A vez do Dragão
As previsões econômicas para 2010, tanto da Bolsa de Valores, noticiário da rede Globo e propaganda do governo federal não poderiam ser mais otimistas em relação ao ano que se inicia. Sairemos do Produto Interno Bruto que cresceu 0% em 2009 para uma estimativa de 5,5 a 6% de crescimento em 2010, a média dos dois anos anteriores à crise mundial. Os indicadores financeiros são igualmente otimistas, daí a euforia recordista da Bovespa, mas os industriais nem tanto, basta ver a demora, por exemplo, do pólo industrial de Manaus em recuperar seus empregos de setembro de 2008. A indústria nacional como um todo esbarra nos habituais gargalos de infraestrutura, e exige, a propósito, celeridade e ri gor no cronograma do PAC, cujas obras padecem a síndrome da protelação.
Quem viu as imagens da Rua 25 de Março, em São Paulo, na TV ou ao vivo neste final de ano – a classe média manauara descobriu o filão de negócios fáceis daquele mercado cada vez mais oriental – compreenderá um pouco melhor a apreensão do setor produtivo nacional. É impressionante a invasão chinesa em todos os setores da indústria. Enquanto uma grande marca de Franca, interior de São Paulo, até bem pouco tempo quebrava o recorde de produção semanal de um milhão de calçados, uma fábrica na China produz no mesmo período 40 milhões de unidade numa unidade fabril similar. Em Franca e região o desemprego é galopante e na China os empregados agradecem a Deus ou a Mao Tse Tung pela op ortunidade do emprego, apesar das taxas de direitos trabalhistas próximas a zero.
A juventude do mundo subdesenvolvido do pós-guerra criticava violentamente o predomínio industrial dos Estados Unidos ao redor do mundo transformado em ruínas pela insensatez beligerante. Da pasta de dente do amanhecer ao sabonete usado antes do asseio que antecede o sono, incluindo os manufaturados do cotidiano, tudo era made in USA. Agora é a vez do Dragão chinês. Isso representa uma ameaça real e mortal para as previsões e pretensões do crescimento do Brasil. Os chineses deram as costas para os acordos do clima em Copenhague como fizeram os Estados Unidos em Kyoto, p or uma razão muito simples: seu projeto de expansão industrial - e tudo que daí decorre – não pode parar. Se quisermos, pois, ampliar empregos, ou assegurar o que já tivemos é preciso ousar na avaliação e no planejamento do país que queremos. Como os chineses, é preciso apostar na qualificação tecnológica e na superação dos embaraços energéticos, logísticos e de comunicação, além, é claro, nas saídas de flexibilização dos encargos sociais e trabalhistas, caso queiramos manter a economia no páreo e a sobrevivência social no jogo da prosperidade geral. Poe enquanto, votos sinceros e apreensivos de um feliz 2010.
Zoom-zoom
· Lula, lá! - Na semana passada foi o Le Monde da França, e nesta semana foi a vez do sisudo Financial Times, da Inglaterra, destacar o papel do presidente Lula na definição dos rumos da política e economia global. Para um país acostumado a ter no futebol e no Carnaval seus fatores de divulgação nacional, esta notícia é razão de muito contentamento pátrio.
· Destaques – Durante a Conferência do Clima, na Dinamarca, o Brasil foi reconhecido como o país que mais avançou na luta e conquistas pela redução na emissão dos gases do efeito estufa. Só falta agora transformar esses avanços em aportes de recursos destinados a custear o aproveitamento sustentável dos recursos naturais amazônicos, a grande usina de reciclagem atmosférica do planeta.
· Lei seca – é preocupante constatar que as estatísticas da Polícia Rodoviária Federal relatam um aumento de flagrantes de motoristas embriagados numa proporção três vezes maior que o Natal de 2008. Esse afrouxamento se detecta nas batidas policiais de Manaus e isso tem quer ser ajustado. Os danos dessa equação perversa já são de todos conhecidos.
· Previsões otimistas – A superintendência da Suframa jogou para 10,6% a estimativa de crescimento para 2010, e a previsão de recuperação os empregos perdidos ao longo do próximo ano, em parte por conta da Copa do Mundo e eleições. Este fator político, historicamente, tende a inibir decisões e proposições mais arrojadas, o que representa um obstáculo temerário para a retomada que se impõe. O momento é delicado e de tomada rigorosa de decisões.
Belmiro Vianez Filho é empresário e membro do Conselho Superior da Associação Comercial do Amazonas.
belmirofilho@belmiros.com.br
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