Publicado em 11 de dezembro de 2012 no Viomundo
Por Apio Gomes, no portal do
PDT, via Amilcar
Brunazzo Filho
Um novo caminho para fraudar as eleições
informatizadas brasileiras foi apresentado ontem (10/12) para as mais de 100
pessoas que lotaram durante três horas e meia o auditório da Sociedade de
Engenheiros e Arquitetos do Rio de Janeiro (SEAERJ), na Rua do Russel n° 1, no
decorrer do seminário “A urna eletrônica é confiável?”, promovido pelos
institutos de estudos políticos das seções fluminense do Partido da República
(PR), o Instituto Republicano; e do Partido Democrático Trabalhista (PDT), a
Fundação Leonel Brizola-Alberto Pasqualini. Acompanhado por um especialista em transmissão de
dados, Reinaldo Mendonça, e de um delegado de polícia, Alexandre Neto, um jovem hacker de
19 anos, identificado apenas como Rangel por questões de segurança, mostrou
como — através de acesso ilegal e privilegiado à intranet da Justiça Eleitoral
no Rio de Janeiro, sob a responsabilidade técnica da empresa Oi – interceptou
os dados alimentadores do sistema de totalização e, após o retardo do envio
desses dados aos computadores da Justiça Eleitoral, modificou resultados
beneficiando candidatos em detrimento de outros – sem nada ser oficialmente
detectado. “A gente entra na rede da Justiça Eleitoral quando
os resultados estão sendo transmitidos para a totalização e depois que 50% dos
dados já foram transmitidos, atuamos. Modificamos resultados mesmo quando
a totalização está prestes a ser fechada”, explicou Rangel, ao detalhar em
linhas gerais como atuava para fraudar resultados. O depoimento do hacker – disposto a colaborar com
as autoridades – foi chocante até para os palestrantes convidados para o
seminário, como a Dra. Maria Aparecida Cortiz, advogada que há dez anos
representa o PDT no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) para assuntos
relacionados à urna eletrônica; o professor da Ciência da Computação da
Universidade de Brasília, Pedro Antônio Dourado de Rezende, que estuda as
fragilidades do voto eletrônico no Brasil, também há mais de dez anos; e o
jornalista Osvaldo Maneschy, coordenador e organizador do livro Burla Eletrônica,
escrito em 2002 ao término do primeiro seminário independente sobre o sistema
eletrônico de votação em uso no país desde 1996. Rangel, que está vivendo sob proteção policial e já
prestou depoimento na Polícia Federal, declarou aos presentes que não atuava
sozinho: fazia parte de pequeno grupo que – através de acessos privilegiados à
rede de dados da Oi – alterava votações antes que elas fossem oficialmente
computadas pelo Tribunal Regional Eleitoral (TRE). A fraude, acrescentou, era feita em benefício de
políticos com base eleitoral na Região dos Lagos – sendo um dos beneficiários
diretos dela, ele o citou explicitamente, o atual presidente da Assembléia
Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj), o deputado Paulo Melo (PMDB).
A deputada Clarissa Garotinho, que também fazia parte da mesa, depois de
dirigir algumas perguntas a Rangel - afirmou que se informará mais sobre
o assunto e não pretende deixar a denúncia de Rangel cair no vazio. Fernando Peregrino, coordenador do seminário, por
sua vez, cobrou providências: “Um crime grave foi cometido nas eleições
municipais deste ano, Rangel o está denunciando com todas as letras – mas
infelizmente até agora a Polícia Federal não tem dado a este caso a importância
que ele merece porque ele atinge a essência da própria democracia no
Brasil, o voto dos brasileiros” – argumentou Peregrino. Por ordem de apresentação, falaram no seminário o
presidente da FLB-AP, que fez um histórico do voto no Brasil desde a República
Velha até os dias de hoje, passando pela tentativa de fraudar a eleição de
Brizola no Rio de Janeiro em 1982 e a informatização total do processo, a
partir do recadastramento eleitoral de 1986. A Dra. Maria Aparecida Cortiz, por sua vez, relatou
as dificuldades para fiscalizar o processo eleitoral por conta das barreiras
criadas pela própria Justiça Eleitoral; citando, em seguida, casos concretos de
fraudes ocorridas em diversas partes do país – todos abafados pela Justiça Eleitoral.
Detalhou fatos ocorridos em Londrina (PR), em Guadalupe (PI), na Bahia e no
Maranhão, entre outros. Já o professor Pedro Rezende, especialista em
Ciência da Computação, professor de criptografia da Universidade de Brasília
(UnB), mostrou o trabalho permanente do TSE em “blindar” as urnas em uso no
país, que na opinião deles são 100% seguras. Para Rezende, porém, elas são
“ultrapassadas e inseguras”. Ele as comparou com sistemas de outros
países, mais confiáveis, especialmente as urnas eletrônicas de terceira
geração usadas em algumas províncias argentinas, que além de imprimirem o voto,
ainda registram digitalmente o mesmo voto em um chip embutido na cédula,
criando uma dupla segurança. Encerrando a parte acadêmica do seminário, falou o
professor Luiz Felipe, da Coppe da Universidade Federal do Rio de Janeiro, que
em 1992, no segundo Governo Brizola, implantou a Internet no Rio de Janeiro
junto com o próprio Fernando Peregrino, que, na época, presidia a Fundação de
Amparo à Pesquisa do Rio de Janeiro (Faperj). Luis Felipe reforçou a idéia de
que é necessário aperfeiçoar o sistema eleitoral brasileiro – hoje inseguro, na
sua opinião. O relato de Rangel – precedido pela exposição do
especialista em redes de dados, Reinaldo, que mostrou como ocorre a fraude
dentro da intranet, que a Justiça Eleitoral garante ser segura e inexpugnável –
foi o ponto alto do seminário. Peregrino informou que o seminário será
transformado em livro e tema de um documentário que com certeza dará origem a
outros encontros sobre o mesmo assunto – ano que vem. Disse ainda estar
disposto a levar a denuncia de Rangel as últimas conseqüências e já se
considerava um militante pela transparência das eleições brasileiras: “Estamos
aqui comprometidos com a trasnparência do sistema eletrônico de votação e com a
democracia no Brasil”, concluiu. (OM)
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