Um trio de ex-presidentes neoliberais da América Latina continua em campanha pela legalização do consumo de maconha, agora, amealhando o apoio de banqueiros, empresários e outros notáveis globais. Os efeitos nocivos e amplamente demonstrados da droga para a saúde humana parecem pouco importar-lhes, a julgar pela sequência de argumentos absurdos invocados em sua campanha para conquistar os palcos internacionais. Segundo reportagens publicadas nos jornais O Globo e O Estado de S. Paulo, em 24 de janeiro, em Genebra, Suíça, teve lugar a primeira sessão de trabalho da Comissão Global sobre Drogas, encabeçada pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. Nos últimos anos, FHC se juntou aos ex-presidentes Ernesto Zedillo (México) e César Gaviria (Colômbia), para correr o mundo com o mesmo propósito. A nova comissão é integrada por: Javier Solana, ex-secretário geral da OTAN; a ex-presidente da Suíça, Ruth Dreifuss; George Shultz, ex-secretário do Tesouro dos EUA (governo Reagan); seu amigo banqueiro John Whitehead, estreitamente ligado à família Rockefeller e presidente da fundação que construiu o memorial do World Trade Center, em Nova York; o excêntrico empresário irlandês Richard Branson, fundador do Grupo Virgin, notório por sua empresa de aviação e investimentos na África (que, segundo ele, o transformaram em defensor do meio ambiente); e os que certamente serão os cronistas da causa, os escritores Carlos Fuentes e Mario Vargas Llosa, este recém laureado com o Prêmio Nobel de Literatura. Todos são pesos pesados integrantes ou freqüentadores dos círculos de poder político e econômico anglo-americanos, recrutados para levantar uma bandeira que parecia perdida, devido à rejeição que sempre desperta entre o público e os meios institucionais ainda sensatos do mundo. Aparentemente, uma das causas que reinjetou ânimo na campanha foi o apoio recebido pela Emenda 19 da Califórnia, nas eleições estadunidenses de novembro de 2010, apesar da sua derrota por uma pequena margem de votos. A emenda propunha a legalização do consumo de drogas, tendo sido amplamente patrocinada pelo megaespeculador George Soros, um veterano na causa. O principal argumento dos membros da Comissão Global é o de que a guerra contra os cartéis da droga estaria perdida. Apesar dos bilhões de dólares investidos pelos governos, sobretudo o estadunidense, a produção e o consumo de drogas continuam aumentando (embora não digam que uma das principais causas do fenômeno é a deterioração socioconômica acarretada pela "globalização" financeira, que tem devastado as economias reais em todo o mundo e deixado milhões de jovens adultos sem perspectivas de trabalho produtivo decente, muitos dos quais passam a recorrer às drogas como válvula de escape). Ademais, recorrem a pretextos como o aumento da população carcerária e a defesa dos "direitos humanos". Porém, esses pseudopaladinos dos direitos humanos sem aspas nada mencionam sobre a dimensão das narcofinanças, que superam os 500 bilhões de dólares anuais e são devidamente "lavadas" em um sistema financeiro desregulado, graças aos benefícios da "globalização" financeira. As implicações da legalização do consumo abrem uma série de interrogantes quase surreais, pois seria um passo para legalizar os lucros do negócio. O que exigiriam os envolvidos? Entrariam em um acordo de cavalheiros com os barões das drogas, para que estes abram mão dos seus sangrentos negócios? E quem passaria a controlá-lo: o Estado ou grupos privados? Se essa nova "guerra do ópio global" não está sendo vencida, é porque não se investe sobre os interesses financeiros que se beneficiam dela. Além disto, seria preciso reconhecer que a raiz do problema está fincada em um sistema econômico e financeiro falido, que tem obstaculizado o genuíno desenvolvimento socioeconômico de um grande número de países, inclusive os que têm sido devastados pela guerra das drogas, como o México e o Afeganistão. O primeiro, subordinado às regras da "globalização" financeira, tem uma população jovem desesperada e sem perspectiva de emprego, que se encontra constantemente assediada por todo tipo de tráfico, inclusive humano. O segundo, submerso em uma guerra geopolítica do poder anglo-americano, voltou a ser o maior produtor de ópio e heroína, responsável por quase 90% da produção mundial. Para complicar, o consumo de drogas tem sido alimentado por uma cultura de gratificação imediata impregnada de hedonismo, difundida pelos meios de comunicação de massas, por sua vez, concentrados nas mãos de um punhado de magnatas ligados ao poder anglo-americano. Este ataque sistemático aos valores morais tem criado um vazio espiritual na população, especialmente entre os jovens - vazio que, certamente, não é preenchido pelos romances de Fuentes ou de Vargas Llosa.
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