segunda-feira, 19 de outubro de 2009

Geopolítica

A Rússia na OTAN?
Três fatos recentes estão abrindo margem a especulações sobre a possibilidade do que seria a maior reviravolta estratégica do pós-guerra, uma eventual entrada da Federação Russa na Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN). O primeiro foi a decisão do presidente estadunidense Barack Obama de cancelar a construção de insalações antimísseis na Polônia e na República Checa, que afastou um dos principais contenciosos deixados por George Bush filho nas relações entre Washington e Moscou. O segundo foi o primeiro discurso público do novo secretário-geral da OTAN, Anders Fogh Rasmussen, no qual fez surpreendentes acenos à cooperação com a Rússia (Resenha Estratégica, 23/09/2009). E o terceiro, a anunciada intenção russa de comprar da França um porta-helicópteros da classe Mistral e construir sob licença outros dois navios iguais (Resenha Estratégica, 16/09/2009).
A perspectiva do ingresso russo na aliança atlântica foi levantada com todas as letras pelo correspondente do jornal londrino The Times em Moscou, Tony Halpin, em um artigo publicado em 28 de setembro com o auto-explicativo título "Agenda mundial: para Rússia, a maneira de evitar uma nova Guerra Fria é unir-se à OTAN". Halpin, que em um artigo posterior (2/10/2009) afirmou que a pretendida compra do Mistral por Moscou poderá enfrentar um antagonismo de Washington, não obstante, descreve as vantagens do processo:
Agora que os EUA e a Rússia se beijaram e se acertaram sobre a defensa antimísseis no Leste Europeu, há uma etapa seguinte lógica para evitar uma nova Guerra Fria. A Rússia deveria juntar-se à OTAN. A maioria dos fatores de irritação que inflamaram as relações com o Ocidente nos últimos anos se referia às percepções russas da ameaça de um "cerco" da OTAN rumo às suas fronteiras. Isto se tornaria redundante se ela também procurasse se tornar membro. A OTAN não tem nem mesmo que dizer "sim" imediatamente, para que os termos do relacionamento melhorem. O processo de engajamento atuaria como um poderoso estímulo para que Moscou repensasse o seu antagonismo diante dos Estados Bálticos, Ucrânia, Geórgia e, mais recentemente, a Polônia, uma vez que ganhar-lhes o apoio seria crucial para qualquer candidatura bem-sucedida.
Igualmente, também seria um teste para a OTAN. As fronteiras da aliança circundariam o Hemisfério Norte com a Rússia dentro da tenda, completando a sua transformação de um órgão enfocado principalmente na segurança européia em outro demonstravelmente engajado em assegurar a estabilidade global, como se vê no Afeganistão. (...)
O presidente [Dmitri] Medvedev tem procurado solucionar as tensões com a proposta de uma nova estrutura de segurança pan-européia. Mas a maioria dos Estados da OTAN não está interessada em reinventar a roda, em parte por suspeitar dos motivos de Moscou. Entretanto, uma candidatura à OTAN incentivaria a aliança a refletir sobre a necessidade de tranquilizar-se por parte de Moscou. E também desativaria as tensões com a Ucrânia em torno do destino da frota russa do Mar Negro na Criméia, se ambos estivessem na OTAN.
Halpin recordou, também, que, na primeira reunião entre os então presidentes Vladimir Putin e George W. Bush, em 2001, na Eslovênia, o líder russo disse ao seu colega estadunidense que, em 1954, após a morte de Stálin, a URSS havia feito uma tentativa secreta de ingressar na OTAN (a qual foi rechaçada pelo eixo Washington-Londres). Na ocasião, perguntado se a Rússia poderia juntar-se à aliança, Putin teria respondido: "Por que não?"
Como enfatizamos anteriormente sobre o potencial entendimento entre Moscou e o Ocidente, especialmente os EUA, ainda é cedo para celebrar a redução das temperaturas políticas e o estabelecimento de um quadro mais baseado na cooperação do que na confrontação. Não obstante, também é fato que a rápida evolução da crise global está favorecendo a emergência de configurações políticas extremamente interessantes, não apenas para os seus protagonistas, mas para toda a humanidade.
Movimento de Solidariedade Ibero-Americano

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