A democracia, como já se disse, de todos os
sistemas de governo, é o menos ruim. Concordo totalmente. O defeito mais grave,
embora não se justifique jamais sua condenação como sistema, é o fato de se
basear não na racionalidade, na lógica, mas na emoção, nos sentimentos e
empatias criadas, portanto, na irracionalidade dos humores do povão, nos atos
demagógicos, nos jogos de cena para a sociedade de massas. Contradição de precisamos saber administrar. Um exemplo: os nobres
parlamentares, Janete Capiberibe, Eduardo Suplicy e Randolfe Rodrigues, que se
dizem arautos da moralidade, afirmaram com toda pompa que, agora (depois que a
mídia chiou, claro!), vão pagar IR sobre ajuda de custo. Legal! Concordo. Muito
bonitinho e coisa e tal. Mas a perguntinha que fica é: se fosse apenas por consciência
ética, por “imperativo moral”, como dizia Kant, porque não fizeram isso antes, como
disse ter feito o senador Álvaro Dias (PSDB-PR), que, independente do Senado, teria
acertado a pendência com a Receita Federal em outubro, desembolsando R$ 73 mil
pelo IR não recolhido? Eu respondo: por que se trata apenas da mais deslavada e,
como dizia Dacy Ribeiro, “façanhuda” e espertalhona DEMAGOGIA. Acham que o povão
é besta. Parlamentares que não possuem posições relevantes no Congresso, que não
têm atuações substanciais, são, infelizmente, obrigados a partir para este tipo
de subterfúgio para alguns minutos de “glória” diante dos holofotes. Os
assessores de imprensa dessa gente deveriam advertir seus chefes sobre estas
ações tolas, pois como dizia Nelson Rodrigues, a “massa é burra”... mas nem
tanto, digo eu. Os tempos são outros. E como diz meu amigo, o jornalista Vicente
Limongi Netto, falando sobre o criativo senador Cristovam Buarque, despedido
por telefone por Lula, “tem gente que não pode ver nem luz de geladeira aberta que
já se transforma em Madre Tereza de Calcutá, berrando asneiras”, com toda
aparente e apaixonada “convicção”. É isso.
sexta-feira, 23 de novembro de 2012
terça-feira, 20 de novembro de 2012
Mauricio Dias: “Gurgel volta a atacar”
Desde julho, portanto há quase meio ano, a Câmara dos Deputados é a única instituição sem representação no Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP), integrado por 14 representantes de variadas instituições nacionais. Essa demora já seria ruim se resultasse de entraves burocráticos. Mas a razão é outra. E é bem estranha. A indicação da Câmara está bloqueada pelas ações do procurador-geral da República, Roberto Gurgel, contra a posse do professor Luiz Moreira, aprovado inicialmente para um segundo mandato de dois anos na função. Eis algumas evidências do bloqueio que Gurgel faz ao que a Câmara aprovou. Malsucedido naquela casa, o procurador-geral transferiu o palco de sua trama para o Senado. Em e-mail do dia 5/6/2012 da Rede Membros do Ministério Público Federal, o procurador Matheus Magnani (MP-SP) relata desabridamente a campanha contra Moreira, que obteve 359 votos no plenário da Câmara, após ter sido indicado pela unanimidade dos líderes partidários.
“Pessoal: conversando com o assessor parlamentar do MPF (Ministério Público Federal) acabo de receber a informação de que a recondução do Luiz Moreira (…) apenas ocorrerá por falta de uma iniciativa concreta em sentido contrário. Portanto, ela é absolutamente evitável (…) O mesmo assessor disse que uma iniciativa concreta (…) tornará a recondução muito mais difícil. Pergunto: nada será feito?”
Outros procuradores se envolveram na trama desse procurador-geral “pantagurgélico”. Que Rabelais perdoe a singela insinuação com a troca de letras.
Um dos integrantes do complô propôs uma campanha capitaneada pela Associação Nacional dos Procuradores, após o “assessor parlamentar” José Arantes propor “algo concreto” como uma carta aberta do MPF com pelo menos 30 assinaturas de diversas regiões do País. Se possível encabeçada pelo presidente da citada associação supostamente para dar “mais peso” ao veto.
Uma campanha apócrifa, um dossiê de quatro páginas, precedeu a tudo isso e circulou pelo Congresso. A acusação mais grave contra Moreira é a mais frágil. Ele teria sido reprovado no exame da OAB. Bacharel em Direito, ele, porém, nunca exerceu a advocacia. Por isso não se submeteu ao exame da Ordem. Optou pela academia. É Doutor em Direito e Mestre em Filosofia pela Universidade Federal de Minas Gerais, além de Diretor Acadêmico da Faculdade de Direito de Contagem.
Moreira pediu ao CNMP a apuração administrativa, cível e criminal das denúncias do dossiê. Um já foi arquivado. Dos outros dois não se tem notícia. Vai ver que também descansam em paz nas gavetas de procuradores do Distrito Federal.
Gurgel tentou evitar a sabatina de Luiz Moreira na Comissão de Constituição e Justiça do Senado. E chegou a pedir isso ao presidente da casa, José Sarney. Falou com mais gente: Eduardo Braga, líder do governo, e Renan Calheiros. A sabatina só não foi cancelada porque o deputado Marco Maia, presidente da Câmara, não aceitou o adiamento. Ele foi aprovado.
O procurador-geral contra-atacou e conta com o esforço de dois Pedros: Taques (PDT) e Simon (PMDB). Eles conseguiram adiar o ato final. Pediram o sobrestamento da votação em plenário para que sejam ouvidos os procuradores anti-Moreira.
Gurgel conta com alguns senadores para tentar derrotar os deputados.
A sereia e o desconfiado
No dia 28 de setembro, em pleno julgamento do chamado “mensalão” no STF, o procurador-geral da República, Roberto Gurgel, deu um pulo em Fortaleza para receber o troféu “Sereia de Ouro”, oferecido à “Personalidade do Ano” pelos critérios da TV Verdes Mares. A emissora é da família Queiroz, cuja herdeira, Renata, é esposa do ex-senador e líder político tucano Tasso Jereissati. Esse pessoal já foi mais discreto nessas comemorações.
Maurício Dias é jornalista, editor especial e colunista da edição impressa de CartaCapital. mauriciodias@cartacapital.com.br
Matérias relacionadas:
Mauro Santayana: "Os juízes e a voragem do poder"
Alguns juízes do STF – felizmente nem todos eles -
estão vivendo dias de soberbo deslumbramento, com a condenação dos réus da Ação
470. Sentem-se os senhores da República. Para
tal, não se ativeram apenas à letra dos códigos, à jurisprudência
conhecida, ou ao saber da experiência feito. Diante do clamor de comentaristas de alguns jornais e emissoras
de televisão, decidiram que decepariam
a cabeça de alguns acusados de corromper membros do poder legislativo. O
objetivo, segundo a denúncia do MP, seria o da aprovação de medidas
consideradas necessárias à governabilidade. Dosadas as penas, conforme a linguagem
que usaram, os intransigentes defensores da moralidade pública flutuam - sobre
as alvas e brandas nuvens da popularidade. Um dos alvos preferenciais dos
justiceiros foi o ex-chefe da Casa Civil do governo Lula, José Dirceu. Não nos
alinhamos ao maniqueísmo ideológico, e, portanto, não vemos em Dirceu o
esquerdista incendiário do passado, mas tampouco o grande estadista dos últimos
anos. Quando de sua cassação, lembramos que
fizera desafetos, por não ter atuado com a necessária cortesia política,
mais exigida ainda quando lhe cabia negociar com o parlamento, em nome do Chefe
de Governo. Até mesmo os ministros ditatoriais, quando civis, atuam com essa
atenção. Delfim Neto ficava em seu
gabinete até a madrugada, a fim de dar uma palavra amável a todos os que
aguardassem ser chamados. Mas esse comportamento, incomum a alguém que nasceu
em Minas, foi punido com exagerado rigor com a decisão de seus pares. Ativeram-se,
os que o condenaram a mais de 11 anos de prisão, a uma doutrina absolutamente
alheia ao processo: a teoria do domínio do fato. Essa teoria, por mais
interessante possa ser, não faz parte de nossos códigos, nem da tradição de
nossos pensadores do Direito. Ela, embora tenha nascido na Idade Média,
associada a razões teológicas, foi reavivada em Nuremberg, para punir os chefes
nazistas. Atualizada há poucos anos pelo jurista alemão Claus Roxin, serviu
para punir, entre outros, o general Videla, na Argentina, e Fujimori, no Peru. Em
entrevista à Folha de S. Paulo, Roxin foi claro, ao afirmar que o seu
pensamento não foi devidamente assimilado pelos juízes do STF: para estabelecer
o “domínio do fato” é necessário mais do que a presunção do julgador. É preciso
que haja provas incontestáveis de que a ordem para a execução dos delitos
apontados tenha realmente partido do réu – como as houve no caso dos dois
ditadores latinoamericanos. Enfim, falta o “ato de ofício” – ausência que
socorreu Collor, mas não José Dirceu. A “neutralidade” ativa dos que o
condenaram – e condenaram outros na mesma situação – está sendo glorificada por
parte da opinião publicada. Até que a História trate devidamente do assunto.
Mauro Santayana
é um jornalista autodidata brasileiro. Prêmio Esso de Reportagem de 1971. Trabalhou,
no Brasil e no exterior, para jornais e publicações como Diário de Minas,
Binômio, Última Hora, Manchete, Folha de S. Paulo, Correio Brasiliense, Gazeta
Mercantil e Jornal do Brasil, onde mantêm uma coluna de comentários políticos.
segunda-feira, 19 de novembro de 2012
Luiz Felipe Ponde: “Guarani Kaiowá de boutique”
As redes sociais são mesmo a maior vitrine da
humanidade, nelas vemos sua rara inteligência e sua quase hegemônica banalidade. A
moda agora é "assinar" sobrenomes indígenas no Facebook. Qualquer
defesa de um modo de vida neolítico no Face é atestado de indigência mental. As
redes sociais são um dos maiores frutos da civilização ocidental. Não se
"extrai" Macintosh dos povos da floresta; ao contrário, os povos da
floresta querem desconto estatal para comprar Macintosh. E quem paga esses
descontos somos nós. Pintar-se como índios e postar no Face devia ser incluído
no DSM-IV, o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais. Desejo tudo de bom para nossos compatriotas
indígenas. Não acho que devemos nada a eles. A humanidade sempre operou por
contágio, contaminação e assimilação entre as culturas. Apenas hoje em dia
equivocados de todos os tipos afirmam o contrário como modo de afetação ética. Desejo
que eles arrumem trabalho, paguem impostos como nós e deixem de ser dependentes
do Estado. Sou contra parques temáticos culturais (reservas) que incentivam
dependência estatal e vícios típicos de quem só tem direitos e nenhum dever.
Adultos condenados a infância moral seguramente viram pessoas de mau-caráter
com o tempo. Recentemente, numa conversa profissional, surgiu a questão do
porquê o mundo hoje tenderia à banalidade e ao ridículo. A resposta me parece
simples: porque a banalidade e o ridículo foram dados a nós seres humanos em
grandes quantidades e, por isso, quando muitos de nós se juntam, a banalidade e
o ridículo se impõem como paisagem da alma. O ridículo é uma das caras da
democracia. O poeta russo Joseph Brodsky no seu ensaio "Discurso
Inaugural", parte da coletânea "Menos que Um" (Cia. das Letras;
esgotado), diz que os maus sentimentos são os mais comuns na humanidade; por
isso, quando a humanidade se reúne em bandos, a tendência é a de que os maus
sentimentos nos sufoquem. Eu digo a mesma coisa da banalidade e do ridículo. A
mediocridade só anda em bando. Este fenômeno dos "índios de Perdizes"
é um atestado dessa banalidade, desse ridículo e dessa mediocridade. Por isso,
apesar de as redes sociais servirem para muita coisa, entre elas coisas boas,
na maior parte do tempo elas são o espelho social do ridículo na sua forma mais
obscena. O que faz alguém colocar nomes indígenas no seu "sobrenome"
no Facebook? Carência afetiva? Carência cognitiva? Ausência de qualquer senso
do ridículo? Falta de sexo? Falta de dinheiro? Tédio com causas mais comuns
como ursinhos pandas e baleias da África? Saiu da moda o aquecimento global,
esta pseudo-óbvia ciência? Filosoficamente, a causa é descendente dos delírios
do Rousseau e seu bom selvagem. O Rousseau e o Marx atrasaram a humanidade em
mil anos. Mas, a favor do filósofo da vaidade, Rousseau, o homem que amava a
humanidade, mas detestava seus semelhantes (inclusive mulher e filhos que
abandonou para se preocupar em salvar o mundo enquanto vivia às custas das
marquesas), há o fato de que ele nunca disse que os aborígenes seriam esse bom
selvagem. O bom selvagem dele era um "conceito"? Um "mito",
sua releitura de Adão e Eva. Essas pessoas que andam colocando nomes de tribos
indígenas no seu "sobrenome" no Face acham que índios são lindos e
vítimas sociais. Eles querem se sentir do lado do bem. Melhor se fossem a uma
liquidação de algum shopping center brega qualquer comprar alguma máquina para
emagrecer, e assim, ocupar o tempo livre que têm. Elas não entendem que índios
são gente como todo mundo. Na Rio+20 ficou claro que alguns continuam pobres e
miseráveis enquanto outros conseguiram grandes negócios com europeus que, no
fundo, querem meter a mão na Amazônia e perceberam que muitos índios aceitariam
facilmente um "passaporte" da comunidade europeia em troca de grana.
Quanto mais iPad e Macintosh dentro desses parques temáticos culturais melhor
para falar mal da "opressão social". Minha proposta é a de que todos
que estão "assinando" nomes assim no Face doem seus iPhones para os
povos da floresta.
Luiz Felipe
Pondé, pernambucano, filósofo,
escritor e ensaísta, doutor pela USP, pós-doutorado em epistemologia pela
Universidade de Tel Aviv, professor da PUC-SP e da Faap, discute temas como
comportamento contemporâneo, religião, niilismo, ciência. Autor de vários
títulos, entre eles, "Contra um mundo melhor" (Ed. LeYa). Escreve às
segundas na versão impressa de "Ilustrada".
ponde.folha@uol.com.br
domingo, 18 de novembro de 2012
Mudanças climáticas: hora de se recobrar o bom senso
São Paulo, 14 de maio de 2012
Exma. Sra.
Dilma Vana Rousseff
Presidenta da República Federativa do Brasil
Excelentíssima Senhora Presidenta:
Em uma recente reunião do Fórum Brasileiro de Mudanças Climáticas, a senhora afirmou, oportunamente, que a fantasia não tem lugar nas discussões sobre um novo paradigma de crescimento – do qual a Humanidade necessita, de fato, para proporcionar a extensão dos benefícios do conhecimento a todas as sociedades do planeta. Com igual propriedade, a senhora assinalou, também, que o debate sobre o desenvolvimento sustentado precisa ser pautado pelo direito dos povos ao progresso, com o devido fundamento científico.
Assim sendo, permita-nos complementar tais formulações, observando que as discussões sobre o tema central da agenda ambiental, as mudanças climáticas, têm sido pautadas, predominantemente, por motivações ideológicas, políticas, econômicas e acadêmicas restritas. Isto as têm afastado, não apenas dos princípios basilares da prática científica, como também dos interesses maiores das sociedades de todo o mundo, inclusive a brasileira. Por isso, apresentamos-lhe as considerações a seguir.
1) Não há evidências físicas da influência humana no clima global:
A despeito de todo o sensacionalismo a respeito, não existe qualquer evidência física observada no mundo real, que permita demonstrar que as mudanças climáticas globais, ocorridas desde a Revolução Industrial do século XVIII, sejam anômalas em relação às ocorridas anteriormente, no passado histórico e geológico – anomalias que, se ocorressem, caracterizariam a influência humana.
Todos os prognósticos que indicam elevações exageradas das temperaturas e dos níveis do mar, nas décadas vindouras, além de outros efeitos negativos atribuídos ao lançamento de compostos de carbono de origem humana (antropogênicos) na atmosfera, baseiam-se em projeções de modelos matemáticos, que constituem apenas simplificações limitadas do sistema climático – e, portanto, não deveriam ser usados para fundamentar políticas públicas e estratégias de longo alcance e com grandes impactos socioeconômicos de âmbito global.
A influência humana no clima restringe-se às cidades e seus entornos, em situações específicas de calmarias, sendo esses efeitos bastante conhecidos, mas sem influência em escala planetária. Para que a ação humana no clima global ficasse demonstrada, seria preciso que, nos últimos dois séculos, estivessem ocorrendo níveis inusitadamente altos de temperaturas e níveis do mar e, principalmente, que as suas taxas de variação (gradientes) fossem superiores às verificadas anteriormente.
O relatório de 2007 do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC) registra que, no período 1850-2000, a temperatura média global aumentou 0,74oC, e que, entre 1870 e 2000, os níveis do mar subiram 0,2 m.
Ora, ao longo do Holoceno, a época geológica correspondente aos últimos 12.000 anos em que a Civilização tem existido, houve diversos períodos com temperaturas mais altas que as atuais. No Holoceno Médio, há 6.000-8.000 anos, as temperaturas médias chegaram a ser 2oC a 3oC superiores às atuais, enquanto os níveis do mar atingiram até 3 metros acima do atual. Igualmente, nos períodos quentes conhecidos como Minoano (1500-1200 a.C.), Romano (séc. VI a.C.-V d.C.) e Medieval (séc. X-XIII d.C.), as temperaturas foram mais de 1oC superiores às atuais.
Quanto às taxas de variação desses indicadores, não se observa qualquer aceleração anormal delas nos últimos dois séculos. Ao contrário, nos últimos 20.000 anos, desde o início do degelo da última glaciação, houve períodos em que os gradientes das temperaturas e dos níveis do mar chegaram a ser uma ordem de grandeza superiores aos verificados desde o século XIX.
Entre 12.900 e 11.600 anos atrás, no período frio denominado Dryas Recente, as temperaturas caíram cerca de 8oC em menos de 50 anos e, ao término dele, voltaram a subir na mesma proporção, em pouco mais de meio século.
Quanto ao nível do mar, ele subiu cerca de 120 metros, entre 18.000 e 6.000 anos atrás, o que equivale a uma taxa média de 1 metro por século, suficientemente rápida para impactar visualmente as gerações sucessivas das populações que habitavam as margens continentais. No período entre 14.650 e 14.300 anos atrás, a elevação foi ainda mais acelerada, atingindo cerca de 14 metros em apenas 350 anos – média de 4 metros por século.
Tais dados representam apenas uma ínfima fração das evidências proporcionadas por, literalmente, milhares de estudos realizados em todos os continentes, por cientistas de dezenas de países, devidamente publicados na literatura científica internacional. Desafortunadamente, é raro que algum destes estudos ganhe repercussão na mídia, quase sempre mais inclinada à promoção de um alarmismo sensacionalista e desorientador.
Por conseguinte, as variações observadas no período da industrialização se enquadram, com muita folga, dentro da faixa de oscilações naturais do clima e, portanto, não podem ser atribuídas ao uso dos combustíveis fósseis ou a qualquer outro tipo de atividade vinculada ao desenvolvimento humano.
2) A hipótese “antropogênica” é um desserviço à ciência:
A boa prática científica pressupõe a busca permanente de uma convergência entre hipóteses e evidências. Como a hipótese do aquecimento global antropogênico (AGA) não se fundamenta em evidências físicas observadas, a insistência na sua preservação representa um grande desserviço à Ciência e à sua necessária colocação a serviço do progresso da Humanidade.
A História registra numerosos exemplos dos efeitos nefastos do atrelamento da Ciência a ideologias e outros interesses restritos. Nos países da antiga URSS, as Ciências Agrícolas e Biológicas ainda se ressentem das consequências do atraso de décadas provocado pela sua subordinação aos ditames e à truculência de Trofim D. Lysenko, apoiado pelo ditador Josef Stálin e seus sucessores imediatos, que rejeitava a Genética, mesmo diante dos avanços obtidos por cientistas de todo o mundo, inclusive na própria URSS, por considerá-la uma “ciência burguesa e antirrevolucionária”. O empenho na imposição do AGA, sem as devidas evidências, equivale a uma versão atual do “lysenkoísmo”, que tem custado caro à Humanidade, em recursos humanos, técnicos e econômicos desperdiçados com um problema inexistente.
Ademais, ao conferir ao dióxido de carbono (CO2) e outros gases produzidos pelas atividades humanas o papel de principais protagonistas da dinâmica climática, a hipótese do AGA simplifica e distorce um processo extremamente complexo, no qual interagem fatores astrofísicos, atmosféricos, oceânicos, geológicos, geomorfológicos e biológicos, que a Ciência apenas começa a entender em sua abrangência.
Um exemplo dos riscos dessa simplificação é a possibilidade real de que o período até a década de 2030 experimente um considerável resfriamento, em vez de aquecimento, devido ao efeito combinado de um período de baixa atividade solar e de uma fase de resfriamento do oceano Pacífico (Oscilação Decadal do Pacífico-ODP), em um cenário semelhante ao verificado entre 1947 e 1976. Vale observar que, naquele intervalo, o Brasil experimentou uma redução de 10-30% nas chuvas, o que acarretou problemas de abastecimento de água e geração elétrica, além de um aumento das geadas fortes, que muito contribuíram para erradicar o café no Paraná. Se tais condições se repetirem, o País poderá ter sérios problemas, inclusive, nas áreas de expansão da fronteira agrícola das regiões Centro-Oeste e Norte e na geração hidrelétrica (particularmente, considerando a proliferação de reservatórios “a fio d’água”, impostos pelas restrições ambientais).
A propósito, o decantado limite de 2oC para a elevação das temperaturas, que, supostamente, não poderia ser superado e tem justificado todas as restrições propostas para os combustíveis fósseis, em âmbito internacional, também não tem qualquer base científica: trata-se de uma criação “política” do físico Hans-Joachim Schellnhuber, assessor científico do governo alemão, como admitido por ele próprio, em uma entrevista à revista Der Spiegel (17/10/2010).
3) O alarmismo climático é contraproducente:
As mudanças constituem o estado permanente do sistema climático – pelo que a expressão “mudanças climáticas” chega a ser redundante. Por isso, o alarmismo que tem caracterizado as discussões sobre o tema é extremamente prejudicial à atitude correta necessária diante dos fenômenos climáticos, que deve ser orientada pelo bom senso e pelo conceito de resiliência, em lugar de submeter as sociedades a restrições tecnológicas e econômicas absolutamente desnecessárias.
No caso, resiliência significa a flexibilidade das condições físicas de sobrevivência e funcionamento das sociedades, além da capacidade de resposta às emergências, permitindo-lhes reduzir a sua vulnerabilidade às oscilações climáticas e outros fenômenos naturais potencialmente perigosos. Tais requisitos incluem, por exemplo, a redundância de fontes alimentícias (inclusive a disponibilidade de sementes geneticamente modificadas para todas as condições climáticas), capacidade de armazenamento de alimentos, infraestrutura de transportes, energia e comunicações e outros fatores.
Portanto, o caminho mais racional e eficiente para aumentar a resiliência da Humanidade, diante das mudanças climáticas inevitáveis, é a elevação geral dos seus níveis de desenvolvimento e progresso aos patamares permitidos pela Ciência e pela Tecnologia modernas.
Além disso, o alarmismo desvia as atenções das emergências e prioridades reais. Um exemplo é a indisponibilidade de sistemas de saneamento básico para mais da metade da população mundial, cujas consequências constituem, de longe, o principal problema ambiental do planeta. Outro é a falta de acesso à eletricidade, que atinge mais de 1,5 bilhão de pessoas, principalmente na Ásia, África e América Latina.
No Brasil, sem mencionar o déficit de saneamento, grande parte dos recursos que têm sido alocados a programas vinculados às mudanças climáticas, segundo o enfoque da redução das emissões de carbono, teria uma destinação mais útil à sociedade se fosse empregada na correção de deficiências reais, como: a falta de um satélite meteorológico próprio (de que dispõem países como a China e a Índia); a ampliação e melhor distribuição territorial da rede de estações meteorológicas, inferior aos padrões recomendados pela Organização Meteorológica Mundial, para um território com as dimensões do brasileiro; o aumento do número de radares meteorológicos e a sua interligação aos sistemas de defesa civil; a consolidação de uma base nacional de dados climatológicos, agrupando os dados de todas as estações meteorológicas do País, boa parte dos quais sequer foi digitalizada; e numerosas outras.
4) A “descarbonização” da economia é desnecessária e economicamente deletéria:
Uma vez que as emissões antropogênicas de carbono não provocam impactos verificáveis no clima global, toda a agenda da “descarbonização” da economia, ou “economia de baixo carbono”, se torna desnecessária e contraproducente – sendo, na verdade, uma pseudo-solução para um problema inexistente. A insistência na sua preservação, por força da inércia do status quo, não implicará em qualquer efeito sobre o clima, mas tenderá a aprofundar os seus numerosos impactos negativos.
O principal deles é o encarecimento desnecessário das tarifas de energia e de uma série de atividades econômicas, em razão de: a) os pesados subsídios concedidos à exploração de fontes energéticas de baixa eficiência, como a eólica e solar – ademais, inaptas para a geração elétrica de base (e já em retração na União Europeia, que investiu fortemente nelas); b) a imposição de cotas e taxas vinculadas às emissões de carbono, como fizeram a União Europeia, para viabilizar o seu mercado de créditos de carbono, e a Austrália, sob grande rejeição popular; c) a imposição de medidas de captura e sequestro de carbono (CCS) a várias atividades.
Os principais beneficiários de tais medidas têm sido os fornecedores de equipamentos e serviços de CCS e os participantes dos intrinsecamente inúteis mercados de carbono, que não têm qualquer fundamento econômico real e se sustentam tão-somente em uma demanda artificial criada sobre uma necessidade inexistente. Vale acrescentar que tais mercados têm se prestado a toda sorte de atividades fraudulentas, inclusive no Brasil, onde autoridades federais investigam contratos de carbono ilegais envolvendo tribos indígenas, na Amazônia, e a criação irregular de áreas de proteção ambiental para tais finalidades escusas, no estado de São Paulo.
5) É preciso uma guinada para o futuro:
Pela primeira vez na História, a Humanidade detém um acervo de conhecimentos e recursos físicos, técnicos e humanos, para prover a virtual totalidade das necessidades materiais de uma população ainda maior que a atual. Esta perspectiva viabiliza a possibilidade de se universalizar – de uma forma inteiramente sustentável – os níveis gerais de bem-estar usufruídos pelos países mais avançados, em termos de infraestrutura de água, saneamento, energia, transportes, comunicações, serviços de saúde e educação e outras conquistas da vida civilizada moderna. A despeito dos falaciosos argumentos contrários a tal perspectiva, os principais obstáculos à sua concretização, em menos de duas gerações, são mentais e políticos, e não físicos e ambientais.
Para tanto, o alarmismo ambientalista, em geral, e climático, em particular, terá que ser apeado do seu atual pedestal de privilégios imerecidos e substituído por uma estratégia que privilegie os princípios científicos, o bem comum e o bom senso.
A conferência Rio+20 poderá ser uma oportuna plataforma para essa necessária reorientação.
Kenitiro Suguio
Geólogo, Doutor em Geologia
Professor Emérito do Instituto de Geociências da Universidade de São Paulo (USP)
Membro titular da Academia Brasileira de Ciências
Luiz Carlos Baldicero Molion
Físico, Doutor em Meteorologia e Pós-doutor em Hidrologia de Florestas
Pesquisador Sênior (aposentado) do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE)
Professor Associado da Universidade Federal de Alagoas (UFAL)
Fernando de Mello Gomide
Físico, Professor Titular (aposentado) do Instituto Tecnológico da Aeronáutica (ITA)
Co-autor do livro Philosophy of Science: Brief History (Amazon Books, 2010, com Marcelo Samuel Berman)
José Bueno Conti
Geógrafo, Doutor em Geografia Física e Livre-docente em Climatologia
Professor Titular do Departamento de Geografia da Universidade de São Paulo (USP)
Autor do livro Clima e meio ambiente (Atual, 2011)
José Carlos Parente de Oliveira
Físico, Doutor em Física e Pós-doutor em Física da Atmosfera
Professor Associado (aposentado) da Universidade Federal do Ceará (UFC)
Professor do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará (IFCE)
Francisco Arthur Silva Vecchia
Engenheiro de Produção, Mestre em Arquitetura e Doutor em Geografia
Professor Associado do Departamento de Hidráulica e Saneamento da Escola de Engenharia de São Carlos–USP
Diretor do Centro de Recursos Hídricos e Ecologia Aplicada (CRHEA)
Ricardo Augusto Felicio
Meteorologista, Mestre e Doutor em Climatologia
Professor do Departamento de Geografia da Universidade de São Paulo (USP)
Antonio Jaschke Machado
Meteorologista, Mestre e Doutor em Climatologia
Professor do Departamento de Geografia da Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” (UNESP)
João Wagner Alencar Castro
Geólogo, Mestre em Sedimentologia e Doutor em Geomorfologia
Professor Adjunto do Departamento de Geologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ)
Chefe do Departamento de Geologia e Paleontologia do Museu Nacional/UFRJ
Helena Polivanov
Geóloga, Mestra em Geologia de Engenharia e Doutora em Geologia de Engenharia e Ambiental
Professora Associada do Departamento de Geologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ)
Gustavo Macedo de Mello Baptista
Geógrafo, Mestre em Tecnologia Ambiental e Recursos Hídricos e Doutor em Geologia
Professor Adjunto do Instituto de Geociências da Universidade de Brasília (UnB)
Autor do livro Aquecimento Global: ciência ou religião? (Hinterlândia, 2009)
Paulo Cesar Soares
Geólogo, Doutor em Ciências Geológicas e Livre-docente em Estratigrafia
Professor Titular da Universidade Federal do Paraná (UFPR)
Gildo Magalhães dos Santos Filho
Engenheiro eletrônico, Doutor em História Social e Livre-docente em História da Ciência e Tecnologia
Professor Associado do Departamento de História da Universidade de São Paulo (USP)
Paulo Cesar Martins Pereira de Azevedo Branco
Geólogo, Pesquisador em Geociências (B-sênior) do Serviço Geológico do Brasil – CPRM
Daniela de Souza Onça
Geógrafa, Mestra e Doutora em Climatologia
Professora da Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC)
Marcos José de Oliveira
Engenheiro Ambiental, Mestre em Engenharia Ambiental e Climatologia Aplicada
Doutorando em Geociências Aplicadas na Universidade de Brasília (UnB)
Geraldo Luís Saraiva Lino
Geólogo, coeditor do sítio Alerta em Rede
Autor do livro A fraude do aquecimento global: como um fenômeno natural foi convertido numa falsa emergência mundial (Capax Dei, 2009)
Maria Angélica Barreto Ramos
Geóloga, Pesquisadora em Geociências (Sênior) do Serviço Geológico do Brasil – CPRM
sexta-feira, 9 de novembro de 2012
Múltis dos EUA compram 37 de 80 empresas desnacionalizadas
Somente no terceiro trimestre deste ano
Por Valdo Albuquerque/Hora do Povo
Na edição anterior, abordamos o número recorde de empresas desnacionalizadas (247) entre janeiro e setembro deste ano, superando a quantidade de empresas adquiridas por capital estrangeiro em todo o ano de 2011, quando foram desnacionalizadas 208 empresas – e também nos demais anos, desde 2004, quando a consultoria KPMG começou a fazer a “Pesquisa de Fusões e Aquisições” no Brasil.
Agora, acrescentamos mais um dado essencial: um número expressivo de empresas nacionais foi adquirido por multinacionais norte-americanas. Somente no terceiro trimestre, de um total de 80 empresas desnacionalizadas, quase metade (37) passou ao controle de monopólios dos EUA, superando de longe as que foram adquiridas por conglomerados originários da Inglaterra (8), França (6), Alemanha (5), Espanha (5), entre outros.
Após a explosão da crise em setembro de 2008, os EUA inundaram o mundo com as superemissões de dólares (Quantitative Easing 1 e 2). Apenas com o QE2, em 2010, foram emitidos US$ 600 bilhões, transferidos aos monopólios, não apenas para especular, mas também para aquisição de empresas. E o FED já prepara nova inundação de dólares no planeta, o Quantitative Easing 3, conforme a ata da reunião de agosto.
Segundo Patrice Etlin, sócio para a América Latina da Advent International, empresa norte-americana de private equity, “há hoje, caçando transações no Brasil, cerca de US$ 11 bilhões”. Certamente, é um valor subestimado – somente no caso da Amil, açambarcada pela norte-americana UnitedHealth Group, foram envolvidos cerca de US$ 5 bilhões -, mas que não anula o seu significado: o apetite voraz sobre as nossas empresas.
A primeira implicação dessa desnacionalização da economia é a desindustrialização e, consequentemente, a estagnação econômica - não há desenvolvimento sustentado, para usar uma palavra tão ao gosto da equipe econômica, se não for baseado na indústria.
Na medida em que setores são dominados pelas multinacionais, a cadeia produtiva, isto é, a indústria de componentes e bens intermediários, vai sendo dizimada. Então, o que antes era fabricado no país pela indústria nacional passa a ser importado.
Na medida em que setores são dominados pelas multinacionais, a cadeia produtiva, isto é, a indústria de componentes e bens intermediários, vai sendo dizimada. Então, o que antes era fabricado no país pela indústria nacional passa a ser importado.
Um entusiasta do comércio do Brasil com os Estados Unidos, Welber Barral, que vem a ser o presidente da Coalizão de Indústrias Brasileiras, declarou recentemente: “Precisamos estimular as exportações para os EUA promovendo investimentos americanos aqui. Hoje, 40% do comércio é intrafirmas”. Por “comércio intrafirmas”, leia-se comércio entre a matriz das multinacionais e as filiais instaladas no Brasil. É o que o Banco Central registra como empréstimos intercompanhias, como uma das modalidades de ingresso de investimentos estrangeiros diretos (IED).
E assim, a desindustrialização resultante da desnacionalização fez despencar para 14,6% a participação da indústria na formação do Produto Interno Bruto (PIB), uma regressão ao patamar de 1950, ou melhor, inferior àquele período (19,3%).
Outra decorrência da desnacionalização, além do crescimento das importações, há um crescimento vertiginoso das remessas de lucros, principalmente em períodos de crise, como acontece desde 2008 nos Estados Unidos, mas que se estende pela Europa e Japão.
Não é à toa o rombo das contas externas, chamada de transações correntes (balança comercial, serviços e rendas e transferências unilaterais). O problema é que com o deserto de ideias vigente no Ministério da Fazenda, a política usada é a de suar o ingresso de IED para cobrir o déficit nas contas externas, o que significa querer apagar o fogo com gasolina: mais entrada de IED resulta em mais desnacionalização. Portanto, mais importação, mais remessa de lucro e mais rombo nas transações correntes, num círculo vicioso sem fim.
Transferir para o exterior as decisões sobre os rumos da nossa economia implica em abrir mão de qualquer projeto de desenvolvimento nacional. A presidente Dilma tem se esforçado para a redução das taxas de juros, que vem ocorrendo desde agosto de 2011. Contudo, a economia continua patinando por conta da desnacionalização e da desindustrialização. Sem uma política industrial digna do nome, o governo tem se limitado a desonerações, o que não resolve o problema do crescimento e até o ministro Mantega já admite que o PIB este ano não chega a 2%, inferior ao do ano passado.
Doutrinação na prova do Enem
Das 45 questões do exame de Linguagens, boa parte enfatizou o uso polêmico de termos coloquiais
Agência O Globo/Lauro Neto
Após o Ministério da Educação (MEC) divulgar o gabarito do Exame Nacional de Ensino Médio (Enem) sem anular uma questão sequer, apesar das queixas de colégios e cursinhos sobre alguns enunciados, professores agora criticam a prova de Linguagens e Códigos do processo de seleção que aconteceu no último fim de semana. Docentes dos ensinos médio e superior dizem que certas questões mostram uma preocupação excessiva em defender o uso oral e coloquial da língua em detrimento da norma culta. Em uma análise do exame, O GLOBO identificou pelo menos oito em 45 questões que exemplificam o assunto (uma delas na prova de inglês). Num enunciado, o texto de referência foi redigido com marcas orais características da análise do discurso, conteúdo específico de cursos de Letras e Comunicação: "Eu gostava muito de passeá...saí com as minhas colegas...brincá na porta di casa di vôlei...andá de patins...bicicleta...quando eu levava um tombo ou outro ... eu era a ::... a palhaça da turma ... ((risos))...". O parágrafo é atribuído a A.P.S., mulher de 38 anos, que estaria no ensino fundamental. Mestre em Literatura pela Universidade de Sorbonne (Paris III), a professora Regina Carvalho, que dá aulas de Língua Portuguesa no Colégio Santo Inácio, demonstra preocupação com o excesso desse conteúdo na prova. - Há um desequilíbrio e um foco exagerado na linguagem coloquial. É uma ideologia que permeia a prova. Há uma indução subliminar. Acho problemático porque são muitas questões sobre o mesmo assunto. Do ponto de vista pedagógico, não se deve cobrar um mesmo assunto com tanta insistência. Do ponto de vista gramatical, nada é pedido praticamente. É uma contradição, porque na hora de fazer a redação, os professores cobram a norma culta dos estudantes e se agarram a ela para justificar a correção- critica Regina. A professora chama a atenção para outras questões em que escritores consagrados, como Manoel de Barros e Rubem Alves, mencionam palavras e expressões que, mesmo inadequadas na norma culta, trariam mais poesia ao texto. Num trecho de "Cabeludinho", de Barros, o uso de "voltou de ateu", "disilimina esse" e "eu não sei a ler" é justificado na resposta como "a valorização da dimensão lúdica e poética presente nos usos coloquiais da linguagem". Já em "Mais badulaques", Alves cita um amigo "paladino da língua portuguesa, que se deu ao trabalho de fazer um xerox da página 827 do dicionário" para provar o uso correto da palavra "varrição", e não "varreção", como o autor usaria. Para Regina Carvalho, a lógica de legitimar o uso coloquial por meio de autores consagrados é similar à defesa do polêmico livro "Por uma vida melhor", distribuído pelo Ministério da Educação no Programa Nacional do Livro Didático, que contém frases com construções como "nós pega o peixe". No ano passado, a publicação gerou uma controvérsia que opôs o MEC a professores críticos dessa propagação.
- Não é mostrar a fala coloquial em qualquer lugar, mas na voz de poetas e escritores consagrados, quase como que um modelo. Há livros maravilhosos didáticos que não são aceitos. Se isso é uma política intencional do MEC, não sei, mas desconfio que sim - avalia Regina.
Opinião semelhante tem o professor Claudio Cezar Henriques, titular do Instituto de Letras da Uerj.
- É lamentável que provas desse tipo deem tanto destaque a textos que mostram usos populares ou regionais de nossa língua. Minha crítica é pedagógica e tem a ver com a seguinte pergunta: as universidades querem alunos que tenham capacidade para ler e escrever textos acadêmicos e científicos ou querem alunos que saibam reconhecer variedades linguísticas? - questionou Henriques.
Para o professor, "questões e enunciados rigorosamente em língua padrão fazem par com textos bem "camaradas" quanto a isso".
- Para mim, isso é desperdício de tempo ou - pior - demagogia linguística. Um humorista certamente diria que a banca do Enem está "tipo bolada nessas quebradas de perguntar umas paradas pra galera" - ele ironiza.
Mas nem todo mundo concorda com eles. Para o linguista Marcos Bagno, não há oposição entre "uso oral e informal" e "norma culta": uma manifestação culta, falada ou escrita, pode ser perfeitamente informal (veja texto abaixo).
Na redação, deve ser usada norma padrão
De acordo com o MEC, o Enem obedece a uma matriz de referência a qual contempla uma lista de conteúdos, em consonância com os Parâmetros Curriculares Nacionais. Segundo o órgão, a prova de Linguagens e Códigos apresenta questões que exigem do participante uma reflexão sobre as normas e usos da língua portuguesa, contemplando os processos de aprendizagens da língua materna nos quais se inserem a leitura e a escrita.
"O pressuposto é o de que todo uso gramatical e linguístico é contextualizado em práticas de linguagem que podem ser orais, escritas, formais, informais e literárias, entendendo que todas essas formas de uso da língua são autênticas e legítimas", diz a nota do MEC.
O texto enviado pelo ministério ressalta ainda que "o participante durante a resolução das questões tem condições de fazer julgamentos sobre esses diversos usos e normas, a partir de diferentes gêneros textuais, além de ser obrigado a fazer uso exclusivo da norma padrão da língua portuguesa na produção de sua redação".
Maria Lucia Fattorelli fala da Dívida Pública na TV Senado
O programa “Agenda Econômica”, da TV Senado, discute o Orçamento da União para 2013. A coordenadora da “Auditoria Cidadã da Dívida”, Maria Lúcia Fatorelli, critica a destinação de parte de recursos orçamentários para o pagamento dos juros e encargos da dívida pública. Ela também mostra que a previsão de reajuste do salário mínimo é excessivamente tímida.
Confira a entrevista nos
três vídeos abaixo. Leia, também, logo a seguir, a análise da “Auditoria Cidadã
da Dívida” sobre a relação entre Dívida Pública, juros altos e a situação do
funcionalismo público e do salário mínimo.
Orçamento
2013: privilégio para juros, migalhas para servidores públicos e salário mínimo
Por
“Auditoria Cidadã da Dívida”
No dia 30 de agosto de
deste ano, o governo federal divulgou a proposta orçamentária para 2013, na
qual detalha a previsão de gastos para o próximo ano. Conforme apresentação
da Ministra do Planejamento Miriam Belchior (páginas 20 a 22), o valor previsto
para atender às reivindicações dos servidores – apresentadas durante as greves
realizadas por cerca de 40 categorias nos últimos meses – é de R$ 10,289
bilhões. Tal valor representa apenas 5,5% do valor previsto para a folha de
pagamento total deste ano (R$ 187,6 bilhões). Desta forma, verifica-se que a
proposta do governo aos servidores mal repõe a inflação deste ano, e não
recupera as perdas históricas que levaram as categorias ao movimento grevista. Por
outro lado, o mesmo documento apresenta uma estimativa de gasto de R$ 900
bilhões com juros e amortizações da dívida pública em 2013 (página 9 da
apresentação da Ministra), podendo tal valor ainda aumentar no decorrer do ano.
Cabe ressaltar que o valor do salário mínimo fixado para 2013 (R$ 670,95)
significa um aumento real de apenas 2,7% em relação ao valor atual.
Prosseguindo nesse ritmo, serão necessários cerca de 50 anos para se atingir o
salário mínimo calculado pelo DIEESE (de R$ 2.383,28), com base no disposto na
Constituição Federal, art. 7º. O eterno argumento oficial contra um aumento
maior do salário mínimo é que a Previdência Social não teria recursos
suficientes para pagar as aposentadorias. Porém, tal argumento é falacioso e
não se sustenta em base aos dados da arrecadação federal. A Previdência é um
dos tripés da Seguridade Social, juntamente com a Saúde e Assistência Social, e
tem sido altamente superavitária. Em 2011 o superávit da Seguridade Social
superou R$ 77 bilhões, em 2010 R$ 56 bilhões, e em 2009 R$ 32 bilhões, conforme
dados da ANFIP. Deveríamos estar discutindo a melhoria do sistema de Seguridade
Social, mas isso não ocorre devido à Desvinculação das Receitas desse setor
para o cumprimento das metas de superávit primário, ou seja, a reserva de
recursos para o pagamento da dívida pública. Importante também comentar as
páginas 5 e 7 da apresentação
da Ministra, nas quais o governo alega que a dívida pública e as
taxas de juros estariam em forte queda. Porém, tal dado se refere à distorcida
parcela denominada “Dívida Líquida do Setor Público”. O Brasil é o único país
que calcula a dívida “líquida”, algo que não tem sentido lógico, pois desconta
da dívida bruta diversos valores que em tese configurariam créditos, porém,
possuem pesos relativos distintos. Enquanto o custo da dívida pública ficou em
mais de 12% ano passado, as reservas internacionais (que são o principal
crédito deduzido para se chegar ao conceito de dívida “líquida”) não renderam
quase nada ao país. Neste ano, enquanto o governo alardeia a comemoração sobre
a redução da Taxa Selic para 7,5% ao ano, o custo médio efetivo da dívida
pública federal está em nada menos que 11,3% ao ano (Tabela
do Tesouro Nacional – Quadro 4.1). Justamente quando a Selic
passou a cair o Tesouro passou a vender os títulos lastreados em taxas fixas
bem superiores à Selic, e atualmente apenas 24,57% da dívida mobiliária de
responsabilidade do Tesouro Nacional está atrelada à Selic.
Leia
também:
quinta-feira, 8 de novembro de 2012
Royalties: estados brigam por migalhas enquanto banquete é servido aos rentistas
Ontem, a Câmara dos Deputados aprovou o Projeto de Lei 2565/2011, em sua versão do Senado, que prevê a redistribuição dos recursos (“royalties”) do petróleo, atualmente destinados principalmente para municípios e estados produtores (tais como o Rio de Janeiro e Espírito Santo). Pela proposta aprovada, estes últimos perdem grande parte destes recursos, que serão destinados principalmente aos entes federados não-produtores. Tomando-se como base a arrecadação de royalties prevista para o ano de 2012, e deixando-se de lado a parcela de 1/3 destes royalties que o projeto destina para a União, estão em disputa cerca de R$ 18 bilhões anuais, valor este 40 vezes inferior ao gasto com a dívida pública no ano passado. Ou seja: enquanto estados e municípios brigam entre si pelas migalhas, o banquete é servido aos rentistas da dívida pública. Interessante observar que grande parte dos royalties pertencentes à União tem sido destinada ao pagamento da dívida pública, contrariando a legislação que obriga a destinação destes recursos para áreas sociais como meio-ambiente e ciência e tecnologia. Tal procedimento já foi considerado irregular pelo Tribunal de Contas da União. Foi derrubada a proposta de destinação de parte dos royalties para a Educação. Caso fosse aprovada, seriam obtidos cerca de R$ 13 bilhões anuais para esta área social (cerca de 0,3% do PIB), o que ainda seria insuficiente para se aumentar de 5% para 10% do PIB os recursos desta área social.
Pré-Sal
O projeto também prevê que os royalties da futura exploração do petróleo do Pré-Sal serão equivalentes a 15% do valor da produção. Desta forma, os 85% restantes poderão ficar principalmente com as petroleiras privadas, dado que os poços de petróleo do Pré-Sal serão leiloados (privatizados), sem que tenha sido estabelecido um percentual mínimo do valor da produção que tenha de ser destinado ao governo. Outra possível destinação de parte destes 85% seria o “Fundo Social”, que terá seus recursos destinados a aplicações financeiras principalmente ao exterior, sendo que somente o rendimento deste Fundo é que irá para áreas sociais. Se é que haverá rendimento, pois tais recursos podem ser aplicados em papéis que se mostrem “podres” da noite para o dia, como tem ocorrido nesta conjuntura de crise global.
Dívida dos Estados e Municípios com a União
Ao mesmo tempo em que brigam entre si por R$ 18 bilhões anuais dos royalties do petróleo, os estados e municípios devem pagar neste ano o triplo disso (R$ 54 bilhões) em juros e amortizações das dívidas com a União, que por sua vez destina estes recursos para o pagamento da própria dívida pública federal. Tais dívidas possuem graves indícios de ilegalidades, tais como “juros sobre juros” (“anatocismo”, já considerado como ilegal pelo Supremo Tribunal Federal), erros nos cálculos dos juros a pagar, falta de documentos sobre a origem destas dívidas, dentre outros. Em suma: os rentistas da dívida pública assistem de camarote os estados e municípios lutarem entre si por migalhas.
Contatos:
Coordenação da Auditoria Cidadã da Dívida
SAS, Quadra 5, Lote 7, Bloco N, 1º andar – Brasília – DF – Cep – 70070-939 - Edifício Ordem dos Advogados do Brasil
Telefone (61) 2193-9731 – (61) 8147-1196
E-mail auditoriacidada@terra.com.br
Assinar:
Postagens (Atom)