Por Said Barbosa Dib*
Não se pode aceitar o retrocesso de um retorno dos demo-tucanóides ao poder. Isto seria a desgraça total e absoluta. Mas não se pode fechar os olhos para alguns erros decisivos de Lula e Cia. Tudo bem que o presidente Lula queira garantir seu futuro em alguma organização multilateral depois de sair do Planalto. Tem todo o direito de arranjar o seu ganha-pão por lá. Que receba até o Prêmio Nobel. Tudo é possível hoje em dia. Afinal, Obama, o senhor da guerra, não recebeu o da “Paz”? Mas, uma coisa é a vontade subjetiva e o bom coração do Lula cidadão. Outra bem diferente é a sua prerrogativa como presidente do Brasil. Não é certo que o cidadão Lula se utilize da Presidência da República para lhe garantir a simpatia da comunidade internacional à custa dos impostos dos brasileiros. Tudo bem que, desde diplomatas geniais dos anos 50 e 60, como o grande Adolpho Justo Bezerra de Menezes, o Itamaraty já pregava uma política exterior independente e voltada para países até então esquecidos pela diplomacia brasileira, como os da América Latina, a China, a Índia, a Rússia, a África do Sul e vários outros da Ásia. Mas, uma coisa é uma política exterior independente, a procura de alternativas ao mundo anglo-saxônico e europeu. Outra bem diferente é a utilização desta idéia não para o bem do Brasil, mas para beneficiar a carreira internacional de Lula. Não se pode aceitar que o presidente faça campanha para si, repito, à custa do erário público. E, infelizmente, parece ser o que o presidente está realmente fazendo. Esta coisa de ajudar todo país que passa por dificuldade mundo afora, ao mesmo tempo que mantém nossos aposentados e pensionistas na miséria, com o argumento falacioso de que não tem dinheiro, não tem cabimento algum. É um absurdo! Enquanto Lula passeia pelo mundo para fazer proselitismo e salvar os infelizes do planeta com nosso dinheiro, até hoje os recursos prometidos para os brasileiros que sofreram em Angra dos Reis, por exemplo, ainda não chegaram. Há notícias de que até os recursos prometidos ao estado de Santa Catarina, há muito devastado pelas chuvas, também não foram ainda totalmente disponibilizados. E hoje, chega a notícia de que, depois de ajudar os haitianos, o bom samaritano Lula prometeu também ajuda aos nossos irmãos chilenos. Disse que o Brasil vai ajudar na reconstrução do Chile e coisa e tal. “De nossa parte, vamos trabalhar e ajudar naquilo que for possível para que o Chile possa ser reconstruído e voltar a ser o país extraordinário que sempre foi”, afirmou.
O Brasil já anunciou o envio de um hospital de campanha ao país vizinho, para ajudar no atendimento aos feridos. Segundo o portal G1 apurou com o porta-voz do Gabinete da Segurança Institucional, a lista de ajuda é completa. Tem pontes móveis, telefones via satélite, geradores de energia, sistema de avaliação de danos,
centros de diálise, sistemas de potabilização de águas salinas, cozinhas e albergues de campanha. Mas, o mais curioso e que arranhou meu ouvido é o envio de aparelhos de hemodiálise. Sim, aparelhos de hemodiálise. Lula, sempre preocupado com os irmãos da América Latina, vai enviar esses aparelhos para o Chile, ao mesmo tempo que a cidade mineira de Unaí, desde janeiro de 2009, passa por uma situação insustentável justamente pela falta desses aparelhos (imagino outros municípios em estados menos aquinhoados...). Os moradores sentem
dor e indignação na longa viagem para fazer hemodiálise, pois são obrigados a viajar para Goiás, num percurso de mais de 400 quilômetros, para realizar sessões de hemodiálise. Viajando de ônibus, duas a três vezes por semana e com a saúde debilitada, a cansativa rotina é realizada desde outubro (e olha que o problema começou em janeiro de 2009) por cerca de 80 infelizes pacientes renais. Dois já morreram. Afinal, não eram haitianos nem chilenos. Tiveram a infelicidade de nascerem longe das preocupações de Lula: no Brasil. É claro que o governador tucano Aécio Neves, assim como o prefeito, têm culpa pesada no cartório. Mas realmente é também culpa do governo federal através do SUS...
A APRUNOM - Associação Parceiros do Rim de Unaí e do Noroeste Mineiro - pediu socorro em janeiro de 2009: “convoca a população para fazer uma grande manifestação popular dia quatro de janeiro de 2009, a partir das 8 horas da manhã, em frente a Prefeitura Municipal de Unaí, de onde sairá uma passeata até a Gerência Regional de Saúde, pedindo aos gestores públicos urgência na volta dos serviços de hemodiálise”. Veja reportagem da TV Alterosa sobre o assunto: “Unaí, 26 de dezembro de 2009 - A preocupação dos doentes renais crônicos começou em junho de 2009, quando foi anunciado o possível fechamento da Nefroclínica, empresa que prestava os serviços de hemodiálise ao pacientes de Unaí e entorno. A hemodiálise é um procedimento que filtra o sangue e são retiradas substâncias que quando em excesso trazem prejuízos ao corpo, como a uréia, potássio sódio e água.”
Veja o vídeo do drama denunciado pela TV Alterosa a seguir...
*Said Barbosa Dib é historiador e analista político em Brasília
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