Por Alerta em Rede
Nos últimos tempos, a expressão “potência ambiental” tem sido empregada de forma recorrente, por personalidades diversas, para qualificar a estatura do Brasil no cenário internacional. Embora sem uma definição clara, tem sido geralmente associada ao grande peso dos recursos renováveis na matriz energética brasileira, à riqueza da biodiversidade e à posição de destaque do País em termos de aplicação de requisitos ambientais às atividades econômicas. Seu criador parece ter sido o climatologista Carlos Nobre, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), atual coordenador de Políticas e Programas de Pesquisa e Desenvolvimento do Ministério da Ciência e Tecnologia e um dos principais promotores da agenda catastrofista de “descarbonização” da economia ao Sul do equador.
Outro usuário frequente é o presidente da Empresa de Pesquisas Energéticas (EPE) do Ministério de Minas e Energia, Maurício Tolmasquim, que a repetiu no seminário Energy Summit 2011, realizado no Rio de Janeiro (RJ), no início de agosto. Segundo ele, as fontes de geração de “energia limpa” e seus potenciais deverão transformar o Brasil em uma potência energética e ambiental nas próximas décadas. “Minha tese pode parecer ufanista, mas tem bases reais. O Brasil tem uma situação diferenciada em relação a dois aspectos fundamentais: a questão da segurança energética e a questão ambiental. O setor elétrico tem potencial em todas as fontes de geração e encontrou um modelo que permite que essa expansão ocorra”, disse ele (O Estado de S. Paulo, 5/08/2011).
Como exemplo do potencial brasileiro de conciliar a geração de eletricidade com a preservação ambiental, Tolmasquim citou as chamadas “usinas-plataforma”, projetos hidrelétricos elaborados para a Região Amazônica em sítios praticamente isolados, cujo acesso será feito por helicópteros, para reduzir ao mínimo os impactos ambientais (o nome provém da inspiração nas plataformas oceânicas de exploração de petróleo).
As “usinas-plataforma” representam a mais recente concessão nacional ao ativismo ambientalista para a imposição de limitações aos projetos das usinas hidrelétricas, somando-se à redução dos reservatórios – que tem transformado as usinas em virtuais aproveitamentos “a fio d’água” – e à não inclusão de eclusas, que tem obstaculizado a navegação em importantes eixos fluviais em todo o País (neste particular, com uma preciosa ajuda de representantes do setor elétrico e autoridades federais, que teimam em não se entender para viabilizá-las).
A popularidade da expressão entre lideranças brasileiras de todos os setores denota uma miopia – ou relutância – em não aceitar o fato, cada vez mais evidente, de que o movimento ambientalista internacional é, predominantemente, um instrumento político a serviço de uma agenda de restrições ao desenvolvimento socioeconômico. Como demonstram várias investigações independentes, o movimento foi criado adredemente por uma facção do Establishment oligárquico anglo-americano, a partir do final da década de 1950 e início da de 1960, com propósitos específicos: 1) reduzir o impulso pró-industrialização prevalecente na época; 2) manter o controle sobre regiões ricas em recursos naturais; 3) limitar o crescimento demográfico; e 4) reduzir o “otimismo tecnológico” gerado pela conquista do espaço e outras façanhas que eletrizavam a população, em especial a juventude.
A propósito, o eixo anglo-americano também adotou alegremente a expressão. Em sua visita ao Brasil, em junho, o vice-premier britânico Nick Clegg também se referiu ao País como “uma potência ambiental, sem a qual não pode haver um acordo climático significativo”. Mas, também, deixou clara a intenção subreptícia de tais afagos, ao afirmar que gostaria de ver os laços entre os dois países “voltarem ao século XIX, para recuperar as bases de uma relação mais sólida (Notícias Terra, 22/06/2011)”.
Como qualquer pessoa que tenha estudado superficialmente a História brasileira conhece a natureza de subordinação colonial que o Brasil mantinha com a Grã-Bretanha, no século XIX, as declarações de Nick Clegg assumem uma conotação bastante sugestiva. Na mesma linha, o Conselho de Relações Exteriores (CFR) de Nova York, o mais influente think-tank do Establishment estadunidense, publicou recentemente o estudo “Brasil Global e as Relações EUA-Brasil”, que afirma: “Os perfis energético e ambiental do Brasil estabeleceram o país como um importante ator internacional em dois dos desafios globais mais centrais e estreitamente interligados: a segurança energética e as mudanças climáticas.”
Parece evidente que “potência ambiental” implica um enquadramento no molde de um grande exportador de matérias-primas e uma disposição de subordinar à agenda ambientalista a utilização plena dos recursos naturais para o desenvolvimento interno soberano do País e da América do Sul, pelo processo de integração regional.
Desafortunadamente, muitos brasileiros se iludem com tais cantos de sereia ou se intimidam diante de pressões políticas e midiáticas motivadas por argumentos ambientalistas. O recente imbróglio envolvendo a votação do projeto de reforma do Código Florestal na Câmara dos Deputados proporcionou um exemplo didático de tal processo – e uma rara vitória dos interesses nacionais sobre a “Máfia Verde”. No futuro imediato, será crucial que esse aparato intervencionista seja neutralizado, para que o País possa se consolidar como uma verdadeira potência – mas digna do nome, promovendo um desenvolvimento socioeconômico harmonioso e duradouro e capaz de exercer uma influência positiva no cenário global.
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