A celebração do Natal e sua proximidade com o fim de cada ano se transformam em razões especiais para meditar sobre a existência, os calços e os percalços do cotidiano, o sentido da vida que inquieta a condição humana desde sempre. Entram, então, em pauta assuntos, divagações e perguntas que o lufa-lufa da sobrevivência costuma deixar para esta época. O sentido original e religioso desta festa, comemorada pelos cristãos como celebração do nascimento de Jesus de Nazaré, é bem verdade, acabou cedendo lugar ao mercantilismo que sustenta as relações econômicas e propicia oportunidades benfazejas de recuperação de perdas e acumulação de dividendos. É a fé a serviço do capital e da engrenagem dos negócios, propiciando vantagens e benefícios que gera oportunidades e ocasião de crescimento. E é bom que assim seja ma s que não se perca a transcendência desta data. O que desassossega o bom senso, entretanto, é a transformação da própria fé em negócios e oportunidades muitas vezes obscuras, com propósitos subliminares, não raro aviltantes e freqüentemente desconectados do sentido de agregação social e de harmonia entre os cidadãos. É a fé compreendida e instrumentalizada como um negócio qualquer e obscuro, sob o manto constitucional que respalda as iniciativas legalmente religiosas: "São livres a criação, a organização, a estruturação interna e o funcionamento das organizações religiosas, sendo vedado ao poder público negar-lhes reconhecimento ou registro dos atos constitutivos e necessários ao seu funcionamento". Refiro-me à multiplicação oportunista de seitas e movimentações marotas para ludibriar a emoção espiritual do povo simples. Como não pagam impostos que incidam sobre o patrimônio, a renda e os serviços, relacionados com suas finalidades essenciais, os negócios da fé viraram a melhor e mais rentável saída para empreender com isenção fiscal e absoluta indiferença tributária. Essas siglas que atormentam o empresário – II, IR, ICMS, IPTU, IPVA, PIS e Cofins... - não representam nada para os empreendedores da boa vontade espiritual do cidadão. Tais isenções e vantagens tendem a se ampliar de acordo com projetos de Lei que tramitam no Congresso e terão a própria aprovação assegurada por alguns setores da bancada evangélica, base aliada essencial deste e de qualquer governo. As Igrejas evangélicas tradicionais, historicamente constituídas e doutrinariamente consolidadas, se arrepiam com toda essa movimentação. Em nome de Espírito, os negócios da fé começam a revelar os abusos dos privilégios amealhados, e a fazer mau uso das benesses legais que o Estado confere. Remessa fraudulenta de moeda para o exterior, lavagem de dinheiro, estelionato, formação de quadrilha, eliminação de testemunhas e outras contravenções mostram um rosário de terror e ilegalida de. Tudo em nome de Jesus, cujo aniversário é preciso fervorosam ente celebrar, para separar joio do trigo e espalhar a harmonia, a justiça e a igualdade de oportunidades em nome do Bem Comum e da fraternidade universal. Um Feliz – e verdadeiro – Natal para todas pessoas de boa vontade!
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Taxa de lixo – a polêmica e controvertida taxa de lixo foi aprovada pela Câmara Municipal de Manaus e passa a vigorar a partir de 2011. No rescaldo da confusão e da desinformação criada restou um tempo para ajustes e atendimento às demandas ambientais da cidade. E dá para avançar muito em reciclagem e energia alternativa.·
Expectativa cívica – A questão do lixo em Manaus é um exemplo gritante e oportuno parra consorciar a ação do Estado e do Município com inteligência e eficiência na perspectiva de acolher a demanda do cidadão. É preciso otimizar recursos públicos de todas as origens para enfrentar o caos urbano e ambiental que o lixo tem provocado historicamente. ·
Qualidade de ensino – O alerta dado pelo MEC em cima dos cursos de Direito da Nilton Lins e Unip têm um alcance simbólico muito maior e remete a uma revisão cuidadosa e rigorosa da qualidade do ensino em nosso Estado. Este é um problema sério com implicações muito delicadas.· Visão de futuro – Crescem as denúncias contra profissionais do Direito na OAB e da Saúde no Conselho Regional, entre outros setores, frutos de uma formação acadêmica e ética extremamente precária em alguns casos. Se quisermos reduzir os danos futuros a hora de rever a qualidade da educação oferecida é agora.
Belmiro Vianez Filho é empresário e membro do Conselho Superior da Associação Comercial do Amazonas.
belmirofilho@belmiros.com.br
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