Como discutimos em outras oportunidades, o governo de Barack Obama está utilizando a política de não-proliferação nuclear como um instrumento para a consolidação de um regime de "apartheid tecnológico", que tem sido um objetivo estratégico dos esquemas de "governo mundial" do Establishment anglo-americano desde o final da II Guerra Mundial. A conferência de revisão do Tratado de Não-Proliferação Nuclear (TNP), marcada para maio próximo, em Nova York, deverá ser um palco determinante para esse esforço.A agenda de Washington não passa de um requentamento "soft" do fracassado Plano Baruch do pós-guerra imediato, com o qual os EUA tentaram colocar sob seu controle direto virtualmente todas as jazidas de urânio e tório e as instalações nucleares do mundo, sendo rejeitado precisamente pela ostensiva pretensão de praticamente vedar aos demais Estados nacionais o acesso à tecnologia nuclear. O argumento de impedir que grupos terroristas tenham acesso aos materiais necessários para a construção de artefatos nucleares, por mais meritório que seja, e as pressões contra o programa nuclear do Irã, mal conseguem disfarçar as intenções dos estrategistas estadunidenses.
Uma das propostas que serão discutidas em Nova York é o estabelecimento de um "banco internacional de urânio enriquecido" sob a responsabilidade da Agência Nacional de Energia Atômica (AIEA), que se encarregaria de todas as atividades de enriquecimento de urânio e a posterior disposição do combustível utilizado nos reatores nucleares. Pelos seus termos, países com programas nucleares civis, como o Brasil, não precisariam desenvolver ou ampliar as suas instalações de enriquecimento de urânio, recorrendo ao "banco" para as suas necessidades (Resenha Estratégica, 4/11/2009).
Igualmente, pode-se esperar uma fortíssima pressão sobre os países que ainda não aderiram aos chamados Protocolos Adicionais do TNP, dispositivo que permite inspeções irrestritas e sem aviso prévio às instalações nucleares de um país signatário por inspetores da AIEA. O Brasil é um dos alvos principais da investida, como ficou evidenciado já no ano passado, no Seminário Internacional sobre Não-Proliferação Nuclear e Desarmamento: o Futuro do TNP, realizado pelo Centro Brasileiro de Relações Internacionais (CEBRI), em 29-30 de outubro, no Rio de Janeiro (RJ). Na ocasião, o recado de que o Brasil deveria "dar um exemplo" e assinar os protocolos foi dado por funcionários governamentais como a diplomata Susan Burk, representante especial da Casa Branca para assuntos de não-proliferação nuclear, e representantes de think-tanks que atuam como porta-vozes oficiosos de Washington.
O "recado" foi novamente transmitido por ninguém menos que o criador da expressão "soft power" (poder suave), o professor emérito da Universidade de Harvard Joseph Nye, em sua recente visita ao Brasil para uma palestra no Instituto Fernando Henrique Cardoso. Em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo (11/04/201), ele reiterou: "Devemos apostar no TNP e em seu Protocolo Adicional, ao qual o Brasil deve aderir."
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