sábado, 23 de janeiro de 2010

Antonio Lassance

O mundo de ponta-cabeça

O início deste século tem sido marcado por transformações profundas e aceleradas. Há um século, não foi diferente. A década de 10 teve dois acontecimentos angulares para o século XX: a I Guerra (1914-1918) e a Revolução Russa (1917). O mundo tinha uma nova geografia, com países recém unificados, outros que acabavam de surgir (África do Sul, 1910) e alguns que mudavam de regime – como Portugal, que aboliu sua secular monarquia e instaurou a república, também em 1910. Populações migravam em grande escala para as Américas. As cidades ganhavam contornos horizontais e verticais inimagináveis e sua paisagem passaria a ser definitivamente associada ao automóvel e à eletricidade. A produção industrial começara a utilizar a linha de montagem, nas fábricas da Colt (de armas) e da Singer (máquinas de costura), mas foi a partir da década de 10, com o modelo T, da Ford, quando ela se tornaria o padrão de organização do trabalho mais comum no século XX. A cultura seria radicalmente modificada com a dimensão que alcançariam o rádio e o cinema, no que viria a ser chamado de “cultura de massa”. As mulheres intensificavam sua luta por igualdade de direitos civis e políticos. No México, explodia a Revolução Zapatista e, no Brasil, a Revolta da Chibata, ambas em 1910.Comparativamente, a profundidade e rapidez das transformações que se vive atualmente não parecem ter impactos menos sensíveis. Muitas das alterações em curso ocorrem de maneira frenética, com desdobramentos que ainda estão por serem completamente compreendidos. Outras são lentas, graduais, mas solapam sorrateiramente o mundo tal como o conhecemos até agora, até que, no futuro, ele não existirá mais. Assim como o século XX marcou a passagem do ciclo hegemônico inglês para o americano, há sinais contundentes de um processo de transição que pode resultar em uma nova hegemonia no sistema mundial de produção de mercadorias. A substituição do G-8 pelo G-20 e o desenvolvimento econômico das economias do hemisfério Sul (e do que era identificado como o “Terceiro Mundo”) marcam um novo cenário da economia internacional.
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Antonio Lassance, pesquisador do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), cientista político, professor do Centro Universitário do Distrito Federal (UDF).

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“A Queda”

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