sexta-feira, 26 de agosto de 2011

De costas para o mercado interno, Mantega faz Brasil importar até crise

Com ele, “mercado interno” é só uma fachada para intensificar corte de gastos e pagar juros
Por Carlos Lopes*
Proferir odes ao mercado interno como a grande bóia para a crise, fazer preitos em público aos orixás do crescimento – e, ao mesmo tempo, conter e cortar os gastos públicos, proclamar que os superávits primários devem ser “a cada mês melhor [ou seja, maior] que no mês anterior”, ou seja, que os gastos públicos com juros devem ser os únicos a aumentar, jamais aqueles que signifiquem aumento de salário e de emprego, jamais os que sejam uma expansão do mercado interno, como fez o ministro da Fazenda na terça-feira, na Câmara, é algo ridículo. As conseqüências, se essa indigência e falta de seriedade predominam, são a de levar o país à crise, com tributos verbais ao mercado interno, enquanto se asfixiam os salários, o consumo, o investimento das empresas, em síntese, o mercado interno.
Bônus
A crise dos EUA e demais países centrais é a crise deles. Por que não podemos ter o nosso projeto de país? Por que temos de nos arrastar a reboque da crise deles, como se a nossa economia não pudesse ser mais do que um reflexo da economia deles? Por que essa papagaiada de que “agora estamos melhor preparados do que em 2008”, ou, o que é a mesma coisa, de que “não ficaremos imunes”, ou, na última versão, “bem preparado não significa que não haverá ônus”. A crise dos países centrais sempre foi um bônus para os países periféricos, desde que estivessem dispostos a não ser mais periféricos. Em 2008, o BC aumentou os juros no dia 10 de setembro, cinco dias antes da quebra do Lehman Brothers, e manteve uma taxa absurda por 180 dias, só começando a reduzi-la, com a velocidade de uma lesma, em janeiro. Quando liberou o compulsório dos bancos, estes, obviamente, não forneceram crédito às empresas ou aos consumidores – por que fariam isso, se podiam ganhar com os juros dos papéis públicos? Portanto, usaram o dinheiro para especular. Lula, então, salvou o país, com uma política de estímulo ao consumo, ao colocar os bancos públicos a serviço do crédito, em suma, ao radicalizar sua política de acelerar o crescimento. Os EUA e os outros países centrais nunca se recuperaram. Jamais voltaram ao patamar de antes do início da crise – e é isso o que se chama “recuperação”. No entanto, apesar de vários alertas – inclusive nossos – Mantega desmontou a política então traçada por Lula, trocando-a por uma política essencialmente tucana, alegando que a crise externa já era passado, e que o risco estava, precisamente, no crescimento. Na semana passada, as estimativas para o aumento do PIB deste ano variavam entre 3,4% e 3,8%, depois de termos já alcançado 7,5% em 2010. Assim, quando agora Mantega diz que estamos melhor preparados, tenta somente ocultar que, nos últimos meses, aplicou a política do sr. Meirelles (aliás, a mesma do BC atual). E, sejamos justos, apesar de manter Meirelles no BC, Lula forçou a queda de juros de março de 2007 a abril de 2008, depois, de janeiro de 2009 a março de 2010, e paralisou os aumentos de juros de junho a dezembro de 2010. Quando Lula deixou o governo, o juro básico real estava em 4,8%. Agora, depois de cinco aumentos seguidos, está em 6,8% - e nem frisaremos a aberração que isto é no mundo de hoje. Sobretudo quando não havia nenhum descontrole inflacionário, ainda que o aumento das commodities em Chicago e Nova Iorque tenha, realmente, causado um certo aumento nos índices, mas que nada tinha a ver com surto inflacionário. Toda a parolagem e fabricação de uma falsa ameaça inflacionária não tinham outro objetivo senão aumentar os juros reais: quanto mais baixa a inflação e maiores os juros nominais, maiores são os juros reais, isto é, o ganho dos bancos e demais especuladores. Não é para combater a inflação que se aumentam os juros, mas, simplesmente, para aumentá-los – isto é, aumentar os ganhos à custa do Estado, do povo, do país. Será uma coincidência que todos os porta-vozes de bancos defendiam, há meses, que a “taxa natural” (?) de juros do Brasil, certamente definida por Deus ao criar a nossa exuberante natureza, era em torno de 7%? Diz o sr. Mantega que essa questão não é de sua alçada, mas do BC. Triste ministro da Fazenda. Mas ele apoiou, e continua apoiando, os aumentos de juros do BC. Evidentemente, essa elevação dos juros significou não apenas o aumento no custo para as empresas nacionais, mas também o encarecimento artificial dos produtos fabricados no Brasil em relação às importações, via câmbio, isto é, via hipervalorização forçada do real. Ou, o que é outra forma de dizer a mesma coisa, a invasão do país por centenas de bilhões de dólares desvalorizados, atraídos pelos juros altos, puxando atrás de si toneladas de mercadorias externas. Hoje, existem no mundo apenas oito países importantes que têm déficit comercial com os EUA. Não é uma surpresa que o Brasil seja um deles (cf. BEA, “U.S. International trade in goods and services”, June/2011). Diante da inação da Fazenda, que limitou-se à pantomina das alíquotas exíguas de IOF, o estoque de capital especulativo aumentou US$ 380 bilhões entre dezembro de 2008 e junho deste ano, indo de US$ 287,53 bilhões para US$ 669,41 bilhões. Não havia nada que tornasse essa invasão, totalmente predatória, parasitária, inevitável. Da mesma forma, não era inevitável que a desnacionalização das empresas aumentasse US$ 248 bilhões no mesmo período (de US$ 287,70 bilhões para US$ 535,97 bilhões). Houve um aumento da vulnerabilidade externa. As remessas para o exterior aumentaram de US$ 52,94 bilhões em 2009 para US$ 70,63 bilhões em 2010, e, em 2011, em seis meses já estão em US$ 39,86 bilhões, mais da metade do que foi remetido em todo o ano passado. Além disso, as importações combaliram, ou colocaram em risco, setores inteiros da economia. Se a situação do país, com essa política de aumentar juros, restringir consumo, gastos públicos, crédito, salários e investimento, não é de consolidação do mercado interno que se expandiu com Lula, também em relação ao mercado externo não estamos confortáveis.
Bárbaros
Estamos, rigorosamente, pendurados no preço das commodities, isto é, no preço especulativo das commodities: o quantum (a quantidade física) do conjunto das exportações encontra-se estagnado há 12 meses, com ligeiras variações (cf. Funcex, “Informativo Balança Comercial”, ano I, n° 4, julho/2011; e, também, Funcex, “Boletim de Comércio Exterior”, ano XV, n° 6, junho/2011). Segundo o último relatório da Secex, órgão do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC), entre janeiro e julho, o valor das exportações de minério de ferro aumentou 79%, mas o quantum, apenas 5%; as de petróleo aumentaram 38% em valor, mas apenas 1% em quantum; as de soja, em valor, aumentaram 28%, mas diminuíram -3% em quantum; as de café, aumentaram 78% em valor, mas só 8% em quantum. Certamente, isso é um convite a que os bárbaros invertam o movimento dos preços das commodities – com as consequências que nos dispensamos de mencionar. Nas importações, pelo contrário, é o aumento da quantidade física que predomina sobre o aumento de preços, devido ao dumping do atual regime cambial e dos juros às mercadorias externas, o que não quer dizer que o conjunto delas aumentou pouco em valor, pelo contrário – daí a queda no saldo comercial do país a partir de 2008, ou seja, a partir da guerra cambial dos EUA, com sua invasão de dólares. Evidentemente, tudo isso tem conserto, desde que se mude a política. Ou seja, desde que se dê ao mercado interno o seu real, imprescindível e insubstituível papel como base da nossa economia, o que significa melhores salários, mais empregos e prioridade para a indústria de capital nacional.
*Carlos Lopes é editor-chefe do jornal Hora do Povo

Veja também:

Reservas em dólar do BC saem pelo ralo pela omissão de dona Dilma. E a educação continua péssima...



A Folha Online mostra que o Banco Central (BC) apresentou prejuízo de R$ 44,5 bilhões apenas no primeiro semestre deste ano com a manutenção das reservas internacionais. Conforme já comentado várias vezes por este boletim, o BC faz dívida interna – que paga as maiores taxas de juros do mundo – para comprar dólares para as reservas internacionais, que são aplicadas principalmente em títulos do Tesouro dos EUA, que não rendem quase nada e ainda têm se desvalorizado frente ao real. Daí este imenso prejuízo, que deve ser coberto pelo Tesouro, conforme manda a Lei Complementar 101/2000, também denominada (equivocadamente) como “Lei de Responsabilidade Fiscal” (LRF). Um agravante é que a Medida Provisória 435/2008 permitiu ao Banco Central omitir este prejuízo com a manutenção das reservas internacionais na divulgação de seus resultados, o que é um entrave à transparência das contas públicas. Desta forma, muitos jornais divulgaram manchetes equivocadas, de que o BC teria apresentado lucro de R$ 12 bilhões no primeiro semestre de 2011. O governo costuma justificar a manutenção de elevado nível de reservas com o argumento de que isto seria necessário para evitar fugas de capitais em crises financeiras, porém a melhor forma de prevenir tais fugas é por meio do controle sobre os fluxos de capitais. Este prejuízo do Banco Central com a manutenção das reservas (de R$ 44,5 bilhões), apurado apenas no primeiro semestre de 2011, foi maior que todos os gastos federais com a educação durante todo o ano passado. Ou seja, enquanto não há limite algum para os gastos do Banco Central – que beneficiam diretamente o setor financeiro privado - a educação pública no país carece de urgentes investimentos. Notícia do Portal G1 comenta sobre a chamada “Prova ABC”, organizada pelas entidades “Todos pela Educação”, Instituto Paulo Montenegro /Ibope, Fundação Cesgranrio e o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep). Esta prova  identificou que apenas 32,58% dos alunos do ensino público possuem o mínimo de conhecimento em matemática esperado para o 3º ano do ensino fundamental . Enquanto isso, tal percentual nas escolas particulares é de 74,3%, mais que o dobro das escolas públicas.
 
 Saiba mais sobre esses assuntos. Leia com bastante atenção algumas postagens que já fizemos neste blog a respeito. Vale a pena conferir: 

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Ano: 1964. Uma testemunha



O jornalista e historiador Aristóteles Drummond profere hoje, às 19h, a palestra Um caldeirão chamado 1964 "depoimento de um revolucionário, na Academia Maranhense de Letras (AML). Testemunha, ator e defensor de toda hora do movimento que levou à queda do presidente João Goulart em 31 de março de 1964, com a imediata ascensão dos militares ao poder, Drummond fará uma revisão desse importante momento da história nacional, com endosso de uma visão conservadora dos principais momentos da vida brasileira. A palestra, com entrada gratuita, é uma realização da Livraria Resistência Cultural. O ponto de vista de Aristóteles Drummond, conforme deixa ver em entrevista que concedeu a O Estado, diverge radicalmente do discurso hoje oficializado defendido de cátedras universitárias a palanques políticos. Sua defesa do conservadorismo "meritocraria, liberalismo econômico, valores cristãos, respeito à legalidade" o fez, há décadas, "persona non grata" à esquerda nacional. Líder aos 19 anos do Grupo de Ação Patriótica (GAP) " que se opunha à doutrinação marxista de José Serra (hoje PSDB) e outros na União Nacional dos Estudantes (UNE)", Aristóteles Drummond foi um dos personagens civis mais ativos na revolta contra as reformas do governo Goulart. "A ameaça comunista era real. Luís Carlos Prestes [secretário-geral do Partido Comunista Brasileiro] não iria mentir quando disse`já estamos no governo; nos falta o poder"", afirma. Ao fim da palestra, o autor vai autografar seu livro mais recente, Relatos da Vida "Um conservador integral (Armazém de Ideias, 2009), que será vendido ao preço promocional de R$ 30,00.

Resistência Cultural

"A Livraria Resistência Cultural, cuja sede física será inaugurada no início do próximo mês (Avenida dos Holandeses, anexa à Clínica Odontológica Maranhão), inicia suas atividades de realizadora cultural trazendo Aristóteles Drummond a São Luís. Em breve também constituída em editora, já organiza a publicação de Outras vozes, volume de ensaios literários do poeta pernambucano Ângelo Monteiro, e de A Hidra Vermelha, de Carlos Azambuja, clássico da ciência política brasileira há muito tempo esgotado.
O Estado - Embora apontando alguns erros, o senhor sempre foi um defensor dos acontecimentos de 64 e seus desdobramentos. Que significou aquele momento para a vida nacional?

Aristóteles Drummond - Foi a salvação nacional! Os governadores da Guanabara [Carlos Lacerda], Minas [Magalhães Pinto], São Paulo [Adhemar de Barros], Paraná [Ney Braga] e Rio Grande do Sul [Ildo Meneghetti] declararam apoio imediato ao movimento, que foi cívico-militar, portanto. O Manifesto de 31 de março era assinado pelo General Olympio Mourão e pelo Governador Magalhães Pinto.

O Estado - Mas hoje se aprende, desde a escola, que a ameaça comunista foi uma invenção dos militares, um "pretexto" para o "golpe". A ameaça era mesmo real?

Drummond - Claro que era! Luís Carlos Prestes não mentiria quando disse "já estamos no governo; nos falta o poder". A mais, todo o empresariado nacional apoiou o movimento. Basta se consultar os livros publicados sobre o assunto.

O Estado - O que o senhor tem a dizer àqueles que veem no período militar um momento antidemocrático da história brasileira, sempre falando em "tortura" e "porões da ditadura", AI-5 e Herzog?

Drummond - "Ora, ditadura nunca, autoritarismo sim. E esta questão de violência é mais um caso policial, e não de política. Os que podem ter sofrido violências " o que se lamenta sempre " eram ligados a atos de terrorismo com vítimas, inclusive fatais. Basta se ler os livros dos "militantes", cuja honestidade nos relatos é de se registrar. Deveriam falar é na austeridade dos governantes de então e no progresso do Brasil.

O Estado - Por que, então, restou uma imagem negativa do movimento de 64?

Drummond- " Os militares não souberam criar uma rede de apoio na sociedade civil, acreditando no reconhecimento popular pelo muito que fizeram pelo Brasil. Os políticos que apoiaram o movimento, quase todos, foram ficando velhos e, em 1985, poucos eram os que estavam no Parlamento, por exemplo. E hoje são poucos os remanescentes como José Sarney, Fernando Collor " foi prefeito de Maceió nomeado ", Bonifácio Andrada " era deputado estadual em Minas ", muito poucos.

O Estado - Você admira estadistas odiados pelas esquerdas, como Franco (Espanha), Salazar (Portugal) e Médici (Brasil). Com a abertura dos arquivos de Moscou, é possível dizer se havia interesse especial dos russos pelos países ibéricos?

Drummond - Sobre Portugal não apareceu nada. A Revolução dos Cravos, em 1974, mostra o interesse comunista no país e, em especial, nas províncias ultramarinas, que acabaram por levar à miséria e à guerra civil. Mas, quanto à Espanha, o correto historiador inglês Antony Beevor republicou seu livro Batalha da Espanha para corrigir a primeira edição face às descobertas nos arquivos secretos de Moscou: o Exército dito "republicano" era comandado, na verdade, por russos. Aqui no Brasil, o interesse era mais antigo, desde a Intentona de 35 que foi montada em Moscou, que enviou para o Brasil Olga Benário, ativista alemã do Partido Comunista.

O Estado - Ainda existe um "perigo comunista" no Brasil e no ocidente?

Drummond - De outra maneira, sim. Sem um comando como o da União Soviética, que hoje é mais uma republiqueta corrupta do que central revolucionária. O que existe é a campanha pelo afrouxamento ético e moral dos valores cristãos, do sentimento de pátria, a falta de apreço pelos militares, as ameaças à propriedade, a impunidade dos baderneiros. Grande figura é o primeiro-ministro David Cameron, mas que está apanhando da esquerda inglesa.

O Estado - Você promete fazer de sua palestra uma defesa do conservadorismo como fundamento da história brasileira. Poderia adiantar um pouco a respeito?

Drummond - O conservadorismo é o caminho da justiça social, do progresso, mas com ordem, segurança, respeito à maioria silenciosa, obreira, de bom senso. O conservadorismo, como existe hoje, é a vitória da meritocracia contra o aparelhamento político do Estado, que deu no que deu em todo o mundo. E aqui não tem sido diferente. Mas acho que mesmo neste grupo existe uma "banda boa", que amadureceu.

Saiba mais

Aristóteles Drummond é articulista de diversos jornais, entre os quais Diário do Comércio (SP), Jornal do Brasil (RJ) e Jornal Inconfidência (MG). Foi conselheiro e diretor da Light (Companhia Energética do Rio de Janeiro), membro do Diretório Nacional dos partidos ARENA, PDS, PPR e do atual PP. É vice-presidente da Associação Comercial do Rio de Janeiro e membro do PEN Clube do Brasil. É autor, entre outros, de A Revolução Conservadora (Topbooks, 1990) e Minas (Armazém de Ideias, 2002).


quinta-feira, 25 de agosto de 2011

Privatização da previdência dos servidores públicos



O Portal do ANDES/SN noticia que a Comissão de Trabalho, Administração e Serviço Público da Câmara dos Deputados aprovou, por 13 votos a 7, o texto principal do Projeto de Lei (PL) 1992/2007, de iniciativa do Poder Executivo, que privatiza a previdência dos servidores públicos. Ainda resta a votação de destaques (propostas de alteração do texto) e a análise por parte de outras comissões da Câmara e do Senado. Após este processo o PL será encaminhado à sanção da Presidente Dilma, que desta forma completará a Reforma da Previdência de Lula de 2003. Esta reforma já previa a instituição de fundo de pensão na modalidade “contribuição definida”, ou seja, se sabe qual será a contribuição, mas não se sabe qual o benefício de aposentadoria, que dependerá da rentabilidade das aplicações financeiras de tal fundo. A justificativa sempre colocada pelo governo (e analistas neoliberais) para se livrar da responsabilidade de pagar as aposentadorias de seus servidores é sempre o mesmo: falta de recursos. É sempre alegado que as despesas com servidores aposentados e pensionistas estariam aumentando, e que ter-se-ia de colocar estes pagamentos sob a responsabilidade de um fundo de pensão. Porém, conforme mostra o Boletim Estatístico de Pessoal do próprio Ministério do Planejamento (pág 14), os gastos com servidores inativos e pensionistas caíram de 2,14% do PIB em 2002 (último ano do governo FHC) para 1,99% do PIB em 2010. Na realidade, o próprio governo reconhece que, em um primeiro momento, a instituição do Fundo de Pensão dos servidores ocasionará prejuízos às contas públicas, dado que o governo deixará de receber parte das contribuições previdenciárias dos servidores (que irão para o fundo de pensão) e também terá de passar a contribuir para este fundo. Mas a longo prazo, o governo se desincumbe de garantir o pagamento a inativos e pensionistas. O setor financeiro rentista ganha duplamente com a privatização da previdência dos servidores. Em primeiro lugar, ganhará com a redução dos gastos públicos com a previdência dos servidores, pois desta forma o governo poderá gastar ainda mais com juros e amortizações da dívida pública. E ganha também com a administração de tal fundo, cujos recursos serão, conforme prevê o artigo 15 do PL 1992, administrados pelos bancos.

Confira quem da comissão votou contra os aposentados...


Silvio Costa
PTB/PE (Gab. 417-IV)

Darcísio Perondi
PMDB/RS (Gab. 518-IV)

Roberto Balestra
PP/GO (Gab. 219-IV)

Augusto Coutinho
DEM/PE (Gab. 835-IV)

Laercio Oliveira
PR/SE (Gab. 629-IV)

Luciano Castro
PR/RR (Gab. 401-IV)

Flávia Morais
PDT/GO (Gab. 738-IV)

Alex Canziani
PTB/PR (Gab. 842-IV)

Ronaldo Nogueira
PTB/RS (Gab. 570-III)

Sabino Castelo Branco
PTB/AM (Gab. 911-IV)

Sérgio Moraes
PTB/RS (Gab. 258-IV)

Walney Rocha
PTB/RJ (Gab. 644-IV)

Erivelton Santana
PSC/BA (Gab. 756-IV)

Revista inglesa “Red Pepper” fala de alternativas para o enfrentamento das dívidas públicas


A Revista inglesa “Red Pepper” traz a reportagem “Behind the bankers’ mask”, mostrando que a auditoria da dívida tem sido uma alternativa cada vez mais procurada pelos movimentos sociais em vários países para o enfrentamento da crise. A revista traz entrevista com Maria Lucia Fattorelli, falando sobre a experiência brasileira da Auditoria Cidadã da Dívida, e também mostra a auditoria do Equador e as articulações pela auditoria na Grécia, Irlanda, Portugal, Espanha, e agora na Inglaterra. Conforme a reportagem, “a crise econômica levou os ativistas em países como a Grécia e a Irlanda a olharem para os países em desenvolvimento em busca de modelos de como lutar contra um todo-poderoso e corporativo sistema financeiro que obriga as pessoas comuns a pagarem o preço por seus fracassos. De Dublin a Harare, o chamamento para “auditorias da dívida” está sendo considerado como um primeiro passo vital no sentido de educar e mobilizar as pessoas contra um sistema injusto, que beneficia poucos à custa de muitos”. Vale a pena ler.

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quinta-feira, 18 de agosto de 2011

Professores entram em greve em todo o país e o governo continua favorecendo apenas os rentistas especuladores



O Jornal Estado de São Paulo noticia a paralisação dos professores em 22 estados brasileiros, pelo cumprimento do piso salarial, que já foi confirmado até pelo Supremo Tribunal Federal. Ou seja: os governos estaduais não estão cumprindo uma ordem da Corte Suprema.  Sobre este tema, cabe ressaltar que, em 2010 o governo federal destinou 45% de seu orçamento para o pagamento da dívida pública e apenas 9,24% para as transferências a estados e municípios. Nas últimas décadas, a União tem aumentado a arrecadação das chamadas "contribuições", que não são repartidas entre os entes federados, e ainda nem são destinadas totalmente as suas finalidades originais, devido à existência de mecanismos como a DRU (Desvinculação das Receitas da União). No início do mês, o governo apresentou a Proposta de Emenda à Constituição nº 61/2011, que prorroga a DRU até dezembro de 2015, no sentido de continuar usando recursos da Seguridade Social e outras áreas sociais para o pagamento da dívida.
Outra forma na qual a União retira recursos dos entes federados é a cobrança da questionável dívida dos estados, cujos juros (6% a 9% ao ano mais a inflação medida pelo IGP-DI) causam custos excessivos, conforme reconheceu o Relatório Final da CPI da Dívida na Câmara dos Deputados, aprovado pela própria base do governo e pelo PSDB. O Portal da Assembléia Legislativa de MG noticia o lançamento da Frente Parlamentar em Defesa da Renegociação da Dívida Pública de MG, que contou com a presença de membros do Núcleo Mineiro da Auditoria Cidadã da Dívida. Um dos membros, o ex-deputado federal Sérgio Miranda, afirmou que "o juro cobrado de Minas Gerais é mais alto do que o cobrado quando o Brasil empresta dinheiro para outros países, como a Bolívia. "IGP-DI, mais 7,5%, ao ano é uma excrescência". Ainda segundo o Portal da ALMG, "A renegociação da dívida, segundo Miranda, foi feita com a única preocupação de preservar os interesses dos investidores, que compravam títulos públicos dos Estados."
O jornal Folha de São Paulo mostra que o governo federal trabalha contra a aprovação de qualquer projeto que aumente os gastos sociais, sob a justificativa de que o país precisaria conter despesas para enfrentar a crise. O governo não aceita reajustes do funcionalismo público, o fim do fator previdenciário, ou o piso salarial nacional dos bombeiros e policiais dos estados (“PEC 300”). Diz o governo que não pode haver elevação nos gastos públicos, pois a crise pode reduzir a atividade econômica e reduzir a arrecadação tributária.
Porém, esta regra não se aplica aos gastos com a dívida pública federal, que neste ano (até 15 de agosto) já atingiram R$ 552,2 bilhões, o que representa nada menos que 53% do orçamento, conforme mostra o Dividômetro da Auditoria Cidadã da Dívida.
O Editorial do jornal O Globo elogia esta decisão do governo, alegando equivocadamente que os gastos com servidores seriam os vilões do orçamento.
Já a Folha Online  diz que o Brasil pratica juros altos “em razão do elevado gasto público e histórico de moratória, confisco e renegociações em décadas passadas”. Porém, cabe comentar que o Brasil não possui gasto público elevado, dado que pratica altíssimos superávits primários há mais de uma década. Os únicos gastos elevados são os destinados ao próprio pagamento da dívida. As taxas de juros são mantidas elevadas sob o argumento de combate à inflação, porém esta tem sido causada pela alta de alimentos, combustíveis e preços administrados pelo próprio governo, que não podem ser combatidos com alta de juros.
Conforme mostra a Folha Online, membros da equipe econômica dizem que, caso o parlamento aprove projetos que aumentam os gastos, o Brasil iria "se transformar em uma Grécia". Porém, cabe ressaltar que o governo brasileiro já age da mesma forma que o governo grego, contendo os gastos com servidores para privilegiar o pagamento da dívida.
Para garantir esta política nefasta na Europa, os governos da França e Alemanha propuseram um “governo econômico” para os 17 países da Zona do Euro, que seria comandado por uma única pessoa nomeada, conforme mostra outra  notícia da Folha Online. Este governante não-eleito teria por função “equilibrar as contas” destes países, leia-se, cortar gastos sociais para pagar a dívida. Tal proposta é a explicitação mais nefasta do poder absoluto e “biônico” do setor financeiro sobre os povos.
A notícia também mostra que os governos da França e Alemanha propuseram um Tributo sobre as Transações Financeiras, o que seria positivo, não fosse a destinação dos recursos: “aliviar a crise”, leia-se, salvar o próprio setor financeiro.

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