Não deixa de ser curioso o contraste entre as avaliações feitas no exterior sobre as perspectivas de que o Brasil esteja a caminho de se tornar um dos grandes protagonistas mundiais, na reconfiguração da ordem mundial de poder que se encontra em curso, e a passividade com que as lideranças políticas nacionais se mantêm diante de certas tendências altamente danosas para o aprimoramento do País como uma economia moderna. As notícias divulgadas nos últimos dias dão conta dos estragos causados à indústria brasileira pela crise econômico-financeira global por fatores que, embora nem sempre possam ser contornados por ações domésticas, poderiam ter os seus efeitos consideravelmente mitigados se o País já tivesse atingido um estágio de maturidade assinalado por uma agenda estratégica compatível com as suas potencialidades e razoavelmente compartilhada entre os segmentos da sociedade.
Em 4 de maio, o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC) divulgou os números das exportações de abril, que mantiveram a tendência à deterioração das vendas de produtos manufaturados, que pela primeira vez desde a década de 1980 ficaram abaixo das exportações de produtos primários. E a queda foi brutal: em abril de 2008, as manufaturas representaram 51,8% das exportações, contra 32,8% de commodities; em abril deste ano, os números foram, respectivamente, 45,4% e 40,9%.
Em abril, somente as exportações de produtos básicos aumentaram em relação a 2008 (27,4%), com destaque para o petróleo bruto, minério de ferro, farelo de soja e soja em grãos. Já os manufaturados prosseguem em queda livre. Segundo o MDIC, as principais perdas foram registradas nos óleos combustíveis (-75,1%), aparelhos transmissores/receptores (-39,9%), autopeças (-33,4%), pneumáticos (-31,7%), calçados e partes (-30,6%), etanol (-28,7%), automóveis (-22,9%), laminados planos (-21,7%) e aviões (-16,3%). Apenas dois produtos apresentaram aumento nas exportações, suco de laranja e óxidos e hidróxidos de alumínio - que, convenhamos, não são produtos que mostram índices de valor agregado dos mais elevados.
Na sexta-feira 8 de maio, o País foi informado de que os EUA foram desbancados pela China da condição de principal parceiros comerciais do Brasil, posto que ocupavam desde a década de 1930. Em abril, a corrente de comércio Brasil-China atingiu 3,2 bilhões de dólares, contra 2,8 bilhões com os EUA. Embora o secretário de Comércio Exterior do MDIC, Walter Barral, tenha rotulado o fato como "histórico" e afirme que "a Ásia vai se consolidar como principal parceiro do Brasil", a notícia foi recebida com desconforto pelo setor industrial nacional, pois apenas 9% das importações chinesas foram de manufaturados, índice que os especialistas consideram difícil de aumentar.
Nos últimos meses, Pequim tem "ido às compras" de commodities com grande voracidade, em parte para dar uma destinação "física" a uma parcela das suas gigantescas reservas em dólares, moeda em cujo futuro já não apostam tanto as suas fichas.
Em entrevista ao jornal O Globo do dia seguinte, o diretor do Departamento de Comércio Exterior e Relações Internacionais da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (FIESP), Ricardo Martins, resumiu as apreensões do setor: "- Essa é uma situação muito desconfortável para a indústria brasileira, e não deveríamos, de forma alguma, estar comemorando."
Leia o editorial completo no Movimento de Solidariedade Ibero-americana...
Em 4 de maio, o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC) divulgou os números das exportações de abril, que mantiveram a tendência à deterioração das vendas de produtos manufaturados, que pela primeira vez desde a década de 1980 ficaram abaixo das exportações de produtos primários. E a queda foi brutal: em abril de 2008, as manufaturas representaram 51,8% das exportações, contra 32,8% de commodities; em abril deste ano, os números foram, respectivamente, 45,4% e 40,9%.
Em abril, somente as exportações de produtos básicos aumentaram em relação a 2008 (27,4%), com destaque para o petróleo bruto, minério de ferro, farelo de soja e soja em grãos. Já os manufaturados prosseguem em queda livre. Segundo o MDIC, as principais perdas foram registradas nos óleos combustíveis (-75,1%), aparelhos transmissores/receptores (-39,9%), autopeças (-33,4%), pneumáticos (-31,7%), calçados e partes (-30,6%), etanol (-28,7%), automóveis (-22,9%), laminados planos (-21,7%) e aviões (-16,3%). Apenas dois produtos apresentaram aumento nas exportações, suco de laranja e óxidos e hidróxidos de alumínio - que, convenhamos, não são produtos que mostram índices de valor agregado dos mais elevados.
Na sexta-feira 8 de maio, o País foi informado de que os EUA foram desbancados pela China da condição de principal parceiros comerciais do Brasil, posto que ocupavam desde a década de 1930. Em abril, a corrente de comércio Brasil-China atingiu 3,2 bilhões de dólares, contra 2,8 bilhões com os EUA. Embora o secretário de Comércio Exterior do MDIC, Walter Barral, tenha rotulado o fato como "histórico" e afirme que "a Ásia vai se consolidar como principal parceiro do Brasil", a notícia foi recebida com desconforto pelo setor industrial nacional, pois apenas 9% das importações chinesas foram de manufaturados, índice que os especialistas consideram difícil de aumentar.
Nos últimos meses, Pequim tem "ido às compras" de commodities com grande voracidade, em parte para dar uma destinação "física" a uma parcela das suas gigantescas reservas em dólares, moeda em cujo futuro já não apostam tanto as suas fichas.
Em entrevista ao jornal O Globo do dia seguinte, o diretor do Departamento de Comércio Exterior e Relações Internacionais da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (FIESP), Ricardo Martins, resumiu as apreensões do setor: "- Essa é uma situação muito desconfortável para a indústria brasileira, e não deveríamos, de forma alguma, estar comemorando."
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