quinta-feira, 11 de junho de 2009

Prof. Marcos Coimbra

O MASSACRE COMETIDO CONTRA SIMONAL
Artigo publicado em 04.06.2009 no Monitor Mercantil

O documentário “Ninguém sabe o duro que dei”, feito pelos cineastas Cláudio Manoel, Calvito Leal e Micael Langer, sobre a vida e obra do genial Wilson Simonal, atualmente em cartaz, emociona. Quando acabou a exibição do filme, a maioria da platéia aplaudiu, inclusive nós, espontaneamente, o que é extremamente raro de acontecer. O filme mostra a ascensão do cantor e compositor, mostrando seu excepcional talento e incomparável carisma, bem como sua derrocada, provocada pela perseguição implacável e ensandecida de praticamente toda a mídia brasileira, contaminada pela convicção de que ele teria denunciado colegas ao DOPS. Mostra sua inegável capacidade de fascínio sobre massas populares de milhares de pessoas, a exemplo do inesquecível espetáculo do Maracanãzinho, onde regeu tranqüilamente o público presente, ávido em participar do espetáculo por ele comandado. Suas canções eram sempre sucesso como o agora relembrado “Meu limão, meu limoeiro”. Ele foi capaz de deixar a diva americana Sarah Vaughan enlevada, olhando apaixonadamente para ele, enquanto cantavam juntos. Ganhou muito dinheiro com seu trabalho e viveu a vida que queria, apreciador de belas mulheres, carros de luxo e viagens pelo mundo. Era talvez o único talento, à época, capaz de ombrear-se com o rei Roberto Carlos. Evidentemente que cometeu excessos e o sucesso subiu-lhe à cabeça. Atraiu a inveja, o preconceito, o ódio e a ira de muita gente, em especial do meio artístico devido ao seu escandaloso sucesso. Afinal, era o mais perfeito representante do “swing e da pilantragem”.



Aconteceu o problema com seu contador, o qual inclusive narra a sua versão dos fatos na película. Em momento algum foi provado que Simonal de fato tivesse delatado alguém, principalmente do meio artístico. Houve sim o indevido uso de conhecidos dele, policiais de carreira, a seu pedido, que prenderam e utilizaram violência indevida contra o profissional por ele acusado de desvio de fundos. O que causa espécie é a forma como ele foi condenado, julgado e punido pela mídia engajada de esquerda, além das penas sofridas em virtude do processo criminal a que foi submetido, do qual o promotor foi coincidentemente o atual deputado federal pelo PT Antonio Biscaia. Talvez o veículo mais cruel com Simonal tenha sido o semanário “O Pasquim”, que encabeçou uma das mais perversas campanhas de destruição do fenômeno Simonal. Vários depoimentos foram apresentados no citado filme, inclusive de dois jornalistas que participaram do principal grupo de seus algozes. Os dois, muito bem sucedidos profissionalmente, um deles até habitualmente agraciado com generosas verbas de entidades privadas e públicas, acabam de ser agraciados com alguns milhões de reais a título de “bolsas ditadura”, no dizer do genial Millor Fernandes, um belo investimento realizado por oponentes ao regime vigente da época. É de realçar o belo depoimento do insuspeito jornalista e especialista em música Nelson Motta, que realça as qualidades de Simonal, sem confirmar as acusações feitas de que ele seria um informante do sistema de repressão. Outros depoentes foram de uma tendência “murista” visível. Porém, é de justiça ecoar o corajoso e definitivo depoimento do gênio Chico Anysio, que asseverou com sua autoridade incontestável, oriunda de sua vasta bagagem cultural, insofismável talento e experiência de vida a falsidade das aleivosias levantadas contra o ídolo negro. Chegou a afirmar que nunca foi identificada qualquer pessoa capaz de dizer que teria sido delatada pelo cantor. Aliás, também é de justiça flagrar o brutal afastamento do melhor humorista que o Brasil possui, submetido a um incompreensível processo de afastamento da principal rede de TV do país, em função de razões desconhecidas por nós e impedido por contrato de trabalhar em outra emissora. Está sendo pago para não trabalhar. Apresenta-se apenas em teatros e eventualmente em cinema. Não para o grande público que sente sua falta no vídeo. O episódio lembra o triste acontecimento da escola em São Paulo, quando um casal foi injustamente acusado e massacrado pela mídia, tendo sido depois provado que era inocente. E ilustra o poder da imprensa, capaz de destruir a vida de um dos maiores expoentes da música popular brasileira, sem que tivesse sido provada sua condição de informante ou agente da repressão. Imaginem se tivesse sido um cidadão comum. Flagra ainda a maldade patológica daqueles que condenaram Simonal à desgraça e abreviaram sua vida terrena, sem nunca ter certeza de seu pecado. A propósito, recentemente foi extinta pelo STF a legislação denominada “Lei de Imprensa” que regulava o assunto, sem que se tenha erigido outra legislação específica disciplinando o difícil tema.
Marcos Coimbra é Conselheiro Diretor do CEBRES (Centro Brasileiro de Estudos Estratégicos), Professor de Economia e autor do livro "Brasil Soberano".
mcoimbra@antares.com.br
www.brasilsoberano.com.br


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