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2. As potências hegemônicas, suas associadas e
satélites seguem em depressão econômica, com aspectos mais perversos que os
da iniciada em 1930 e que só terminou,
em 1943, nos EUA - com a mobilização de dezenas de milhões de combatentes na
Segunda Guerra Mundial, mais os vultosos investimentos para produzir armas. Na
Europa e na Ásia, a depressão foi substituída pela devastação.
4. Agora, desde a contra-revolução liberal dos anos
80, a
financeirização e a concentração do poder econômico e da renda deram grandes
saltos, enquanto decai o patrimônio e a renda real, no caso da grande maioria
dos que trabalham e no da crescente
massa dos desempregados.
5. Essa iniquidade jamais poderia ser tolerada sob
sistemas democráticos. Assim, quase nada resta do pouco de democracia, antes
presente nos sistemas políticos representativos, hoje mera embalagem, com
rótulo falso, de um sistema tirânico,
que investe massivamente em contracultura, desinformação e alienação, há mais
de século.
6. Assim,
institucionalizou-se a mentira, e
a verdade é reprimida através de instrumentos totalitários, radicalizados desde
os ataques 11.09.2001.
7. O
terrorismo de Estado dirige-se contra os cidadãos e é usado para marquetar, como justas, agressões
militares genocidas contra países alvos da geopolítica da oligarquia
angloamericana: Afeganistão, Iraque, Somália e Líbia.
8. Além disso, EUA, Reino Unido, Israel e satélites
têm intervindo em numerosos países com golpes e pretensas revoluções suscitadas
por serviços secretos, mercenários e organizações terroristas. Síria e Ucrânia
são alvos preferenciais dessas agressões, sem falar nas permanentes pressões e
falsas acusações contra o Irã.
9. O prelúdio da Segunda Guerra Mundial, nos anos
30, também apresentou invasões e conflitos localizados, e a ascensão de regimes
fascistas (Itália, Alemanha e Japão), além de na Espanha, após sangrenta guerra
civil, de 1936 a
1939, com participação de forças militares estrangeiras.
10. No presente, a depressão econômica prossegue,
bem como suas trágicas consequências sociais. A oligarquia financeira está cada
vez mais concentrada e tem cada vez mais poder sobre os governos – à exceção
dos demonizados, por não se submeterem -
pela mídia e pelas demais instituições formadoras de opinião.
12. As soluções para recuperar a economia podem ser
entendidas por qualquer pessoa sensata, não bitolada por lugares comuns disseminados
pelos economistas mais renomados (justamente por agradarem a oligarquia).
14. Economistas competentes, como Lautenbach, alto
funcionário do ministério da economia, mostraram o caminho correto, apoiado
pela federação das indústrias, semelhante ao plano de Woytinski, sustentado por
sindicatos de trabalhadores.
15. Em 1931,
Lautenbach apresentou o memorandum “Possibilidades para reviver a atividade
econômica, através do investimento e da expansão do crédito”. Afirmou:
“O curso para superar a emergência econômica e
financeira não é limitar a atividade econômica, mas aumentá-la, porque o
mercado não mais funciona nas condições de depressão e crise monetária
mundial.”
“Neste
momento, temos situação paradoxal, na qual, apesar dos cortes extraordinários
na produção, a procura ainda está defasada em relação à oferta. Assim, temos
excedentes crônicos da produção, com os quais não sabemos lidar. Encontrar
algum modo de transformar esses excedentes em valor real é o problema real e o
mais urgente da política econômica.”
“Excedentes de bens físicos, capacidade
não-utilizada dos equipamentos produtivos e força de trabalho não-aproveitada
podem ser aplicados para satisfazer uma nova necessidade, a qual, do ponto de
vista econômico, representa investimento de capital. Podemos conceber tarefas
como obras públicas, ou obras realizadas com apoio público - que para a
economia significariam aumento da riqueza nacional - e que teriam de ser feitas de qualquer modo,
quando se voltasse a ter condições normais (construção de estradas, expansão do
sistema ferroviário, melhoramentos na infra-estrutura, etc.)”
“Com tal política de crédito e investimentos, será
remediado o desequilíbrio entre a oferta e a procura no mercado interno, e toda
a produção terá ganhado direção e objetivo. Se, todavia, deixarmos de instituir
tal política, estaremos encaminhados para inevitável e continuado colapso e
para a completa destruição da economia nacional, levando-nos a uma situação que
nos forçará, para evitar uma catástrofe, a assumir dívidas de curto prazo
meramente para fins de consumo; enquanto que hoje, está ainda em nosso poder
obter esse crédito para fins produtivos e, assim, recolocar em equilíbrio tanto
a economia como as finanças públicas.”
16. Woytinski recomendou explorar oportunidades de
complementar as iniciativas das empresas privadas com a criação de empregos,
através de investimentos públicos. Propôs, ainda, a liberação de fundos, via
políticas de expansão monetária para a reconstrução da Europa.
17. Em janeiro de 1932 foi apresentado o plano de
criação de empregos WTB (Woytinski, Tarnow e Baade) para criar 1 milhão de
novos empregos, com investimentos financiados por créditos de longo prazo, a
juros baixos, pela Reichskredit AG, descontáveis no Reichsbank.
19. Schäffer, secretário de Estado do ministério
das Finanças, apoiou o plano de Lautenbach.
Moção similar partiu de
Wagemann, chefe do Escritório
Nacional de Estatísticas, que, em janeiro de 1932, publicou seu plano, que
incluía emitir 3 bilhões de reichsmarks
para criar empregos.
20. Nada disso foi adiante, pois não interessava à
oligarquia angloamericana. Esta armava a subida de Hitler ao poder, mesmo tendo
os nazistas perdido 2 milhões de votos nas eleições de 6.11.1932.
21. Após essas eleições, o presidente, marechal
Hindenburg, nomeou chanceler o chefe do Estado-Maior, general von Schleicher,
que propunha por em execução as políticas recomendadas por Lautenbach,
Woytinski e Schäffer, e apoiadas por entidades de classe patronais e dos trabalhadores.
23. O objetivo era a Segunda Guerra Mundial, pois
Hitler anunciara no “Mein Kampf” seu desígnio de atacar a União Soviética.
Finalidade: empregos e recuperação econômica só mediante a mobilização para a
guerra, que destruiria mutuamente Alemanha e Rússia.
24. Hoje, o Estado é enfraquecido como agente de
desenvolvimento econômico e social. Ele
serve, nos países-sede da
oligarquia, para erguer enormes arsenais de armas destrutivas e hipertrofiar
órgãos de repressão, serviços secretos e
meios tecnológicos de desinformar.
25. Nos países periféricos, como o Brasil, o
Estado, empobrecido pelo serviço da dívida e pelas privatizações, funciona para
arrecadar recursos para a dívida e subsidiar empresas transnacionais.
26. Com a política econômica dominada pela
oligarquia financeira, a concentração não cessa de crescer. No trabalho The Network
of Global Corporate Control, publicado em 2011, os matemáticos suíços, Vitali,
Glattfelder e Battiston, demonstraram a interligação das corporações econômicas
e financeiras por laços diretos e indiretos de propriedade.
27. Com dados sobre 43.000 transnacionais (ETNs),
chegaram a 1.300 maiores companhias com fortes elos entre si, núcleo refinado
para um de só 737 companhias, que controlam 80% das 43.000. Mais elaboração permitiu chegar a 147, detentoras
da propriedade quase total sobre si mesmas, mais 40% das 43.000.
28. As 147 são basicamente controladas por somente
50, das quais 48 são financeiras. Apenas duas envolvem-se diretamente com a
economia real (Walmart e China Petrochemical Group).
29. Susan George, do Transnational Institute,
Amsterdam, conclui: “Nossos problemas originam-se do 0,1%, na verdade do
0,001%.” Mas essa fração não retrata a dimensão infinitesimal, em relação à
população da Terra, da minoria que concentra o poder econômico, financeiro e
político.
30. De fato, existe hierarquia entre os donos das
companhias mais poderosas, e, entre esses, muito poucos exercem comando sobre
bancos centrais, instituições financeiras multilaterais e mercados financeiros.
31. George aponta as interligações entre a finança
e as corporações de petróleo e gás, e seus vínculos com a indústria automotiva,
gastadora de combustíveis fósseis.
32. O poder dos concentradores financeiros
manifesta-se, inclusive, pelo fato de o 1% do topo pagar percentual de tributos
inferior ao de qualquer época desde os anos 20, apesar da enorme elevação de
seus ganhos e de seu patrimônio nos últimos 35 anos.
33. Mais: dezenas de trilhões de dólares/euros das
emissões dos bancos centrais e das receitas tributárias foram usados para
salvar da bancarrota instituições financeiras cujos controladores e executivos
haviam lucrado dezenas de trilhões com jogadas financeiras, em operações
alavancadas, sobre tudo com o quatrilhão de derivativos criados a impulsos de
chips, antes do colapso de 2007/2008.
34. Pior: o
dinheiro posto nos bancos é aplicado em novas especulações, criando novas
bolhas, prestes a estourar. A conta fica para os cidadãos dos países
endividados, inclusive dos EUA, e maior para os dos menos privilegiados que não
podem emitir dólares.
35. No Brasil, recordista mundial de juros altos,
só dois bancos, Itaú e Bradesco registraram R$ 28 bilhões de lucros em 2013.
Adriano Benayon é Doutor em Economia pela Universidade de Hamburgo e Advogado, OAB-DF nº 10.613, formado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro. Foi Professor da Universidade de Brasília e do Instituto Rio Branco, do Ministério das Relações Exteriores. Autor de “Globalização versus Desenvolvimento”. abenayon.df@gmail.com
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