sexta-feira, 26 de agosto de 2011

Ano: 1964. Uma testemunha



O jornalista e historiador Aristóteles Drummond profere hoje, às 19h, a palestra Um caldeirão chamado 1964 "depoimento de um revolucionário, na Academia Maranhense de Letras (AML). Testemunha, ator e defensor de toda hora do movimento que levou à queda do presidente João Goulart em 31 de março de 1964, com a imediata ascensão dos militares ao poder, Drummond fará uma revisão desse importante momento da história nacional, com endosso de uma visão conservadora dos principais momentos da vida brasileira. A palestra, com entrada gratuita, é uma realização da Livraria Resistência Cultural. O ponto de vista de Aristóteles Drummond, conforme deixa ver em entrevista que concedeu a O Estado, diverge radicalmente do discurso hoje oficializado defendido de cátedras universitárias a palanques políticos. Sua defesa do conservadorismo "meritocraria, liberalismo econômico, valores cristãos, respeito à legalidade" o fez, há décadas, "persona non grata" à esquerda nacional. Líder aos 19 anos do Grupo de Ação Patriótica (GAP) " que se opunha à doutrinação marxista de José Serra (hoje PSDB) e outros na União Nacional dos Estudantes (UNE)", Aristóteles Drummond foi um dos personagens civis mais ativos na revolta contra as reformas do governo Goulart. "A ameaça comunista era real. Luís Carlos Prestes [secretário-geral do Partido Comunista Brasileiro] não iria mentir quando disse`já estamos no governo; nos falta o poder"", afirma. Ao fim da palestra, o autor vai autografar seu livro mais recente, Relatos da Vida "Um conservador integral (Armazém de Ideias, 2009), que será vendido ao preço promocional de R$ 30,00.

Resistência Cultural

"A Livraria Resistência Cultural, cuja sede física será inaugurada no início do próximo mês (Avenida dos Holandeses, anexa à Clínica Odontológica Maranhão), inicia suas atividades de realizadora cultural trazendo Aristóteles Drummond a São Luís. Em breve também constituída em editora, já organiza a publicação de Outras vozes, volume de ensaios literários do poeta pernambucano Ângelo Monteiro, e de A Hidra Vermelha, de Carlos Azambuja, clássico da ciência política brasileira há muito tempo esgotado.
O Estado - Embora apontando alguns erros, o senhor sempre foi um defensor dos acontecimentos de 64 e seus desdobramentos. Que significou aquele momento para a vida nacional?

Aristóteles Drummond - Foi a salvação nacional! Os governadores da Guanabara [Carlos Lacerda], Minas [Magalhães Pinto], São Paulo [Adhemar de Barros], Paraná [Ney Braga] e Rio Grande do Sul [Ildo Meneghetti] declararam apoio imediato ao movimento, que foi cívico-militar, portanto. O Manifesto de 31 de março era assinado pelo General Olympio Mourão e pelo Governador Magalhães Pinto.

O Estado - Mas hoje se aprende, desde a escola, que a ameaça comunista foi uma invenção dos militares, um "pretexto" para o "golpe". A ameaça era mesmo real?

Drummond - Claro que era! Luís Carlos Prestes não mentiria quando disse "já estamos no governo; nos falta o poder". A mais, todo o empresariado nacional apoiou o movimento. Basta se consultar os livros publicados sobre o assunto.

O Estado - O que o senhor tem a dizer àqueles que veem no período militar um momento antidemocrático da história brasileira, sempre falando em "tortura" e "porões da ditadura", AI-5 e Herzog?

Drummond - "Ora, ditadura nunca, autoritarismo sim. E esta questão de violência é mais um caso policial, e não de política. Os que podem ter sofrido violências " o que se lamenta sempre " eram ligados a atos de terrorismo com vítimas, inclusive fatais. Basta se ler os livros dos "militantes", cuja honestidade nos relatos é de se registrar. Deveriam falar é na austeridade dos governantes de então e no progresso do Brasil.

O Estado - Por que, então, restou uma imagem negativa do movimento de 64?

Drummond- " Os militares não souberam criar uma rede de apoio na sociedade civil, acreditando no reconhecimento popular pelo muito que fizeram pelo Brasil. Os políticos que apoiaram o movimento, quase todos, foram ficando velhos e, em 1985, poucos eram os que estavam no Parlamento, por exemplo. E hoje são poucos os remanescentes como José Sarney, Fernando Collor " foi prefeito de Maceió nomeado ", Bonifácio Andrada " era deputado estadual em Minas ", muito poucos.

O Estado - Você admira estadistas odiados pelas esquerdas, como Franco (Espanha), Salazar (Portugal) e Médici (Brasil). Com a abertura dos arquivos de Moscou, é possível dizer se havia interesse especial dos russos pelos países ibéricos?

Drummond - Sobre Portugal não apareceu nada. A Revolução dos Cravos, em 1974, mostra o interesse comunista no país e, em especial, nas províncias ultramarinas, que acabaram por levar à miséria e à guerra civil. Mas, quanto à Espanha, o correto historiador inglês Antony Beevor republicou seu livro Batalha da Espanha para corrigir a primeira edição face às descobertas nos arquivos secretos de Moscou: o Exército dito "republicano" era comandado, na verdade, por russos. Aqui no Brasil, o interesse era mais antigo, desde a Intentona de 35 que foi montada em Moscou, que enviou para o Brasil Olga Benário, ativista alemã do Partido Comunista.

O Estado - Ainda existe um "perigo comunista" no Brasil e no ocidente?

Drummond - De outra maneira, sim. Sem um comando como o da União Soviética, que hoje é mais uma republiqueta corrupta do que central revolucionária. O que existe é a campanha pelo afrouxamento ético e moral dos valores cristãos, do sentimento de pátria, a falta de apreço pelos militares, as ameaças à propriedade, a impunidade dos baderneiros. Grande figura é o primeiro-ministro David Cameron, mas que está apanhando da esquerda inglesa.

O Estado - Você promete fazer de sua palestra uma defesa do conservadorismo como fundamento da história brasileira. Poderia adiantar um pouco a respeito?

Drummond - O conservadorismo é o caminho da justiça social, do progresso, mas com ordem, segurança, respeito à maioria silenciosa, obreira, de bom senso. O conservadorismo, como existe hoje, é a vitória da meritocracia contra o aparelhamento político do Estado, que deu no que deu em todo o mundo. E aqui não tem sido diferente. Mas acho que mesmo neste grupo existe uma "banda boa", que amadureceu.

Saiba mais

Aristóteles Drummond é articulista de diversos jornais, entre os quais Diário do Comércio (SP), Jornal do Brasil (RJ) e Jornal Inconfidência (MG). Foi conselheiro e diretor da Light (Companhia Energética do Rio de Janeiro), membro do Diretório Nacional dos partidos ARENA, PDS, PPR e do atual PP. É vice-presidente da Associação Comercial do Rio de Janeiro e membro do PEN Clube do Brasil. É autor, entre outros, de A Revolução Conservadora (Topbooks, 1990) e Minas (Armazém de Ideias, 2002).


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