Em Israel, Lula critica assentamentos e defende Estado palestino
BBC Brasil
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva fez nesta segunda-feira um discurso no Parlamento de Israel em que criticou a expansão de assentamentos israelenses na Cisjordânia e em Jerusalém Oriental e defendeu a criação de um Estado palestino. "Defendemos a existência de um Estado de Israel soberano, seguro e pacífico", disse o presidente.
"Ele deverá conviver com um Estado palestino igualmente soberano, pacífico, seguro, e viável, sobretudo pelo traçado de seu território."
Lula também foi direto nas críticas à expansão de assentamentos judaicos na Cisjordânia e em Jerusalém Oriental e defendeu a importância do diálogo na solução dos conflitos no Oriente Médio.
"Essa postura (de diálogo) se faz mais necessária agora, quando assistimos a uma paralisação das negociações e iniciativas unilaterais que as dificultam, como o anúncio da construção de residências em Jerusalém às vésperas do reinício de uma rodada de negociações", afirmou Lula.
"O impasse agrava a deterioração das condições de vida nos territórios palestinos ocupados. Mas também alimenta fundamentalismos de todos os lados e coloca no horizonte conflitos mais sangrentos ainda."
O anúncio da construção de 1,6 mil residências em uma área ocupada de Jerusalém Oriental, que os palestinos reivindicam como capital de seu futuro Estado, foi feito durante a visita, na semana passada, do vice-presidente americano, Joe Biden.
A notícia minou uma iniciativa americana de retomada do processo de paz, por meio de negociações indiretas, e gerou uma das mais graves crises recentes no relacionamento entre Estados Unidos e Israel.
Irã
Antes de iniciar seu discurso, Lula ouviu apelos contundentes contra a aproximação brasileira com o Irã do presidente do Parlamento, Reuven Rivlin, do primeiro-ministro de Israel, Binyamin Netanyahu, e da líder da oposição Tizipi Livni.
A postura israelense demonstra que a defesa de sanções mais duras contra o país de Mahmoud Ahmadinejad e o rechaço ao caminho do diálogo com o Irã é um tema que une políticos de várias vertentes em Israel.
"Ser publicamente contra sanções pode ser interpretado como fraqueza por líderes que não têm freios", disse a Lula o presidente do Knesset, o Parlamento israelense, Reuven Rivlin.
"Peço que você apóie a frente internacional contra o regime de Ahmadinejad", pediu o primeiro-ministro israelense. "O Brasil não pode dar legitimidade indireta a esse regime", acrescentou Livni.
O tema, no entanto, não mereceu uma linha sequer no discurso lido por Lula diante dos parlamentares israelenses. O presidente falou, várias vezes, da importância do diálogo, sem mencionar, no entanto, o polêmico interlocutor iraniano.
"Resultados diferentes"
No discurso, que marcou mais um passo na tentativa do governo brasileiro de se projetar como possível mediador do conflito no Oriente Médio, Lula citou Albert Einstein dizendo que "não se pode fazer a mesma coisa, dia após dia, e esperar resultados diferentes", acrescentando que "o Brasil quer modestamente ajudar a obter esses resultados diferentes".
O presidente brasileiro voltou também a defender uma ampliação do Conselho de Segurança da ONU.
"Não será o caso de as Nações Unidas - renovadas e com maior legitimidade - assumirem agora um papel mais ativo na busca da paz?", sugeriu Lula.
O presidente fez ainda um apelo para que o coração e a compaixão tenham um papel quando se buscam soluções.
"Não é suficiente pôr apenas a cabeça para funcionar. É preciso igualmente que o coração esteja presente. É fundamental um sentimento de compaixão para superar antagonismos que aparecem como insuperáveis."
O presidente brasileiro terminou seu discurso, mencionando, mais uma vez, Einstein. "A paz não pode ser mantida pela força. Somente pode ser alcançada pelo entendimento", disse.
Apesar das claras divergências entre as posições do Brasil e da maioria absoluta dos deputados presentes no Knesset nesta segunda-feira, Lula foi aplaudido de pé.
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