O Jornal Monitor Mercantil repercute em sua manchete de capa os comentários das últimas edições desta seção, sobre a composição da equipe econômica do governo Dilma Rousseff, em especial o futuro Presidente do Banco Central, Alexandre Tombini:
"É um nome que tem a confiança dos ex-presidentes do BC Gustavo Franco e Armínio Fraga - que dirigiram o banco na era FH - e também de Henrique Meirelles, atual presidente." Assim reagiu o economista Rodrigo Ávila, da Auditoria Cidadã da Dívida, ligada à Campanha Jubileu Sul, à nomeação de Alexandre Tombini, funcionário de carreira, para a presidência do Banco Central (BC).
Ávila acrescenta que Tombini também é aprovado pelo mercado financeiro. E que, em 1999, ajudou a formular o sistema de metas de inflação, pelo qual, "sempre que a inflação ameaçar passar da meta (hoje em 4,5% ao ano), deve ser contida por altas de juros, mesmo se as causas forem os preços administrados pelo próprio governo ou problemas de oferta de alimentos", lembrou.”
O Jornal Monitor Mercantil é distribuído no Rio de Janeiro e São Paulo, com uma tiragem diária de 20 mil exemplares, sem considerar os acessos à versão digital na internet.
Não por acaso, o “mercado” aprovou a indicação de Tombini, conforme mostra o jornal Estado de São Paulo. Os investidores acreditam que as taxas de juros vão aumentar no início do ano que vem, sob a justificativa de combater a inflação. Ao mesmo tempo, o “mercado” reduziu os chamados “juros futuros” para 2012 em diante, ou seja, reduziu os juros exigidos para comprar títulos da dívida interna. Este mecanismo dos “juros futuros” funciona como uma espécie de “risco-país” da dívida interna, ou seja, caem quando o governo mostra disposição em atender os anseios dos rentistas. Por outro lado, a qualquer indício de alguma medida governamental contrária aos interesses dos rentistas, estes imediatamente aumentam os “juros futuros”, ou seja, cobram mais caro para emprestar ao governo.
Este é um mecanismo permanente de chantagem, no qual os rentistas possuem voz e voto diário, ao mesmo tempo em que o povo somente vota a cada 4 anos, em eleições nas quais os candidatos mais bem colocados nas pesquisas são financiados pelo setor financeiro, e sempre se comprometem a manter os pilares da atual política econômica.
A notícia também mostra os elogios de diversos representantes de rentistas (Itaú, Bradesco e Febraban) ao futuro Presidente do BC, devido a seu compromisso com os pilares da atual política econômica, como o sistema de “metas de inflação”. Sempre é bom lembrar que, neste sistema, os rentistas são ouvidos pelo Banco Central em reuniões trimestrais para subsidiar as projeções de inflação, que se ultrapassam a meta de 4,5%, o Banco Central estabelece altas taxas de juros - sob a justificativa de controlar alta dos preços – o que beneficia diretamente os próprios rentistas. Esta reunião periódica está ocorrendo hoje, e foi noticiada pelo jornal Valor Econômico:
“Mais do que discutir cenários e colaborar no arremate do Relatório de Inflação do quarto trimestre, economistas estão preocupados em assegurar canais de comunicação com a autoridade monetária. (...) A definição de Tombini para o BC reduz bastante a inquietação do mercado porque, tecnicamente, ele tem um currículo exemplar e é considerado até melhor do que o Meirelles [Henrique Meirelles presidente do BC nos últimos oito anos] que foi um excelente gestor, mas não tem perfil de formulador de política econômica", afirma o economista-chefe de um banco brasileiro que marcará presença na reunião com o BC ainda hoje.”
Ou seja: enquanto os rentistas tem lugar garantido nestes encontros, e procuram estabelecer “canais de comunicação com a autoridade monetária”, o povo brasileiro não se faz representado. Segundo os entrevistados pelo jornal, se o governo cortar mais gastos sociais, a taxa de juros não precisaria subir tanto. Este é o pensamento das pessoas que são convidadas pelo BC para estas reuniões.
Não por acaso, o jornal Correio Braziliense mostra que o governo está disposto a seguir esta recomendação dos rentistas, em sua manchete de capa: “Lá vem o arrocho do governo Dilma”, onde se diz que o governo não aceitará aumento do salário mínimo ou das aposentadorias, restringirá os reajustes de servidores, e fará contenção de despesas.
O arrocho é justificado pela equipe econômica também pela crise internacional, o que confirma os alertas da Auditoria Cidadã da Dívida, colocados no artigo de Maria Lucia Fattorelli, denominado “URGENTE – Ameaça concreta contra direitos sociais”:
“Essas ameaças de cortes de gastos sociais se tornam especialmente preocupantes diante da conjuntura internacional de crise financeira, que atingiu fortemente os EUA, países da Europa e está servindo de argumento para a aplicação de medidas de ajuste neoliberal aqui no Brasil, agora que passaram as eleições.”
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