segunda-feira, 29 de junho de 2009

Adriano Benayon


O Programa de Emprego nos EUA

Barack Obama anunciou programa para gerar “mais de 600 mil empregos”, sendo 135 mil na educação. Seriam investidos US$ 787 bilhões por agências federais em obras de parques nacionais, aeroportos, estradas, escolas e centros médicos para veteranos. Parece impressionante, mas há que avaliar o plano nos contextos da depressão econômica, eufemisticamente chamada de recessão, e do caos financeiro. Este é alimentado:

1) pelos derivativos e outros títulos podres, que não param de surgir;
2) pelas desbragadas emissões monetárias;
3) pela dívida federal que ascende a US$ 15,5 trilhões este ano.

A depressão tende a ser mais profunda que a dos anos 30, a menos que:

1) se reedite nos EUA algo parecido com a 2ª Guerra Mundial, quando se mobilizaram 14 milhões de homens;
ou, 2) a menos que se realize a desconcentração do sistema financeiro e da indústria e que o Estado use seu direito de criar moeda para financiar nova infra-estrutura e estruturas tecnológica e industrial para produzir bens e serviços capazes de atender ao bem-estar da sociedade em seu conjunto.

A primeira possibilidade é a tradicional e perversa. A segunda implica erguer estruturas que, diferentemente das atuais, não sejam moldadas de acordo com os desígnios das oligarquias financeiras, notadamente as anglo-americanas. Isso não faz parte dos planos dos czares da economia de Obama, todos ex-executivos de bancos e de empresas financeiras com culpas no colapso financeiro e favorecidas de forma inacreditável pelo governo dos EUA. É o caso do Secretário do Tesouro (T. Geithner) e do Presidente do Conselho Econômico da Casa Branca (L. Summers), sem falar nos diretores do Federal Reserve, banco central controlado por banqueiros privados. Em suma, a administração de Obama é mais uma que diz estar enfrentando o colapso, enquanto despeja trilhões de dólares em benefício dos que o causaram. Compare-se a cifra do pacote de empregos com a já despendida nos socorros a bancos submersos em títulos e créditos irrecuperáveis. Não é que US$ 787 bilhões sejam pouca coisa. Entretanto, não passam de 5,6% dos US$ 14 trilhões já despejados para socorrer a irresponsabilidade financeira, quantia equivalente ao PIB dos EUA. Além de fortalecer a concentração financeira em detrimento da produção e do bem-estar do povo, essas despesas são as principais responsáveis pelo déficit público recorde, de US$ 2 trilhões, e por astronômicas emissões de títulos do Tesouro e de moeda. Isso somente ainda não gerou a hiperinflação devido à depressão econômica. Então, não há como sair desta em desencadear aquela. Pior, com a atual estrutura da economia, a simples atenuação da depressão poderá acender o pavio da inflação. Com a dívida federal de US$ 15,5 trilhões, a qual cresceu US$ 3 trilhões de 2008 para 2009, e mais o acima resumido, o dólar não tem qualquer condição objetiva de se sustentar como moeda internacional de reserva. Ele é mantido em vida artificial mediante a agora indecisa colaboração de países como a China, que desejam livrar-se dos títulos norte-americanos, mas ainda não o fizeram, devido ao receio de precipitar a queda livre da moeda estadunidense. Já se perderam 6 milhões de empregos desde dezembro de 2007, e o pacote dificilmente será suficiente para reduzir sequer ligeiramente a elevada taxa de desemprego, a qual, em maio último, atingiu 9,4%, a maior desde agosto de 1983. Isso porque o investimento privado bruto (US$ 2,1 trilhões em 2008) continua caindo. Além disso, estão em declínio as despesas dos Estados, condados e cidades, as quais, em conjunto, foram 45,6% da despesa pública total em 2008. Cada vez mais endividados, os governos locais não têm como evitar a queda nos gastos suscetíveis de criar empregos.
Ademais, nenhum dos projetos federais de criação de empregos contempla investimentos suscetíveis de alterar, sequer ligeiramente, as estruturas produtivas atuais, nem promover a recuperação do peso relativo das pequenas e médias indústrias, indispensável para a geração de empregos produtivos. Entretanto, os US$ 787 bilhões do pacote são mais que bastantes para tornar mais alarmante o déficit público, que, mesmo sem eles, já tende para mais de US$ 2 trilhões. Acarretam mais emissões de títulos e de moeda, e estas já são excessivas, em função da prioridade de manter de pé os bancos concentradores envolvidos em montanhas cada vez maiores de títulos tóxicos.

Adriano Benayon do Amaral é diplomata de carreira, Consultor Legislativo da Câmara dos Deputados e, depois, do Senado Federal, na Área de Economia, aprovado em 1º lugar em ambos concursos. Doutor em Economia pela Universidade de Hamburgo e Advogado, OAB-DF nº 10.613, formado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro. Foi Professor da Universidade de Brasília e do Instituto Rio Branco, do Ministério das Relações Exteriores. Autor de ”Globalização versus Desenvolvimento”.



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