segunda-feira, 23 de agosto de 2010

Hildeberto Aleluia

Aleluia: só rádio se reinventa no Brasil

Em seu artigo Hildeberto Aleluia comenta a importância das emissoras de rádio, que segundo ele, são o principal meio de comunicação da mídia tradicional e, com o tempo, está se reinventando e firmando-se novamente como um grande meio de comunicação. “Não acredito que os outros meios tenham a mesma chance. Em função de suas características marcadamente locais e comunitárias, e custos operacionais baixíssimos, será o rádio o primeiro a se adaptar ao mecanismo da convergência”.


O rádio no Brasil


As oportunidades de negócios e estratégicas, no mundo da Mídia, e Web são infinitas. Incomensuráveis são as possibilidades que se oferecem ao universo do rádio. A meu ver o principal meio de comunicação da mídia tradicional que irá crescer perfeitamente adequado ao invento da WEB. Segmentado, regionalizado, localizado e comunitário o rádio crescerá em importância e difusão perfeitamente compatível com a nova plataforma de comunicação. Ele deverá ser um dos primeiros em importância para o internauta quando se tratar de informação local. Enquanto a WEB lhe abre as portas para o mundo a partir de sua casa, o rádio será os olhos e ouvidos da esquina, da rua, do bairro, da Cidade, da região e do Estado.
Não creio em cadeias de rádio como no passado, ou em rádios com audiência nacional monopolizando a atenção do ouvinte de norte a sul do país, como já foi um dia antes do invento da TV. Ele terá força localizada, restrita ao universo do dia a dia da vida do cidadão. Do clima ao trânsito, do consumo ao comportamento, da escola à igreja, da diversão a saúde, o rádio é quem tem, hoje, as maiores possibilidades de nos conectar à realidade comunitária, inclusive pelo canal da WEB. Exigência de investimento pequeno, barato até, de operação descomplicada e fácil. Sua sobrevivência estará assegurada pela audiência segmentada e publicidade local. Esse mercado cresce lentamente no Brasil, por enquanto, mas será a grande descoberta da mídia tradicional em convergência com a WEB dentro de pouco tempo.

O rádio nasceu com a primeira guerra mundial. A exemplo da TV e da Internet, também foi uma contribuição das necessidades e pesquisas do aparato militar americano. De um mero instrumento de comunicação para batalhões e tropas nas trincheiras, acabou por se tornar no grande marco da comunicação de massa no começo do Século XX. De lá, por volta da década de vinte, o rádio se inseriu de tal forma na vida das pessoas, alterando o cotidiano dos homens, a ponto de se firmar no contexto da evolução humana como um marco, tal qual a revolução industrial. Foi ele, o rádio, quem universalizou e carimbou a expressão “comunicação é tudo”. Ele foi o primeiro a tornar os povos mais próximos de uma maneira direta e instantânea, ao difundir a informação e aproximar o básico que tornaria a vida mais fácil e prazerosa para os humanos. O rádio foi o primeiro a atingir os rincões levando informação e diversão aonde antes nada chegava. Foi ele o primeiro instrumento de comunicação a unir os homens independente da distância que os separava. Até a segunda guerra mundial reinou absoluto. Despertava o mesmo frisson hoje causado por um computador.
Aqui no Brasil, quem viveu da década de vinte até a de sessenta, ou leu a respeito, sabe muito bem do esplendor desfrutado pela sociedade brasileira nas ondas do rádio. Assim como em quase todo o mundo civilizado. E assim foi até a chegada da televisão no início da década de sessenta. Localizadas principalmente no Rio de Janeiro suas ondas médias e curtas foram as primeiras a integrar o país. Rádios como a Nacional, Mayrink Veiga, PRH 8 e Mauá no começo e décadas depois Tamoio, Globo, Tupi, entre outras, foram pioneiras junto com a rádio Bandeirantes em São Paulo e a Inconfidência em Belo Horizonte. Mas as do Rio de Janeiro eram as campeãs, por serem as primeiras e por estarem na sede do Poder central falavam em uníssono para o Brasil inteiro. Alguns anos depois surgiram as rádios regionais, entre elas se destacou a Rádio Sociedade da Bahia com sua Tribuna do Interior. Era um programa de interação na base do telegrama que integrava todo o Estado numa época que nem estradas havia, e concomitantemente vieram as cadeias de rádios com a regionalização das estações.
Antes da TV, o Brasil já pensava com a cabeça do Rio e de São Paulo pelas ondas do rádio. Perdeu seu reinado para a combinação perfeita do som, imagem e cor. A TV fez com o Rádio o mesmo que agora a WEB aos poucos faz com todos os meios de comunicação. Obriga-os a buscarem uma nova forma de sobrevivência sob pena de serem varridos do mapa da comunicação.
Uma década depois da implantação da TV no Brasil, o rádio começou a perder o glamour. Duas décadas depois, ai pelos anos 80 as rádios de alcance nacional foram se restringindo e algumas até fechando, como é o caso da Tamoio, no Rio de Janeiro. Outras foram vendidas, principalmente as AMs ou OMs, de ondas médias e curtas. E é nessa época que outro fenômeno de comunicação se observa entre nós. A assustadora proliferação de igrejas evangélicas em todo o país. E elas descobrem o rádio AM como o principal difusor de suas crenças. E espraiou-se pelo Brasil afora. Nem o Ministério das Comunicações e nem a ANATEL possuem a lista das rádios de propriedade das igrejas. Se possuem não me deram. E é provável que não as tenha mesmo, tal é o emaranhado de prepostos e sucessores na propriedade.
Com o advento das FMs as OMs ou AMs, perderam mercados e muitas foram compradas por bagatelas. Passaram a servir à fé e os pastores souberam tirar proveito da plataforma. Mas este fenômeno é a principal prova da regionalização do rádio, e bem antes da internet. Neste vácuo, as FMs bem que buscaram a universalização. Diante da dificuldade técnica de cobertura nacional a partir de uma única rádio partiram para as redes. Mas a idéia não vingou. Ficou um arremedo de cadeia de rádio nas organizações Globo com a CBN e na Bandeirantes com a BAND FM.
Mesmo assim elas mais se destacam enquanto emissoras locais, quando estão em rede nada significam e cobrem poucos estados. Outro bom exemplo é a rádio Tupi, do Rio de Janeiro. Outrora uma rádio nacional, hoje uma boa rádio local do Rio de Janeiro e Grande Rio. É neste horizonte de conflitos e distintos caminhos que eu acredito que o Rádio vai se reinventando e firmando-se novamente como um grande meio de comunicação. Não acredito que os outros meios tenham a mesma chance. Em função de suas características marcadamente locais e comunitárias, e custos operacionais baixíssimos, será o rádio o primeiro a se adaptar ao mecanismo da CONVERGÊNCIA.
O Brasil, em seus quase 6 mil municípios, tem funcionando hoje 1.778 rádios OM, ou AM instaladas em 1.214 municípios. Existe mais 1.478 municípios inscritos no Ministério das Comunicações à espera de canais de rádio OM, ou AM e 343 canais vagos nessa frequência. Já para o canal FM existem na mesma lista 5.363 municípios inscritos. Em 1.924 deles existem rádios FM em funcionamento, totalizando 2.952 emissoras e 3.597 canais vagos à espera de titulares. Portanto, existe ainda muito espaço para crescer.

Hildeberto Aleluia é jornalista

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