Aparece na Colômbia uma vala comum com 2.000 cadáveres
Os corpos sem identificação vêm sendo depositados pelo exército colombiano desde 2005
Público.es
Na pequena cidade de La Macarena, região de Meta, 200 quilômetros ao sul de Bogotá, uma das áreas mais quentes do conflito colombiano foi descoberto o maior túmulo em massa da história recente da América Latina, com um número de corpos enterrados sem identificação que pode chegar a 2.000, segundo diversas fontes e os próprios moradores. Desde 2005, a elite do exército, cujas forças de elite estão instaladas nas proximidades, tem depositado por trás do cemitério local centenas de corpos enterrados sem identificação. Trata-se do maior cemitério de vítimas de um conflito que se tem notícia no continente e comparável à dimensão do que ocorreu no holocausto nazi ou na barbárie de Pol Pot no Camboja. O advogado Jairo Ramirez é o secretário do Comitê Permanente para a Defesa dos Direitos Humanos na Colômbia. Ele acompanhou uma delegação de parlamentares britânicos ao local há algumas semanas, quando começou a se descobrir a magnitude da sepultura de La Macarena. "O que vimos foi terrível", disse ao “Público”. "Um infinidade de corpos e, na superfície, centenas de placas de madeira branca com a inscrição “NN” e fichas de registo de 2005 até hoje."
Parentes de uma pessoa desaparecida, cujo corpo foi encontrado em uma vala comum. - AFP –
Desaparecidos
Ramirez acrescenta: "O Comandante do Exército nos disseram que eram guerrilheiros mortos em combate, mas o povo da região nos falou de muitos líderes comunitários, camponeses e defensores da comunidade, que desapareceram sem deixar rastro." Enquanto os promotores anunciaram investigações "a apartir de março", após as eleições parlamentares e presidenciais, uma delegação de parlamentares espanhóis, composta por Jordi Pedret Espanhol (PSOE), Inés Sabanés (IU), Francesc Canet (ERC), Joan-Josep Nuet (IC -UE), Carles Campuzano (CiU), Mikel Basabe (Aralar) e Marian Suarez (Eivissa pel Canvi), chegou ontem na Colômbia para estudar o caso e apresentará um relatório ao Congresso e à Eurocâmara. A situação da mulher como a primeira vítima do conflito e a dos sindicalistas (só em 2009 foram mortos 41) centraram também a preocupação dos parlamentares espanhóis em diferentes áreas do país.
Mais de mil túmulos clandestinos no país
O horror de La Macarena coloca em questão a existência de mais de mil sepulturas coletivas de cadáveres não identificados na Colômbia. Até o ano passado, estudos forenses conseguiram achar cerca de 2.500 cadáveres. Destes, foram identificados cerca de 600 e devolvidos aos seus familiares. A localização destes túmulos clandestinos foi possível graças às declarações de paramilitares supostamente desmobilizados e beneficiados junto à Justiça pela controversa Lei de Paz, que lhes garante uma pena simbólica, em troca da confissão de seus crimes. A última dessas declarações foi a de John Jairo Renteria, também conhecido como “Betume”, que acaba de revelar ao Ministério Público e aos parentes das vítimas que ele e seus seguidores enterraram "pelo menos 800 pessoas" em Vila Sandra, em Puerto Asis, região de Putumayo. "Tinha que desmembrar as pessoas. Todos tivemos que aprender isso e, muitas vezes, levávamos as pessoas vivas", confessou o líder paramilitar ao procurador de Justiça e Paz.
"O governo não quer investigar"
Entrevista com Alfredo Molano, sociólogo e escritor, um dos colunistas mais influentes da Colômbia e que já percorreu o país como "um cronista da violência", o que o obrigou ao exílio para escapar das ameaças militares e paramilitares.
Qual é a situação das valas na Colômbia?
A própria Promotoria Geral da Nação fala de 25.000 "desaparecidos", que deve estar em algum lugar. Há enormes valas comuns na Colômbia. Há gente desaparecida. Também é possível que tenham feito desaparecer muitos restos mortais como nos crematórios nazistas.
Estes túmulos têm a ver com os chamados "falso positivos?
Sim, isso pode estar relacionada os “falsos positivos” [civis colombianos assassinados, mas considerados oficialmente como "morto em ação"]. O Exército os enterrava clandestinamente. Muitos deles podem ser encontrados nessas valas comuns.
Qual pode ser a magnitude desses túmulos coletivos descobertos?
Terrível. Nem nos anos cinqüenta houve brutalidade tamanha na Colômbia como indicam as ações dos grupos paramilitares atualmente. Mas o governo não tem intenção de investigar a fundo, e só deseja que apareçam apenas alguns túmulos. Além do quê, há trabalho para muito tempo e as dificuldades técnicas para a identificação, provas químicas e testes de DNA, são enormes.
Esta matéria assustadora, do site “Público”, da Espanha, está no original em espanhol no endereço: http://www.publico.es/internacional/288773/aparece/colombia/fosa/comun/cadaveres
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