quinta-feira, 19 de agosto de 2010

Lorenzo Carrasco

Hora de defesa da indústria nacional

O manifesto em defesa do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e seu papel de fomento das atividades produtivas nacionais (Resenha Estratégica, 11/08/2010), além dos questionamentos sobre os riscos dos investimentos minerais da China no País, parecem sinalizar uma atitude mais firme das lideranças industriais brasileiras em relação aos estragos causados ao setor pela política econômica e financeira ditada pelos interesses rentistas e comandada pelo Banco Central (BC). Como afirmou o presidente da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq), Luís Aubert Neto, idealizador do manifesto: "Nosso objetivo foi provocar discussão. No Brasil só se ouvem os bancos."
Da mesma forma, os industriais dos setores de siderurgia e mineração começam a se dar conta dos riscos e da assimetria da abertura indiscriminada aos investimentos chineses, que não têm a devida contrapartida no país asiático, onde a presença estrangeira naquelas áreas é bloqueada por uma série de subterfúgios. Ademais das preocupações meramente comerciais, até mesmo argumentos de soberania nacional - um tanto incomuns nos altos círculos empresariais - têm sido usados para justificar a necessidade de medidas governamentais para assegurar uma certa proteção contra a penetração chinesa, que pouco atende aos interesses nacionais, além da estreita preocupação dos rentistas com o ingresso de capitais externos para a manutenção das engrenagens financeiras baseadas no negócio da dívida pública a juros recordistas mundiais.
Em entrevista ao jornal Valor Econômico de 17 de agosto, o presidente da Companhia Siderúrgica Nacional, Benjamin Steinbruch, chegou a afirmar que é preciso "fechar o país por um tempo, a fim de fomentar a indústria nacional".
Não obstante, embora seja oportuna e bem vinda, essa conscientização sobre a necessidade de proteção às indústrias brasileiras precisa ser reforçada por um rápido reaprendizado das diretrizes fundamentais que devem orientar a economia real, historicamente praticadas pelas nações de economias mais avançadas e, lamentavelmente, obscurecidas pela avassaladora financeirização da economia mundial das últimas quatro décadas. Para tanto, será preciso abandonar de vez os surrados e disfuncionais dogmas referentes ao "livre comércio" e a ilusória crença na onisciência dos "mercados", substituindo-os por diretrizes de políticas econômicas consentâneas com as necessidades da geração de bens e serviços que configuram a economia real e, não menos, com os requisitos de harmonia de interesses e bem-estar das sociedades em geral, dos quais as atividades econômicas não podem estar desvinculadas.
Essa corrente de pensamento econômico não apenas existe, como está diretamente vinculada ao progresso e o desenvolvimento das nações de economias mais avançadas - não por acaso também as mais industrializadas do planeta. Trata-se do chamado Sistema Nacional ou Sistema Americano de Economia Política, cujas raízes históricas remontam aos ensinamentos de pioneiros como o italiano Antonio Serra, no século XVII, passando pelos cameralistas europeus dos séculos XVII a XVIII, e desenvolvido por luminares como os estadunidenses Alexander Hamilton, Henry Carey e Erasmus Peshine Smith, o alemão Friedrich List e outros. Para todos eles, o desenvolvimento das manufaturas nacionais deve ocupar lugar de destaque nas políticas econômicas.

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