Por Said Barbosa Dib, historiador e analista político em Brasília
Fui parar, por acidente, no blog da jornalista Andréia Sadi, no G1. Sou de boa família e não costumo frequentar páginas deste nível. Foi acidente. Juro! Estava pesquisando no Google o nome de Fernando Haddad e caí no link. Era matéria chamada “Resistência de Lula frustra Haddad, queteme pouco tempo para transferência de votos”. Pelo título, fui induzido a achar que a jovem jornalista tinha entrevistado Lula, Haddad ou alguém que tivesse presenciado o encontro entre o ex-presidente e o ex-prefeito de São Paulo. Mas não vi na matéria nada que indicasse que as conclusões psicanalíticas ou jurídicas da moça (“Resistência de Lula frustra Haddad...”) eram verdadeiras.
Sim! “Frustração” é conceito ou da psicanálise ou do direito. Na ciência criada por Freud é o sentimento de um indivíduo quando impedido por outro (os), ou por si mesmo, de atingir a satisfação de uma exigência pulsional, ou seja, algo intensamente emocional, impulsivo e, por definição, irracional. Não me parece ser o caso de Haddad. No texto não há nada que me convença de que o candidato a vice de Lula tenha demonstrado “frustração” ou tenha declarado isso. Pelo contrário, vi entrevistas com ele com jornalistas mais honestos na saída do encontro com Lula em que demonstrava grande otimismo e satisfação com relação ao ex-presidente. No artiguete fajuto da repórter não se vê frases entre aspas que mostrassem que houve uma entrevista da jornalista com os personagens descritos.
No direito “frustração” é ato que visa iludir a lei, e que, quando empregado com violência ou fraude, constitui crime, punido pela legislação penal. Como Andréia Sadi não é nem psicanalista, nem jurista e, mal e parcamente, exerce um jornalismo sofrível, cheguei à conclusão de que ela tem a capacidade da transmorfia, que é, na ficção, a capacidade de um ser ou criatura de assumir a forma de qualquer animal. Sadí, como a bruxa Madame Min, da Disney, se transformou num mosquito e adentrou a sede da Polícia Federal em Curitiba. Conseguiu ela mesma presenciar o diálogo entre Lula e Haddad e pode analisar, com sua inteligência criativa, toda a situação.
Ela chega a afirmar: “Ao sair da visita ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva na segunda-feira (3), preso em Curitiba, Fernando Haddad estava frustrado. Foi ao encontro do padrinho político com a certeza de que Lula daria o sinal verde para o anúncio ainda na segunda da chapa Haddad-Manuela D'Ávila”. Além de uma repórter mosquitão bastante oportunista e com claras virtudes de onipresença, Sadí é também futuróloga e leitora de mentes. Apesar das frases longas e cansativas de se ler, ela se mostrou também uma bruxa do jornalismo. Pois, vejamos como adivinha, sem qualquer entrevista ou informação de terceiros, o que a dupla petista pensa: “Diante deste cenário, Haddad e seus aliados temem o impacto real da transferência de votos de Lula para Haddad. Afirmam, à cúpula petista, que se a candidatura de Lula deixar de existir no discurso no dia 11 de setembro – como defendem os interlocutores de Haddad e como estipulou a Justiça Eleitoral como data máxima para a troca – o partido terá cerca de dez programas na TV para trabalhar a transferência de votos”.
Olha que escrita cansativa e mal feita... E neste trecho, ousa vaticinar (sem ter entrevistado o ex-presidente e o seu vice): “Lula quer que os advogados insistam na estratégia jurídica e aliados, no discurso político, para manter a narrativa de que está preso injustamente – apesar da condenação em segunda instância pelo Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF-4)”. Que coisa horrorosa! A moça deveria ficar apenas no jornalismo falado... Percebam, mais uma vez, o tamanho cansativo da frase. Ela parece que nunca leu o excelente Manual de Redação e Estilo” do O Globo. A Andréia “Madame Min” Sadí tem muito o que aprender ainda. Mas, muito mais do que melhorar na escrita precisa se tornar uma repórter de verdade, não uma criadora irresponsável de notícias falsas
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