carlos ou Maria Rita. Isso para só falar de nomes conhecidos. Há muitos que desconheço e que podem captar altíssimo. O filho do Noblat, da banda Trampa, conseguiu R$ 954 mil. No audiovisual há muitos outros que foram liberados para captar mais. Aqui o link: http://www.cultura. gov. br/site/wp-content/up loads/2011/02/Resultado-CNIC-184%C2%AA.pdf . Por que escolher Bethânia para bode expiatório? Por que, dentre todos os nossos colegas (autorizados ou não a captar o que quer que seja), ninguém levanta a voz para defendê-la veementemente? Não há coragem? Não há capacidade de indignação? Será que no Brasil só há arremedo de indignação udenista? Maria Bethânia tem sido honrada em sua vida pública. Não há nada que justifique a apressada acusação de interesses escusos lançada contra ela. Só o misto de ressentimento, demagogia e racismo contra baianos (medo da Bahia?) explica a afoiteza. Houve o artigo claro de Hermano Vianna aqui neste espaço. Houve a reportagem equilibrada de Mauro Ventura. Todos sabem que Bethânia não levou R$ 1,3 milhão. Todos sabem que ela tampouco tem a função de propor reformas à Lei Rouanet. A discussão necessária sobre esse assunto deve seguir. Para isso, é preciso começar por não querer destruir, como o Brasil ainda está viciado em fazer, os criadores que mais contribuem para o seu crescimento. Se pensavam que eu ia calar sobre isso, se enganaram redondamente. Nunca pedi nada a ninguém. Como disse Dona Ivone Lara (em canção feita para Bethânia e seus irmãos baianos): "Foram me chamar, eu estou aqui, o que é que há?"


Comentário do jornalista Vicente Limongi Netto:


Sensacional o Caetano. Texto também publicado domingo no “O Globo”. A tônica indignada dele é a minha, há muito tempo, com relação aos covardões e canalhas que usam a rede, a internet, para insultar os outros. Sobretudo famosos que fazem sucesso, competentes, autênticos ídolos, que fizeram e fazem muito pelo Brasil e pelos brasileiros. Também observe que parte do Noblat, vil patrulheiro, foi contada-denunciada no meu blog há mais de 15 dias. Igualmente com relação à Veja. Não é de hoje que escrevo e manifesto a mesma opinião. Caetano mostra sensibilidade e excelente análise neste texto-desabafo-denúncia. Parabéns a ele.

segunda-feira, 28 de março de 2011

Adriano Benayon

Cortando o povo


Agora uma presidente. Muda alguma coisa importante no Brasil? Nada. A Sra. Dilma já mostrou a que veio. Fez elevar as taxas de juros e sinaliza mais privatizações. Determina cortes no orçamento federal, para pagar mais juros da dívida pública, cujo “serviço” (juros e amortizações) é privilegiado no Orçamento através de dispositivo inserido, fraudulentamente, na Constituição de 1988.


2. Assim, de 1989 a 2010, o País já atirou pelo ralo 6 trilhões de reais (em valores monetários atualizados). Alguém já imaginou o que é isso? São doze zeros antes da vírgula: R$ 6.000.000.000.000,00.


3. Como sempre, difunde-se aos quatro ventos a mentira surrada, de que os juros são mantidos altos e, ainda por cima, aumentados, porque isso faria conter a inflação.


4. Já expliquei, em muitos artigos, por que a elevação dos juros resulta em maior, e não, menor inflação. Além disso, os juros altos agravam os defeitos estruturais da economia. Para mostrar isso mais uma vez, está sendo republicado um artigo de 2008.


5. Quando é que se vai deixar de tentar fugir à realidade? Fugir mesmo é impossível, e quem tenta só faz se alienar. Aí vão juntas a alienação política e a alienação mental, característica da demência. Justamente por isso todo o sistema de formação de opinião no Brasil, operado pela grande mídia (TV, jornalões, revistas de todo tipo etc.), funciona, sem parar, a fim de tornar dementes os brasileiros.


6. Desse modo, os concentradores do poder financeiro mundial garantem seus objetivos: fazer do Brasil cada vez mais uma estupenda zona livre de extração de recursos naturais, dependente de tecnologias controladas por empresas estrangeiras. E cada vez mais indefeso, sob todos os aspectos: cultural, econômico, político e militar.

7. Leonel Brizola dizia, à época dos governos militares, que a função destes era segurar a vaca (figuradamente o Brasil), para as empresas multinacionais extraírem o leite dela.


8. Após a grande ilusão das “diretas-já”, o poder econômico concentrador, que tem regido as instituições políticas no Brasil, aperfeiçoou o mecanismo: em vez de controlar a vaca à força, passou a hipnotizá-la, especialmente com a desinformação.


9. Com isso e com a corrupção de atacado, e as eleições movidas a grana, além de pela mídia, a oligarquia imperial pôs a seu serviço os presidentes eleitos “democraticamente”. Collor e FHC superaram os recordes brasileiro e mundial de entrega do patrimônio nacional, fazendo ademais o País pagar – e pagar muitíssimo – para entregá-lo.


10. Os últimos oito anos e o início de 2011 confirmam, mais uma vez, a continuidade do processo de destruição do Brasil e que esse processo é planejado. FHC foi recrutado aí por 1969/1970, com vultosa doação de fundação norte-americana ao “centro de estudos” dele. Lula e o PT surgiram de maquinações durante a “transição” no início dos anos 80, dirigidas por serviços secretos estrangeiros.


11. Ora, o desenvolvimento dos desequilíbrios está assegurado não só pela estrutura econômica, praticamente toda nas mãos de transnacionais, como pela dinâmica da dívida. Aquela estrutura leva inexoravelmente a déficits nas transações correntes com o exterior, cujo financiamento acumulado é a fonte da dívida externa.


12. Quando esta não cresce, é a dívida interna que vai para as nuvens, realimentada pelos juros mais altos do mundo pagos pelos títulos públicos brasileiros, sem qualquer razão que o justifique. Daí resultou a cifra apontada no início deste artigo, superior a 6 trilhões de reais.


13. Outra fonte de atraso para o País decorre do baixíssimo nível quantitativo e qualitativo do investimento público. Fala-se muito do crescimento da economia chinesa, mas poucas vezes lembra-se que o governo chinês investe anualmente o equivalente a quase 20% do PIB, enquanto, no Brasil, o governo federal não investe mais que 1% do PIB.


14. Se o investimento público já tem sido miserável, e isso há mais de trinta anos, que faz o governo que se diz dos trabalhadores? Corta inclusive o já pífio investimento, além de outros gastos. A tesourada noticiada, da ordem de R$ 50 bilhões, seria para “reverter a aceleração da inflação este ano”, segundo os enganadores ministeriais, repetidos pelos jornalões.


15. Radicalizando também a perda qualitativa, os cortes atingem a educação básica, a reestruturação das redes de ensino profissional e as pesquisas em ciência e tecnologia, ademais de unidades especializadas em saúde.


16. Também, como se o Brasil já não estivesse à mercê da IV Frota dos EUA, trafegando à vontade diante de nossas costas, e das bases militares dos EUA disseminadas por toda a América do Sul, a proposta orçamentária retira recursos de programas de defesa, inclusive os de positivo impacto tecnológico para a indústria, como a construção do submarino de propulsão nuclear. Essa construção já teria sido concluída há mais de vinte anos, não fosse a continuidade da política entreguista.


Adriano Benayon do Amaral é diplomata de carreira, Consultor Legislativo da Câmara dos Deputados e, depois, do Senado Federal, na Área de Economia, aprovado em 1º lugar em ambos concursos. Doutor em Economia pela Universidade de Hamburgo e Advogado, OAB-DF nº 10.613, formado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro. Foi Professor da Universidade de Brasília e do Instituto Rio Branco, do Ministério das Relações Exteriores. Autor de ”Globalização versus Desenvolvimento”

quarta-feira, 23 de março de 2011

Deu no Blog "Amigos do Presidente Lula"

Filho do Noblat descola quase R$ 1 milhão na Lei Rouanet, igual a Maria Bethânia


A cantora Maria Bethânia teve um projeto cultural aprovado pela Lei Rouanet, no Ministério da Cultura, que a autoriza a captar R$ 1,3 milhão em deduções do imposto de renda das empresas para produzir 365 vídeos declamando poesias, e veicular na internet em um blog.

A Lei Rouanet precisa mudar, e sua aplicação também em alguns casos. A política cultural de fomento, como regra, deveria privilegiar muitos projetos culturais baratos, ou que empregue muita gente, em vez de concentrar altos valores em poucos artistas consagrados como Maria Bethânia. Não cabe esse tipo de mecenato com características de concentração de renda, para gente consagrada, outros com pistolão em empresas privadas, outros com projetos comerciais, disputando dinheiro dos impostos com o povo sofrido.

Mas o assunto não envolve só Maria Bethânia.

Todos nós temos o direito de questionar esse valor para esse projeto da Bethânia, menos o blogueiro de "O Globo", Ricardo José Delgado (Noblat), que anda zoando do caso, tendo um enorme telhado de vidro na família.

O filho do blogueiro, André Scatrut Noblat, é vocalista da banda de rock Trampa, de Brasília, e também arrancou R$ 954 mil dos cofres públicos, através desta mesma Lei Rouanet, para "realizar concertos da banda de rock com uma orquestra sinfônica...".

O "talento do prodígio" comoveu a Vale S.A., que achou mais importante aplicar quase R$ 1 milhão no patrocínio à banda de rock, do que recolher este dinheiro aos cofres públicos na forma de impostos que iriam para saúde, educação, segurança pública, erradicação da pobreza, etc.

Foram R$ 154 mil, na primeira tacada, e R$ 800 mil na segunda tacada.

Clique nas imagens para ampliar










Além da Vale, o Grupo Brasal (da família do ex-deputado do DEMos Osorio Adriano), contribuiu com R$ 10 mil de impostos que deixaram de ser recolhidos para virar patrocínio.

Leia também:
- Abusos na Lei Rouanet: Armínio Fraga e o anúncio do Bradesco na Globo

Blog "Os amigos do Presidente Lula

Lançamento de 'Sarney - A Biografia', de Regina Echeverria, tem noite de gala e a presença importante de ex-presidentes

Foi lançado na noite de ontem (22) "Sarney - A Biografia", da jornalista Regina Echeverria, no Centro Cultural Banco do Brasil, obra com 600 páginas, editada pela Leya. Até 21h30, mais de 900 pessoas já haviam recebido o autógrafo da autora, em fila concorrida. Com a chegada do personagem principal da obra, o senador Sarney, houve tietagem exlícita por autógrafo. Da tribuna do Senado, um pouco antes do evento, o senador Vital do Rego (PMDB-PB) convidou todos a prestigiar o lançamento": "(...) Regina Echeverria lança a história de um homem público, de um intelectual, de um estadista, de um homem que foi responsável pela transição democrática neste país, de um humanista, de um filósofo, de um membro da Academia Brasileira de Letras, de um membro do nosso partido, do PMDB, e do presidente da Casa. O senador Sarney completa 50 anos de vida pública exatamente no momento em que o PMDB completa 45 anos de atividade partidária. E nesse dia, para coincidir essas datas, a professora Regina Echeverria lança o livro Sarney - a Biografia. Convido todos os companheiros do partido para prestigiar esse momento importante na vida política de um homem que faz parte da história política brasileira."
Regina Echeverria, 58 anos, jornalista, iniciou sua carreira em "O Estado de São Paulo" e não parou mais. Iniciou na cobertura do esporte e ampliou sua atuação em diversas reportagens dos mais variados temas. E especializou-se em perfis de personalidades da música e cultura brasileira, publicando biografias de diversos personagens da área. A biografia de Sarney é sua primeira incursão no mundo político. Depois de o "Estadão", a jornalista passou pelo Jornal da Tarde, Veja, IstoÉ, Abril Vídeo, Placar, Folha de S.Paulo, Caras, entre outros jornais e revistas. Na televisão, dirigiu os programas "Mulheres do Brasil" (TV Bandeirantes), "A Casa é Sua" e "TV Fama" (Rede TV) e "Dois a Um", com Mônica Waldvogel (SBT). Apaixonada por música popular brasileira, inaugurou sua lista de biografias com o "Furacão Elis" em 1985. Em seguida, foi a vez de publicar, a partir da narrativa de Lucinha Araújo, a história da vida, carreira e doença do seu filho único, o Cazuza, em "Só as Mães São Felizes" (1997), história que seria transformada em filme. Ainda em parceria com Lucinha, "Preciso Dizer que te Amo", lançado em 2001, traça a trajetória do ídolo da MPB por intermédio de todas as 250 letras de sua autoria, 78 inéditas. Em parceria com a pesquisadora Cida Nóbrega, "Um Retrato em Branco e Preto" (2002) reconstitui a trajetória do mais importante pesquisador da cultura afro-brasileira - o etnólogo e fotógrafo francês Pierre Veger. Com a mesma parceria de Cida, lançou a biografia de Mãe Menininha, a ialorixá do terreiro do Gantois na Bahia, a mãe de santo mais popular do Brasil. Em 2006, foi a vez da de "Gonzaguinha & Gonzagão", uma história legitimamente brasileira de dois representantes – pai e filho - da cultura nacional.
O presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), eterno e elegante conciliador, fez questão de amenizar mais uma polêmica envolvendo o seu nome. Ao chegar ao CCBB (Centro Cultural Banco do Brasil), desconversou sobre um trecho revelador do livro, que mostra que o atual governador do Acre, Tião Viana (PT), querendo ser presidente da Casa a qualquer custo e em detrimento dos interesses do presidente Lula e da estabilidade política, foi o responsável pela divulgação de um dossiê capcioso contra o peemedebista e que acabou provocando a crise montada dos atos secretos no Senado, em 2009. Na biografia autorizada, Sarney, indagado pela autora, mostra que "no início de todo este problema, informaram-me, que o Tião Viana entregara para o [jornal] Estadão um dossiê a meu respeito com mentiras todas alimentadas pelo pessoal do Senado que estava a favor dele, para quem ele já tinha prometido cargos e direções".
Ao chegar ao lançamento do livro, Sarney, como sempre, procurou conciliar e acabou dizendo que o assunto era passado.
- Isso já passou. Eu e o senador Tião Viana sempre tivemos boas relações. Ele está fazendo um bom trabalho no Acre.
Há alguns dias, em um post no blog do Senado, Sarney havia elogiado a autora do livro e lembrou que ela fez três exigências: pediu acesso aos arquivos pessoais do senador, disse que ele só poderia ler o texto após sua conclusão e pediu que Sarney não publicasse suas memórias antes da biografia escrita por ela.
Para Regina, o trabalho foi mais difícil do que imaginava. Foram cinco anos de pesquisas e 168 entrevistas para chegar ao resultado que está em 624 páginas.
- Perguntaram para ele [Sarney] se ele não tinha receio que eu, que me especializei em fazer biografias de artistas, fosse fazer a dele. [...] E ele respondeu "mas eu não sou um artista?". Sarney é personagem principal de muitos anos da história do Brasil. Conto no livro como foi para um homem como ele chegar à Presidência, sem votos, após a morte do Tancredo [Neves]. O livro vai desde o nascimento até a eleição da presidente Dilma [Rousseff]. Antes da chegada de Sarney na sessão de autógrafos, o senador e ex-presidente Itamar Franco (PPS-MG) era o primeiro da fila e só saiu com o autógrafo da estrela da noite. Nesse meio tempo, os fotógrafos fizeram a festa com a presença importante do também senador e ex-presidente Fernando Collor (PTB-AL), mostrando o nível de amadurecimento político em que o País se encontra.Também estiveram presentes ao evento os senadores Francisco Dornelles, Epitácio Cafeteira e Valdir Raupp, além do ministro do TCU (Tribunal de Contas da União) Valmir Campelo. A governadora do Maranhão e filha de Sarney, Roseana, foi acompanhada pela mãe, dona Marly.Na quinta-feira (24), será a vez de São Paulo receber o evento, na Livraria Cultura do Conjunto Nacional, às 19h.

sexta-feira, 18 de março de 2011

Sarney fala sobre sua biografia escrita por Regina Echeverria

O presidente do Senado, José Sarney, comentou nesta sexta-feira (18) o lançamento de sua biografia que acontece na próxima terça-feira (22) no Centro de Cultura Banco do Brasil, em Brasília. Com 600 páginas, a obra publicada pela Editora Leya, foi escrita pela jornalista Regina Echeverria e levou cinco anos para ser concluída. Sarney destacou que Regina teve total liberdade na pesquisa e execução da biografia, "Ela conversou com todos, amigos e inimigos, teve acesso a todos os meus arquivos", disse o senador. No total, Regina Echeverria fez 186 entrevistas em todo o Brasil e gravou inúmeras horas de depoimento com o presidente do Senado. Sarney atribuiu o sucesso do livro, que já vendeu 15 mil cópias, a qualidade do trabalho e à competência da escritora, especialista em biografias, autora de "Só as mães são felizes" que conta a história de Cazuza e "Furacão Elis" sobre a vida de Elis Regina, entre outras obras.

Impeachment – Ascensão e queda de um presidente

A Editora Cia. dos Livros, o autor Arnaldo Santos e a Casa do Ceará convidam para o lançamento do livro IMPEACHMENT - Ascensão e queda de um presidente

Quando: 30 de março 2011 (quarta-feira) as 19h30
Onde: Casa do Ceará de Brasília –
Endereço: SGAN Quadra 910 Conjunto F - Asa Norte – Brasília - DF
Informações: 61 3533-3800
Informações pelo site: http://www.aquivoceenoticia.com/


O livro Impeachment – Ascensão e queda de um presidente, editado pela Cia dos Livros, do jornalista e sociólogo, doutor em ciência políticas Arnaldo Santos, é um texto envolvente e altamente esclarecedor porque propicia ao leitor uma volta ao tempo e a cena política dos anos noventa. O autor apresenta as bases da compreensão política, a campanha eleitoral, o governo e o processo do impeachment. O Brasil foi sacudido pela sua destituição, mas tudo foi feito com as instituições democráticas funcionando plenamente, sem sobressaltos - algo até então inédito na América do Sul. Foi a primeira manifestação democrática participativa do País.

Arnaldo Santos*

Trazendo fatos reais, entrevistas, reportagens e uma rica e profunda análise do que foi esse importante momento político na história do Brasil. Indicado para estudantes e profissionais das áreas de comunicação bem como para todas as pessoas que têm interesse em entender um pouco melhor a história política do Brasil. Foram diversos personagens entrevistados por Arnaldo, durante sua pesquisa, que participaram diretamente de eventos que culminaram no impeachment, entre eles o próprio Collor. "Entrevistei desde o então Presidente da Câmara dos Deputados, Ibsen Pinheiro, até o próprio Collor, por duas vezes. No total, a tese contou com o depoimento de 14 pessoas - entre elas o Senador Amir Lando, relator da CPMI que investigou os escândalos de corrupção relacionados a Paulo César Farias, e o então Ministro da Justiça Jarbas Passarinho, que chegou a fornecer documentos confidenciais a Santos.”, revela o autor.

Ficha técnica: Livro: Impeachment – Ascensão e queda de um presidente; Editora: Editora Cia. dos Livros; Autor: Arnaldo Santos;Nº de páginas: 380; Preço: R$ 45,30


Quem já leu

... Este trabalho do jornalista e sociólogo Arnaldo Santos é parte de sua tese de doutorado pela Universidade Nova de Lisboa. Ele trata, com rigor científico e senso de oportunidade jornalístico, de um dos mais importantes episódios da história recente do Brasil. O impeachment do presidente Fernando Collor de Mello que foi um teste decisivo para a jovem democracia brasileira se consolidar, como também foram a eleição e posse na Presidência do candidato, de um partido de oposição ao que estava no poder em 2002, ainda mais porque esse partido e seu candidato haviam sido considerados durante algum tempo por muitas pessoas como seguidores da “esquerda” no espectro político. O país se saiu muito bem nos dois casos, que ajudaram a con­solidar as instituições políticas nacionais. O tempo transcorrido desde os acontecimentos de 1992 até a edição deste volume é suficiente, na vida individual do brasileiro, para a pessoa obter a maioridade. Parece ter sido também o bastante para a democracia no país demonstrar também ter atingido maioridade, processando a sexta eleição direta para presidente seguida, em paz, liberdade e absoluto respeito aos direitos civis e políticos de todos. Um feito inédito em nossa história e cuja relevância talvez os mais jovens não estejam apreciando devidamente, talvez o considerando apenas como “um fato da vida”... (Carlos Eduardo Lins da Silva).


... O longo, minucioso e cuidadoso trabalho de pesquisa com o qual o jornalista Arnaldo Santos obteve seu doutorado pela Universida­de Nova de Lisboa não apenas ilumina – ou seja, torna mais clara uma quadra grave da história recente do Brasil – mas representa, ao mesmo tempo, uma valiosa contribuição à memória nacional. O autor é um profissional dedicado ao seu mister. É daqueles que en­frentam e vencem, como um maratonista, todos os desafios para alcançar o seu objetivo. Ele o alcançou com este trabalho sobre “O processo de impeachment do presidente Fernando Collor de Melo e sua repercussão na imprensa de Lisboa e o sentido do impeachment para a democracia”. Um trabalho acadêmico muito bem orientado e muito bem executado... (Ciro Gomes)

* Breve Entrevista com jornalista e sociólogo, doutor em ciência políticas, Arnaldo Santos

Editora Cia. dos Livros – O que mais lhe surpreendeu, em sua vasta pesquisa sobre o impeachment do presidente Fernando Collor de Mello?

Arnaldo Santos – Objetivamente a maior surpresa ficou por conta da postura de quase todos os que foram ouvidos durante a pesquisa, notadamente daqueles que de uma forma ou de outra durante todo o processo de investigação do ex-presidente, estiveram a frente do movimento fora Collor e quando os entrevistei de uma forma ou de outra quase todos apresentaram uma explicação que ao contrário de acusarem o ex-presidente, como o fizeram durante o processo do impeachment, na verdade quase absolveram. Essa afirmação pode ser comprovada nas transcrições que faço ao longo do livro.

Editora Cia. dos Livros – Como foi defender esta tese fora de seu País?

Arnaldo Santos – Desafiador. Afinal por que uma Universidade Européia (Universidade Nova de Lisbôa) se interessaria por um estudo desses? Duas razões se evidenciam: a primeira é o ineditísmo do estudo. Essa é primeira pesquisa que investiga o fenômeno do impeachmen sob a ótica da política. Que paixões, quais as motivações especialmente do Congresso, do empresariado, da imprensa e da sociedade em geral, estiveram por traz do movimento que destituiu o primeiro Presidente eleito pelo voto direto após o regime militar? O segundo foi a repercussão que o processo do impeachment teve em toda a imprensa européia especialmente na mídia lusitana. Defender uma tese de doutorado sobre o fato mais importante da história política brasileira e ainda relativamente recente, olhando de fora do Brasil, foi extremamente desafiador.

Editora Cia. dos Livros – Como Sr. avalia a volta de Collor ao poder.

Arnaldo Santos – Extremamente importante para a democracia brasileira. Sua volta ao contrário do que muitos podem avaliar, representa o grau de maturidade política do povo brasileiro e sua postura no Senado, tem evidenciado o seu amadurecimento como homem público, pois ao contrário de um homem ressentido como se podia esperar, o que se está vendo por parte do senador Fernando Collor, é uma postura equilibrada colaborativa para com os problemas do país, e para com seus pares no cotidiano do Senado, bem diferente de quando esteve a frente da Presidência da República.

Editora Cia. dos Livros – Qual o principal legado deixado por aqueles que empenharam a ‘bandeira’ do impeachment, para os jovens de hoje?

Arnaldo Santos – De que independentemente das motivações políticas quando os homens públicos resolvem promover mudanças, ainda que ponham em risco a estabilidade Democrática, eles buscam apoio nas instituições representativas da sociedade civil, constroem e amplificam suas motivações ainda que essas não representem necessariamente as verdadeiras motivações da sociedade brasileira.

Editora Cia. dos Livros – Os jovens de hoje têm consciência sobre importância deste episódio, que podemos afirmar, ter sido um dos mais importantes na política brasileira?

Arnaldo Santos – A julgar pela forma como os jovens se comportam diante dos processos políticos do país, eu afirmo que não. A participação dos jovens na política ainda é muito pequena. Tambem é preciso afirmar que a culpa não é deles, pois o legado é ruim. Temos uma prática política mal sã, onde a elite política cumpre uma agenda que não guarda nenhuma relação com a agenda da sociedade em geral, especialmente com o que representa os interesses da juventude; mas essa realidade não será mudada sem a participação dos jovens, isso eu posso afirmar.


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terça-feira, 15 de março de 2011

Adriano Benayon


Nióbio, metal estratégico

(esta é uma versão modificada e atualizada do artigo “Nióbio a Preço de Banana”, publicado em A Nova Democracia, nº 74, Ano 9, fevereiro de 2011.)

Está em nosso País a quase totalidade das jazidas conhecidas no Planeta do nióbio, minério essencial para as indústrias aeronáutica e aeroespacial, para a indústria nuclear, inclusive armas e seus mísseis. A atual tecnologia faz o nióbio, graças à sua superioridade substituir metais, como molibdênio, vanádio, níquel, cromo, cobre e titânio, em diversas outros setores industriais.

2. Embora a maioria das pessoas nem saiba o que é nióbio ou para que serve, esse mineral mostra emblematicamente, como o País, extremamente rico em recursos naturais, permanece pobre, além de perder, sem volta, esses recursos, e de se estar desindustrializando, sobre tudo nos setores de maior conteúdo tecnológico.

3. A primarização da economia brasileira é fato confirmado até nas estatísticas oficiais. O Brasil está cada vez mais importando produtos de elevado valor agregado e exportando, com pouco ou nenhum valor agregado, seus valiosos recursos naturais.

4. Isso acarreta baixos níveis salariais no País e também a gestação de crises nas contas externas, cujo equilíbrio sempre dependeu de grandes saldos (que agora estão definhando) no balanço das mercadorias, para compensar o déficit crônico nas contas de “serviços” e de “rendas” do Balanço de Pagamento.

5. O que está por acontecer de novo já ocorreu antes, quando a oligarquia financeira mundial atirou o Brasil na crise da dívida externa de 1982/1987. Os prejuízos decorrentes dessa crise foram grandemente acrescidos com o privilegiamento do “serviço da dívida” no Orçamento Federal, instituído por meio de fraude, no texto da Constituição de 1988. Esse “serviço” já acarretou despesa, desde então, de 6 trilhões (sim, trilhões) de reais, com a dívida pública externa e interna, esta derivada daquela.

6. Tudo isso concorreu para agravamento da situação gerada pelo defeito original do modelo: ter, desde 1954, favorecido os investimentos diretos estrangeiros com subsídios e vantagens maiores que os utilizáveis por empresas de capital nacional. Estas foram sendo eliminadas em função da política econômica governamental. As que restaram tornaram-se caudatárias das transnacionais e de interesses situados no exterior. Vê-se, pois, a conexão entre os grandes vetores de empobrecimento e de primarização da economia nacional.

7. O niobio é tão indispensável quanto o petróleo para as economias avançadas e provavelmente ainda mais do que ele. Além disso, do lado da oferta, é como se o Brasil pesasse mais do que todos os países da OPEP juntos, pois alguns importantes produtores não fazem parte dela.

Números

8. Cerca de 98% das reservas da Terra estão no Brasil. Delas, pois, depende o consumo mundial do nióbio. A produção, cresceu de 25,8 mil tons. em 1997 para 44,5 mil tons., em 2006. Chegou a quase 82 mil tons. em 2007, caindo para 60,7 mil tons., em 2008, com a depressão econômica (dados do Departamento Nacional de Produção Mineral). Estima-se atualmente 70 mil toneladas/ano. Mas a estatística oficial das exportações brasileiras aponta apenas 515 toneladas do minério bruto, incluindo “nióbio, tântalo ou vanádio e seus concentrados”!

9. Fontes dignas de atenção indicam que o minério de nióbio bruto era comprado no garimpo a 400 reais/quilo, cerca de U$ 255,00/quilo (à taxa de câmbio atual e atualizada a inflação do dólar).

10. Ora, se o Brasil exportasse o minério de nióbio a esse preço, o valor anual seria US$ 15.300.000 (quinze bilhões e trezentos milhões de dólares). Se confrontarmos essa cifra com a estatística oficial, ficaremos abismados ao ver que nela consta o total de US$ 16,3 milhões (0,1% daquele valor), e o peso de 515 toneladas ( menos de 1% do consumo mundial). Observadores respeitáveis consideram que o prejuízo pode chegar a US$ 100 bilhões anuais.

11. Mesmo que o nióbio puro seja cotado a somente US$ 180 por quilo, como indica o site chemicool.com, ainda assim, o valor nas exportações brasileiras do minério bruto correspondia a apenas 1/10 disso. O nióbio não é comercializado nem cotado através das bolsas de mercadorias, como a London Metal Exchange, mas, sim, por transações intra-companhias.

12. Há, ademais, um item, ligas de ferro-nióbio, em que o total oficial das exportações alcança US$ 1,6 bilhão, valor mais de 100 vezes superior à da exportação do nióbio e de minérios a ele associados, em bruto. O mais notável é que o nióbio entra com somente 0,1% na composição das ligas de ferro-nióbio. Vê-se, assim, o enorme valor que o nióbio agrega num mero insumo industrial, de valor ínfimo em relação aos produtos finais das indústrias altamente tecnológicas que o usam como matéria-prima.

13. Note-se também que a quantidade oficialmente exportada do ferro-nióbio em 2010 foi 66.947 toneladas. O nióbio entrando com 0,1% implicaria terem saído apenas 67 toneladas de nióbio, fração ínfima da produção mundial quase toda no Brasil e do consumo mundial realizado nas principais potências industriais e militares.

Campanha nacional

14. As discrepâncias e absurdos são enormes e têm de ser elucidados e corrigidos. Para isso, há que expô-los em grande campanha nacional, que leve a acabar não só com o saqueio do nióbio, mas também com a extração descontrolada de metais estratégicos e preciosos, sem qualquer proveito para o País, o qual, ainda por cima, fica com as dívidas aumentadas.

15. O desenvolvimento dessa campanha deverá também fazer o povo entender que a roubalheira dos recursos minerais só poderá cessar se forem substituídas as atuais estruturas de poder.
Adriano Benayon do Amaral é diplomata de carreira, Consultor Legislativo da Câmara dos Deputados e, depois, do Senado Federal, na Área de Economia, aprovado em 1º lugar em ambos concursos. Doutor em Economia pela Universidade de Hamburgo e Advogado, OAB-DF nº 10.613, formado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro. Foi Professor da Universidade de Brasília e do Instituto Rio Branco, do Ministério das Relações Exteriores. Autor de ”Globalização versus Desenvolvimento”
Veja também:

segunda-feira, 14 de março de 2011

Auditoria Cidadã da Dívida: um imperativo para o Brasil




Fonte: Banco Central (abril/2010) e Secretaria de Previdência Complementar (Estatística Mensal– Dez/2009)

Nota 1: A rubrica “Fundos de Pensão” inclui recursos desses Fundos que se encontram aplicados em Fundos de Investimento de Renda Fixa. Consequentemente, a rubrica "Fundos de Investimento" aparece descontada destes recursos.

Nota 2: A rubrica “Bancos Nacionais e Estrangeiros” inclui os Títulos Vinculados (que representam principalmente o depósito, junto ao BC, pelas instituições financeiras, de títulos públicos como garantia de operações em Bolsa de Valores) e as “Operações de Mercado Aberto” (que significam a retirada de moeda de circulação mediante entrega às instituições financeiras dos títulos públicos em poder do Banco Central).

http://www.divida-auditoriacidada.org.br/

Governo anuncia privatização da Previdência dos servidores públicos

O Jornal O Globo mostra que o governo já planeja uma nova Reforma da Previdência, tanto dos servidores públicos, como também do INSS. No caso dos servidores públicos, a idéia seria completar a Reforma de 2003 implementando os Fundos de Pensão - ou seja, a privatização da Previdência - sob o argumento de que o governo não tem recursos para manter o sistema atual.
De acordo com a proposta que já tramita na Câmara dos Deputados (Projeto de Lei 1.992/2007), os novos servidores públicos terão sua aposentadoria limitada ao teto do INSS e para receber mais, terão de contribuir para Fundo de Pensão na modalidade “contribuição definida”, ou seja, no qual se sabe o valor da contribuição mas o valor do benefício é incerto, resultante do rendimento das aplicações financeiras do Fundo.
Segundo o PL 1992/2007, os atuais servidores somente irão aderir ao Fundo se quiserem, o que poderia dar a entender que eles estariam livres da reforma. Porém, é importante ressaltar que, atualmente, são muitos os casos de categorias que, quando se aposentam, têm seu salário drasticamente reduzido, devido à política de “quebra de paridade”, ou seja, a concessão de gratificações aos servidores ativos que não são estendidas aos aposentados. Desta forma, muitos servidores atuais podem ser induzidos a aderir também aos Fundos.
Importante ressaltar também que a instituição destes fundos causará, num primeiro momento, grande prejuízo às contas públicas, visto que o governo perderia uma importante parcela da contribuição previdenciária dos servidores, que passariam a contribuir para tais Fundos.
E a quem interessa esta reforma? O Artigo 15 do PL 1992 diz que a administração dos recursos dos Fundos “deverá ser realizada mediante a contratação de instituições autorizadas pela Comissão de Valores Mobiliários - CVM para o exercício da administração de carteira de valores mobiliários.”, ou seja, grandes bancos, que ficarão com uma enorme massa de recursos, e ainda cobrando uma significativa taxa de administração.
Desta forma, há o risco de que, em momentos de crise, os ativos dos Fundos sejam destinados a “micos”, tais como títulos da dívida pública, tal como ocorrido na Argentina, cuja moratória prejudicou fortemente os aposentados. Por outro lado, os grandes rentistas que acompanham diariamente o mercado financeiro sempre sabem a hora certa de se desfazerem de títulos ou papéis “podres” e repassá-los para seus clientes, tal como ocorrido com aposentados italianos, que acabaram ficando com títulos da dívida argentina.
Ao mesmo tempo em que alega falta de recursos para a Previdência dos servidores, o mesmo governo admite que há uma farra de empréstimos externos contraídos por empresas instaladas no Brasil, devido às altíssimas taxas de juros vigentes no país. Tais empresas tomam empréstimos no exterior a juros baixíssimos, e podem usar tais recursos para ganhar os maiores juros do mundo na dívida “interna” (Empréstimo externo pode ser taxado: Governo estuda taxar empréstimo externo).
Porém, para tentar reduzir esta farra, o governo apenas acena com o reestabelecimento do IOF (Imposto sobre Operações Financeiras) de 0,38% sobre estas operações, percentual este irrisório se comparado às altíssimas taxas de juros brasileiras, de 12% ao ano ou mais.

Do http://www.divida-auditoriacidada.org.br/

quinta-feira, 3 de março de 2011

Os equívocos da Campanha da Fraternidade 2011


A idolatria da natureza promove a pobreza, a fome e o malthusianismo

A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) acaba de prestar um grande desserviço à sociedade brasileira, ao dedicar a Campanha da Fraternidade 2011 à agenda ambientalista da “descarbonização” da economia, tendo como tema central o inexistente problema do aquecimento global supostamente causado pelo homem. Para orientar os trabalhos da campanha, a CNBB está distribuindo em todas as dioceses do País um texto-base que, se excluídas as considerações de cunho teológico-religioso, é indistinguível das publicações catastrofistas das grandes ONGs ambientalistas integrantes da campanha alarmista sobre as mudanças climáticas.
Em 135 páginas quase inacreditáveis, o documento desperdiça - e distorce - o inspirador tema “Fraternidade e a vida no planeta”, reproduzindo sem maiores contestações toda a pletora de argumentos que têm sido manipulados para justificar as limitações ao uso de combustíveis fósseis – petróleo, gás natural e carvão mineral - e as restrições a um conjunto de tecnologias modernas, propostas de ambientalistas radicais, cuja aceitação pela sociedade implicaria em um virtual retrocesso civilizatório.
Com isso, a CNBB não apenas se equipara ao movimento ambientalista internacional, na condição de instrumento político de uma campanha contra o progresso, como também contraria frontalmente as esclarecidas posições que o Vaticano tem manifestado sobre os temas ambientais, por meio de altos dignitários da Igreja, inclusive, o próprio Papa Bento XVI.
Em termos estritamente teológicos, o aspecto mais surpreendente do documento é a tentativa de justificar a agenda ambientalista segundo os cânones do magistério cristão, em especial, com uma coleção de citações de documentos eclesiásticos e declarações de autores cristãos e papas (inclusive os dois últimos), retiradas dos seus contextos gerais para fazer parecer que a doutrina cristã apoia o radicalismo “verde”. Assim, o que fazem os autores é promover uma autêntica idolatria da natureza que remete ao paganismo pré-cristão, como já advertiu ninguém menos que o próprio papa Bento XVI, que rotulou a ideologia malthusiana-ambientalista como “neopaganismo”.
Vale enfatizar que, ao contrário do que os alarmistas do clima afirmam com certeza dogmática, não existe qualquer evidência científica que permita diferenciar as variações climáticas ocorridas nos últimos dois séculos, dentro das oscilações muito mais amplas e rápidas verificadas ao longo do período geológico conhecido como Holoceno, os últimos 12 mil anos, no qual a Civilização tem existido. Ou seja, simplesmente não é possível atribuir as mudanças climáticas recentes às ações humanas - pelo que a hipótese do aquecimento global antropogênico é reprovada no teste do método científico (aliás, a própria expressão mudanças climáticas é redundante, pois o clima está sempre em mudança).
Se um tal documento tivesse sido produzido por uma ONG ambientalista, nem valeria a pena respondê-lo. Entretanto, tratando-se de uma iniciativa que pretende representar o magistério da Igreja sobre questões referentes ao bem-estar da sociedade, não se pode ignorá-lo. Por isso, o Movimento de Solidariedade Ibero-americana (MSIa) dedicou ao assunto uma edição especial do jornal quinzenal Solidariedade Ibero-americana, que pode ser consultada, clicando aqui.