Por Geraldo Luís Lino e Lorenzo Carrasco
Se ainda fosse preciso alguma demonstração, os desdobramentos do terremoto e da tsunami que atingiram de forma devastadora o Nordeste do Japão, na tarde da sexta-feira 11 de março, constituem evidências cabais do abismo existente entre a realidade refletida em uma catástrofe natural e a visão predominante nos meios de comunicação e grande parte das sociedades e lideranças políticas do Ocidente, imbuídos de uma ideologia do catastrofismo e um inerente pessimismo cultural.
Essa inclinação está explícita na ênfase extremamente exagerada no acidente na usina nuclear de Fukushima Daiichi, que passou a preencher páginas e páginas dos jornais e dominar o noticiário televisivo, ofuscando o impacto humano da devastação causada pelo terremoto e a tsunami, com centenas de milhares de pessoas desalojadas, milhões sem energia, as buscas às milhares de desaparecidas, a escassez de alimentos e combustível e todos os dramas que acompanham as grandes tragédias.
Uma vez mais, a principal lição a se extrair da tragédia é a importância da resiliência da sociedade - a preparação para enfrentar fenômenos inevitáveis em um planeta geologicamente ativo (condição sem a qual não haveria vida como a conhecemos). Tal preparo será tanto maior quanto as sociedades combinarem os avanços do conhecimento científico e tecnológico com uma economia saudável, que permita mobilizar rapidamente recursos humanos e econômicos, para a resposta imediata às emergências e a reconstrução posterior. Evidentemente, essas tarefas serão bastante facilitadas se a população afetada não estiver predisposta a um pessimismo cultural como o prevalecente nas sociedades ocidentais.
Em grande medida, a sóbria reação geral da população japonesa aos acontecimentos, que tem causado admiração fora do país, é uma demonstração de como a Humanidade pode e deve enfrentar catástrofes naturais. Por isso, à parte os aspectos culturais inerentes aos japoneses, outro ensinamento da catástrofe é a necessidade de uma confiança permanente no progresso científico-tecnológico e socioeconômico, que permita deixar para trás o pessimismo cultural motivado pela perda de perspectiva de um futuro positivo - um dos principais sintomas da crise civilizatória em curso.
Essa visão de um otimismo humanista tem sido combatida permanentemente nas últimas quatro décadas, pela difusão de uma combinação de paradigmas ideológicos, que colocou o ser humano e suas perspectivas de desenvolvimento e progresso à mercê de tendências aparentemente fora do seu controle - desprezando-se a natureza criativa do ser humano e erigindo autênticas idolatrias do "mercado" e do "meio ambiente". Daí resultou um distorcido amálgama de crenças que, de forma crescente, tem subordinado as políticas públicas da maioria dos países a um processo descontrolado de financeirização da economia mundial e ao ativismo paralisante do movimento ambientalista internacional.
Nenhum comentário:
Postar um comentário