No Brasil, um novo projeto ferroviário mostra um grande potencial para estabelecer um marco inovador no planejamento, implementação e operação de projetos de infra-estrutura viária, a criação da Ferrosul. A empresa, resultante da conversão da estatal paranaense Ferroeste em uma nova empresa pública multiestadual, deverá ser criada para planejar, construir e operar ferrovias e sistemas logísticos no Paraná, Santa Catarina, Rio Grande do Sul e Mato Grosso do Sul, os quatro estados integrantes do Conselho de Desenvolvimento e Integração Sul (Codesul). Seu primeiro projeto será a extensão da atual linha da Ferroeste aos demais estados, proporcionando a ligação destes com a malha ferroviária de São Paulo e o porto de Rio Grande (RS). A criação da Ferrosul foi decidida em uma série de reuniões entre os governadores do Codesul, lideranças políticas regionais e autoridades federais, em novembro e dezembro de 2009. Na reunião dos governadores do Codesul, em Campo Grande (MS), em 18 de dezembro, na qual foi batido o martelo, o governador catarinense Luiz Henrique afirmou: "É um crime que o Brasil tenha abandonado o sistema ferroviário. A sua retomada, integrando a malha nos quatro estados da região Sul, que formam a grande zona produtora de grãos e de carne frigorificada, vai representar grande salto de desenvolvimento para todo o País." A nova empresa será formada com a incorporação do Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Mato Grosso do Sul como sócios do Paraná na Ferroeste, que passará a se chamar Ferrosul. Um acordo de acionistas assegurará a gestão compartilhada da empresa pelos quatro estados, por meio de uma alteração da lei de criação da Ferroeste, que será encaminhado pelo governador paranaense Roberto Requião. "Vamos mandar a lei para a Assembléia", disse ele. O objetivo, afirmou, é fazer a "alteração da composição societária da Ferroeste, que hoje é 99% do Estado do Paraná... A idéia é formarmos uma empresa pública, como o BRDE [Banco Regional de Desenvolvimento do Extremo Sul], que tem funciona do tão bem com a participação dos quatro Estados do Sul, juntos, e com muito mais força para a consecução dos objetivos finais" (boletim de imprensa da Ferroeste, 6/01/2010). Por sua vez, o ministro dos Transportes Alfredo Nascimento determinou à sua assessoria técnica a inclusão dos projetos da Ferroeste no sistema nacional de bitola larga. No início de janeiro, o corpo técnico do Ministério informou ao presidente da Ferroeste, Samuel Gomes, que está em estudo a extensão da ferrovia Norte-Sul, prevista para chegar até Panorama (SP) e Porto Murtinho (MS), ao porto do Rio Grande (RS). Segundo Gomes: "A extensão da ferrovia Norte-Sul ao Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul não deve ser vista como um projeto isolado, porque será complementar aos demais projetos ferroviários já em andamento na região, como a ligação do Mato Grosso do Sul e do Paraguai ao Porto de Paranaguá, a ferrovia da integração que conectará o porto de Itajaí e a ferrovia litorânea catarinense, bem como a recuperação de trechos que eram operados pela Rede Ferroviária Federal e que foram desativados após a privatização. A criação da Ferrosul visa impulsionar todo este conjunto de projetos ferroviários, articulá-los entre si e com os modais rodoviário, hidroviário, aeroportuário, bem como aos portos da região". O secretário dos Transportes do Paraná, Rogério W. Tizzot, ressalta que a ampliação da ferrovia para a região Sul criará um novo eixo de desenvolvimento nos três estados da região: "A extensão dos trilhos para o Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul vai ampliar o comércio e a integração entre os estados e entre as regiões e, ainda, ajudar no crescimento de diversos municípios." Gomes complementa: "Com a extensão da Norte-Sul ao Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul, estaremos vertebrando o Brasil, no seu interior, por ferrovias em bitola larga, do século XXI, de alta capacidade, conectando-as com suas hidrovias, rodovias e portos e possibilitando ao país um salto de produtividade como resultado de uma verdadeira revolução logística. (...) No novo cenário de integração logística que a Ferrosul criará na região Sul, os portos serão beneficiados em seu conjunto e cada um deles desenvolverá suas aptidões naturais e crescerá em eficiência para melhor servir à economia regional, nacional e sul-americana. O que importa é que a agricultura, a indústria e o comércio passem a contar com uma rede eficiente e de baixo custo de rodovias, ferrovias, hidrovias, portos e aeroportos. Serão os donos das cargas que decidirão o melhor modo de transportá-las, sem submeter-se à exploração de nenhum monopólio. Com isso, ganha o Brasil e a América do Sul. Logo, ganhamos todos". Não menos relevante é a participação do Exército na implementação da Ferrosul, por intermédio dos seus batalhões de engenharia, que participaram ativamente da construção da Ferroeste. Em 22 de janeiro, em Brasília, Gomes esteve reunido com o general Ítalo Forte Avena, chefe do Departamento de Engenharia e Construção (DEC) do Exército, para discutir um protocolo a ser firmado entre o Governo do Paraná e o Ministério da Defesa, permitindo a participação do Exército nos estudos de engenharia e na construção dos 1.365 km de novos ramais. O início das obras está previsto para 2011 e deverá durar dois anos (boletim de imprensa da Ferroeste, 25/01/2010).
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