O universo de um homem pode ser menor que sua própria sorte. Alguns esbanjam desbragadamente os caminhos fáceis que a vida lhe conferiu com generosidade e, sem qualquer pudor, deixam cair ao largo pedaços de trapo sem qualquer preocupação com o que virá. Causa-me comoção ver gente com um caminho tranqüilo pela frente se deixando iludir pelas facilidades das conversas róseas de amigos de ocasião ou pelo brilho ofuscante de refletores de uma mídia sempre sedenta por novas aparições.
Não faltam rótulos nem títulos glamorosos para enfeitiçar a mente pagã dos que não souberam e não sabem suportar a pressão da fama superficial. Logo aparece algum esperto e, sem nenhuma cerimônia, batiza o sujeito ou a moça com um apelido forte, devidamente construído na fluidez da imaginação. O sujeito, de uma hora para outra, vira “o imperador”, “o fenômeno” e outros tantos atributos de fantasia pueril. A moça passa ser tratada como “mulher melancia” ou como “a deusa do axé”, sem contar outros predicados que a lembrança se nega a trazer ao tempo presente!
E tome exposição, e tome boataria, e tome fotos, e tome festa, e tome... Tome tudo, mesmo em nome do amor, do ócio, do estrelato fácil e da eterna conspiração entre os que precisam da notícia fantasiosa e os que são viciados por minutos de fama. É uma equação que sempre termina ou em delegacias ou em destaque nas páginas policiais ou em sessões animadas de terapia comportamental. Por vezes, a criatura perde a identidade e acaba pensando que é o criador e aí é depressão na certa!
Do outro lado, existem os que se alimentam dessa carne putrefata e fazem de contas que se importam com a tragédia vivida por essas pessoas vaidosas, que sequer sabem a diferença entre os dedos distribuídos nas duas mãos. Logo aparecem empresários, diretores, assessores, e... os aspones. Ah!, os aspones! Estes são a essência da miséria em que se metem aqueles maníacos por mídia fácil. Para o bem deles e pela grana que virá, é uma turma que não mede esforços para fazer o alucinado ou a alucinada acreditar que a roda gigante da felicidade fútil é para todo o sempre. Mentem; facilitam o acesso aos meios de notícias; possibilitam encontros furtivos com autoridades; conseguem, com generosos jabás, aparecer naqueles programas horrorosos das tardes de domingo, e tudo pelo bem dos rebentos.
Pobres moços! Se soubessem como esta trança perversa lhes causará pesadelos bem ali na frente, pensariam, com o que lhes resta de vida própria, um pouco mais antes de prosseguir. Talvez até saibam, porém a condição que os torna simples marionetes desses encantadores de serpente é tão arrebatadora, que mesmo caindo num poço sem fim falta-lhes coragem e forças para se agarrar no último nó da corda.
Prezados leitores, recomendo a prosa agradável, sutil e certeira do “Blog do Contista”, de Orlando Muniz. O texto acima é uma bela amostra do que encontrará. Segundo o escritor se define, o blog foi criado “para se constituir em mais um canal de partilhamento da sua excelente produção literária”. Lá, você tem contos, crônicas e outros escritos resultantes de experiências de sua vida, de suas reflexões acerca do nosso cotidiano e, principalmente, da verve literária que carrega desde a sua adolescência. Muniz nasceu amazônida. É de Eirunepé, na foz do Rio Juruá. Filho de Benedito e Maria, se formou em Direito na Universidade Federal do Maranhão. É também advogado e procurador federal. É autor dos excelentes livros “Armazém Brasil” (crônicas urbanas), publicado em 2006, e de “Máscara das Palavras” (contos), lançado em 2009. Confiram o seu blog. Vale a pena!
Said Dib
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