segunda-feira, 19 de setembro de 2011

Cobrança de juros mais elevados da história ameaça quebrar economia européia


Assalto à Grécia e Itália por bancos da Alemanha e França toca fogo na Europa. Bancos da França são os maiores detentores de papéis dos dois países. Em segundo vêm os bancos alemães. Para rolar os títulos italianos e gregos, cobraram taxas que cresceram até 10 vezes em um ano

A situação na Europa é tão grave que apareceram vozes inesperadas gritando pela... estatização definitiva dos bancos. “A banca é um assunto muito sério para ser confiada aos banqueiros”, diz um colunista da France Press, Damien Meyer, no Le Monde de 14 de setembro, intitulada “Nacionalize-se os bancos”. “Não é possível”, diz Meyer, “entregar uma garantia de Estado aos bancos e muito menos deixá-los agir livremente nos mercados internacionais, correr os riscos e adotar políticas de remuneração extravagantes”. No mesmo dia, as dívidas da Grécia e da Itália faziam três dos principais bancos franceses, o Societé Generale, o Credit Agricole e o BNP Paribas, balançarem. No entanto, não é a dívida da Grécia ou da Itália o problema básico desses bancos. Considerar assim seria uma inversão da realidade, pois foram eles que tornaram impagáveis as dívidas dos países da UE. Com sua ganância costumeira, e depois de receberem bilhões de euros dos Estados europeus (já houve três operações de “salvamento” de bancos na União Europeia), eles tentaram espremer esses países e outros para se safarem do verdadeiro problema. Com isso, deprimiram suas economias e tornaram mais difícil ainda para os governos fazerem o que eles queriam: uma pilhagem “pacífica”. Na terça-feira, Frau Merkel afirmou que a alternativa para a Grécia é entre uma “quebra ordenada” e uma “quebra desordenada”. Isto é, uma quebra que leve de roldão os bancos franceses e alemães ou uma quebra que permita a eles uma sobrevida.

Mas qual é o verdadeiro problema dos bancos europeus?

Sua crise financeira tem uma clara origem: os pacotes de “derivativos”, emitidos sobretudo por bancos norte-americanos, que eles negociaram (ou jogaram no cassino) desbragadamente.  Não por acaso, o eclodir da própria crise norte-americana teve como marco público os problemas do maior banco francês, o BNP Paribas, com os “derivativos” provenientes dos EUA, o que fez com que todos os “bancos de investimento” de Wall Street, com exceção do Goldman Sachs e Morgan Stanley, falissem. “Derivativos” são o suprassumo da especulação: papéis em cima de papéis, com um vínculo cada vez mais tênue com algum bem real. Apesar de ser o centro da crise financeira, segundo o último número divulgado pelo BIS, o chamado banco central dos bancos centrais, há no mundo US$ 601 trilhões e 48 bilhões em derivativos, quase 10 vezes o PIB mundial de US$ 63 trilhões (2010), isto é, 10 vezes o valor produzido no mundo, em mercadorias e serviços, durante todo o ano passado.
Essa papelada parasitária não diminuiu com a crise. Pelo contrário, à custa do dinheiros dos contribuintes, fornecido aos bancos, aumentou: em dezembro de 2008, segundo o BIS, havia US$ 598 trilhões e 147 bilhões em “derivativos”. Portanto, aumentaram em US$ 3 trilhões, um trilhão a mais do que o PIB do Brasil em 2010. Mas todos esses números são meramente estimativas, pois ninguém tem controle do total dessa ficção. Assim, os bancos europeus tentaram fazer com os países da Europa o que os bancos norte-americanos faziam com eles. O resultado é o agravamento da sua crise, apesar dos bilhões dispendidos com eles por suas próprias vítimas. O aspecto de “crise da dívida soberana” (a dívida soberana é a soma dos títulos públicos com aqueles que foram avalizados pelos governos) é apenas a aparência da crise – mas não a sua essência. Segundo a própria mídia francesa, 66% dos franceses perderam a confiança nos bancos privados de seu país e 39% acham que eles devem ser nacionalizados. O espantoso é que sejam só 39% - essa pesquisa deve ser manipulada. Depois de achacarem ao máximo os países periféricos (e outros nem tanto) da UE - Grécia, Itália, Espanha, Irlanda e Portugal - os bancos franceses e alemães (os franceses possuem 45% da dívida italiana, enquanto os alemães, 28%. De modo similar, a banca francesa tem 39% dos títulos gregos e a alemã, 27,5%), estão na situação daquele sujeito que matou a galinha dos ovos de ouro - no entanto, não se contentam em matar uma, duas, três, quatro, cinco dessas preciosas aves. Na segunda-feira, 12, a Itália pagou uma taxa de 4,153% nas obrigações com vencimento em um ano, quando apenas um mês antes pagara, pelos mesmos títulos, juros de 2,959%. Um aumento de 40% no valor dos juros em um mês. Na terça, os títulos italianos, para conseguir compradores, pagaram 5,6% nos recém-lançados títulos com vencimento em cinco anos, quando no pregão anterior conseguira colocá-los a juros de 4,93%. Da mesma maneira, em 10 meses, os juros pagos pelo governo grego aumentaram em 8 a 10 vezes. Diante de tudo isso, obedecendo aos bancos, que medidas tomam os servis governos da Itália e da Grécia? Mais medidas recessivas, piorando a crise – e, por consequência, a situação dos próprios bancos. Foi o que aconteceu no dia 14 na Itália, a terceira economia europeia. Os deputados, com as ruas vizinhas ao parlamento conflagradas por choques entre civis e policiais, votaram pela apertada margem de 314 a 300 mais um pacote, aumentando os cortes orçamentários já aprovados anteriormente. Quanto à Grécia, a rigor, o país de Aristóteles já está em plena convulsão social, que irá chegar a um paroxismo com a recém anunciada demissão corte de 10% de todo o funcionalismo, condição imposta pelo FMI para liberar uma parcela de empréstimo. O que é de uma irracionalidade completa, uma vez que leva junto os achacadores: o Société Générale já anunciou a demissão de 2.000 pessoas e uma venda de ativos de 4 bilhões de euros.

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