quinta-feira, 21 de outubro de 2010

Alberto Bilac de Freitas

O supremo sonho tucano: transformar o Brasil num imenso Paraguai
Terra Goyazes

Quando esse ensaio for postado no blog, estaremos no auge da campanha eleitoral de 2010. Então, podemos afirmar que a análise aqui contida está embasada em duas pernas: a do passado, baseada na análise do que foi a octaetéride Fernandina (de FHC); e a do futuro, também lastreada no passado condenável do tucanato, que, a despeito da nova roupagem com que se apresentarão no embate eleitoral de 2010, desvelará as reais intenções do candidato tucano José Serra, em relação a temas relevantes da vida política nacional.
Certamente, para fugir ao estigma de privatista, carimbado eficazmente em sua testa durante a campanha eleitoral de 2006, o tucanato vestirá uma roupagem nacionalista e de defesa da soberania nacional, na refrega eleitoral de 2010. Serra tentará operar uma mudança em relação ao discurso tucano e, principalmente, ao período ruinoso de FHC no poder. O núcleo duro do poder serrista dentro do PSDB tentará uma clivagem definitiva em relação à gênese do tucanato, lá atrás, nos primórdios da Fundação Ford, quando ambos, Serra e FHC, foram preparados, no ápice da guerra fria, para chegarem ao poder no Brasil e servirem de diques de contenção a uma possível esquerda que vicejasse no hemisfério. O pragmatismo da Casa Branca nem sonhava que apareceria um Lula.
Voltando à tentativa de transmutação do tucanato em 2010, importante salientar que Serra sempre manteve um discurso desenvolvimentista, fazendo o contraponto ao monetarismo desbragado de Malan, abraçado por FHC. Puro jogo de cena. Como foi jogo de cena o auto-exílio de FHC no Chile. No cenário da realpolitik gestada desde a cooptação deles pela Fundação Ford, importava divergir no acessório para preservar o essencial. Assim, ambos, FHC e Serra, fariam o pêndulo: FHC mais monetarista/liberal/entreguista e Serra mais desenvolvimentista/estatista/nacionalista. E nessa oscilação pendular, manter a estratégia americana de um Brasil sob o controle americano sob todas as hipóteses.
Remontando ao título do post, em que se constituía o supremo sonho tucano, ao assumir o poder em 1995? Em que fonte bebiam os ideólogos do tucanato? Que projeto de país acalentavam, a ponto de Sérgio Mota vaticinar um vintenário tucano na Terra Brasilis? Inebriado pelo sucesso do neoliberalismo em todo o mundo ocidental e seguindo uma xaropada ideológica, que se constituía num mix de Friedrich Hayek e Francis Fukuyama, compilada pelos Chicago Boys e aplicada a golpes de vara pelos falcões da era Reagan/Bush, o tucanato aderiu gostosamente a uma política do Império para controlar suas colônias e mantê-las sob um verniz de independência.
Os formuladores econômicos do tucanato, como André Lara Resende, Pérsio Arida, Edmar Bacha, Gustavo Franco, Francisco Lopes e outros, estavam convencidos de que o neoliberalismo globalizado que nos era enfiado goela abaixo, era inevitável e que, após o fim da guerra fria, o fim da história preconizado por Fukuyama era uma questão de tempo. Com o fim da bipolarização com o bloco soviético, o capitalismo americano ganhara a parada. E na nova ordem unipolar que se inaugurava, haveria o bloco hegemônico, liderado pelos Estados Unidos, e o bloco dos liderados, gravitando em redor da matrixamericana feito mariposas mendigando um pouquinho de luz do império. E quem, do bloco periférico, tivesse um pouquinho mais a oferecer aos senhores do império, sentaria à direita de Deus Pai.
E foi assim que o tucanato, ao assumir o poder em 1995, entregou aos americanos um pacote completo de submissão ao imperialismo colonialista, travestido de globalização. Dentre os países do bloco periférico, era o mais ambicioso projeto de submissão de um país a outro, feito endogenamente. Os pontos mais relevantes desse projeto eram:
__ A implementação, a ferro e fogo, da teoria do Estado Mínimo, com a consequente onda de privatização de empresas estatais, de demissão de funcionários públicos, de terceirização de serviços públicos e o desmantelamento da estrutura do Estado;
__ A assunção, em todos os postos-chave da administração pública, de homens de confiança do Mercado. A Petrobrás foi um caso emblemático desse aparelhamento. (Quem não se lembra da política desastrosa dos dirigentes tucanos da Petrobrás, com o afundamento de plataformas, queda de investimentos e nos lucros, com o fim exclusivo de preparar sua privatização?);
__ Mesmo com um Estado mínimo, implementar uma política de esterilização da ação do Estado. (A concepção das agências reguladoras foi um passo importante no sentido de privatizar a ação do Estado. Uma vez colocado no comando de uma agência dessas, o presidente teria mais poder e ação efetiva que o próprio presidente da República, em ações de Estado afetas àquela agência);
__ Na área econômica, o governo tucano manteve uma política de gerar sucessivos déficits em conta corrente, incentivando as importações e mantendo uma política cambial nefasta que quase devastou o parque industrial brasileiro. Com uma taxa nominal de juros que chegara a 46% no ápice da crise russa, o governo dos çábios tucanos explodiu a dívida pública interna, que passou de 60 bilhões de dólares em 1994 para mais de 800 bilhões de dólares em 2002;
__ A renúncia, por parte do Brasil, em ter um arsenal atômico dissuasório. A renúncia ao uso de armas atômicas foi feita de forma unilateral e vergonhosa. (O episódio emblemático do aluguel da Base de Alcântara ao governo americano foi bem ilustrativo dessa perda de poder da soberania. Felizmente, esse contrato vergonhoso foi cancelado pelo governo Lula);
__ A entrega das reservas minerais e energéticas aos americanos.( A venda subavaliada da Vale do Rio Doce foi o primeiro passo. A tentativa de vender, por uma ninharia, uma imensa reserva de nióbio (um metal raro e caro, do qual o Brasil detém 98% das reservas mundiais) em São Gabriel da Cachoeira (AM), felizmente abortada pela ação da Justiça Federal, foi outro episódio dessa mesma diretriz. (Os tucanos tentaram privatizar as reservas de nióbio a céu aberto de São Gabriel da Cachoeira, no Amazonas, em outubro de 1997. O governo tentou vender a reserva pelo preço vil de R$600 mil reais, enquanto a Companhia de Pesquisa e Recursos Minerais (CPRM) a avaliara em US$1 trilhão de dólares. Como era curiosa a matemática tucana). Com a Petrobrás não lograram o êxito esperado. Talvez porque houve uma reação militar acima do esperado. Mas FHC entregou parcialmente o prometido: o fim do monopólio estatal na exploração do petróleo.
Com esse pacote ignóbil, o que tinha em mente o tucanato? Acreditavam piamente nas baboseiras que os gurus do neoliberalismo vertiam em pomposos seminários. Criam, de boamente, que o Brasil jamais seria uma potência no cenário mundial. No máximo, seria um entreposto privilegiado de matérias-primas para a metrópole e um consumidor das manufaturas do Império. E sob a batuta dos tucanos, o Brasil seria o melhor dos entrepostos, juravam entre si os próceres do PSDB. Seríamos um imenso Paraguai, fornecendo as matérias-primas que não já estivessem sob o domínio direto do Império, como o petróleo e os metais estratégicos. São Paulo seria uma grande Pedro Juan Caballero, vendendo no off os contrabandos da metrópole. Seríamos uma República de fancaria, onde os arremedos de indústria seriam maquilladoras, volantes como gafanhotos, sugando o que pudessem de nossa mão-de-obra barata. E o povo? Ora, o povo, na dialética tucana, sempre foi um mero detalhe.
Esse era o projeto tucano de poder, quando da assunção ao governo em 1995. Escorraçado pelo voto da maioria dos brasileiros em 2002 e 2006, esse projeto quer retornar em 2010. Virá embrulhado com uma nova roupagem. Pode vir até camuflado com as cores do nacionalismo e da defesa de um Estado forte. Mas se vocês atentarem bem, as mãos peludas, as orelhas, os dentes afiados e o rabão felpudo de lobo, são os mesmos. São os mesmos caracteres do velho lobo do imperialismo colonialista, incorporados no cavalo obsceno dos apátridas tucanos. E cabe a nós, brasileiros, que queremos legar uma nação soberana a nossos netos, rechaçá-los. Mais uma vez.

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