"Estou voltando para a política"
Magoado com o presidente Lula, Itamar Franco entra no PPS, promete dar novo fôlego à oposição e ajudar a derrotar o PT em 2010
Em 2006, outro episódio magoou o ex-presidente. Lula desembarcou com sua comitiva em Juiz de Fora, em campanha pela reeleição. Mas Itamar apoiava a candidatura do ex-governador paulista Geraldo Alckmin à Presidência e não foi visitado por Lula. “Vi o ministro das Relações Exteriores no palanque, aí fiquei entristecido”, diz Itamar, fazendo referência ao chanceler Celso Amorim, ministro também no seu governo. “Nem Magalhães Pinto, ministro das Relações Exteriores, político que era, subiu no palanque”, critica. “Mas a gente tem que olhar para a frente. O Teotônio (Vilela) me dizia: ‘não tenha ódio no coração’”. Itamar se diz entristecido também com o festival de desvio ético que contamina a política brasileira, especialmente no Legislativo. “Não são as leis que vão mudar isso, é preciso mudar o caráter das pessoas”, afirma. Recentemente, ao fazer uma palestra, uma estudante levantou- se da cadeira revoltada. “Para mim, todos os políticos são ladrões.” O ex-presidente rebateu: “Por favor, não vamos exagerar”. Enquanto esteve fora da política partidária, o ex-presidente manteve sua vida de homem simples de 78 anos, sem um grande patrimônio, que adora passear pelas ruas de Juiz de Fora. Antes de se tornar presidente, foi prefeito daquela cidade duas vezes, senador, governador de Minas e vice-presidente da República. “É incrível, muita gente pensa que recebo como prefeito, como governador e como presidente da República. Quando digo que nem como presidente eu recebo, muita gente me diz que estou mentindo. Quando a gente tem uma vida limpa e ética, depois tem muita dificuldade, pois não vendeu o mandato”, diz Itamar. “Sabe quem pagava minha refeição no Palácio da Alvorada? Eu pagava. Hoje, não sei se o presidente da República paga a sua refeição.”
Os governadores Aécio Neves e José Serra deverão buscar o entendimento, porque a luta não vai ser fácil.” Ele não vê outra perspectiva para a oposição sair vitoriosa de uma disputa com o PT a não ser com a tradicional aliança café com leite. “Minas vai precisar de São Paulo? Sim. São Paulo vai precisar de Minas? Sim.” Sua sensibilidade política lhe diz que PT e PMDB (ou parte deste) devem caminhar juntos na disputa de 2010 por estarem no governo e será necessária uma grande aliança da oposição.
Em sua carreira política, Itamar foi do MDB, do PMDB, e, embora nacionalista, filiou-se ao PL. Quando foi convidado para ser candidato a vice na chapa de Fernando Collor, entrou no inusitado PRN (Partido da Reconstrução Nacional). No Palácio do Planalto, voltou a se aproximar do PMDB, pelo qual chegou ao Palácio da Liberdade em 1998. Agora, o PPS (Partido Popular Socialista) está comemorando a filiação do ex-presidente. O namoro de Itamar com a legenda vem de longa data. “O PPS é aquele que mais se aproxima das minhas ideias e daquilo que eu preguei ao longo da minha vida política”, diz. “Se fosse ainda um partido comunista, eu não me filiaria. Mas vejo o PPS como um partido que busca o socialismo democrático.”
Durante seu mandato de presidente, Itamar surpreendeu o meio político e chamou o atual presidente do PPS, Roberto Freire, para ser o líder do governo na Câmara dos Deputados. “O presidente Itamar é uma liderança que dignifica o partido”, elogia Freire. “Ele foi um presidente sério, que pegou o País num momento conturbado e saiu bem avaliado ao enfrentar a inflação e conseguir a estabilização básica da economia.” No PPS, Itamar, devido ao peso do papel de expresidente da República, deve dividir com Freire uma função que desempenha com prazer: a de porta-voz. O tom de Itamar, no entanto, deve doer mais nos ouvidos no Planalto.
FOTO: RODRIGO CAPOTE
FOTOS: ANDRE DUSEK/AG. ISTOÉ; LUCIANO ANDRADE
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Magoado com o presidente Lula, Itamar Franco entra no PPS, promete dar novo fôlego à oposição e ajudar a derrotar o PT em 2010
Octávio Costa e Hugo Marques
Após um exílio voluntário de três anos em Juiz de Fora, o ex-presidente da República Itamar Franco decidiu voltar à vida pública. Ele vai filiar-se ao PPS para, segundo suas palavras, ajudar a oposição a se organizar melhor com vistas ao pleito de 2010. “Nós temos muitas incógnitas para poucas equações. Estou voltando para a política. Entrando no partido passo a ficar no banco de reservas e vejo o jogo mais de perto”, explica Itamar. O ex-presidente vê a necessidade de maior clareza nas propostas dos partidos de oposição para o País. “A oposição brasileira está com venda nos olhos, precisa retirá-la”, aconselha. “Eu diria que a oposição está com a bússola descompensada, sem norte”. O rumo da oposição, para Itamar, passa pela discussão de projetos para a economia, saúde, educação e segurança.
Nessa linha, é necessário deixar claro para a sociedade brasileira qual o real objetivo de instalar uma CPI para investigar a Petrobras. “Deve-se explicar que o foco da CPI é apurar denúncias pontuais de eventuais desvios em pagamentos de royalties e contratos com usineiros, sem prejudicar a empresa”, diz ele. E lembra que, na época do regime militar, então senador pelo MDB, foi presidente de uma comissão para investigar o acordo nuclear entre o Brasil e a Alemanha. Em pleno governo do general Geisel, o Congresso conseguiu jogar luz sobre o acordo.
Se depender de Itamar, que hoje é presidente do conselho de administração do Banco de Desenvolvimento de Minas Gerais, está na hora de a oposição enterrar de uma vez por todas as tratativas do PT em torno do terceiro mandato para o presidente Lula. “Seria uma violência contra o Estado de Direito”, avalia Itamar. “Mas tudo é possível no Brasil por não temos a legislação muito clara.” O ex-presidente acha que Lula deve se inspirar no exemplo de Juscelino Kubitschek, que tinha tudo para buscar outro mandato em 1960, mas “sujeitou-se ao aspecto democrático”. Nessa nova fase, Itamar também pretende rebater muito do que o presidente Lula tem dito. “O senhor presidente da República diz que os ex-presidentes não têm que falar. Como não têm que falar?”, reclama. “Agora, de repente, ele quer amordaçar os expresidentes. Pelo amor de Deus, ele pode fazer o que quiser, mas o expresidente tem que ficar enjaulado?”
Sem esconder a mágoa, Itamar recorda que em 2002 foi “o primeiro governador da oposição” a apoiar Lula, durante uma cerimônia em Ouro Preto. “Lula segurou minha mão e disse: ‘Não esquecerei as pessoas.’” Para Itamar, Lula o esqueceu. O expresidente também não perdoa a declaração de Lula de que se arrependeu de ter nomeado políticos derrotados para embaixadas. “Ele fala e não dá nomes, eu não era derrotado, eu era governador de Minas, apoiando a candidatura do senhor Lula em Minas, a pedido do ex-ministro José Dirceu”, critica Itamar. Até hoje ele guarda na memória o diálogo que teve com Lula após a eleição. “O senhor presidente, sozinho comigo, no Palácio da Liberdade, me disse: ‘Itamar, você quer ir para a ONU, quer ir para onde?’ ‘Então eu disse: Presidente, eu não quero nada, eu defendi sua candidatura em nome do interesse nacional’”. Após esse diálogo, Lula nomeou-o embaixador do Brasil em Roma, cargo que ele ocupou por dois anos. “Quando eu estava voltando da Itália, ouvi rumores na área diplomática de que o presidente não estava falando bem de mim e pensei: Uai, o homem acabou de me convidar para a embaixada em Washington, santo Cristo!”, lembra Itamar.
Após um exílio voluntário de três anos em Juiz de Fora, o ex-presidente da República Itamar Franco decidiu voltar à vida pública. Ele vai filiar-se ao PPS para, segundo suas palavras, ajudar a oposição a se organizar melhor com vistas ao pleito de 2010. “Nós temos muitas incógnitas para poucas equações. Estou voltando para a política. Entrando no partido passo a ficar no banco de reservas e vejo o jogo mais de perto”, explica Itamar. O ex-presidente vê a necessidade de maior clareza nas propostas dos partidos de oposição para o País. “A oposição brasileira está com venda nos olhos, precisa retirá-la”, aconselha. “Eu diria que a oposição está com a bússola descompensada, sem norte”. O rumo da oposição, para Itamar, passa pela discussão de projetos para a economia, saúde, educação e segurança.
Nessa linha, é necessário deixar claro para a sociedade brasileira qual o real objetivo de instalar uma CPI para investigar a Petrobras. “Deve-se explicar que o foco da CPI é apurar denúncias pontuais de eventuais desvios em pagamentos de royalties e contratos com usineiros, sem prejudicar a empresa”, diz ele. E lembra que, na época do regime militar, então senador pelo MDB, foi presidente de uma comissão para investigar o acordo nuclear entre o Brasil e a Alemanha. Em pleno governo do general Geisel, o Congresso conseguiu jogar luz sobre o acordo.
Se depender de Itamar, que hoje é presidente do conselho de administração do Banco de Desenvolvimento de Minas Gerais, está na hora de a oposição enterrar de uma vez por todas as tratativas do PT em torno do terceiro mandato para o presidente Lula. “Seria uma violência contra o Estado de Direito”, avalia Itamar. “Mas tudo é possível no Brasil por não temos a legislação muito clara.” O ex-presidente acha que Lula deve se inspirar no exemplo de Juscelino Kubitschek, que tinha tudo para buscar outro mandato em 1960, mas “sujeitou-se ao aspecto democrático”. Nessa nova fase, Itamar também pretende rebater muito do que o presidente Lula tem dito. “O senhor presidente da República diz que os ex-presidentes não têm que falar. Como não têm que falar?”, reclama. “Agora, de repente, ele quer amordaçar os expresidentes. Pelo amor de Deus, ele pode fazer o que quiser, mas o expresidente tem que ficar enjaulado?”
Sem esconder a mágoa, Itamar recorda que em 2002 foi “o primeiro governador da oposição” a apoiar Lula, durante uma cerimônia em Ouro Preto. “Lula segurou minha mão e disse: ‘Não esquecerei as pessoas.’” Para Itamar, Lula o esqueceu. O expresidente também não perdoa a declaração de Lula de que se arrependeu de ter nomeado políticos derrotados para embaixadas. “Ele fala e não dá nomes, eu não era derrotado, eu era governador de Minas, apoiando a candidatura do senhor Lula em Minas, a pedido do ex-ministro José Dirceu”, critica Itamar. Até hoje ele guarda na memória o diálogo que teve com Lula após a eleição. “O senhor presidente, sozinho comigo, no Palácio da Liberdade, me disse: ‘Itamar, você quer ir para a ONU, quer ir para onde?’ ‘Então eu disse: Presidente, eu não quero nada, eu defendi sua candidatura em nome do interesse nacional’”. Após esse diálogo, Lula nomeou-o embaixador do Brasil em Roma, cargo que ele ocupou por dois anos. “Quando eu estava voltando da Itália, ouvi rumores na área diplomática de que o presidente não estava falando bem de mim e pensei: Uai, o homem acabou de me convidar para a embaixada em Washington, santo Cristo!”, lembra Itamar.
“Nós aprendemos desde moços que, quando deixamos o adversário escrever a nossa vida, estamos liquidados.”
“Ele (Lula) pode fazer o que quiser, mas o ex-presidente tem que ficar enjaulado?”
“A oposição está com a bússola descompensada”
“Quando deixamos o adversário escrever a nossa vida, estamos liquidados”
“O terceiro mandato é uma violência contra o Estado de Direito”
“Ele (Lula) pode fazer o que quiser, mas o ex-presidente tem que ficar enjaulado?”
“A oposição está com a bússola descompensada”
“Quando deixamos o adversário escrever a nossa vida, estamos liquidados”
“O terceiro mandato é uma violência contra o Estado de Direito”
Em 2006, outro episódio magoou o ex-presidente. Lula desembarcou com sua comitiva em Juiz de Fora, em campanha pela reeleição. Mas Itamar apoiava a candidatura do ex-governador paulista Geraldo Alckmin à Presidência e não foi visitado por Lula. “Vi o ministro das Relações Exteriores no palanque, aí fiquei entristecido”, diz Itamar, fazendo referência ao chanceler Celso Amorim, ministro também no seu governo. “Nem Magalhães Pinto, ministro das Relações Exteriores, político que era, subiu no palanque”, critica. “Mas a gente tem que olhar para a frente. O Teotônio (Vilela) me dizia: ‘não tenha ódio no coração’”. Itamar se diz entristecido também com o festival de desvio ético que contamina a política brasileira, especialmente no Legislativo. “Não são as leis que vão mudar isso, é preciso mudar o caráter das pessoas”, afirma. Recentemente, ao fazer uma palestra, uma estudante levantou- se da cadeira revoltada. “Para mim, todos os políticos são ladrões.” O ex-presidente rebateu: “Por favor, não vamos exagerar”.
Os governadores Aécio Neves e José Serra deverão buscar o entendimento, porque a luta não vai ser fácil.” Ele não vê outra perspectiva para a oposição sair vitoriosa de uma disputa com o PT a não ser com a tradicional aliança café com leite. “Minas vai precisar de São Paulo? Sim. São Paulo vai precisar de Minas? Sim.” Sua sensibilidade política lhe diz que PT e PMDB (ou parte deste) devem caminhar juntos na disputa de 2010 por estarem no governo e será necessária uma grande aliança da oposição.
Em sua carreira política, Itamar foi do MDB, do PMDB, e, embora nacionalista, filiou-se ao PL. Quando foi convidado para ser candidato a vice na chapa de Fernando Collor, entrou no inusitado PRN (Partido da Reconstrução Nacional). No Palácio do Planalto, voltou a se aproximar do PMDB, pelo qual chegou ao Palácio da Liberdade em 1998. Agora, o PPS (Partido Popular Socialista) está comemorando a filiação do ex-presidente. O namoro de Itamar com a legenda vem de longa data. “O PPS é aquele que mais se aproxima das minhas ideias e daquilo que eu preguei ao longo da minha vida política”, diz. “Se fosse ainda um partido comunista, eu não me filiaria. Mas vejo o PPS como um partido que busca o socialismo democrático.”
Durante seu mandato de presidente, Itamar surpreendeu o meio político e chamou o atual presidente do PPS, Roberto Freire, para ser o líder do governo na Câmara dos Deputados. “O presidente Itamar é uma liderança que dignifica o partido”, elogia Freire. “Ele foi um presidente sério, que pegou o País num momento conturbado e saiu bem avaliado ao enfrentar a inflação e conseguir a estabilização básica da economia.” No PPS, Itamar, devido ao peso do papel de expresidente da República, deve dividir com Freire uma função que desempenha com prazer: a de porta-voz. O tom de Itamar, no entanto, deve doer mais nos ouvidos no Planalto.
FOTO: RODRIGO CAPOTE
FOTOS: ANDRE DUSEK/AG. ISTOÉ; LUCIANO ANDRADE
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