Cachorro que morde o próprio rabo
Não precisou nem um minuto depois do anúncio do desempenho da economia, no primeiro trimestre, para os juros futuros subirem. Era o mercado passando ao Banco Central a mensagem de que o corte na taxa básica deveria ser, como sempre, mais modesto. O fato de o PIB não ter recuado tanto quanto as projeções do próprio mercado era o argumento de que precisava. Argumento frágil que, felizmente, não comoveu a maioria dos sábios do Comitê de Política Monetária (Copom).
Menos mal o corte de 1 ponto percentual. A inesperada resistência da economia a um desaquecimento mais profundo fez crescerem, a partir de terça-feira, quando saíram os números do IBGE, as apostas numa redução de apenas 0,75 ponto percentual. A lógica dessa moderação tem origem num raciocínio raso, que finge projetar o futuro, mas se prende ao passado.
Junto com a notícia de que a economia não recuara os 1,5% esperados no primeiro trimestre, mas “apenas” 0,8%, veio a informação de que o investimento (formação bruta de capital fixo), naquele trimestre, havia desabado mais de 12%, no maior mergulho da série histórica atual das contas nacionais. Era, este sim, motivo para derrubar os juros sem dó nem piedade. Mas, na “ciência econômica” do mercado, tratava-se, exatamente, do inverso.
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José Paulo Kupfer
Nasceu no Rio de Janeiro em 1948. Jornalista desde 1967, foi repórter, redator, secretário de redação, editor-chefe e diretor em diversas publicações do Rio, São Paulo e Porto Alegre. Começou na revista Fatos & Fotos e trabalhou no Correio da Manhã, O Globo, Exame, Jornal do Brasil, Veja, Istoé, Estado de S. Paulo, Zero Hora, Gazeta Mercantil e Foco-Economia e Negócios.
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