sábado, 20 de junho de 2009

Mauro Santayana

A oposição e o direito de espernear

Diante dos êxitos inegáveis do governo, a oposição se perde entre a perplexidade e a inveja. Conforme costuma dizer Delfim Netto, com autoridade, os economistas que dominaram o governo anterior não podem aceitar que o bom senso de um metalúrgico revele-se muito mais eficiente do que as teorias acadêmicas. A diferença está no trabalho desenvolvido pelo governo, sobretudo pelo seu titular. Lula atua em duas frentes. Na frente interna, tenta reparar injustiças seculares para com os trabalhadores. Na externa, insere o Brasil entre os atores internacionais, abre mercados, influi no processo político global. Não é um extremista, mas tampouco um conformista. Talvez funcione, em sua forma de ver o mundo, a constatação dos velhos comunistas de que os trabalhadores lutam para construir a própria família com dignidade e fazer com que seus filhos vivam um pouco melhor do que eles mesmos. O país caminha sem grandes saltos, mas com firmeza. O governo conseguiu zerar a dívida externa e reduziu consideravelmente a dívida pública interna. Graças a isso, consegue impedir que a crise internacional assuma, entre nós, o caráter gravíssimo que ocorre em outros países. Uma das causas desse desempenho é, sem dúvida, a distribuição – precária ainda – compulsória de renda. O aumento de consumo de bens industriais duráveis, favorecido pela atenção oficial aos pobres, permitiu que a indústria mantivesse o nível de emprego nos anos anteriores, e, assim, que a economia permanecesse mais ou menos estável. É certo que os níveis de desemprego cresceram, mas não com os índices dramáticos que muitos calculavam. Seria de esperar que todas as forças políticas brasileiras atuassem em busca do entendimento, a fim de que pudéssemos vencer todas as dificuldades econômicas sem crises políticas internas. Mas não é o que ocorre. A oposição, salvo a exceção de alguns mais lúcidos, aposta no “quanto pior, melhor”. Não há prova maior disso do que a CPI do Senado para investigar a Petrobras. Em primeiro lugar, não obstante homens honrados que o compõem, o Senado não tem, neste momento, autoridade moral e política alguma para investigar o que quer que seja. Os escândalos surgidos ali recentemente põem a instituição sob suspeita diante da opinião pública. E o propósito da oposição não é averiguar possíveis erros da grande empresa. Querem é tentar a desestabilização do governo e – ainda pior – enfraquecer a grande empresa, no momento em que busca os capitais necessários para a exploração imediata dos depósitos petrolíferos sob a camada de pré-sal. A oposição que está aí é herdeira e sucessora da UDN, que, sob o comando de Carlos Lacerda, e a serviço das grandes empresas petrolíferas norte-americanas, procurou impedir a criação da Petrobras durante o governo de Vargas e, em seguida, no período de sua consolidação pelo presidente Juscelino Kubitschek, continuou na tentativa de desestabilização do governo. Não é relevante para esse grupo de senadores e deputados o interesse nacional – e o interesse nacional exige a preservação da Petrobras, que vem investindo pesadamente na exploração do petróleo do profundo subsolo marinho, o que nos tornará um dos maiores produtores do mundo. O que lhes interessa é apenas tumultuar o processo sucessório, com a esperança de que venham a ocupar o Planalto e, no Planalto, impedir a realização plena do povo brasileiro e a conquista definitiva da soberania nacional. É o direito que têm de espernear. Durante quase toda a História – com exceção de dois ou três períodos da República, em que houve resistência contra a injustiça, as oligarquias têm explorado impunemente o povo brasileiro e usado dos recursos do Tesouro para o enriquecimento de famílias de nome sonoro e caráter discutível. Como, desta vez, os trabalhadores conhecem melhor os seus direitos e a população rural já não obedece ao cabresto dos senhores de engenho e dos latifundiários, os oposicionistas se desesperam.

*Mauro Santayana é jornalista/Publicado na Revista do Brasil
Pátria Latina



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