quinta-feira, 18 de junho de 2009

Otan no Afeganistão

O Ocidente e o fim da "subalternidade dos outros"
Michael Liebig

A bancarrota do sistema bancário estadunidense não é o único encargo com que os EUA estão sobrecarregando o mundo. O mesmo vale para a bancarrota geopolítica provocada pelo governo de George W. Bush, no Iraque, Afeganistão, Paquistão, Irã e Oriente Médio. De forma mais imediata, a Alemanha se vê afetada pela situação afegã, onde cerca de 4 mil militares alemães encontram-se estacionados há mais de sete anos, em uma mobilização que tem sido expandida em homens e equipamentos. Em sua área operacional, no norte do país, o Bundeswehr tem se concentrado em ações orientadas por um enfoque combinado militar-civil, mas isto não impediu que a situação de segurança no país tenha se deteriorado de forma crescente desde 2005.
A linha oficial proclamada pelo governo alemão é, "devemos manter o curso", mesmo que, oficiosamente, não se negue mais que a situação afegã está piorando. Não obstante, um debate real sobre a mobilização no Afeganistão ainda é bloqueado com argumentos de que "não podemos abandonar o povo afegão" ou "devemos manter-nos fiéis às obrigações com a nossa aliança". Uma exceção tem sido Helmut Schäfer, que ocupou o Ministério das Relações Exteriores no período 1987-98. Em uma conferência sobre a política exterior dos EUA, realizada em 14 de maio último, em Mainz, Schäfer afirmou que a ação militar ocidental no Afeganistão encontra-se num beco sem saída. Se a proteção dos direitos das mulheres afegãs significa matar mais e mais mulheres e crianças com bombardeios aéreos, devemos parar e colocar em questão toda a estratégia. Chegou a hora de se pensar seriamente em uma saída "decente" do Afeganistão, disse ele.
Tal avaliação é compartilhada na Alemanha por aqueles que conhecem o Afeganistão não somente dos relatórios oficiais e de curtas visitas estritamente organizadas e pesadamente protegidas ao país. Um deles é o coronel (ret.) Jürgen Hübschen, atual assessor de segurança de uma ONG humanitária ativa no Afeganistão, que divulgou as impressões de sua última visita ao país no sítio Solon-Line. Ou o Dr. Reinhard Erös, diretor da ONG humanitária Ajudem as Crianças no Afeganistão, que conhece bem o país e seu povo, inclusive os que têm vínculos com os talibãs. O Dr. Erös goza de grande confiança dos afegãos porque, ainda na década de 1980, como oficial médico do Bundeswehr, ele lançou uma iniciativa pessoal para levar assistência humanitária ao país. Em uma entrevista à rádio Deutschlandfunk, em 27 de maio, ele afirmou: "A questão não é se nos retiraremos, mas quando o faremos. Não podemos permanecer por lá pelos próximos 100 anos. Então, de qualquer maneira, devemos sair."
Questionado sobre quais teriam que ser as pré-condições para a retirada das tropas estrangeiras, Erös afirmou:

Não vejo razão pela qual nós, no Ocidente ou na Europa, devemos apropriar-nos do direito de definir para os afegãos como o país deles deveria parecer. Nós devemos dar àqueles afegãos que até agora dificilmente têm tido oportunidades de se expressar por si próprios a oportunidade de falar - e esta é a população afegã. No Afeganistão, o cidadão comum não está muito próximo das elites, as elites políticas e econômicas. Os 5% das elites que governam o país são uma coisa, e existe a massa da população que luta a cada dia apenas para ganhar o suficiente para sobreviver... Mas esse "resto", esses mais de 90%, eles determinam se o país se desenvolve numa ou noutra direção. Com eles, devemos falar e trabalhar.

Essas são as palavras de alguém que conhece o Afeganistão e seus problemas centrais, que os políticos ocidentais não querem discutir. Mas a situação no Afeganistão irá forçar essa discussão, que deveria incluir, embora sem se limitar a ela, uma nova avaliação de parâmetros geopolíticos. Por exemplo, o absurdo pressuposto de que os problemas afegãos podem ser "resolvidos" sem envolver o Paquistão. Beira o absurdo o fato de que, após oito anos de operações militares na região, o governo dos EUA esteja agora mudando para uma estratégia "AfPaq", como está sendo denominada em Washington. Ainda mais absurdo é que, nesta "inclusão" do Paquistão, os estadunidenses estão cometendo os mesmos erros cometidos no país vizinho - fixando-se numa abordagem militar do problema. É claro que não poderá haver uma saída do Afeganistão sem um engajamento construtivo com o Irã, e o mesmo vale para a Índia. Não há dúvida de que um arcabouço multilateral e regional para a estabilização do Afeganistão seria um passo dos mais importantes na direção certa, embora não o suficiente.
Leia a excelente matéria na íntegra, clicando aqui...

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