terça-feira, 19 de maio de 2009

Adriano Benayon

Moeda internacional de referência é algo dispensável

Não há como sair do colapso econômico e financeiro por meio de reuniões internacionais conduzidas pelas potências dominantes, cujos governos são completamente manipulados pelos oligarcas financeiros, os quais, para começo de conversa, foram quem produziu o colapso. Como não poderia ser diferente, as decisões recentemente adotadas pelo G-20 são prejudiciais aos povos do Mundo. Essas decisões são as seguintes: 1) fornecer ao FMI dinheiro a ser criado pelos bancos centrais e governos de uns poucos países sem custo para os bancos centrais nem para o Tesouro deles (os outros países, cujas moedas não façam parte da cesta do FMI terão que tirar divisas de suas reservas internacionais); 2) reconstituir o poder e as atividades do FMI a fim de devastar ainda mais as economias já saqueadas pela globalização; 3) tentar instituir uma moeda mundial artificial e mal fundamentada (os direitos especiais de saque DES), para substituir o dólar doente,, uma moeda hiperinflacionada e condenada a desaparecer, e tentar manter vivo esse fantasma, junto com outras moedas condenadas, como o euro e a libra. De novo, as potências com direito a emitir as moedas da cesta dos DES continuariam lucrando com o privilégio da senhoriagem. A maioria dos países continuaria a sofrer perdas decorrentes desse privilégio. Resumindo, essas medidas não passam de tentativa de resgatar um sistema que destrói o Mundo. Países como a Rússia, Argentina, Brasil e muitos outros não têm interesse em participar de tais esforços da “comunidade internacional”, algo que não existe (é um disfarce do puro imperialismo). Não há necessidade de moeda internacional alguma. Cada país que tenha política monetária e de crédito saudável pode ter moeda estável e usá-la no comércio internacional. Isso pode ser realizado no comércio bilateral e no multilateral, por meio de acordos no espírito do Convênio de Créditos Recíprocos, assinado em 1968, em Lima, Peru, por membros da então Associação Latino-Americana de Livre Comércio – ALALC. Esse convênio foi raramente utilizado, porquanto o FMI e a oligarquia anglo-americana são, quase sempre, os suseranos dos bancos centrais latino-americanos. Nesse esquema, o exportador de cada país é pago na moeda nacional de seu país. Os saldos são acertados a cada quatro meses e podem ser financiados a longo prazo pelos bancos centrais credores. Também podem ser compensados em base multilateral. Por exemplo, o país A tendo saldo positivo com o país B, que é credor do país C, este pode pagar ao A, em vez de ao B. As liquidações não devem ser feitas em dólares como se previa no Convênio, mas, em vez disso, em ouro, prata ou outro meio de pagamento objeto de acordo entre as Partes.

Adriano Benayon do Amaral é diplomata de carreira, Consultor Legislativo da Câmara dos Deputados e, depois, do Senado Federal, na Área de Economia, aprovado em 1º lugar em ambos concursos. Doutor em Economia pela Universidade de Hamburgo e Advogado, OAB-DF nº 10.613, formado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro. Foi Professor da Universidade de Brasília e do Instituto Rio Branco, do Ministério das Relações Exteriores. Autor de “Globalização versus Desenvolvimento”.
benayon@terra.com.br

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