Por Alerta em Rede
O governo federal está empenhado em reduzir os
temores sobre a necessidade de um eventual racionamento de eletricidade, que
poderia ter impactos imprevisíveis sobre o cenário eleitoral que se avizinha.
Entretanto, a situação do setor está longe de ser confortável e a mera retórica
não será suficiente para se contrapor à realidade dos fatos. Até há poucas
semanas, as autoridades setoriais esbanjavam otimismo, afirmando que o risco de
desabastecimento era inexistente. A tranquilidade oficial foi duramente abalada
pelo apagão que afetou 14 estados, no último dia 4 de fevereiro, cujas causas
ainda não foram reveladas. Em meados de fevereiro, uma nota do Comitê de
Monitoramento do Setor Elétrico (CMSE), formado por representantes do governo
na área de energia, afirmava que o abastecimento do País este ano está
assegurado, salvo se houver uma piora nos níveis dos reservatórios das usinas
hidrelétricas nos próximos meses, probabilidade considerada “baixíssima”. Na
sexta-feira 14, o secretário-executivo do Ministério de Minas e Energia, Márcio
Zimmerman, reforçou o novo discurso. “Não existe zero quando você trata de
probabilidade e nem nunca se projetou um sistema para ser zero”, disse ele (G1,
14/02/2014). Depois, foi a vez do diretor-geral do Operador Nacional do Sistema
Elétrico (ONS), Hermes Chipp, dar o seu recado. Segundo ele, o risco de
desabastecimento estará afastado se o nível dos reservatórios no Sudeste e
Centro-Oeste se mantiver entre 43% e 45% em abril, quando se encerra o período
chuvoso. “Esse é o nível adequado para chegarmos ao período seco”, afirmou (Valor
Econômico, 19/02/2014). O diretor aproveitou para criticar as discussões
públicas sobre os problemas do setor elétrico, com informações pouco claras e
de difícil entendimento para os não especialistas: “Estou preocupado, porque
essa coisa de energia está banalizada, hoje todo mundo ‘entende’. Já repararam?
Hoje, qualquer um fala de energia.” Para quem procura análises tecnicamente
fundamentadas, que não tratam a geração elétrica como um mero problema de
mercado, o Ilumina-Instituto de Desenvolvimento Estratégico do Setor
Elétrico é sempre uma boa referência. Vejamos, pois, o que dizem os seus
renomados especialistas. Uma rápida avaliação, publicada em 19 de fevereiro,
vai direto ao ponto:
“Uma conta rápida:
“1. Atualmente, os reservatórios do Sudeste e
Centro-Oeste estão com 35%. Pela declaração do ONS, é preciso que essa
proporção suba para 45% em abril. Um aumento de 10% em pouco mais que 30 dias.
“2. As usinas térmicas não conseguem atender mais
que 20% do consumo.
“3. Vamos supor uma carga de 30 TWh
(terawatts.hora) no Sudeste, até abril. Portanto, as térmicas ‘cuidam’ de 6 TWh
e sobram 24 TWh para as hidráulicas.
“4. O armazenamento máximo na região é de 145 TWh
e, portanto, precisamos de 10% deste valor, mais os 24 TWh da carga que sobra
para as hidráulicas. Necessidade total de energia natural até abril: 24 + 14,5
= 38,5 TWh.
“Dando uma olhada no histórico recente, disponível
no site do ONS, a média da energia natural para o mês de março é de 35 TWh,
sendo que os anos de 2001, 2002, 2003, 2009, 2012 e 2013, estiveram abaixo da
média. Em compensação, 2011 nos deu 60 TWh.
“Portanto, essa meta não é impossível, mas fica
claro que seria preciso receber energia dos rios acima da média ou receber
grande parcela de energia das outras regiões. Resumindo: risco de
racionamento significativo (grifos nossos).
Nenhum comentário:
Postar um comentário