Associação livre
Do mesmo modo que hoje escrevo, amanhã falo e
descrevo. Depois que me despeço, volto a despedir-me e ajudo a despedir de
novo. Para que falo, para que ouço, se não me calo e não me toco. Deslizo
devagar, mas ininterruptamente, sem esperar a resposta porque perguntas não
fiz. Devolvo a angústia parada na garganta e vejo que ela persiste, embora mais
suave, porém presente. Descubro a saída, mas não a uso. Receio o novo caminho,
porque só conheço o velho. Mais tarde mudo de opinião e tento de novo. Não sinto
nada mais que uma nova emoção, a emoção de tentar e descobrir que o novo é bom.
Vivo outra vez a estranheza do inusitado e quase não me dou conta de que estava
apenas repetindo uma experiência anterior. Foi como sonhar acordado e sentir um
sonho acabado, sendo apenas um sonho. Busquei a luz e vi a escuridão ao longe,
porém ameaçadora. Agressiva em sua forma, em seu cheiro, sua bruma, seu mistério
e em sua impenetrabilidade. Prefiro o clarão, mas constato que ele é tão escuro
e impenetrável quanto o é a escuridão. Às vezes cega, igual ao que se passa com
a escuridão. Associo o frio à escuridão e, com o frio, mais a temo. Fascina-me
o esplendor do céu. A qualquer hora. Agrada-me o céu nublado, seja de nuvens
brancas ou negras. Neste último caso, sinto-me como se estivesse protegido,
abrigado, no útero materno. Com as nuvens claras me vem a emoção da beleza
inaudita. O horizonte, às vezes, me desperta uma saudade ou melancolia
incompreensíveis. Transporto-me, parece, a um outro plano da existência. “Desligo-me”,
ou sou desligado, por segundos, do plano “normal”, alçando-me a uma outra
dimensão, a qual não sei explicar, apenas sentir. Os ventos. Eles me trazem uma
certa tristeza, até mesmo quando são agradáveis ao corpo, à face, aos cabelos. No
frio intenso do inverno, os ventos me parecem “mortais”, avivadores das
feridas, das tristezas e das melancolias, que teimam em não cicatrizar, em
permanecer!
Jayr Dezolt é funcionário aposentado
do BC. Pai e esposo dedicado à família. Amigo sincero. Cidadão brasileiro exemplar
e, como modestamente gosta de dizer, alma poética “sem compromisso”.
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