Por
Cesar Fonseca (publicado no Independência Sul-americana)
A
armadilha é velha. Tio Sam quer um Banco Central independente, no Brasil e na
América do Sul, para que, livre da influência dos governos, os banqueiros, que
mandam nas economias financeiramente devedoras, possam manobrar as políticas
monetárias na periferia capitalista, a fim de manter os juros elevados. Dessa
forma, ajudam a financiar a dívida americana, porque o BC americano deixou de
pagar juros aos credores, mantendo a taxa na casa dos zero ou negativo,
descontada a inflação. A presidente do FED descartou subida nas taxas nos
próximos tempos. Há muita liquidez em dólar na praça global. Se o juro subisse,
a poupança mundial correria para os Estados Unidos. A dívida americana, que já
está super elevada, na casa dos 18 trilhões de dólares, dificilmente, seria
financiada pelo mercado financeiro. Pintaria corrida bancária. Nova crise
mundial. Esse é o grande nó que enfrenta Tio Sam. Para tentar superá-lo, o jeito
é empurrar o papagaio para os outros. A forma de fazer isso é a de não pagar
juro, dar o calote. Quem tem ativo em dólar, sem juro nos Estados Unidos, para
remunerá-lo, tem que voar para outras praças, onde o juro é positivo, como no
Brasil, por exemplo. Eis porque um Banco Central, no Brasil, que não seja
independente, torna-se desinteressante para Tio Sam. Diga-se: independente do
governo, mas dependente do mercado especulativo. Pensamentos nacionalistas
conduziriam o BC não para atender os interesses americanos, ou seja, juro
elevado para atrair dólares, salvando a economia americana de déficits
comerciais e fiscais, tornando-a mais competitiva, enquanto quem recebe esses
dólares se endividam e perdem mercado porque suas moedas ficam sobrevalorizadas.
Marina e Aécio, representantes dos pontos de vista do império americano, não
podem falar a verdade sobre porque defendem o BC brasileiro independente.
Exporiam demais a sua subordinação ao imperialismo financeiro especulativo de
Tio Sam. Estão a serviço do anti-estado nacional. Mais uma vez os comentaristas
econômicas da grande mídia deram uma escorregada legal em relação ao futuro dos
juros americanos. Estavam prognosticando que o Banco Central dos Estados Unidos
iriam dar uma puxada nas taxas, porque a economia de Tio Sam vai de vento em
popa(?). Nem está de vento em poupa nem puxou nada. Os juros, descontada a
inflação, continuam, não se sabe até quando, na casa dos zero ou negativos. Por
que? Segredo de polichinelo. Por que Tio Sam vai subir juro para pagar mais
pela sua dívida que está saindo pelo ladrão, na casa dos 18 trilhões de
dólares? Dando calote nos que compram títulos, na medida em que não rendem
nada, com os juros negativos, empurra seu papagaio para os outros.
Não é à toa
que os candidatos do império americano à eleição brasileira – Marina e Aécio –
defendem independência do Banco Central. Ora, com o BC fazendo o que bem
entende, sem dar satisfação ao Palácio do Planalto e ao Congresso, mas, apenas,
obedecendo às ordens dos credores, a taxa de juro será mantida nas alturas do
absurdo, para atrair essa poupança externa que o juro americano não enxuga, sob
pena de implodir a maior economia do mundo. Vale dizer, BC independente, nas
economias capitalistas periféricas, serviria, tão somente, para ajudar o
governo americano a empurrar sua dívida com a barriga, jogando a
responsabilidade de financia-la aos trouxas, crédulos na eficácia metafísica do
monetarismo pregado por Washington. Desde 2007-2008, quando estourou a
bancarrota financeira, nos Estados Unidos, o BC americano passou a jogar
dinheiro na circulação, encharcando a base monetária global. Porém, não cuidou
de enxugá-la, como fazia antigamente, elevando o juro, quebrando os aliados e
tomando deles seus patrimônios em pagamento, como aconteceu na crise monetária
dos anos 1980. Se fizesse isso, mandando ver 85 bilhões de dólares, todo o mês,
na praça global, quebraria a economia americana, já excessivamente endividada. O
segundo lance da ação do BC, portanto, teria que ser a da puxada dos juros. Mas,
esse movimento é, somente, anunciado para uma data futura. Fica no ar, como uma
ameaça, como espada de Dâmocles, na cabeça dos países que dependem de poupança
externa, para se financiar, como é o caso do Brasil e da maioria das economias
sul-americanas. Claro, se Washington fizesse o que promete, isto é, se puxasse,
para valer os juros, os poupadores sairiam em desabalada para os isteites,
deixando as economias periféricas em polvorosa. Mas cadê o cacife de Tio Sam
para fazer esse movimento? Não tem mais, porque a dívida americana entraria em
parafuso e o mercado financeiro não compareceria na escala necessária capaz de
manter o capitalismo americano naquela base em que vivia antigamente. Por isso,
agora, malandramente, Tio Sam fica jogando seus papagaios na praça para os
outros financiarem eles, puxando seus juros, enquanto ameaça, sem nunca agir
nesse sentido, puxando as taxas nos EUA. Evidentemente, se os BC, na periferia
capitalista, fizer o jogo que faz o BC americano, de não elevar juro, para não
ter as dívidas nacionais em expansão incontrolável, o que ocorreria com o dólar
que está sobrando na praça americana? Entraria em colapso, é claro. Ficar na
ameaça de que o juro americano, a qualquer momento, pode subir, mantêm os
trouxas em estado de pânico. O dólar, nos últimos dias, ficou volátil. Agora,
que Yellen, a presidente do BC de Tio Sam, descartou aumento de juro, por
enquanto, não sabendo, ademais, dizer quando haveria condições ideais para
puxá-lo, a moeda americana vai entrar em baixa. Trata-se de outro movimento que
interessa à política monetária de Tio Sam. Afinal, se o dólar fica fraco, os
exportadores dos Estados Unidos se tornam mais competitivos. É isso aí: depois
da bancarrota do império americano, o jogo de Washington é um só: juro baixo e
dólar desvalorizado, para salvar o parque produtivo do norte, enquanto vai
abrindo picadas no espaço dos concorrentes. Estes, com o juro zero ou negativo
americano, se endividam, porque sustentam taxas de juros elevadas, como a selic
brasileira na casa dos 11%, atraindo moeda americana, e, ao mesmo tempo,
dançam, porque suas moedas se sobrevalorizam, tornando os produtos nacionais
incompetitivos. Acreditar, como acreditam os comentaristas econômicos da grande
mídia, que o juro americano vai subir forte para levar os dólares que estão por
aqui para a praça americana é acreditar em papai noel.
Nenhum comentário:
Postar um comentário