quinta-feira, 16 de janeiro de 2014

Benayon: Feito dependente químico, Brasil corre atrás de capital estrangeiro

O professor no programa Provocações, da TV Cultura


Quatro dos seis filhos do professor Adriano Benayon vivem fora do Brasil. Canadá, Dinamarca, Holanda…
Ele diz que isso é sintomático. Jovens recém-formados que pretendem expressar seu conhecimento de forma criativa não encontram espaço em terras brasileiras.
Aqui, a dominação estrangeira da economia não prevê a criação de empregos de alta qualidade, reservados para centros tecnológicos de além-mar, com raríssimas exceções.
O próprio economista, doutor pela Universidade de Hamburgo, na Alemanha, às vezes sente o impulso de mudar-se daqui. Argentina, talvez? Aparentemente o professor se sente isolado.
Não consegue travar o debate que vem propondo faz tempo. Pelo menos não com a repercussão necessária.
Adriano Benayon também foi diplomata. Serviu na Holanda, Paraguai, Bulgária, Alemanha, Estados Unidos e México. Além disso foi consultor parlamentar na Câmara e no Senado Federal.
Hoje morando em Brasília, prepara o lançamento de uma coletânea de seus escritos, Economia Política, pela Fundação João Mangabeira, ligada ao PSB. Seu livro anterior é Globalização versus Desenvolvimento.
O professor acredita que o debate sobre a economia brasileira — subir ou não os juros, mexer ou não nos reajustes do salário mínimo — foca no periférico para evitar o principal: a dependência do capital estrangeiro.
O Brasil, na visão de Benayon, está entregue. Não merece figurar nos chamados BRICs, ao lado de Rússia, Índia e China, pois não dispõe de grau de soberania equivalente ao dos outros três.
“O Brasil está amarrado pelos oligopólios”, afirma. Eles formam os preços praticados no Brasil, dando pouca margem de manobra ao governo de plantão, inclusive no controle da inflação.
Segundo Benayon, estas corporações fazem maquiagens contábeis para aumentar a remessa de lucros, obtém concessões tributárias de todo tipo e, através de prepostos, comandam setores da economia.
O poder oligopólico permite a elas formar os preços do jeito que bem entendem. É por isso que os brasileiros, por exemplo, pagam três vezes o valor de um mesmo automóvel vendido no Exterior.
“Tudo está voltado para servir pagamentos no Exterior”, diz ele.
O ex-presidente Lula ensaiou mudanças, em 2002. Por exemplo, quando colocou o economista Carlos Lessa para dirigir o BNDES.
Depois, no segundo mandato, segundo Benayon, Lula recuou.
Indicou Marina Silva para o ministério e Henrique Meirelles para o Banco Central. Este, notadamente ligado ao Banco de Boston. Aquela, hoje possível candidata a vice na chapa de Eduardo Campos, do PSB, ligada ao capital financeiro britânico que controla, entre outros, o banco Santander.
Dilma Rousseff, na visão de Benayon, retomou a agenda que vem de Fernando Henrique Cardoso. Na verdade, segundo o professor, o Brasil vive sob governos mais ou menos entreguistas desde o golpe da UDN contra Getúlio Vargas, em 1954. No início de 1955 foram tomadas medidas econômicas que deram grandes vantagens às montadoras de veículos, dentre as quais a Volkswagen.
Juscelino Kubistchek seria, portanto, um falso desenvolvimentista. As vantagens ao capital estrangeiro foram aprofundadas durante a ditadura militar. Collor, Itamar, Sarney, FHC. O tucano, na visão de Benayon, foi o grande entreguista. Vendeu a Vale. Promoveu as privatizações. Criou as agências reguladoras que são biombos das empresas que deveriam vigiar.
Numa delas, a Agência Nacional do Petróleo, hoje em dia está instalada Magda Chambriard, denunciada como “entreguista” por nacionalistas que militam no setor do petróleo, com os quais Benayon se identifica.
FHC passou a lei complementar 87, conhecida como Lei Kandir, em 13 de setembro de 1996. Com isso, ficaram isentos de ICMS os produtos primários destinados à exportação. Ponto para as mineradoras controladas pelo capital internacional, dentre as quais a Vale — e para os capitalistas brasileiros associados a ele.
FHC também passou a lei 9.478, de 6 de agosto de 1997, que acabou com o monopólio da Petrobras em todas as atividades relativas ao setor do petróleo e abriu espaço para concessões a empresas estrangeiras. FHC colocou à venda parte das ações da empresa na bolsa de Nova York. Queria mudar o nome da estatal para Petrobrax.
Dilma Rousseff, com as concessões de estradas e aeroportos e o leilão de Libra, na opinião de Benayon segue a mesma trilha: a tentativa de atrair capital estrangeiro para fechar as contas.
Este é, na avaliação do professor, o verdadeiro problema da economia brasileira. Um fluxo permanente de recursos para o Exterior. Enfrentado com medidas para atrair mais dinheiro de fora. Por exemplo, com a elevação das taxas de juros. O dinheiro vem, mas remunerado nas alturas. E o trabalho do povo brasileiro, em vez de financiar investimentos no próprio Brasil, é desviado para remunerar o capital estrangeiro. Cada vez mais.
A dívida interna, resultado da dívida externa, já bateu em R$ 3 trilhões. Os juros e amortizações comem mais de 40% do Orçamento. Falta dinheiro para fazer os hospitais, as escolas e as creches que os jovens reclamaram nas ruas em 2013.
Adriano Benayon compara a situação à dependência química. O dependente, no caso o Brasil, combate a crise de abstinência com mais da droga que está na origem do problema.
Sendo assim, na avaliação dele uma crise nas contas externas é apenas questão de tempo. Como, aliás, tem sido: de forma cíclica. O arrocho, na forma de desemprego, inflação e deterioração da qualidade de vida, seria o resultado inevitável — como se dá, aliás, hoje em dia, na periferia da Europa. Arrocho para garantir o dinheiro que remunera o capital investido no Brasil.
Provoquei o professor Benayon: mas, se a situação é assim tão grave, por que não sai na mídia comercial? Ele riu. Entendi a resposta: a mídia patronal é aquela que ajuda a sustentar o modelo, é patrocinada pelos grandes oligopólios que controlam setores completos da economia brasileira e não tem interesse no debate que, modestamente, esperamos ajudar a travar.
Aliás, só podemos fazê-lo graças à contribuição dos assinantes do Viomundo — que, como todos os nossos leitores, acreditam no jornalismo independente.

Fiquem com a íntegra da entrevista do professor Benayon, em duas partes:

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