A transição de Obama
Para quem tem o desafio de montar uma equação capaz gerenciar duas guerras (Afeganistão e Iraque) e enfrentar a maior crise econômica do capitalismo, desde 1929, por enquanto Obama deu mostras de estar minimamente preparado para responder às expectativas e deve usar munição pesada em seus primeiros 100 dias.
Antonio Lassance*
A transição de Obama já emite alguns sinais do que será o início de seu governo. Nos Estados Unidos, as transições são momentos especiais. Pelo menos é assim desde as transições de Truman para Eisenhower e de Eisenhower para Kennedy. O assunto ganhou notoriedade com os estudos de Richard Neustadt, um especialista em governo e presidência, figura-chave nestas duas transições. Todavia, mesmo sendo um país acostumado às transições e sabedor de sua importância, causou certa surpresa a rapidez de Obama em tirar do colete os nomes de sua equipe de transição, quase imediatamente após o anúncio de sua vitória. Para quem transformou a palavra “mudança” em um slogan exaustivamente repetido, o novo presidente não apenas quer, mas precisa agir rápido e, desde o início, lançar propostas capazes de provocar imediata sensação de mudança. O início quase instantâneo da transição foi possível porque Obama já havia se preparado para este momento antes mesmo de ser eleito. Sua escolha permaneceu em segredo até onde pôde. Quando o jornal Financial Times a revelou, faltava apenas 4 dias para a eleição. Conseguiu-se, assim, um duplo feito: como candidato, evitou a crítica de que já estivesse com a idéia do “já ganhou” na cabeça; como eleito, ganhou um tempo precioso em sua contagem regressiva até o dia 20 de janeiro, quando toma posse efetivamente do cargo de presidente. Em contraste, Clinton só começou a pensar em sua transição com o governo de Bush-pai após ter sido declarado eleito. Sua transição foi modesta, sediada no Arkansas, e os resultados pífios comprometeram os importantes 100 dias do início de seu Governo.Obama deu sinais de que sabe muito bem que os 100 primeiros dias de qualquer governo são uma espécie de cartão de visita. Se a primeira impressão é a que fica, é preciso acrescentar que, para governos, ela não dura muito mais que os 100 primeiros dias.A escolha de John Podesta, ex-chefe de gabinete de Clinton e que até hoje decora o escritório com uma foto do ex-presidente, pode dar margem a confusões e exagero sobre a influência de Clinton sobre a administração Obama. O poder dos Clinton foi testado ainda na campanha, quando havia pressão para a aceitação de Hillary para compor a chapa de Obama. Na escolha do vice, prevaleceu a opção do candidato, que preferiu arriscar. Descartou Hillary e escolheu o veterano senador Joe Biden. Seu recado claro: não queria que o “clã” dos Clinton lhe fizesse sombra. (...)
Leia o artigo completo na Carta Maior...
*Antonio Lassance, cientista político, é assessor da Presidência da República.
Nenhum comentário:
Postar um comentário