Por Said Barbosa Dib*
O Diário Oficial da União de hoje publicou o Decreto nº 7118, assinado pelo presidente em exercício, José de Alencar. Ele cria a Medalha "Sargento Max Wolff Filho", que será conferida a subtenentes e sargentos do Exército brasileiro, em reconhecimento à dedicação e interesse demonstrado pelo aprimoramento profissional, que efetivamente se tenham destacado no seu desempenho profissional, evidenciando características e atitudes inerentes ao 2º Sargento Max Wolff Filho, herói brasileiro na 2º Guerra Mundial. A iniciativa é muito boa. Muito boa mesmo. Devemos sempre estimular e valorizar nossos militares partriotas. Só não sei porque não estão aí incluídos também os da Aeronáutica e da Marinha. Mas, já é um bom passo. Bom seria, também, se os soldos fossem melhorados. E as condições de trabalho também. Mas esta é uma outra história. O importante é que, durante os últimos quatro governos – incluindo-se o de Lula –, não vimos nada nesse sentido. Parabéns ao governo! Aliás...! Uma questão me veio à cabeça quando li hoje o Diário Oficial: o povo já está cansado de ideologias estrangeiras permeando nossas mentes, até mesmo no que se refere aos nossos heróis. Hoje, se assiste a um verdadeiro menosprezo aos líderes, aos heróis e aos patriotas. Substitui-se o homem, o cidadão, os bons exemplos, por facções, grupos, raças, partidos e até animais e plantas. Até mesmo nossa moeda, que deveria ser um dos alicerces da Nação, não possui mais figuras históricas que poderiam servir de modelo para nossa juventude. Preferiu-se colocar nela algo malthusiano e anti-humano. Vemos bichos e plantinhas, não heróis nacionais, não pessoas. Coisa que não há em lugar civilizado nenhum no mundo. As lutas dos movimentos sociais não procuram bandeiras que lutem pelo Brasil como um todo, pelo progresso da Nação, mas por grupos, facções, raças, estamentos, classes, gêneros e categorias. Com dinheiro das fundações Ford e Rockfellers da vida, fazem de tudo para nos desagregar, nos dividir, nos enfraquecer, jamais para nos unir. Em tempos bicudos assim, de desprezo pelos nossos militares e pelo patriotismo verdadeiro, numa generalização perigosa e irresponsável - e de um revanchismo sem sentido e sem vergonha da verdadeira indústria das indenizações -, a Presidência resolve fazer uma homenagem merecida aos nossos heróis da 2º Guerra. Algum maldoso pode dizer que seria uma forma de apaziguar os ânimos dos militares, principalmente os de baixa patente. Mas, não. Não acredito. Parabéns ao governo! Parabéns, principalmente porque foi logo depois de toda aquela tola e desnecessária polêmica do famigerado Plano de Direitos Humanos, que tentou estigmatizar nossos militares. Mas, a pergunta provocativa que proponho é a seguinte: por que, com razão, a Presidência quer homenagear Max Wolff Filho, por ter lutado contra o autoritarismo na Europa, e quer condenar os militares que fizeram o mesmo aqui no Brasil, quando tentaram evitar um Estado autoritário comunista? A pergunta é provocativa mesmo. É para catalizar a nossa reflexão para alguns detalhes. Não se pode separar o sentimento libertário coletivo da corporação militar que lutou na Europa, do sentimento libertário coletivo que permeou a ação dos militares diante do desastroso governo de João Goulart. Mesmo que se considere um erro histórico – e eu considero – não se pode deixar de refletir sobre isso quando se discute a importância da Lei de Anistia. Esta veio justamente para abacar com as desavenças entre brasileiros, desunidos pelo contexto da Guerra Fria. Foi importante, justamente porque uniu forças nacionais que foram separadas por forças externas ao sentimento patriótico. É isso que os serviçais apátridas da ONU não têm interesse de explicar para a população. Não se pode esquecer que aqueles brasileiros ilustres que foram lutar com bravura na Europa, com as extraordiárias FEB e FAB, como nosso homenageado Max Wolff Filho, pretendiam defender o mundo livre e enfrentar os estados totalitários. Viraram heróis por isso. Ali, no campo de batalha, ao lado de norte-americanos e aliados ocidentais, naturalmente acabaram consolidando uma postura muito clara a respeito do que, na época, era considerado totalitarismo. Sabiam quem era o inimigo. Este sentimento ficaria arraigado em suas almas, como uma missão permanente em defesa do chamado “mundo ocidental” e da liberdade. E foi por essa convivência com os norte-americanos, por exemplo, que eles sempre viram nos discursos da "esquerda" - também autoritária e pregando não a convivência, mas a luta de classes - um inimigo a se combater. Não poderia ser de outro jeito. Pelo que aprenderam a lutar, não estavam errados. Esquerda autoritária que, já em 1935, tinha, efetivamente (embora de forma incompetente), tentado implantar uma tirania no Brasil sob os auspícios de Moscou, uma força externa ao Brasil. Em 1964 a postura dos nossos militares não foi diferente. Temia-se mais um golpe comunista. Esperar que eles, que lutaram de forma heróica na Guerra Mundial, repito, contra o totalitarismo, iriam ficar calados - diante do que acontecia no governo Goulart - é de uma imbecilidade cavalar. Não queriam esperar para "ver no que dá". É claro que fizeram o golpe com a convicção sincera e cívica pela defesa do Brasil soberano. Como também eram sinceros os estudantes terroristas idealistas que matavam e roubavam seres humanos e compatriotas pela causa comunista. Considerava-se aquilo uma guerra. E era uma guerra. Não nossa, sabemos hoje, mas dos EUA contra Moscou. E de Moscou contra os EUA. Mas, naquele contexto isto não estava muito claro. Éramos, como infelizmente ainda somos, dependentes não apenas em tecnologia e capitais, mas também culturalmente, portanto, politicamente. Lutar pelo ocidente livre era lutar pela independência do Brasil. Era esta a idéia. Por isso, nossos militares se sentiram obrigados a uma ruptura institucional preventiva para se evitar o que consideravam uma ameaça. Fizeram um “golpe preventivo”, como diziam. É claro que João Goulart não era esse bicho-papão todo. Era mais incompetente do que perigoso. Era um arremedo de Vargas. Mas, dizer isso hoje, quando já se sabe o final da história, fica fácil. Já constatamos no que a coisa deu. É o mesmo que dizer, sob o olhar de hoje, que Napoleão foi burro em invadir a Rússia, quando já sabemos o resultado. E que Hitler foi duas vezes burro por ter feito a mesma coisa. Isto não tem sentido. Tanto Napoleão quanto Hitler tinham pela frente não fatos consolidados - não tinham em mãos bolas de cristal de história focadas no futuro para tomarem suas decisões -, mas o peso da realidade. Tinham possibilidades apenas. Tinham que tomar decisões. Se certas ou erradas, ficaria para os historiadores analisarem. Uns fazem a História, outros a interpretam, não é mesmo? Os nossos militares, também, quando decidiram pelo golpe, não tinham uma visão mágico-prospectiva ou teleológica na época da decisão. Decidiram pelo que consideravam verdadeiro e justo. Decidiram pelo que consideravam patriotismo. Assim como jovens estudantes das classes altas e média, insisto, sempre cosmopolitas e preocupados mais em salvar o mundo do que seu próprio país, também decidiram jogar bombas em bancos e escritórios, matando gente inocente, também com a convicção plena de que os justos eram eles. Portanto, todos, tanto o que se convencionou chamar de “esquerda”, quanto os militares pró-mundo ocidental, tinham “boas intenções”. Os dois lados se achavam verdadeiramente justos. Era o samba do criolo-doido ideológico. Os dois lados se sentiam os verdadeiros nacionalistas. E de “boas intenções’, como se sabe, o Inferno está cheio. Mas o que havia é que, tanto esquerdistas quanto os militares (apoiados por amplos setores médios urbanos e a grande maioria da população), nesse desentendimento todo, nessa desagregação de certa forma programada de fora, acabaram fazendo o jogo poderoso das superpotências sediadas em Moscou e Washington. O Brasil se enfraquecia pelos outros. Se sacrificava pelos outros. Perdia a oportunidade de ser uma superpotência por puro espírito de vira-lata de nossas elites "bem intencionadas", mas vazias de conteúdo próprio, de ousadia e de amor ao País. Algo dramático! Eram brasileiros levados a lutar contra brasileiros, em benefício não dos brasileiros, mas dos norte-americanos e soviéticos. Um problema típico de pais efetivamente colonizado do ponto de vista cultural: não ver o mundo com os olhos de brasileiros nos custou – e custa – muito caro. Abandonamos o que se iniciara na Revolução de 30, que havia sintetizado um projeto verdadeiramente nacional. É aí que está a tragédia. Para nossa tristeza, ambos estavam errados. Desde o tenentismo, nos anos 20, nossos patriotas substituíram o patriotismo por ideologias estrangeiras, mesmo acreditando que estavam certos. Nacionalistas que haviam lutado juntos contra os desmandos e o entreguismo da República Velha, de repente, contaminados pelos ‘ismos’ de outros povos, acabaram neutralizados. Substituiu-se o patriotismo pelo integralismo, pelo comunismo, pelo anarquismo e outras besteiras mais. Isto explica, por exemplo, que patriotas sinceros, como os tenentistas, que lutaram juntos, tenham acabado em campos opostos nos anos 30 e 40, justamente quando o Estado e a economia brasileira estavam sendo construídas sob a liderança de Vargas. Plínio Salgado e Luis Carlos Prestes, que estavam juntos na luta contra as oligarquias locais e as forças estrangeiras nos anos 20, acabaram deixando se ser patriotas e se transformaram apenas em integralista e comunista, respectivamente. O maior mal do Brasil, de lá pra cá, tem sido isso: FALTA PATROTISMO VERDADEIRAMENTE BRASILEIRO. Esta divisão imbecil de brasileiros perduraria nos anos 40, 50 , 60 e por aí vai. Nos anos 60, mais uma vez, a briga entre “esquerda” e “direita” foi a consolidação disso tudo. Ambos acreditavam e queriam o bem do Brasil, mas se utilizavam de ideologias que não eram as nossas, lutavam por interesses e apoios que não eram os nossos. Faziam uma guerra que não era a nossa. Os comunistas viam os problemas com os olhos de Moscou. Os militares, verdadeiramente bem intencionados, acreditavam que estavam ainda na 2º Guerra, lutando ao lado dos EUA e defendendo o hemisfério ocidental contra os estados totalitários. Miravam-se, lógico!, em Washington, o companheiro da 2º Guerra. Daí todos os problemas que enfrentamos ainda hoje. Daí a necessidade de, hoje, deixarmos tanto o revanchismo lucrativo da esquerda quanto a “culpa” e a postura defensiva dos militares, para fazermos um Brasil unido e feliz. E isto só se faz, não canso de repetir, com um patriotismo verdadeiro (NÃO IMPORTADO DE IDEOLOGIAS ESTRANGEIRAS), verdadeiramente brasileiro, com idéias e lutas genuinamente nacionais, com heróis que lutem não para salvar abstrações como a humanidade, a cor da pele, o comunismo, o ecosistema ou a democracia, mas para fazer o Brasil progredir realmente para todos os brasileiros. É somente isso! E nada mais. Fica a experiência do que não deu certo, para alcançarmos o progresso efetivo.
Quen foi Max Wolff Filho?
Quen foi Max Wolff Filho?
Max Wolff Filho alistou-se em Curitiba, aos 18 anos, no 15º Batalhão de Caçadores, unidade extinta cujas instalações são hoje ocupadas pelo 20º BIB. No ano de 1944, apresentou-se voluntariamente para compor a Força Expedicionária Brasileira, integrando a então 1ª Companhia do 11º Regimento de Infantaria (11º RI), de São João del-Rei (MG). Destacou-se por sua bravura no decorrer da Guerra, tornando-se conhecido pelo seu destemor, intrepidez e abnegação. Suas façanhas eram proclamadas pelas partes de combate e por vários correspondentes de guerra das imprensas nacional e estrangeira. No dia 12 de abril de 1945, o 11º RI recebeu a missão de reconhecer a região de Monte Forte e Biscaia, a denominada "terra de ninguém". O sargento Wolff foi voluntário para comandar a patrulha de reconhecimento, que foi constituída por 19 militares que se haviam destacado por competência e bravura em outros combates. Na missão, foi fatalmente atingido por uma rajada de metralhadora alemã, que o atingiu na altura do peito. Somente vários dias depois o corpo do sargento Max Wolff Filho foi encontrado. Foi agraciado post mortem com as medalhas de Campanha de Sangue e Cruz de Combate, do Brasil; e com a medalha Bronze Star, dos Estados Unidos da América. Foi sepultado no Cemitério Militar Brasileiro, em Pistóia, na Itália; posteriormente, seus restos mortais foram trasladados para o Brasil. Em sua homenagem, a Escola de Sargentos das Armas (EsSA) leva seu nome como patrono.
Said Barbosa Dib é patriota, historiador e analista político em Brasília
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