Chutando a Escada
O título vulgar esconde o bom livro que tem como subtítulo “A estratégia do desenvolvimento em perspectiva histórica”. O autor é Ha-Joon Chang e a editora a Unesp. O título infeliz deseja dizer que as nações que se desenvolveram a custa de políticas de nacionalismo protecionista, agora, que ficaram ricas, estão jogando fora a escada na qual subiram, porque não é mais necessária. Comentários à parte, é um excelente livro, repleto de análises históricas sobre as economias dos países do mundo desenvolvido, fazendo abordagens das políticas de crescimento, relações internacionais e estratégias adotadas. É possível verificar que nenhuma nação rica deixou de adotar uma política de proteção à sua indústria e barreiras às importações de produtos manufaturados, a começar pela Grã-Bretanha onde, desde 1327, Eduardo VII estabeleceu proteção à produção local dos tecidos de lã. Depois de ricos passaram a adotar a doutrina da liberdade de comércio que, através da história, chegou até nossos dias com o nome de neoliberalismo. Assim, o que vemos hoje nas receitas de austeridade e total abertura de mercados nada mais é do que a velha fórmula de mandar fazer o que não faço. O dr. Chang, que é diretor de estudos na Universidade de Cambridge, analisa país por país, suas políticas econômicas adotadas no passado e suas hipocrisias do presente. Para nós, brasileiros, sua leitura é bastante atual, porque estamos vivendo os problemas que as nações ricas enfrentaram, com a invasão do nosso mercado por produtos industrializados de outros países, importadores de matéria prima barata e mão de obra mais ainda, diga-se China. Temos, assim, neste livro, uma soma de informações sobre história econômica que nos ajuda a reforçar a necessidade de políticas de proteção à indústria nacional e oferecer medidas que não signifiquem facilitar a invasão de nosso mercado, fazendo aquilo que os outros países jamais fizeram: incentivar a importação, como ocorre em vários portos brasileiros. Outro aspecto da análise deste livro é a necessidade de não deixar que a especulação financeira ofereça vantagens que impliquem em liquidar com a indústria nacional, como é o caso do câmbio.
Numa síntese final, o autor diz que a “boa governança”, imposta pelos países do mundo rico, é mandar os pobres chutarem a escada antes que por ela tenham subido a riqueza e o desenvolvimento. Continuarem ricos e os pobres sempre pobres.
José Sarney foi governador, deputado e senador pelo Maranhão, presidente da República, senador do Amapá por três mandatos consecutivos, presidente do Senado Federal por três vezes. Tudo isso, sempre eleito. São 55 anos de vida pública. É também acadêmico da Academia Brasileira de Letras (desde 1981) e da Academia das Ciências de Lisboa.
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