Por Geraldo Luís Lino
O recém-divulgado "Programa para o Uso Efetivo da Política Exterior no Desenvolvimento de Longo Prazo da Rússia", documento que pretende orientar a diplomacia russa nas próximas décadas, estabelece que o país necessita de "alianças modernizadoras" com parceiros estrangeiros baseadas em interesses comuns. As importantes iniciativas de cooperação para a implementação de projetos de infraestrutura energética, em negociação com países como a Turquia, Ucrânia e outros, se enquadram nesse contexto. Além dos efeitos econômicos, tais acordos têm um enorme potencial geopolítico, no sentido de contribuir para uma redução de tensões e conflitos que se mostra cada vez mais imprescindível para um processo de desenvolvimento compartilhado para toda a vasta região de influência direta da Federação Russa, inclusive o eixo eurasiático.
A recente visita do presidente Dmitri Medvedev à Turquia proporcionou uma boa amostra desse esforço. Na ocasião, foram assinados acordos envolvendo projetos no valor de 25 bilhões de dólares, que incluem a construção e operação pela empresa estatal russa Rosatom de quatro usinas nucleares na costa sul turca do Mediterrâneo. Ademais, os dois países estão discutindo o possível envolvimento da Rússia no projeto turco-italiano de um oleoduto de 550 km ligando o mar Negro ao Mediterrâneo Oriental, o qual proporcionaria à Rússia e ao Cazaquistão colocar o seu petróleo nos mercados evitando os congestionados estreitos de Bósforo e Dardanelos. Além disto, a Turquia poderá participar do estratégico gasoduto South Stream (mar Negro-Bulgária-Itália-Áustria), com o que Moscou espera que Ankara desista do projeto rival Nabucco, promovido pelos EUA e a União Europeia (UE) como forma de reduzir a dependência dos fornecimentos energéticos russos.
Com tais projetos, a Rússia, que já atende 70% das necessidades energéticas da Turquia (com o Irã fornecendo a maior parte do restante), poderá contribuir decisivamente para concretizar a ambição turca de tornar-se um centro global de distribuição energética, ao mesmo tempo em que neutraliza as manobras ocidentais para reduzir a sua própria a importância como fornecedora.
Em termos geopolíticos, a Turquia está experimentando um certo refluxo na pretensão de vir a integrar a UE e, apesar de integrar a Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN), compartilha com a Rússia o interesse em evitar que o mar Negro se converta num "lago da OTAN". Moscou também conta com o apoio turco para manter a aliança atlântica relativamente afastada da Crimeia e os dois países têm "visões muito próximas" - nas palavras de Medvedev - sobre o processo de pacificação do Oriente Médio. Neste aspecto, é relevante que Medvedev tenha viajado a Ankara via Damasco, onde, além de tratar da possível construção de uma usina nuclear para a Síria, reuniu-se com o líder do Hamas, Hhaled Meshaal (Asia Times, 15/05/2010).
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O recém-divulgado "Programa para o Uso Efetivo da Política Exterior no Desenvolvimento de Longo Prazo da Rússia", documento que pretende orientar a diplomacia russa nas próximas décadas, estabelece que o país necessita de "alianças modernizadoras" com parceiros estrangeiros baseadas em interesses comuns. As importantes iniciativas de cooperação para a implementação de projetos de infraestrutura energética, em negociação com países como a Turquia, Ucrânia e outros, se enquadram nesse contexto. Além dos efeitos econômicos, tais acordos têm um enorme potencial geopolítico, no sentido de contribuir para uma redução de tensões e conflitos que se mostra cada vez mais imprescindível para um processo de desenvolvimento compartilhado para toda a vasta região de influência direta da Federação Russa, inclusive o eixo eurasiático.
A recente visita do presidente Dmitri Medvedev à Turquia proporcionou uma boa amostra desse esforço. Na ocasião, foram assinados acordos envolvendo projetos no valor de 25 bilhões de dólares, que incluem a construção e operação pela empresa estatal russa Rosatom de quatro usinas nucleares na costa sul turca do Mediterrâneo. Ademais, os dois países estão discutindo o possível envolvimento da Rússia no projeto turco-italiano de um oleoduto de 550 km ligando o mar Negro ao Mediterrâneo Oriental, o qual proporcionaria à Rússia e ao Cazaquistão colocar o seu petróleo nos mercados evitando os congestionados estreitos de Bósforo e Dardanelos. Além disto, a Turquia poderá participar do estratégico gasoduto South Stream (mar Negro-Bulgária-Itália-Áustria), com o que Moscou espera que Ankara desista do projeto rival Nabucco, promovido pelos EUA e a União Europeia (UE) como forma de reduzir a dependência dos fornecimentos energéticos russos.
Com tais projetos, a Rússia, que já atende 70% das necessidades energéticas da Turquia (com o Irã fornecendo a maior parte do restante), poderá contribuir decisivamente para concretizar a ambição turca de tornar-se um centro global de distribuição energética, ao mesmo tempo em que neutraliza as manobras ocidentais para reduzir a sua própria a importância como fornecedora.
Em termos geopolíticos, a Turquia está experimentando um certo refluxo na pretensão de vir a integrar a UE e, apesar de integrar a Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN), compartilha com a Rússia o interesse em evitar que o mar Negro se converta num "lago da OTAN". Moscou também conta com o apoio turco para manter a aliança atlântica relativamente afastada da Crimeia e os dois países têm "visões muito próximas" - nas palavras de Medvedev - sobre o processo de pacificação do Oriente Médio. Neste aspecto, é relevante que Medvedev tenha viajado a Ankara via Damasco, onde, além de tratar da possível construção de uma usina nuclear para a Síria, reuniu-se com o líder do Hamas, Hhaled Meshaal (Asia Times, 15/05/2010).
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