Brasil precisa retomar soberania com Estado protagonista global
No encerramento do seminário "Alternativas para o Brasil Enfrentar a Crise", promovido pelo MM em parceria com outras entidades, semana passada, houve consenso de que o Brasil precisa resgatar sua condição de nação soberana e que o Estado precisa assumir papel protagonista nas áreas de Relações Exteriores, Defesa e Economia para que o país retome a trajetória do desenvolvimento, desta feita enfatizando a inclusão social.
Mais concentração
O secretário-geral do Itamaraty, embaixador Samuel Pinheiro Guimarães, que defendeu, no plano político, uma "mobilização progressista", destacou que a tendência à desregulação e à liberalização observada nas últimas décadas não trouxe paz nem prosperidade ao mundo. Ao contrário, resultou em mais concentração de poder, riqueza e até de ideologia:
"A chamada globalização foi oferecida ao público a partir da hipótese de que o mercado livre é o melhor para a humanidade. Muitos governos foram impelidos para essa idéia. Houve grande processo de desregulamentação, inclusive no que tange aos fluxos de capital; aos acordos de integração e bilaterais; aos grandes fluxos migratórios. O resultado foi uma extraordinária concentração de poder político, que levou, indevidamente, para o Conselho de Segurança da ONU questões como o enriquecimento de urânio e o meio ambiente", criticou.
Guimarães destacou, ainda, que as despesas militares da maior potência, os Estados Unidos, superam em mais de dez vezes a soma dos países seguintes. Já o somatório dos PIBs dos países em desenvolvimento, incluindo os Brics, ainda é inferior ao PIB dos EUA.
"Os mecanismos de controle que serão criados a partir da crise exigirão participação mais ampla de alguns países e a saída política para o Brasil está na articulação com outros grandes Estados da periferia, como já estamos fazendo no G-20", disse.
O embaixador comemorou o fracasso da Rodada de Doha, que preconiza mais abertura comercial: "Houve resistência à influência dos privilegiados. Isso poderá trazer desdobramentos para a nova arquitetura financeira mundial", disse, ressalvando que os países ricos são muito bem articulados e têm larga experiência.
Burguesia compradora
Por sua vez, o Coordenador da Cátedra e Rede Unesco/UNU de Economia Global e Desenvolvimento Sustentável (Reggen), economista Theotonio dos Santos, integrante do Conselho Editorial do MM, destacou ser fundamental para o país assumir sua condição de nação, "contra a elite econômico-intelectual, que ridiculariza nossa ambição de participar das decisões mundiais".
Para Santos, nossa classe dominante é do tipo "burguesia compradora", que faz o papel de intermediária entre os interesses internacionais e os da manutenção de seus privilégios:
"A função dessa elite é manter um sistema macroeconômico que impede a explosão do consumo", disse, lembrando que a China cresce perto de 10% há 30 anos sem perder o controle sobre a inflação: "O PIB chinês dobra a cada seis anos. Entre 2005 e 2006, o consumo rural subiu 8%, enquanto o urbano, 16% ao ano. E não houve inflação, porque o capital fixo (meios de produção) cresceu mais de 20%".
O coordenador do Reggen lembrou que, há 30 anos, os EUA prevêem uma grande inflação na China: "São três décadas de previsões fracassadas. Aqui, além de sermos inimigos da demanda, ainda a reprimimos com taxas de juros, que passaram a ser um componente do curto-circuito."
Defendendo o que chamou de "Consenso de Pequim", Santos sublinhou que, das dez maiores empresas do mundo, seis são chinesas, todas estatais.
Ele disse ainda que os países centrais passarão longo tempo com crescimento dependente do Estado e que, por ser detentora de liquidez, a China vai ampliar sua influência no mundo, inclusive a importância de sua moeda, o iuan: "Cada vez mais, os EUA perdem condições de financiar sua hegemonia."
Rogério Lessa/ Leia mais no Monitor Mercantil
"A chamada globalização foi oferecida ao público a partir da hipótese de que o mercado livre é o melhor para a humanidade. Muitos governos foram impelidos para essa idéia. Houve grande processo de desregulamentação, inclusive no que tange aos fluxos de capital; aos acordos de integração e bilaterais; aos grandes fluxos migratórios. O resultado foi uma extraordinária concentração de poder político, que levou, indevidamente, para o Conselho de Segurança da ONU questões como o enriquecimento de urânio e o meio ambiente", criticou.
Guimarães destacou, ainda, que as despesas militares da maior potência, os Estados Unidos, superam em mais de dez vezes a soma dos países seguintes. Já o somatório dos PIBs dos países em desenvolvimento, incluindo os Brics, ainda é inferior ao PIB dos EUA.
"Os mecanismos de controle que serão criados a partir da crise exigirão participação mais ampla de alguns países e a saída política para o Brasil está na articulação com outros grandes Estados da periferia, como já estamos fazendo no G-20", disse.
O embaixador comemorou o fracasso da Rodada de Doha, que preconiza mais abertura comercial: "Houve resistência à influência dos privilegiados. Isso poderá trazer desdobramentos para a nova arquitetura financeira mundial", disse, ressalvando que os países ricos são muito bem articulados e têm larga experiência.
Burguesia compradora
Por sua vez, o Coordenador da Cátedra e Rede Unesco/UNU de Economia Global e Desenvolvimento Sustentável (Reggen), economista Theotonio dos Santos, integrante do Conselho Editorial do MM, destacou ser fundamental para o país assumir sua condição de nação, "contra a elite econômico-intelectual, que ridiculariza nossa ambição de participar das decisões mundiais".
Para Santos, nossa classe dominante é do tipo "burguesia compradora", que faz o papel de intermediária entre os interesses internacionais e os da manutenção de seus privilégios:
"A função dessa elite é manter um sistema macroeconômico que impede a explosão do consumo", disse, lembrando que a China cresce perto de 10% há 30 anos sem perder o controle sobre a inflação: "O PIB chinês dobra a cada seis anos. Entre 2005 e 2006, o consumo rural subiu 8%, enquanto o urbano, 16% ao ano. E não houve inflação, porque o capital fixo (meios de produção) cresceu mais de 20%".
O coordenador do Reggen lembrou que, há 30 anos, os EUA prevêem uma grande inflação na China: "São três décadas de previsões fracassadas. Aqui, além de sermos inimigos da demanda, ainda a reprimimos com taxas de juros, que passaram a ser um componente do curto-circuito."
Defendendo o que chamou de "Consenso de Pequim", Santos sublinhou que, das dez maiores empresas do mundo, seis são chinesas, todas estatais.
Ele disse ainda que os países centrais passarão longo tempo com crescimento dependente do Estado e que, por ser detentora de liquidez, a China vai ampliar sua influência no mundo, inclusive a importância de sua moeda, o iuan: "Cada vez mais, os EUA perdem condições de financiar sua hegemonia."
Rogério Lessa/ Leia mais no Monitor Mercantil
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