O Brasil, a mídia e a proliferação nuclear
(Apesar do “desacordo momentâneo” entre Brasil e AIEA, o diretor geral dessa agência – Mohammed El Baradei, em fim de mandato – conviveu bem com Celso Amorim, citado em boatos no Brasil como atraído pelo cargo dele na ONU)
Depois de estranhar em dezembro de 2008 o destaque dado ao desenvolvimento da energia nuclear na Estratégia Nacional de Defesa anunciada pelo governo Lula (leia AQUI), nossa mídia prestou-se na primeira quinzena de janeiro de 2009 ao papel de veículo da pressão de um governo Bush enfraquecido e em fim de mandato – mero “pato manco” agonizante, golpeado ainda por uma derrota eleitoral humilhante. Terá o episódio exagerado a proximidade entre os meios de comunicação do país e os interesses da superpotência estrangeira em conflito com os do Brasil? Vale a pena encarar a situação no momento em que os mesmos veículos ansiosos para anistiar os crimes da ditadura (de que foram cúmplices) vêem com suspeita o atual compromisso dos militares com a democracia e a defesa dos interesses nacionais. Ou será legítimo, nesse contexto, o faroeste midiático atribuir papel de guardiã da paz e do desarmamento à superpotência invasora do Iraque? Tenho dúvidas; a mídia não. Ela condena a resistência do Brasil em aderir ao Protocolo Adicional ao Acordo de Salvaguardas do TNP, o tratado de não proliferação nuclear (mais AQUI sobre os três). Ignora os interesses do país e insinua culpa de militares obcecados em ter a bomba-A. A disputa em torno do desenvolvimento da energia nuclear é menos simplista do que sugere o cacoete desse jornalismo de aliar-se a interesses de fora. Os países sem armas nucleares sofrem restrições em suas pesquisas – punidos por terem aceitado firmar o TNP. Índia, Paquistão e Israel ignoraram o TNP e construiram bombas atômicas. Começam a ser paparicados e privilegiados com acordos especiais (leia AQUI e AQUI).
A bomba e os interesses comerciais
Em 1998 essa mesma mídia aplaudiu o governo FHC por submeter-se à pressão e assinar o TNP (leia sua íntegra AQUI). Já então, a pretexto de que o Iraque de Saddam Hussein tinha violado o tratado ao criar um programa nuclear oculto, os EUA ensaiavam exigir que os “sem bomba-A” (ou have nots, não detentores de armas nucleares, em oposição aos haves, que as tem) aderissem ainda ao Protocolo Adicional criado para estender as restrições, controles e inspeções. Inexistente antes, o protocolo tem de ser negociado agora com cada signatário do TNP – e não imposto. (...)
Uma entrevista muito estranha
Mas a Folha voltou ao ataque a 9 de janeiro de 2009, em matéria assinada pelo chefe da surcusal de Brasília, Igor Gielow. “Os EUA cobraram ontem a adesão do Brasil ao chamado Protocolo Adicional”, dizia o texto (leia a íntegra AQUI e AQUI). Não ficou claro se a “cobrança” era iniciativa americana, usando a Folha como intermediária, ou se viera por acaso, premiando uma solicitação de entrevista feita pelo jornal. Quem dava a entrevista era o embaixador Gregory Schulte (foto à esquerda), que representava os EUA não no Brasil mas na AIEA e outros organismos com sede em Viena (leia entrevista dele AQUI sobre o Irã e a proliferação nuclear). Gielow omitiu (de propósito?) se o diplomata respondera a perguntas, se falara em Brasília (estaria ali por alguma razão?), se a entrevista fora por telefone ou se mandara respostas por email a perguntas enviadas a Viena. Como o próprio jornalista caracterizou a entrevista como “cobrança” dos EUA, seria no mínimo oportuno informar como ela ocorrera – cara-a-cara, por telefone, troca de emails ou qualquer que tenha sido a situação. Seria uma tentativa de intimidação do governo brasileiro?
Leia a coluna completa do Argemiro Ferreira...
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