segunda-feira, 29 de junho de 2009

Senadores defendem mandato de Sarney

Wellington Salgado, com elegância, mostra contradições de Arthur Virgílio e defende Sarney

O senador Wellington Salgado (PMDB-MG), defendendo a opinião majoritária dos senadores que delegaram a Presidência ao senador Sarney há quatro meses (49 senadores), disse nesta segunda-feira (29/06) reconhecer que o senador Arthur Virgílio (PSDB-AM) faz um discurso de "moralidade" e "tem coragem". Mas classificou o discurso do parlamentar tucano de "injusto" com o presidente do Senado, José Sarney, que está "pagando uma conta que não é dele". Ele reconheceu o direito e a coragem do senador Arthur Virgílio de se defender das acusações que lhe foram imputadas pela revista “IstoÉ” do último final de semana: “Respeito V. Exª não é porque V. Exª é lutador de jiu-jítsu; é porque V. Exª tem uma história, porque V. Exª sabe se colocar, porque V. Exª conversa”.


Injustiça

Mas, afirmou que o senador do Amazonas está sendo profundamente injusto com Sarney: “Agora, como V. Exª colocou uma voltinha em torno de coisas que achava mais importantes, eu também coloquei aqui: injustiça. Achei que V. Exª fez um discurso injusto com o Presidente Sarney e com relação ao neto dele”. E enumerou argumentos sobre o porquê da injustiça: “Primeiro, porque tem uma série de coisas acontecendo nesta Casa que as pessoas não estudam e não procuram saber. A questão de ato secreto. Nenhum foi secreto... Então, eu não posso acreditar em nenhuma lista dessas. Essa é a primeira coisa”. Wellington Salgado mostrou que as informações passadas para a mídia não estão corretas: “o jogo está sendo jogado... Para mim, é uma crise administrativa que estão querendo transformar em uma crise política”. Ele lembrou que quem manda no Senado são os senadores e que, se há alguma coisa errada, deve-se mudar e corrigir.

Números oficiais errados

E, depois de mostrar que os dados apresentados por Virgílio estão errados, acrescentou: “Eu entrei em contato com o HSBC – a minha secretária –, e o HSBC me mandou uma nota. Está aqui: HSBC. Não é nota interna, não! É uma nota do HSBC, o banco no qual o neto do Presidente Sarney trabalhava. Muito bem. Eu ia fazer um discurso... Nem sei se vou fazer mais, porque vou falar aqui direto com V. Exª”. E esclareceu: “O HSBC, até dezembro de 2008, tinha seis correspondentes para fazer operação de crédito consignado no Senado Federal. Até dezembro de 2008. Muito bem. Foram todos desativados no final de 2008 a fevereiro de 2009. O HSBC operou, dentro do Senado Federal, R$26.922.001,39. Isto é: ele pegou o dinheiro, botou aqui dentro e emprestou dentro do Senado Federal. Desses R$26 milhões, Senador Arthur Virgílio... Por isso, quando V. Exª fez a colocação, eu balancei a cabeça. É porque o dado estava errado. Foram R$3.650.692,15 operados por essa empresa (que tem uns nomes aí...) Sarcris. Três milhões”. Ele explicou que a empresa ganhou pelos três milhões, durante dezoito meses em que operou na Casa, R$181.000,00. Com base na nota do banco, segundo Salgado, do total que operou dentro do Senado Federal, obteve-se 13,56%. E advertiu: “Ninguém me deu isso, não. Eu peguei a nota oficial do HSBC e fiz a minha conta – a máquina está aqui – enquanto V. Exª fazia o discurso. Ele operou 13,56%. Isso dá, em 18 meses, R$10 mil por mês. Foi quanto essa empresa deve ter ganho, para dividir entre os sócios e sustentar os funcionários”. Logo depois, Wellington, ainda muito educado e didático, tocou na quetão sobre o neto de Sanrey: “o que nós vamos ter de fazer? Uma lei para todos os nossos filhos e parentes tirarem o sobrenome? Porque não venha me dizer que um filho de V. Exª não tem o maior orgulho de ter um pai como V. Exª. Tem o maior orgulho, como o meu filho deve ter orgulho de mim, porque está tudo transparente aqui dentro. Agora, se alguém tem um sobrenome vai pagar por isso? Aí, eu não sei. Foram R$10 mil, Senador Arthur Virgílio. O restante das outras posições que V. Exª colocou, que vai mandar para a Mesa para poder fazer o levantamento, está correto”.

Necessidade de cuidado com potenciais injustiças com funcionários

Wellington também questionou a comparação forçada que Arthur Virgílo fez entre o caso do neto de Sarney e o do ex-diretor Zoghbi: “Eu acho que tem de ser feito o levantamento, sim, mas eu fiz um levantamento sobre essa história do HSBC. Pegar um garoto que tinha oportunidade de ir para a Ásia trabalhar e não foi porque, de repente, sei lá, se apaixonou por alguém em Brasília e resolveu ficar aqui, em Brasília, por questões sentimentais... Agora, o garoto ganhou R$10 mil por mês e transformaram isso, tentando comparar essa situação à operação do Sr. Zoghbi. É isso que vem todo mundo tentando fazer, e não é igual, não. A operação é diferente. Não é igual, não. Não é igual de jeito nenhum. Estão, aqui, os números, quanto ganhou. (...)”.Sem fazer juíjos de valores sobre o caso Zoghbi, Wellington lembrou que, se fosse na iniciativa privada, Arthur Virgílio não trataria a priori um servidor como o senador do Amazonas está fazendo com Zoghbi: “Na empresa privada, se eu chamar alguém de ladrão, de safado, o Ministério do Trabalho vai lá e me dá uma multa que não tem tamanho, porque é falta de respeito, é dano moral. Eu acho que se pode contestar, abrir ação e chamar o Ministério Público, agora, subir à tribuna e atacar dessa maneira, eu só acho que eu não faria isso. Não sei como a Justiça do Trabalho vai se colocar sobre a questão”. E chamando Virgílio à razão, lembrou a necessidade de clareza e o devido processo legal: “O Senador tem imunidade na Tribuna, e tem de ter mesmo, agora, nós temos de ter uma posição, aqui, da maneira como nós vamos conduzir. Se está errado, está errado, abre processo, denuncia, como V. Exª vai fazer, vai colocar lá. Agora, as coisas têm de ser claras, Senador Virgílio”.

Exercício da senadoria

E admoestou com elegância Arthur Virgílio sobre a necessidae de se ter cuidado com o que é de direito e o que não é na função de senador: “Quando eu virei Senador, ninguém me deu um manual de como é que eu tinha de usar passagem de avião. Falaram: ´A passagem é sua. Use-a como quiser`. Não tenho nenhuma passagem de parente meu lá, não, de mulher, nada. Não tem, não, mas falaram que era assim quando me deram. Falaram: ´Olha, você pode ter gente no seu gabinete trabalhando em Belo Horizonte, trabalhando no Triângulo Mineiro`. De repente, isso vira crime, você ter alguém trabalhando lá, fazendo política, que é o que esta Casa faz?” E desabafou: “Sinceramente, Senador Arthur Virgílio, daqui a pouco vão querer fazer um IPO do Senado também, porque vai ter de dar lucro o Senado Federal. Tem de dar lucro o Senado Federal? Qual é o preço da democracia?. V. Exª foi preso, V. Exª lutou contra a ditadura. Qual é o preço da democracia? Daqui a pouco, só vai poder ser Senador quem tiver dinheiro para pagar a passagem de alguém e vir, aqui, falar no Senado. Café... Outro dia, Senador Heráclito, pediram três pacotes de café, e só mandaram um. Até o café já estão cortando. Imagine a manutenção do carro. Bom, é isso?”

O perigo de se subtrair o poder de um presidente eleito com 49 votos dos 81 senadores

E finalizou sua interferência reafirmando sua indignação com as injustiças que estão sendo feitas com o Presidente da Casa: “o discurso de V. Exª é de honra, mas foi de injustiça, foi injusto com o Presidente Sarney. O Presidente Sarney está pagando uma conta que não é dele, é anterior. V. Exª tem de denunciar, V. Exª tem de brigar, mas estão sendo injustos com o Presidente Sarney. Ele tem feito tudo que os Senadores têm pedido. Tudo. V. Exª sabe disso. Tira fulano, bota sicrano, muda, agora tem de aprovar diretor. Isso é até tirar autoridade. Se V. Exª fosse o Presidente daqui, duvido que alguém tirasse alguma autoridade de V. Exª. V. Exª iria, assumiria a responsabilidade, mas não daria parte de poder a ninguém, porque V. Exª é um homem duro”. E, sempre contemporizador, defendeu a História de Sarney: “O Presidente Sarney, tendo o outro lado da sua história, tem aberto mão de poder nesta Casa. Um Presidente eleito com 49 votos dos 81, ou seja, os que votaram nele aprovam a PEC aqui dentro desta Casa. Então, com todo respeito a V. Exª e admiração, nesse ponto, eu acho que foi injusto ao achar que, inclusive, o Presidente Sarney pode estar por trás de uma coisa desse tipo. Tive oportunidade de estar com ele na sexta-feira. Conversarmos, conversamos. O Presidente Sarney não tem mágoa, ele está fazendo o trabalho que tem de ser feito, ele está tocando, Senador Virgílio. Se alguém tocasse em um parente de V. Exª... Eu já vi V. Exª, aqui na tribuna, quando tocaram numa mentira contra um filho de V. Exª. V. Exª se transformou, se transformou, nesta Casa. No entanto, o Presidente Sarney está tentando levar, como ex-Presidente, um homem que fez a democracia neste País, que passou por um momento difícil, de que V. Exª também participou, está tentando conduzir. Então, Senador Arthur Virgílio, eu pediria um pouco mais de atenção nesse ponto. Entendo as posições de V. Exª, mas um pouco mais de atenção nesse ponto com o Presidente. Só isso eu pediria a V. Exª”.

Sarney, em nota, mostra que não houve favorecimento de neto

O presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), enviou aos outros 80 senadores carta datada de sexta-feira (26) negando que a Sarcris, empresa do neto dele José Adriano Cordeiro Sarney, tenha sido favorecida na concessão de empréstimos consignados (com desconto em folha) em convênio com o banco HSBC a funcionários do Senado. Na carta, Sarney diz que deseja esclarecer fatos relacionados à denúncia publicada pelo jornal o Estado de S. Paulo de que José Adriano Cordeiro Sarney teria sido favorecido. Sarney assinala que a autorização do Senado para que o banco HSBC operasse com crédito consignado foi concedida em maio de 2005, quando ele não ocupava cargo na Mesa Diretora. "A empresa da qual é sócio José Adriano Sarney, a Sarcris, começou a operar em 11 de setembro de 2007, portanto, dois anos depois da autorização. A empresa atuou como parceira do banco (HSBC) num mercado que inclui empresas privadas e instituições públicas. Quando assumi a Presidência em fevereiro (de 2009), a Sarcris já estava descredenciada pelo HSBC e não operava mais no Senado. Assim, nenhuma ligação pode ser feita entre a minha Presidência e o fato objeto da reportagem", afirmou o presidente. A carta, diz Sarney, destina-se a esclarecer fatos que teriam sido "deturpados por imprecisões, omissões e falsas ilações" na reportagem publicada na edição da última quinta-feira (25). Sarney também anexou à carta ofício enviado ao ministro da Justiça, Tarso Genro, pedindo que a Polícia Federal investigue "todos os empréstimos consignados no Senado e as empresas que os operam" e encaminhou aos parlamentares cópia da carta enviada por José Adriano Cordeiro Sarney ao Estado de S. Paulo e nota do HSBC sobre o assunto. "Quero reafirmar que nenhuma denúncia ficará sem apuração e que todas as medidas estão sendo adotadas com firmeza e decisão", diz Sarney. Na carta enviada ao jornal Estado de S. Paulo, José Adriano Sarney esclarece ser economista e administrador com pós-graduação nas universidades Sorbonne (França) e Harvard (Estados Unidos). Trabalhou no HSBC e por isso teria conseguido credenciar a empresa Sarcris junto aquele banco quando começou a operar em Brasília. José Adriano Sarney esclareceu ainda que o HSBC fornece crédito a funcionários públicos desde 1995. O neto do presidente de Sarney conclui dizendo que nunca teve qualquer favorecimento e que é um profissional qualificado. Já o banco HSBC, por meio de sua assessoria de imprensa, informa que o convênio foi firmado com a Sarcris em maio de 2005 e que o banco fazia negócios com outras cinco empresas de atividade semelhante. Desde fevereiro de 2009, porém, o banco desativou todas as parcerias com as seis empresas que prestavam serviço de correspondentes bancários ao HSBC, inclusive a Sarcris. O banco informa, ainda, que, no total, realizou empréstimos consignados a funcionários do Senado no valor de cerca de R$ 27 milhões. Desses, R$ 3.650.692,15 representaram negócios com a Sarcris, que recebeu pelo serviço comissões no valor de R$ 181.935,42. De acordo com a reportagem do jornal, as operações de crédito consignado no Senado incluem entre seus operadores José Adriano Cordeiro Sarney - neto do senador José Sarney, filho do deputado Zequinha Sarney (PV-MA). De 2007 até hoje, a Sarcris Consultoria, Serviços e Participações Ltda, empresa de José Adriano, chegou a ter autorização de seis bancos para intermediar a concessão de empréstimos com desconto na folha de pagamento dos servidores: HSBC, Fibra, Daycoval, CEF, Finasa e Paraná Banco.

Segue abaixo a íntegra da carta enviada por Sarney aos senadores:

"Brasília, 26 de junho de 2009

Em face de reportagem do jornal O Estado de S. Paulo em sua edição do último dia 25, julguei do meu dever pedir um pouco de sua atenção para repor a verdade dos fatos, ali deturpados por imprecisões, omissões e falsas ilações.
No mesmo dia ao da publicação da reportagem, quinta-feira, o HSBC divulgou uma nota que, lamentavelmente, não mereceu o mesmo destaque da falsa denúncia. Nela, o banco esclarece a cronologia dos fatos e os modestos resultados empresariais que, por si sós, calam quaisquer insinuações de favorecimento. Peço-lhe ler a nota do HSBC.
A autorização do Senado - peço fixar essa data - para operar em crédito consignado com o HSBC foi em maio de 2005, quando eu não ocupava nenhum cargo na Casa. A empresa da qual é sócio José Adriano Sarney, a Sarcris, começou a operar em 11 de setembro de 2007, portanto, dois anos depois da autorização. A empresa atuou como parceira do banco num mercado que inclui empresas privadas e instituições públicas. Quando assumi a presidência em fevereiro, a Sarcris já estava descredenciada pelo HSBC e não operava mais no Senado.
Assim, nenhuma ligação pode ser feita entre a minha presidência e o fato objeto da reportagem.
Quero também comunicar-lhe que pedi à Polícia Federal que investigue todos os empréstimos consignados no Senado e as empresas que os operam.
Faço juntar, para seu conhecimento, a carta encaminhada por meu neto ao O Estado de São Paulo, a nota do HSBC com mais detalhes sobre o assunto e o meu pedido de investigação à Polícia Federal.
Quero reafirmar que nenhuma denúncia ficará sem apuração e que todas as medidas estão sendo adotadas com firmeza e decisão.
Com os meus cumprimentos."
Da Redação / Agência Senado

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