De dezembro de 2009 a outubro deste ano, rombonas contas externas dobrou: US$ 47,987 bilhões
O déficit externo do país em 12 meses atingiu US$ 47,987 bilhões em outubro, divulgou o Banco Central no dia 23 - o que equivale a 2,43% do Produto Interno Bruto (PIB), isto é, do valor dos serviços e mercadorias produzidas internamente em igual período.
O que isso quer dizer, basicamente, é que, para fechar o balanço de pagamentos, esse déficit foi coberto por capital estrangeiro. Aliás, nada menos do que US$ 11,869 bilhões foram cobertos por dinheiro estrangeiro meramente especulativo (a propósito, é somente essa última parte que o BC, seguindo o FMI, chama de “necessidade de financiamento externo”, pois não contabiliza a parte do déficit que é coberta pelo investimento direto estrangeiro, IDE, como financiamento externo. Realmente, essa última alternativa se parece mais com uma entrega do país do que com um financiamento. Mas o que importa é que a “necessidade de financiamento externo” apresentada pelo BC é uma subestimação da dependência financeira do país, pois a cobertura do déficit por dinheiro externo não foi de US$ 11,869 bilhões, o que já seria 0,6% do PIB, mas de US$ 47,987 bilhões, isto é, 2,43% do PIB – cf. “Nota para a imprensa. Setor Externo”, Quadro XXV, BC, 23/11/2010).
Até 2007 as contas externas (transações correntes ou conta-corrente - fundamentalmente o saldo comercial e as remessas para o exterior) mantiveram-se superavitárias (ver tabela). Em 2008, houve um déficit de 1,72% do PIB, devido a uma redução de US$ 15,196 bilhões no saldo comercial e a um aumento de US$ 14,742 bilhões nas remessas, sobretudo de lucros, para o exterior.
Em 2009, houve uma diminuição desse déficit (1,54% do PIB), mas as contas não voltaram a ser positivas e neste ano, mês a mês, elas, para usar um termo franco mas exato, afundaram. Como disse um economista, “mais impressionante ainda que o montante, é a velocidade de aumento do déficit”, que dobrou de dezembro de 2009 (US$ 24,334 bilhões) até outubro deste ano (US$ 47,987 bilhões).
Agora que o ministro Mantega descobriu a guerra cambial deflagrada pelos EUA, não é difícil relacionar esses resultados negativos com a desvalorização do dólar, através de superemissões. O presidente Lula tem inteira razão ao dizer que é “inadmissível” (ou seja, que não devemos admitir) a tentativa dos EUA de nos sepultar sob uma montanha de dólares desvalorizados.
Pois a entrada líquida – isto é, já descontada a saída - de dólares no país (somando os “investimentos direitos estrangeiros”, os “investimentos estrangeiros em carteira” e os “outros investimentos estrangeiros” - isto é, os empréstimos bancários) chegou, em 10 meses do ano, a US$ 132,948 bilhões. O que significa um aumento de 153,54% em relação a 2008, o ano em que a crise dos EUA se tornou explícita, mesmo com o resultado dos anos anteriores sendo referente a 12 meses, enquanto o de 2010, apenas a 10 meses:
2008 – US$ 52,435 bilhões;
2009 – US$ 89,348 bilhões;
2010 – US$ 132,948 bilhões (até outubro).
No momento atual é consenso que essa cachoeira de dólares está afogando o país, hipervalorizando artificialmente o real com um dumping cambial a favor do dólar que torna mais baratos os produtos importados, mais caros os produtos internos, espreme e ameaça quebrar setores da produção dentro do país, trava exportações de manufaturados, provoca um influxo predatório de quinquilharias “made in USA”, além de agudizar – e muito - um problema da economia ainda não resolvido: aquele causado pela desnacionalização, desde o governo Fernando Henrique, que consiste em que as filiais de multinacionais, ao mesmo tempo que exportam lucros para suas matrizes, são empresas cronicamente importadoras, que montam produtos no país a partir de componentes importados, com pouca agregação de valor.
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